Turma e Ano: Flex A (2014) Matéria / Aula: Processo Penal / Aula 04 Professor: Elisa Pittaro Conteúdo: Inquérito Policial - INQUÉRITO POLICIAL - 4. INSTAURAÇÃO DO IP: a) Ação Penal Pública Incondicionada: De Ofício - espontaneamente, sem provocação. Assim que tomar conhecimento do fato criminoso, o delegado deverá instaurar inquérito. Requisição do Juiz (art. 5º, II do CPP) - é uma ordem do juiz para que o delegado instaure o inquérito. Essa parte do dispositivo é compatível com o sistema acusatório? 1. Geraldo Prado (posição isolada) o que fere o sistema acusatório é o juiz determinar o ritmo das investigações. Se ele requisita a instauração do inquérito e se afasta não há qualquer inconstitucionalidade. 2. Majoritária - Polastri, Pacceli O juiz não tem nenhuma ingerência no inquérito policial, isso para não comprometer a sua imparcialidade. Requisição do Ministério Público - essa requisição obriga o delegado, uma vez que a atividade da polícia é meio para a atividade fim do MP. Requerimento do Ofendido - é um pedido para que seja instaurado o inquérito. Se ele for negado, não cabe recurso previsto no CPP, mas sim recurso administrativo para o Chefe de Polícia Civil.
APF (Auto de Prisão em Flagrante) - art. 304 CPP - ocorre na hipótese a chamada notitia criminis de cognição coercitiva, ou seja, assim que toma conhecimento do fato, o delegado deve providenciar a prisão. b) Ação Pública Condicionada à Representação: Representação é uma espécie de pedido autorização para que seja instaurado o inquérito e a respectiva ação penal. A natureza jurídica da representação é de condição de procedibilidade. A representação é um ato informal, sendo pacífico na doutrina e na jurisprudência que o comparecimento espontâneo da vítima à delegacia policial para narrar o fato criminoso deve ser considerado uma representação. A representação é voltada a apuração do fato criminoso, independente de quem sejam os autores ( não confundir com a queixa). É possível que ocorra uma mudança na tipificação do fato durante o inquérito, ou até mesmo durante o processo, de forma que surja um crime que a ação penal é pública condiciona à representação. É cabível falarmos em decadência? Não é correto falarmos em decadência, pois em nenhum momento foi cobrado da vítima qualquer espécie de iniciativa. A jurisprudência enfrenta a questão de duas formas: 1. Verificar como a vítima se comportou ao longo do processo. Se ela comparecia e trazia elementos, cooperava ou se mostrava interessada na persecução, subentende-se que ela representou. 2. Muitos juízes aplicam analogicamente o art. 91 da Lei 9.099/95 e intimam a vítima para exercer o seu direito de representação dentro do prazo de 30 dias. Retratação da Representação: De acordo com o art. 25 do CPP, a representação pode ser retratada até o momento do oferecimento da denúncia, o que levará à extinção da punibilidade. Porém, essa retratação não está prevista no art. 107 do CP, constituindo uma construção doutrinária que entende que ela extingue a punibilidade por estar muito próxima do perdão e da renúncia (pergunta de prova oral)
Retratação da retratação: É possível a retratação da retratação? 1. Doutrina Não é possível, pois a retratação extingue a punibilidade, sem prejuízo de novas representações se surgirem novos fatos. 2. STF Será possível desde que ela ocorra dentro do prazo decadencial de 6 meses. Questões de Concursos: Qual a natureza da ação penal nos crimes de abuso de autoridade? Todos os crimes possuem a ação penal de natureza pública incondicionada. A representação mencionada nos arts. 1º e 2º da Lei 4898/65 possuem natureza de delação, comunicação, não condicionando o exercício da ação penal. Qual a natureza da ação penal no crime de estupro com resultado morte quando a vítima tiver mais de 18 anos? Com a alteração promovida pela Lei 12.015, a ação penal nos crimes sexuais passou a ser pública condicionada à representação. Excepcionalmente, ela será incondicionada quando a vítima for menor de 18 anos ou pessoa vulnerável. Desta forma, no crime de estupro com resultado morte do art. 213, 2º do CP com vítima maior de 18 anos a ação penal será pública condicionada à representação (conclusão absurda!!!). Diante do equívoco do legislador, o PGR propôs ADI alegando a proteção deficiente do direito à vida e violação do Princípio da Proporcionalidade, cuja liminar foi negada. Segundo Aury Lopes Jr., a solução seria aplicarmos analogicamente a Súmula 608 do STF, de forma que a ação penal continuaria sendo incondicionada. Questão da Prova Específica do MP/ES: A antiga redação do art. 225 do CP estabelecia que a ação penal nos crimes sexuais era, em regra, privada. Porém, a Súmula 608 do STF estabelecia que a ação penal seria pública incondicionada quando o crime fosse cometido com violência real. O STF adotou o conceito de crime complexo do jurista italiano Antolisei que entende que se da fusão de um fato típico (lesão corporal) com um fato atípico
(conjunção carnal) resultar em um novo crime (estupro), esse crime é complexo. Após considerar o estupro crime complexo, o STF afastava a aplicação do art. 225 do CP, para aplicar o art. 101 do CP que trata da ação penal no crime complexo. Como na época da edição da Súmula a ação penal no crime de lesão corporal era incondicionada, assim surgiu a Súmula 608 do STF. Toda a doutrina criticava a Súmula, pois além do estupro não ser crime complexo, o art. 225 do CP era especial quando comparado ao art. 101. Com a entrada em vigor da Lei 9.099/95, que no seu art. 88 passou a exigir a representação no crime de lesão corporal, todos esperavam uma modificação na súmula, o que não ocorreu. Em 2008, em um julgamento do Pleno, o STF entendeu que, com a entrada em vigor da Lei 9.099, a súmula deveria ser interpretada de forma conjunta com o art. 88 da Lei 9.099. Em 2009, a Lei 12.015 modifica todo o capítulo dos crimes sexuais e passa a exigir representação para praticamente todos os crimes. Aury Lopes Jr. entende que devemos continuar tratando o estupro com resultado morte como um crime complexo, onde um dos elementos que o integram (homicídio culposo) possui ação penal pública incondicionada, razão pela qual devemos aplicar a Súmula 608 na hipótese. c) Ação Penal na Lei Maria da Penha (11.340): Existem 4 orientações:
1. STF (ADC 19 / fev de 2012) O art. 41 da Lei 11.340 é válido, pois o seu objetivo foi dar efetividade a uma política de proteção integral à mulher, de forma que não cabe transação, composição, suspensão e a ação penal é pública incondicionada. 2. STJ - Ministra Maria Thereza O objetivo do art. 41 foi afastar a aplicação daquelas medidas despenalizadoras, ou seja, transação, composição e suspensão, mas sem alterar a natureza da ação penal que continua sendo condicionada à representação. 3. Câmaras Criminais TJRJ O art. 41 pretendia afastar aquelas medidas típicas dos delitos de menor potencial ofensivo, ou seja, transação e composição. Em relação as demais que são aplicadas fora do Juizado (representação e suspensão) é possível a aplicação. 4. Fernando Capez e Luiz Gustavo Grandinetti (enfraquecida) O art. 41 é inconstitucional por afronta ao Princípio da Isonomia, uma vez que estabelece tratamento diferenciado simplesmente em razão do sexo da vítima.