INCLUSÃO DE ALUNOS/AS SURDOS/AS NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: INESP E ISED



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Transcrição:

INCLUSÃO DE ALUNOS/AS SURDOS/AS NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: INESP E ISED Ana Cristina Rocha Fernandes 1 Geralda Pinto Ferreira 2 Helena Eustáchia Caetano Gomes 3 RESUMO: A inclusão de alunos surdos em cursos de graduação requer vontade política e comprometimento da parte da Instituição, bem como do corpo docente. No contexto dos atuais debates sobre a diversidade e o respeito pelo outro, os institutos mantidos pela FUNEDI/UEMG têm se dedicado a essa prática e assumido sua função política e social ao buscar a humanização das relações interpessoais e pedagógicas com pessoas diferentes, em seu cotidiano acadêmico. E tem contado com docentes abertos às novas práticas na sala de aula e nas diversas ações pedagógicas específicas dos dois cursos em foco o de Engenharia e o de Pedagogia. Palavras-chave: educação inclusiva, respeito, humanização e dimensão social e política Introdução Neste texto apresentamos reflexões a respeito da inclusão de alunos/as surdos/as nos Cursos de Engenharia, do INESP, e no Curso de Pedagogia/Licenciatura, do ISED. Nos dois cursos há cinco discentes surdos/as matriculados/as: um aluno e uma aluna no 8º período do Curso de Engenharia de Produção, ou seja, frequentando desde 2009; uma aluna no 2º período do Curso de Engenharia Civil; um aluno no 2º período do Curso de Engenharia de Computação; e uma aluna no 2º período do Curso de Pedagogia. Os períodos citados se referem ao 2º semestre letivo de 2012. Para atender a essa demanda, os dois Institutos contrataram tradutores/as/intérpretes de libras que acompanham cotidianamente as aulas dos referidos cursos e dão suporte aos/às alunos/as surdo/as. Também nas atividades gerais desses cursos, como palestras no auditório, por exemplo, a presença dos/a tradutores/as /intérpretes é constante. Além 1 Professora dos Cursos de Engenharia do INESP/FUNEDI/UEMG e Coordenadora Geral do ISED/FUNEDI/UEMG. 2 Professora e Coordenadora do Curso de Pedagogia/Licenciatura do ISED/FUNEDI/UEMG. 3 Professora do curso de Pedagogia/Licenciatura do ISED/FUNEDI/UEMG.

disso, é possível dizer que os três cursos contam com docentes abertos/as à nova prática nesses Institutos. Para as reflexões teóricas, tomamos como referência: Strobel (2008), que conceitua cultura surda e discute esse momento histórico onde afirma que os/as surdos/as constituem um povo; Santos (2003), que enfoca a formação de professores no contexto da inclusão; Paulo Freire (2009), que apresenta os saberes necessários à prática educativa humanizadora; Teixeira dos Santos (2006), que aborda as vozes do cotidiano no contexto da inclusão escolar, entre outros, bem como a legislação pertinente à Inclusão de surdos/as. Concordamos com Santos (2003, p. 64) ao afirmar que Inclusão se refere a todos os esforços no sentido da garantia de participação máxima de qualquer cidadão em qualquer arena da sociedade em que viva, à qual ele tem direito, e sobre a qual ele tem deveres. Portanto, destacamos que nossa concepção de inclusão, no Ensino Superior, se refere à inclusão de todas e todos, em suas diferenças culturais, religiosas, linguísticas, sociais, econômicas, étnico-raciais, políticas, ideológicas, entre outras. Entretanto, o foco neste artigo é a inclusão de surdos/as nos cursos oferecidos pelo ISED e pelo INESP. Partimos aqui da questão: A Inclusão de surdos/as nos cursos de graduação no atual modelo de sociedade capitalista, com acelerado ritmo de informação e comunicação que envolve e afeta profundamente a todos/as, inclusive jovens surdos/as, pode contribuir efetivamente para a formação humana e profissional desses/as estudantes? De acordo com o referencial teórico analisado e com a realidade constatada nesta Instituição, cremos que isso é possível, mediante a concepção de que Inclusão é processo. É o que apresentamos a seguir. A inclusão de surdos/as na realidade da Educação Básica de Divinópolis/MG A Inclusão de pessoas com deficiência em escolas comuns tem sido realizada das mais variadas formas e com interesses e objetivos diversos e praticada por diversos setores da educação. Este movimento que não é novo, mas que ganhou força na atualidade, tem provocado discussões, críticas, defesas e pesquisas que extrapolam o campo educacional.

A Inclusão de surdos que têm a Libras como primeira língua é recente e tem provocado discussões importantes no campo da educação. Libras é a sigla da Língua Brasileira de Sinais e é a língua natural das comunidades surdas. As línguas de Sinais são denominadas línguas de modalidade gestual-visual, ou espaço-visual, pois a informação linguística é recebida pelos olhos e produzida pelas mãos. São línguas vivas e autônomas, reconhecidas pela linguística, pois são compostas de todos os componentes pertinentes às línguas orais, como gramática, semântica, pragmática, sintaxe e outros elementos, cumprindo assim todos os requisitos para constituírem-se em um instrumento de comunicação eficiente e completo. A entrada e permanência de surdos não oralizados, ou seja, surdos que não utilizam a língua oral para se comunicar em escolas comuns, tem se constituído em um desafio para os/as profissionais que atuam nesta área. Em Divinópolis a Escola para Surdos AAVIDA Assistência Áudio-visual para Deficientes Auditivos iniciou este processo em 2006, quando incluiu a primeira turma de surdos não oralizados no Ensino Médio em uma Escola Estadual na região central da cidade. Esses surdos, usuários da Libras como primeira língua, realizaram e ainda realizam essa experiência com êxito. Para que esse processo de Inclusão pudesse acontecer, a Escola AAVIDA juntamente com os alunos/as e familiares promoveu momentos de trocas e interações para que toda a comunidade escolar pudesse compreender o processo de Inclusão que estava sendo proposto. Gestores/as, professores/as, alunos/as e familiares foram chamados a participar desse momento de construção, o que foi decisivo para que a iniciativa tivesse sucesso. A mediação na sala de aula seria/foi e ainda é realizada por um/a profissional tradutor/a/intérprete de Libras contratado/a pela Superintendência Regional de Ensino. Sabemos que, inicialmente, a presença de um novo elemento na sala de aula pode provocar mudanças significativas, tais como a necessidade de uma maior integração entre professor/a e intérprete, a distração dos/as demais alunos/as com a presença desse/a profissional utilizando uma outra língua etc. A complexidade do tema Inclusão de surdos tem sido alvo de análises e estudos em espaços escolares e não escolares e a utilização da língua de sinais na escola e nos demais contextos sociais é muito recente; embora a Língua Brasileira de Sinais tenha sido oficializada em 24 de abril de 2002, pela Lei Federal 10.436/02, e regulamentada

pelo Decreto nº 5.626/2005, ela continua desconhecida pela maioria da sociedade. O referido Decreto garante o direito à educação das pessoas surdas ou com deficiências auditivas e a Inclusão de alunos/as por meio de organização em classes de educação bilíngue, abertas a alunos/as surdos e a alunos/as ouvintes, com a regência de professores/as bilíngues. Isso vem garantir, ainda, ao/à aluno/a surdo/a o atendimento educacional especializado, em turno diferenciado para a complementação curricular necessária, com utilização de equipamentos e tecnologias de informação. Além de várias outras garantias, o Decreto regulamenta a inclusão de Libras como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e também nos cursos superiores de fonoaudiologia. A educação de surdos/as até recentemente era liderada por filosofias ou concepções oralistas, que consideravam a pessoa surda como alguém incompleto/a, que não ouve e, portanto, não fala; isto era equivalente a afirmar que cognitivamente apresentavam lacunas importantes e por isso tinham atrasos significativos nas aprendizagens. Como a educação de surdos/as é desenvolvida principalmente por professores/as ouvintes, foi-se construindo a ideia de que esses/as, não possuindo linguagem e assim não tendo uma cultura própria, seriam dependentes de uma cultura majoritária representada pela cultura de ouvintes. Atualmente é possível perceber e compreender que existe uma cultura surda e que a pessoa surda não é simplesmente alguém que não ouve, e, sim, alguém que constrói sua língua e, por conseguinte, o seu pensamento e sua linguagem diferem dos da pessoa ouvinte. É necessário ressaltar que diferente não significa inferior, como pensam algumas pessoas que conceituam a Língua de Sinais como um conjunto de gestos que podem comunicar algumas coisas, mas não levam a conceituações que extrapolem o campo do pensamento concreto. Muito tempo de conscientização, esclarecimento e discussão ainda será necessário para que a sociedade, e nesta, até mesmo os/as profissionais da educação compreendam que as Línguas de Sinais têm a mesma complexidade e possibilidades de comunicação que as línguas orais, embora sejam de modalidade diferente. Mas afinal, existe uma cultura surda? O que é cultura surda? Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo, a fim de torná-lo acessível e habitável, ajustando-o com as suas percepções

visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das almas das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as idéias, as crenças, os costumes e hábitos do povo surdo (STROBEL, 2008, p. 24) O movimento de Inclusão de pessoas com deficiência, iniciado na década de 1980 e intensificado nos últimos dez anos, tem cometido erros, contradições e equívocos que têm dificultado a efetivação de uma política educacional bilíngue para o/a aluno surdo/a; em Divinópolis o respeito à pessoa surda tem promovido, ainda que com algumas lacunas, uma educação bilíngue tanto na educação básica como na superior. Para a concretização da prática de Inclusão do/a surdo/a, é necessário que esta se dê a partir do domínio cada vez mais eficiente da leitura e da escrita e esta tem sido a missão da escola para surdos AAVIDA que, atendendo alunos da Educação Infantil e Ensino Fundamental, se define como um espaço de construção permanente num momento histórico em que as instituições de ensino buscam a sua autonomia e eficiência, num país que é considerado um dos últimos colocados no ranking mundial em qualidade na educação. A inclusão de surdos/as na Educação Superior em Divinópolis: INESP e ISED Nesse contexto, é que a Inclusão de surdos/as na Educação Superior, pelo ISED e pelo INESP, Institutos mantidos pela FUNEDI/UEMG, se concretiza de modo significativo ao receber esses alunos e alunas, com apoio de tradutores/as/intérpretes contratados/as, e integrá-los/as à comunidade acadêmica, para que possam ampliar sua formação humana e profissional como cidadãos/ãs de direitos. O curso de Engenharia de Produção vem construindo a Inclusão de surdo/a desde 2009. Nos cursos de Engenharia Civil e de Engenharia de Computação, a experiência com alunos/as surdos/as está acontecendo desde o 1º semestre/2012. No curso de Engenharia da Computação, em turma com 35 alunos, há um aluno surdo, que se assenta na primeira carteira e tem uma proximidade grande do/a professor/a em cada aula. A professora que ministra a disciplina de Cálculo II avalia que não é fácil para os/as tradutores/as/intérpretes, afinal, não são conteúdos de seu conhecimento. Ela tem conversado e discutido muito isto com a intérprete do Curso de Engenharia da Computação e que esta tem estudado o conteúdo para conseguir melhor interpretar as aulas da referida professora para o aluno surdo. Relata que há alguns alunos na sala com

uma atenção especial para com o surdo, inclusive se esforçando para usar a língua de sinais e ter uma comunicação mínima com ele. Poucos são alheios ao processo. O aluno surdo está conseguindo entender o conteúdo e estuda nos momentos extraclasse com colegas e com a própria intérprete que se dispõe a ajudá-lo. No curso de Engenharia Civil, com uma aluna surda, a realidade é diferente, pois a turma tem aproximadamente 70 alunos e utiliza-se muitas vezes do anfiteatro da Instituição para as aulas. O espaço físico já separa a tradutora/intérprete da aluna surda, dificultando uma maior aproximação e percepção das dificuldades. Também não é possível à tradutora/intérprete permanecer no meio da sala, pois impediria os/as outros/as alunos/as de assistirem às aulas; então, a mesma permanece em posição lateral na sala de aula. A tradutora/intérprete envolve-se pouco com o processo de aprendizagem, pois não tem tempo de realizar os estudos específicos das diversas disciplinas, por ter outros compromissos profissionais, em outros espaços, ou seja, não há entendimento dos conteúdos pela tradutora/intérprete, logo, a aluna surda recebe os conteúdos não da mesma forma que os/as demais colegas. Em conversa com a aluna, ela afirma que selecionará algumas disciplinas para estudar e tentar ser aprovada. Tem um grupo restrito da sala que socializa com ela e com o domínio mínimo da língua de sinais. Pode-se afirmar que não há o processo de exclusão. Embora se perceba que alguns/mas colegas são alheios/as à situação, outros/as tentam ajudar de alguma forma, mas nunca há manifestação de desagrado/preconceito por parte de nenhum/a aluno/a. Assim, pelo que se constata acima, estamos convictas de que, como ensina Santos, Inclusão não é a proposta de um estado ao qual se quer chegar. Também não se resume na simples inserção de pessoas deficientes no mundo do qual têm sido geralmente privadas. Inclusão é um processo que reitera princípios democráticos de participação social plena. Neste sentido, a inclusão não se resume a uma ou algumas áreas da vida humana, como, por exemplo, saúde, lazer ou educação. Ela é uma luta, um movimento que tem por essência estar presente em todas as áreas da vida humana, inclusive educacional. Inclusão se refere a todos os esforços no sentido da garantia de participação máxima de qualquer cidadão em qualquer arena da sociedade em que viva, à qual ele tem direito, e sobre a qual ele tem deveres. (Grifo da autora). (2003, p. 64).

Percebemos, portanto, que os cursos de Engenharia se encontram em processo de inclusão de alunos/as surdos/as, o que é evidenciado pela busca de integração desses/as ao cotidiano de sala de aula. Como todo processo, apresenta lacunas, altos e baixos, idas e vindas. É construção. É realidade em movimento. Em relação ao Curso de Pedagogia/Licenciatura, a aluna surda se encontra no 2º período do curso, neste 2º semestre/2012, em uma turma com 35 alunos/as. Há um tradutor/intérprete que acompanha todas as aulas e demais atividades acadêmicas. A aluna tem 28 anos de idade, pressupondo, portanto, maturidade para a realização do curso. O intérprete afirma que a mesma consegue fazer leitura labial, emite algumas sílabas e articula algumas palavras, desde que o contato com o/a interlocutor/a seja frente a frente. Ao interagir com o/a docente, a aluna precisa da mediação do tradutor/intérprete. Segundo ele, a aluna se sente incluída, aceita pela turma, ficando sempre muito à vontade nas aulas. Em relação aos/às docentes, há os/as que dão maior atenção ao intérprete e à aluna surda, outros/as se preocupam em ministrar suas aulas. Em sua visão, é necessário o envolvimento do/a docente com a aluna surda e com o intérprete para viabilizar melhor a aprendizagem da aluna. Está ciente de que há momentos nas aulas, principalmente quando há material visual a ser absorvido pela aluna, em que não deve ocorrer sua intervenção, para não interromper o raciocínio da aluna surda. Essa observação indica que o tradutor/intérprete está ciente de seu papel mediador. A aluna afirma que é fundamental a pessoa do tradutor/intérprete para suas aprendizagens, mesmo ela tendo capacidade de articular algumas palavras. Ela diz ser respeitada e valorizada pelos/as colegas de turma, e se sente acolhida pelos grupos de trabalho. Diz se sentir respeita nas apresentações de trabalhos em grupos. Afirma também ser valorizada pelos/as docentes, apresenta trabalhos com tranquilidade, auxiliada pelo tradutor/intérprete, e que já aprendeu a falar com ouvintes. Ela pretende atuar como pedagoga ao concluir o curso e quer trabalhar com crianças surdas na Escola AAVIDA Assistência Áudio-Visual para Deficientes Auditivos, em Divinópolis/MG. Os/As colegas dizem da presença da aluna surda que afeta toda a turma, mas de forma positiva. Sua presença provoca o desejo de tentar ajudar, aprender a lidar, aprender a língua de sinais. É uma leitura positiva que em geral fazem da presença da colega surda

na turma. Percebem respeito e valorização da aluna pelos/as docentes e que os/as docentes têm manifestado o cuidado de apresentar slides ou vídeos com legendas, para a aluna poder participar e se envolver nas atividades. Já houve situação em que a turma recusou vídeo que não era legendado, em consideração à colega surda. Atualmente os/as próprios/as docentes se tocam quando estão com material não legendado. Os/As colegas interpretam isso como aprendizagem de todos/as ao lidarem com a pessoa surda. Entretanto, há dificuldades como, por exemplo, em atividade avaliativa em dupla ou em grupo, em que o/a colega observa o tradutor/intérprete para ver que símbolo usa, para aprender. Outra dificuldade se refere ao vocabulário limitado da colega, uma característica da condição de surda, da qual os/as demais alunos/as estão cientes. Nos trabalhos em grupo há um certo medo por parte de alguns/mas colegas, há a impaciência, mesmo sendo geral o desejo de ajudá-la a interagir com a turma e com os conteúdos enfocados. Afirmam que o tempo dela é mais lento do que o dos/as demais. Há disposição de todos/as em interagir com a colega, mas, muitas vezes não sabem como. Recentemente, em outubro/2012, no auditório da Instituição, pudemos observar a atenção da aluna e o apoio a ela oferecido, em atividade do Curso de Pedagogia, em que se realizava mesa-redonda para discutir sobre a experiência de organização do espaço/tempo escolar por coletivos de educadores/as e educandos/as em escolas da Rede Pública Municipal de Ensino de Divinópolis/MG. Havia três tradutores/as/intérpretes que a acompanhavam: o profissional contratado pela Instituição, um funcionário da Instituição, e a Coordenadora do Curso de Pedagogia, que se revezavam na assistência à aluna. Essa constatação denota que há indícios de transformação na cultura institucional em relação à inclusão de alunos/as surdos/as, em que tem crescido o número de tradutores/intérpretes, o que é muito saudável e bem-vindo no atual contexto de debates a respeito da diversidade. Como enfatiza Teixeira dos Santos (2006, p. 59), Trata-se de vivenciar possibilidades a partir das diferenças vivas sentidas, o que se distingue de atitudes tomadas pelo viés de pseudonecessidades. Esta é uma necessidade, para além de outras diferenças existentes nesse espaço de Ensino Superior, a respeito da qual têm sido construídas iniciativas de Inclusão nessa Instituição.

Na visão dos/as docentes, a relação da turma com a aluna é tranquila, há respeito, não há superproteção, mas cuidado. Há docentes que, quando vão trabalhar com filme, disponibilizam-no com antecedência de até 15 dias, para que a aluna o veja e reveja em casa, com a família, buscando compreendê-lo e interpretá-lo, prolongando assim o seu tempo, que é diferente dos/as demais colegas. Há docente que aponta para a necessidade de o corpo docente pensar mais a respeito do tempo pedagógico, mesmo a aluna se inserindo nos grupos de trabalho, acompanhando o mesmo tempo da turma e cumprindo as atividades propostas. Entretanto, há docente que afirma que não percebe o tempo como problema. A aluna tem cumprido as atividades normalmente e tem apresentado resultados satisfatórios. Há, ainda, docente que destaca que a aluna se relaciona diretamente com um grupo restrito, como acontece também com outros/as colegas, ouvintes, mas que é aceita pela turma toda. Há docente que afirma: tudo isso não significa que haja de fato um movimento maior pela Inclusão; há necessidade de aprofundamento nas reflexões relativas à mediação dos processos de aprendizagem, para fortalecimento das ações inclusivas na sala de aula; a mediação deveria ser um objeto de estudo pelos/as docentes que atuam e/ou atuarão na turma no decorrer do curso para a que a aluna saia da Universidade apta e em condições de disputar no mercado de trabalho. Santos (2003) recorre ao Plano Nacional de Educação PNE (2000) para afirmar que a educação é elemento constitutivo da pessoa e (...) deve estar presente desde o momento em que ela nasce, como meio e condição de formação, desenvolvimento, integração social e realização pessoal (p. 63). Acreditamos, assim, que o INESP e o ISED, no esforço pela prática da Inclusão de surdos/as em seus cursos, têm se pautado numa perspectiva de educação como direito de todos/as, presente no PNE. Esse é o desafio da educação inclusiva, a formação global de todo/a aluno/a, tendo como suporte de seu trabalho o processo ensino-aprendizagem humano (op cit). Esse esforço tem se manifestado na inclusão de todas as diferenças dos/as estudantes, sendo aqui apresentada a inclusão de surdos/as, o que está acima destacado. Já na relação da aluna com a turma, percebe-se pouca autonomia, certa dependência e espera em relação aos/às colegas. Percebemos, assim, que a aluna surda nesse curso apresenta características comuns a outros/as alunos/as, o que é normal, ao se considerar a

grande diversidade de alunos ingressantes nesse e em outros cursos, não somente nessa Instituição, como em outras também. Há docentes que apontam a carência de materiais adequados, na Instituição, como tecnologia para transposição para língua de sinais, links no site da FUNEDI, por exemplo. Há docente que aponta a necessidade de estudarmos um pouco sobre a aprendizagem dos/as alunos/as com surdez. Por exemplo, os estímulos visuais são importantes para eles/as e todos/as nós podemos inserir esses estímulos em nossas aulas. Quanto ao trabalho com vídeos, é, quase sempre, um problema. Devemos ter como princípio que qualquer vídeo a ser apresentado à turma seja legendado em libras, do contrário, a aluna fica/ficará prejudicada. Há, ainda, sugestão de realização de um grupo focal, com todos/as os/as discentes surdos/as da FUNEDI, para que eles/as possam fazer, coletivamente, uma análise da Instituição, pois seria interessante ouvi-los/as acerca da Inclusão, pois será que eles/as se sentem incluídos/as? Comungamos dessas ideias e constatações, bem como da afirmativa de Santos (2003, p. 64) ao argumentar que necessitamos (...) repensar e levantar um debate inicial a respeito de nossa própria prática como educadores a partir dos princípios de uma educação inclusiva, como propõem alguns docentes do Curso de Pedagogia. Essas iniciativas podem/devem fortalecer ainda mais a transformação da cultura institucional em relação à Inclusão de todas e todos os/as estudantes. Cursos de Libras na FUNEDI na modalidade Extensão Hoje é grande a procura por cursos de Libras, por profissionais de diversos setores, como médicos, dentistas, advogados, docentes e outros, tendo em vista a nova consciência que vem sendo gestada diante da diversidade. No ISED e no INESP, na FUNEDI/UEMG, foram oferecidos Cursos de Libras, na modalidade Extensão, e já foram formados aproximadamente 60 funcionários/as e docentes desses Institutos, neste 2º semestre/2012. Ainda neste 2º semestre/2012 acontece um curso básico de Libras, também na modalidade Extensão, com a participação de 41 inscritos, profissionais da educação e comunidade em geral. A conclusão do curso está prevista para dezembro/2012. Está proposto, para o 1º semestre/2013, o Curso Especialização Lato Sensu em Libras, com ênfase em tradução e interpretação de Libras.

Esses cursos sinalizam, portanto, que a Instituição está se envolvendo com a inclusão de surdos/as. Atualmente é comum perceber em nosso espaço acadêmico, como salas de aulas, auditório, corredores, saguões dos diversos blocos da Instituição, cantina, e nas diversas áreas de circulação, pessoas se comunicando pela língua de sinais, surdo/a e surdo/a, ouvinte e surdo/a, o que o caracteriza como espaço cada vez mais humano e inclusivo na formação de jovens para as diversas profissões. Como alerta Santos (2003, p. 66), (...) é inevitável que o movimento de transformação da cultura de uma instituição educacional numa cultura orientada pela e para a inclusão envolva todos os segmentos da comunidade escolar na responsabilidade e solução de problemas, tais como pais, funcionários, alunos, técnicos, docentes, administradores e comunidade como um todo. Assim, consideramos que o oferecimento de cursos como esse colabora no envolvimento de toda a Instituição no processo e na construção de uma cultura institucional sempre mais humanizadora e articulada ao mundo contemporâneo em toda sua diversidade. Considerações finais Ao analisar os dados relativos à Inclusão de alunos/as surdos/as na FUNEDI/UEMG, pudemos constatar que há uma busca pelo estabelecimento de relações mais humanas nas salas de aula, mesmo com todas as limitações percebidas nas diversas situações. Constatamos que os primeiros passos, embora tímidos, têm se concretizado nessa Instituição, com efetivo envolvimento de muitos/as docentes e da Instituição como um todo, o que pode contribuir para a implantação de políticas institucionais nesse sentido. Tem sido grande o interesse de docentes, discentes e funcionários/as pelo Curso de Libras, na modalidade Extensão, com perspectiva de realização de Pós-graduação lato sensu, Especialização em Libras, em 2013, acima relatado. Outro aspecto a ser destacado é o que se refere às interações, fundamentais ao processo de Inclusão, entre alunos/as surdos/as e alunos/as ouvintes, entre alunos/as/surdos/as e docentes, entre alunos/as/surdos/as e funcionários, percebidas pelos relatos acima, que sinalizam para a necessidade e possibilidade da Inclusão de alunos/as surdos/as nos diversos cursos dessa Instituição, mesmo havendo pontos cruciais a serem enfrentados, dificuldades a serem sanadas e políticas institucionais a serem implantadas e

implementadas. A demanda cresce e o INESP e o ISED já respondem a esse desafio, apesar da precariedade ainda constatada. Sabemos que há muito a ser construído. Parafraseando o educador português António Nóvoa (2001), em Diz-me como ensinas e dir-te-ei que és e vice-versa, o que foi aqui apresentado é pouca coisa, mas que não é coisa pouca. O que buscamos foi apresentar um pouquinho do dia a dia nesses cursos. Dialogando com Teixeira dos Santos (2006), nos questionamos: Nossos cursos de graduação estão sendo inclusivos? Na realidade em movimento, estão em processo, em construção da inclusão? O cotidiano escolar deve sempre incluir e todos/as devem ser bem-vindos à escola. Será que todos são de fato bem-vindos? Será que nossa realidade acadêmica cotidiana inclui mesmo a todos/as em suas diferenças, quaisquer que sejam elas? É esse o grande desafio que temos pela frente, pois Reino da diversidade, a escola é lugar de todos (...) (Op cit, p. 30) Assim, tentamos buscar resposta à nossa questão inicial: A Inclusão de surdos nos cursos de graduação, no atual modelo de sociedade capitalista, com ritmo de informação e comunicação cada vez mais acelerado, que envolve e afeta profundamente a todos/as, inclusive jovens surdos/as, pode contribuir efetivamente para a formação humana e profissional desses/as estudantes? Acreditamos que sim, por todas as constatações expostas acima. Mas, ao mesmo tempo, ainda levantamos mais questionamentos em torno da inclusão de fato, lembrando que tudo é processo, é construção. Somos seres inacabados, inconclusos, como alerta Paulo Freire (2009). O que aqui apresentamos se refere aos/às alunos/as surdos/as; a Inclusão vai além dessa dimensão, pois temos a convicção de que Inclusão é isso tudo e muito mais que isso. Pensamos que um passo necessário será o posterior acompanhamento, em futuro próximo, de alunos/as surdos/as egressos/as dos referidos cursos do INESP e do ISED. A inclusão de todos/as e o acompanhamento de alunos/as surdos/as egressos/as dos referidos cursos são temas que podem/devem ser pesquisados e aprofundados em outros trabalhos.

Referências BRASIL. Lei n. 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais Libras e dá outras Providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 25 abr. 2002. BRASIL. Decreto n. 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais Libras. Diário Oficial da República do Brasil, Brasília, 23 dez. 2005. FERNANDES, Sueli. Educação de surdos. Curitiba: Editora Ibpex (no prelo). FERNANDES, Sueli. Letramentos na educação bilíngüe para Surdos. In: BERBERIAN, A. et al (Org.). Letramento: Referências em saúde e educação. São Paulo: Plexus, 2006 FREIRE, Freire. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 39 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2009. NÓVOA, António. Diz-me como ensinas e dir-te-ei que és e vice-versa. In: FAZENDA, I. C. A pesquisa em educação e as transformações do conhecimento. 3 ed. Campinas: Papirus, 2001. P. 29-41. SÁNCHEZ, Carlos. Os surdos, a alfabetização e a leitura: sugestões para desmistificação do tema. Mimeo., 2002. SANTOS, Mônica Pereira dos. A formação de professores no contexto da inclusão. In: ANAIS do Congresso: Surdez e escolaridade: Desafios e reflexões. 17 a 19 de setembro de 2003 (org). INES, Divisão de Estudos e Pesquisas Rio de Janeiro. 2003. P. 63-70. SOARES, M. B. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1988. STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2008.118p. TEIXEIRA DOS SANTOS, Maria Terezinha. Bem-vindo à escola: a inclusão nas vozes do cotidiano. Rio de Janeiro, DP&A, 2006.