INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA AGRICULTURA 1



Documentos relacionados
Legislação aplicada às comunicações

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2015

Capítulo 1: Introdução à Economia

ipea políticas sociais acompanhamento e análise 7 ago GASTOS SOCIAIS: FOCALIZAR VERSUS UNIVERSALIZAR José Márcio Camargo*

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO

POLÍTICA AGRÍCOLA NOS ESTADOS UNIDOS. A) A democratização da terra ou da propriedade da terra (estrutura fundiária)

Pindyck & Rubinfeld, Capítulo 2, Oferta e Demanda :: REVISÃO

7 etapas para construir um Projeto Integrado de Negócios Sustentáveis de sucesso

Mercado de Trabalho. O idoso brasileiro no. NOTA TÉCNICA Ana Amélia Camarano* 1- Introdução

Processo Seletivo/UFU - julho ª Prova Comum GEOGRAFIA QUESTÃO 11. TAXAS DE URBANIZAÇÃO EM PAÍSES SELECIONADOS, 2003 (em %)

MERCADO PARA O CAFÉ EM GRÃO DO ACRE 1

Economia. Comércio Internacional Taxa de Câmbio, Mercado de Divisas e Balança de Pagamentos,

Análise econômica e suporte para as decisões empresariais

O Setor Informal e as Pequenas Empresas: Métodos Alternativos para o Apoio e a Geração de Emprego Rajendra Kumar

Questão 13 Questão 14

número 3 maio de 2005 A Valorização do Real e as Negociações Coletivas

GEOGRAFIA - 2 o ANO MÓDULO 15 AGROPECUÁRIA E MEIO AMBIENTE

RUMO AO FUTURO QUE QUEREMOS. Acabar com a fome e fazer a transição para sistemas agrícolas e alimentares sustentáveis

A balança comercial do agronegócio brasileiro

O QUE É ATIVO INTANGÍVEL?

O mecanismo de alocação da CPU para execução de processos constitui a base dos sistemas operacionais multiprogramados.

Lições para o crescimento econômico adotadas em outros países

INVESTIMENTO A LONGO PRAZO 1. Princípios de Fluxo de Caixa para Orçamento de Capital

GABARITO LISTAS. 1. Dê 3 exemplos de tradeoffs importantes com que você se depara na vida.

A ESCOLHA DOS TRABALHADORES

Aregião de Cerrados no Brasil Central, ao longo

PROJETO DE LEI Nº 433/2015 CAPÍTULO I DOS CONCEITOS

4) Considerando-se os pontos A(p1, q 1) = (13,7) e B (p 2, q 2) = (12,5), calcule a elasticidade-preço da demanda no ponto médio.

A USINA HIDRELÉTRICA DO ESTREITO-MA: ANÁLISE DE SEUS ESPAÇOS DE INFLUÊNCIA SOB A CONTRIBUIÇÃO DO TRABALHO DE MILTON SANTOS

Questões Específicas. Geografia Professor: Cláudio Hansen 03/12/2014. #VaiTerEspecífica

PARECER Nº, DE RELATOR: Senador ELMANO FÉRRER

Análise de Conjuntura

Instrumentos Econômicos de Gestão Ambiental. Subsídio Ambiental

Política monetária e senhoriagem: depósitos compulsórios na economia brasileira recente

Estrutura para a avaliação de estratégias fiscais para Certificação Empresas B

Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais.

Geografia. Exercícios de Revisão I

Disciplina: GEOGRAFIA Professor: FERNANDO PARENTE Ano: 6º Turmas: 6.1 e 6.2

INSTITUTO DE PESQUISA APLICADA EM DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL IPADES DESTAQUES IPADES MACAÚBA: POTENCIAL PARA A PRODUÇÃO DE BIODIESEL

UNOCHAPECÓ Programação Econômica e Financeira

Microcrédito no âmbito das políticas públicas de trabalho e renda

A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO NO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS PROGRAMAS DE APOIO ÀS PMEs NO BRASIL Resumo Executivo PARA BAIXAR A AVALIAÇÃO COMPLETA:

CAPÍTULO 25 COERÊNCIA REGULATÓRIA

Em 2050 a população mundial provavelmente

ASPECTOS AVANÇADOS NA ANÁLISE

Memorando Sobre as Leituras VA ~ VC. de respostas políticas para a geração de emprego no setor informal e no desenvolvimento de

FACULDADE DE TECNOLOGIA DE SOROCABA

Monopólio. Microeconomia II LGE108. Características do Monopólio:

Problemas Ambientais e Globalização

ACORDO DE PARIS: A RECEITA PARA UM BOM RESULTADO

ESCRITÓRIO TÉCNICO DE ESTUDOS ECONÔMICOS DO NORDESTE ETENE INFORME RURAL ETENE PRODUÇÃO E ÁREA COLHIDA DE CANA DE AÇÚCAR NO NORDESTE.

Produção e consumo de óleos vegetais no Brasil Sidemar Presotto Nunes

Nota Técnica SEFAZ/SUPOF Nº 010/2010 Rio de Janeiro, 19 de março de 2010

Aula 2 Contextualização

DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO

1. O Contexto do SBTVD

O Princípio do Protetor-Recebedor no Financiamento das Unidades de Conservação no Brasil

sociais (7,6%a.a.); já os segmentos que empregaram maiores contingentes foram o comércio de mercadorias, prestação de serviços e serviços sociais.

LISTA 5A. Conceitos importantes: 1) Determinantes da produção e da produtividade de um país 2) Financiamento do investimento: poupança

1. Introdução. 1.1 Contextualização do problema e questão-problema

Educação Financeira: mil razões para estudar

PADRÃO DE RESPOSTA. Pesquisador em Informações Geográficas e Estatísticas A I PROVA 5 - GEOGRAFIA AGRÁRIA

O SEGURO DE VIDA COM COBERTURA POR SOBREVIVÊNCIA NO MERCADO SEGURADOR BRASILEIRO UMA ANÁLISE TRIBUTÁRIA

CUSTOS DA QUALIDADE EM METALURGICAS DO SEGMENTOS DE ELEVADORES PARA OBRAS CÍVIS - ESTUDO DE CASO

Relatório de Pesquisa. Março 2013

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

Confiança no crescimento em baixa

TERCEIRIZAÇÃO NA MANUTENÇÃO O DEBATE CONTINUA! Parte 2

Situação das capacidades no manejo dos recursos genéticos animais

Campus Capivari Análise e Desenvolvimento de Sistemas (ADS) Prof. André Luís Belini prof.andre.luis.belini@gmail.com /

Química Economia, Organização e Normas da Qualidade Industrial

ACORDO ECONÔMICO ENTRE A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E O REINO DA ESPANHA, INTEGRANTE DO TRATADO GERAL DE COOPERAÇÃO E AMIZADE BRASIL-ESPANHA

Assistência Social da USP, com valor equivalente a um salário mínimo.

ORIENTAÇÕES SOBRE SEGURO, PROAGRO E RENEGOCIAÇÃO DE DÍVIDAS

Universidade Católica Portuguesa. Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais. Tel.: Fax: fbranco@fcee.ucp.

CURSO de CIÊNCIAS ECONÔMICAS - Gabarito

A necessidade do profissional em projetos de recuperação de áreas degradadas

permanência dos alunos na escola e as condições necessárias para garantir as aprendizagens indispensáveis para o desenvolvimento dos alunos e sua

ESAPL IPVC. Licenciatura em Engenharia do Ambiente e dos Recursos Rurais. Economia Ambiental

Polícia Federal Concurso de 2009 (Cespe/UnB) Informática

Questão 11. Questão 12. Resposta. Resposta. O mapa e os blocos-diagramas ilustram um dos grandes problemas do mundo moderno.

Diretrizes da Agenda Setorial do Setor de Energias Renováveis: Biocombustíveis

O ESTUDO DA LOGISTICA

Mercado Mundial de Carne Ovina e Caprina

Depreciação, um item importante a se considerar!

1 Introdução. futuras, que são as relevantes para descontar os fluxos de caixa.

Contribuição da Atividade de Projeto para o Desenvolvimento Sustentável

LANCASTER, Kelvin A Economia Moderna. Teoria e Aplicações. Zahar Editores: Rio de Janeiro, 1979.

TRIGO Período de 12 a 16/10/2015

Mudanças Climáticas e Economia. Secretaria de Acompanhamento Econômico SEAE

Formação em Protecção Social

ECONOMIA MÓDULO 17. AS ELASTICIDADES DA DEMANDA (continuação)

A ROTATIVIDADE DOS JOVENS NO MERCADO DE TRABALHO FORMAL BRASILEIRO*

PROGRAMA REFERENCIAL DE QUALIDADE ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA PECUÁRIA BOVINA DE MINAS GERAIS. Hélio Machado. Introdução

ESAPL IPVC. Licenciatura em Engenharia do Ambiente e dos Recursos Rurais. Economia Ambiental


136) Na figura observa-se uma classificação de regiões da América do Sul segundo o grau de aridez verificado.

Transcrição:

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA AGRICULTURA 1 SOUZA, Nali de Jesus. Desenvolvimento Econômico. 5 a ed. São Paulo: Atlas, 2005. Como foi visto nas seções anteriores do livro de Souza (2005), à medida que a economia passa a ser cada vez mais industrializada, as interdependências entre as atividades rurais e a indústria reforçam as funções da agricultura no desenvolvimento econômico. Os vínculos de interdependência ampliam-se na proporção em que a agricultura se torna absorvedora do progresso técnico e em que a indústria se adapta às necessidades da agricultura, fornecendo-lhe insumos e adquirindo seus produtos. O resultado dessa interação beneficia toda a economia, via geração de emprego e renda. O aumento da arrecadação pública dinamiza os diferentes setores do sistema, por meio dos gastos governamentais. A interação entre os setores é função da agroindustrialização e da adoção de inovações na agricultura, bem como da diversificação da produção agrícola. O Estado pode acelerar essa integração por intermédio do incentivo à criação de agroindústrias e cooperativas de produção e à adoção de técnicas agrícolas mais modernas, por meio de políticas de crédito e preço que levem ao aumento da produção das várias culturas. As cooperativas, conjugando esforços de um conjunto de agricultores, interligando-os com o mercado, têm a virtude de incentivar a produção, aumentar a renda dos agricultores e estimular as inovações tecnológicas. 2 A difusão de técnicas existentes tem sido a principal fonte de crescimento da produtividade agrícola nos países subdesenvolvidos. A abordagem da difusão considera que as diferenças da produtividade do trabalho e da terra, entre agricultores e regiões, podem ser reduzidas pela maior difusão do conhecimento tecnológico entre os agricultores tradicionais. Para o caso do algodão em São Paulo, Pastore et al (1982, p. 78) salientaram que, quanto mais concentrada espacialmente for a produção, tanto maiores serão os contatos entre os agricultores e pesquisadores, intensificando a demanda e a adoção de inovações tecnológicas. 1 Tipos de inovações tecnológicas A dificuldade da adoção de técnicas disponíveis, geralmente criadas em países desenvolvidos, diz respeito a sua adequação às características dos países subdesenvolvidos e à criação de conhecimentos adicionais, adaptativos, mediante estações experimentais pelo sistema industrial. Em segundo lugar, a adoção dessas técnicas dependerá da disponibilidade de crédito a ser alocado à pesquisa tecnológica, à educação e ao financiamento dos agricultores. Tanto as inovações mecânicas (poupadoras de mão-de-obra), como as inovações bioquímicas (poupadoras de terra), são importantes para o desenvolvimento industrial, mas elas precisam ser adaptadas às características das regiões e 1 Este texto constitui um anexo ao Capítulo 9 do livro Desenvolvimento Econômico (Souza, 2005). 2 Na análise fica implícita a suposição da existência de demanda para a produção adicional da economia, em virtude das possibilidades de exportação e da geração de renda no próprio processo.

dos produtos (tais como clima, tipo de solo, disponibilidade de água, elasticidade-preço da demanda), para não causarem distorções na alocação de recursos. Determinados insumos modernos exigem abundância de água e topografia regular. Em muitos casos, técnicas baratas, como novos métodos de cultivo, espaçamento correto, sementes selecionadas, adequação da cultura ao tipo de solo, adubação orgânica, podem ser suficientes para aumentar a produtividade e a renda dos agricultores. A conjugação coletiva de esforços (cooperativas, sindicatos, grupos de vizinhos) para a aquisição de máquinas agrícolas pode constituir uma solução relativamente barata para a mecanização de pequenas propriedades, gerando resultados compensadores. O aumento da produtividade agrícola, em decorrência da adoção de inovações, expande a oferta dos produtos. Se a curva de demanda permanecer inalterada, o novo equilíbrio do mercado ocorrerá com redução de preços e aumento das quantidades demandadas. Essa redução de preços será tanto maior quanto mais inelástica for a demanda do produto, em relação aos preços. Quanto mais ela for elástica, tanto menos estes se reduzem com o deslocamento da oferta. Se a demanda do produto for horizontal (perfeitamente elástica), somente as quantidades demandadas aumentarão, com o deslocamento da oferta, ficando os preços constantes. Em outro extremo, se a demanda for vertical (perfeitamente inelástica), o deslocamento da oferta provocará apenas redução de preços, ficando inalteradas as quantidades demandadas. A inelasticidade da demanda de um produto pode provocar a redução da receita total do agricultor, pela queda de preços não compensada pela elevação das quantidades. Quanto mais elástica for a demanda, um deslocamento da curva de oferta para a direita, em decorrência de inovações tecnológicas, provocará um aumento maior das quantidades demandadas, em relação à queda dos preços, o que eleva a renda dos produtores. Se a demanda for inelástica, o aumento das quantidades demandadas não será maior do que a redução do preço e a receita do agricultor irá se reduzir em decorrência da adoção de inovações tecnológicas. 2 - Efeitos das inovações tecnológicas No caso dos produtos de exportação, em que o preço é dado pelas condições do mercado internacional, com demanda infinitamente elástica (pequena participação do país no mercado externo), toda inovação tecnológica aumenta as quantidades ofertadas sem reduzir o preço. Neste caso, o efeito sobre o aumento da receita do produtor será máximo. Este tem sido o caso da soja, uma vez que a colheita brasileira ocorre na entressafra dos EUA, o maior produtor mundial. Isso explica a tendência para se utilizarem insumos modernos na produção de soja. Dependendo da elasticidade da curva de oferta, a receita pode, portanto, reduzir-se no setor agrícola em função do aumento da produção total. Este é o caso da maioria dos demais produtos, em que os produtores são numerosos e o mercado aproximadamente concorrencial. No caso de produtos industriais, as inovações tecnológicas, em geral, implicam certo grau de monopólio (registro de patentes, por exemplo) e os preços não se reduzem com as inovações, ou caem menos do que proporcionalmente aos custos médios. O produtor tende a obter lucro puro até 2

que outros produtores entrem no mercado, produzindo bens semelhantes ou adotando tecnologias similares. Se o produto agrícola for industrializado em grande escala e se a demanda, por conseguinte, for mais estável, a flutuação dos preços agrícolas será menor, favorecendo a adoção de inovações tecnológicas. Esse fato explica por que as inovações tecnológicas tendem a concentrar-se nos produtos agrícolas de exportação, como soja, laranja para suco, entre outros. No caso de produtos agrícolas industrializáveis, as imperfeições de mercado do lado da agroindústria podem levar à queda de preços das matérias-primas, objeto de transformação, a menos que sua escassez induza a agroindústria a pagar preços maiores, com o objetivo de assegurar maior regularidade em seu fornecimento. Quando as flutuações das quantidades demandadas e dos preços são muito grandes, há um componente de risco muito elevado nas decisões do agricultor, em relação à adoção de inovações. Este é o caso dos produtos alimentares de consumo doméstico, que são, em grande parte, cultivados em pequenas propriedades: os agricultores têm dificuldades para adotar inovações, em primeiro lugar, pelo tipo de produto que cultivam; em segundo lugar, pela escassez de recursos terra e capital; finalmente, pela dificuldade de acesso ao crédito. As inovações tecnológicas exercem um efeito alocativo ao deslocar os recursos da produção de culturas com demanda menos elástica, principalmente alimentos, para produtos com demanda mais elástica. Com a substituição de culturas em terras mais férteis e mais bem situadas em relação ao mercado, a produção de bens com demanda menos elástica, como alimentos, tende a reduzir-se ou a deslocar-se para terras menos férteis, ou para áreas mais distantes do mercado, em direção da fronteira agrícola. Há, portanto, visível prejuízo para a política de combate à inflação. As inovações tecnológicas exercem, também, efeito distributivo, porque o excedente do produtor aumenta mais no caso dos produtos com demanda mais elástica, como os produtos de exportação. 3 - Modelo da inovação induzida Observa-se que a introdução de inovações tecnológicas na produção de bens com demanda de baixa elasticidade implica na necessidade de adoção simultânea de políticas de preços mínimos, para estimular o produtor. Contudo, a ocorrência de preços de garantia acima dos preços de mercado resulta no aumento dos estoques reguladores do governo e de seus gastos. Assim, a possibilidade de exportação e de industrialização desses produtos passa a ser uma grande alternativa para a ampliação do mercado. Constata-se, portanto, que o livre funcionamento do mercado pode provocar uma mudança significativa na estrutura produtiva agrícola, com a produção de determinados bens crescendo mais do que a de outros. Neste caso, as inovações tecnológicas são induzidas pela mudança dos preços relativos e pela resposta institucional às mudanças do mercado (Hayami e Ruttan, 1971). No modelo da inovação induzida, os preços são os sinalizadores do mercado dos produtos agrícolas e dos fatores de produção. Os agricultores procuram adotar inovações tecnológicas para poupar os insumos cujo preço aumentou em relação aos demais. As instituições públicas são induzidas a desenvolver a tecnologia mais rentável. Essa resposta institucional depende dos preços 3

do mercado e da existência de grupos de pressão na sociedade, suscetíveis de induzir a realização da pesquisa pública, bem como de outros objetivos macroeconômicos e políticos. O aspecto políticosocial torna-se muito importante na materialização de uma oferta real de inovações e esse aspecto foi salientado por Janvry (1978). A estrutura socioeconômica (posse da terra, nível tecnológico, preço dos produtos e dos insumos, acesso ao crédito, informação e educação) e a estrutura político-burocrática (sistema de pressão social, sistema de compensação eleitoral, burocrática e legislativa) interagem no sistema de demanda e de oferta de inovações, exercendo uma filtragem a ponto de modificar o equilíbrio que existiria como resultado das forças naturais de mercado. Assim, torna-se necessário minimizar as distorções que produzem vieses na geração e na adoção de inovações tecnológicas, por meio de políticas agrícolas adequadas. O aumento da produtividade agrícola nas regiões de minifúndio torna-se indispensável para melhorar o nível de vida das populações envolvidas e aumentar a oferta de alimentos. A política brasileira de estímulo às exportações (principalmente as minidesvalorizações cambiais, a partir de 1968, até os anos de 1980), o aumento do preço internacional dos produtos agrícolas no fim dos anos de 1960, bem como as inovações tecnológicas adotadas, beneficiaram a expansão das exportações agrícolas, especialmente da soja. Para Melo (1982, p. 434), este último fator foi o mais relevante para explicar as alterações na composição da pauta exportadora em relação à produção para o mercado interno, devido às diferenças no valor absoluto das elasticidades-preço da demanda entre os produtos exportáveis e domésticos. O efeito alocativo provocou elevação do preço dos bens alimentares, entre 1967/1979, prejudicando especialmente as famílias de menor renda, principalmente nas regiões mais pobres do Brasil. Políticas favoráveis à adoção de inovações tecnológicas no setor agrícola são indispensáveis para aumentar o consumo de bens industriais por parte dos agricultores, elevar a produção agropecuária e evitar o crescimento dos preços dos alimentos. Nesse contexto, torna-se muito importante salientar a relevância das políticas de preços mínimos e de crédito rural, principalmente aquelas orientadas para o agricultor de baixa renda e para o conjunto dos trabalhadores do meio rural. QUESTÕES PARA REFLEXÃO E DISCUSSÃO 1. Quais são as principais dificuldades de aplicação de técnicas agrícolas desenvolvidas em outros países? 2. Explique os diferentes impactos das inovações tecnológicas sobre preços agrícolas, nível da produção e renda dos agricultores. 3. Explique o mecanismo de autocontrole de Paiva. 4. A agricultura teria a função de transferir poupanças para a indústria; por outro lado, os agricultores reclamam que é impossível produzir sem crédito abundante e subsidiado. Em sua opinião, como a agricultura poderia desenvolver-se e, ao mesmo tempo, contribuir para o crescimento dos demais setores? 4

REFERÂNCIAS BIBLIOGRÁFICAS HAYAMI, Yujiro, RUTTAN, V. W. Agricultural development: an international perspective. Baltimore : The Johns Hopkins University Press, 1971. JANVRY, Alain de. Social structure and biased technical change in Argentine agriculture. In: BISWANGER, H. P., RUTTAN, V. W. Induced innovation. Baltimore : The Johns Hopkins University Press, 1978. MELO, Fernando B. H. Inovações tecnológicas e efeitos distributivos: o caso de uma economia semi-aberta. Revista Brasileira de Economia, v. 36, n. 4, out./dez. 1982. PASTORE, José et al. Condicionantes da produtividade da pesquisa agrícola no Brasil. In: SAYAD, João (Org). Economia Agrícola: ensaios. São Paulo : IPE/USP, 1982, (Série Relatórios de Pesquisa, n. 11). SOUZA, Nali de Jesus. Desenvolvimento Econômico. 5 a ed. São Paulo: Atlas, 2005. 5