Registro: 2017.0000674952 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Conflito de Jurisdição 0010650-19.2017.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é suscitante MM JUIZ DE DIREITO VARA JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DA CAPITAL, é suscitado MM JUIZ DE DIREITO 1ª VARA CRIMINAL DO FORO REGIONAL DO JABAQUARA. ACORDAM, em Câmara Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Conheceram do conflito e julgaram procedente para declarar a competência do juízo suscitado. V.U.", em conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Excelentíssimos Senhores Desembargadores ADEMIR BENEDITO (VICE PRESIDENTE) (Presidente) e SALLES ABREU (PRES. SEÇÃO DE DIREITO CRIMINAL). São Paulo, 4 de setembro de 2017 Alves Braga Junior Relator Assinatura Eletrônica
Voto 05310 Conflito de Jurisdição nº 0010650-19.2017.8.26.0000 LCA (físico) Suscitante: MM. Juiz de Direito da Vara do Juizado Especial Criminal da Capital Suscitado: MM. Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal do Foro Regional do Jabaquara Interessados: Luis Alberto Pinotti Broglio e Daniella Costa e outra Decisão/Sentença: 12.8.2016 CONFLITO DE JURISDIÇÃO. Crimes contra a honra (difamação e injúria). Crimes praticados por meio eletrônico. Redistribuição ao juízo onde sediada a empresa provedora de acesso. Impossibilidade. Local de consumação do delito não conhecido. Aplicação do art. 72 do CPP. Competência fixada em razão do domicílio ou residência do réu. CONFLITO PROCEDENTE. COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITADO. RELATÓRIO Trata-se de conflito de jurisdição suscitado pelo MM. JUIZ DE DIREITO DA VARA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DA CAPITAL, Dr. Ulisses Augusto Pascolati Junior, em face da MM. JUÍZA DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DO FORO REGIONAL DO JABAQUARA, Drª. Tânia Magalhães Avelar Moreira da Silveira, para processamento da ação penal ajuizada por Luis Alberto Pinotti Broglio em face de Daniella Costa e outra, ao qual imputada a prática dos crimes de injúria e difamação, previstos nos arts. 139 e 140, caput, do CP. FUNDAMENTAÇÃO O conflito deve ser conhecido. Há controvérsia acerca da competência (art. 114, I, do CPP). O magistrado suscitado acolheu manifestação do Ministério Público e se declarou incompetente, sob o fundamento de que, em crimes contra a Conflito de Jurisdição nº 0010650-19.2017.8.26.0000 2/5
honra praticados pela internet, a competência fixa-se em razão do local onde está hospedado o provedor responsável pela divulgação da informação, de acordo com entendimento do STJ e STF. O juízo suscitante, por sua vez, afirma que esse entendimento restou superado por julgado do STJ que fixa a competência com base no local onde as informações foram alimentadas, e que considera irrelevante o local do provedor. Afirma que não é possível saber, ao certo, onde foram praticados os crimes, motivo pelo qual deve ser aplicado o disposto no art. 72 do CPP, fixando-se a competência em razão do domicílio ou residência do réu. Com razão. Cuida-se de queixa-crime para apuração de suposta prática de crime de difamação e injúria, em que as rés imputam fatos desabonadores à conduta profissional do autor, por meio da rede social Facebook. São crimes, em tese, de menor potencial ofensivo 1. Daí a propositura da ação nos Juizados Especiais Criminais. De acordo com o art. 63, da Lei 9.099/95, a competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal. Em se tratando de crime contra a honra, praticado por meio eletrônico, incerto o local onde praticada a infração. Para tanto, necessária a realização de prova complexa, incompatível com o procedimento do Juizado. Devem ser aplicadas, então, por expressa autorização do art. 92 2 da Lei do Juizados Especiais, as regras de competência do Código de Processo Penal. 1 Difamação. Pena de detenção: 3 meses a um ano. Injúria. Pena de detenção: 1 a 6 meses 2 Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições dos Códigos Penal e de Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei. Conflito de Jurisdição nº 0010650-19.2017.8.26.0000 3/5
O Código de Processo Penal adota a teoria do resultado. A norma geral do art. 70 aduz que: a competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. No entanto, diante da dificuldade de se apurar o momento e local da consumação dos crimes cometidos pela internet, seria o caso de aplicação da regra subsidiária do art. 72 do Código de Processo Penal, que dispõe que não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu. Nesse sentido, julgados desta c. Câmara Especial: CONFLITO NEGATIVO DE JURISDIÇÃO. Queixacrime. Crime de injúria supostamente praticado por meio eletrônico, via internet. Desconhecimento do local da consumação do delito, que ocorre com o conhecimento da ofensa pelo ofendido. Competência que deve ser fixada pelo domicílio do réu. Incidência da regra prevista pelo artigo 72, caput, do Código de Processo Penal. CONFLITO PROCEDENTE. COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITANTE. (CJ nº 0035718-73.2014.8.26.0000, Rel. Des. Camargo Aranha Filho, j. em 9.9.2014) Conflito negativo de jurisdição. Queixa-crime distribuída perante o Juízo da Vara do Juizado Especial Criminal Central, que determinou a redistribuição a uma das Varas Criminais do Foro Regional de Santana cuja competência abrange o domicílio do réu. Crime de Difamação que se consuma com o conhecimento da ofensa por terceiro. Ofensa propalada via Internet. Desconhecimento do local da consumação. Incidência da regra de exceção prevista pelo art.72, CPP. Competência do Juízo suscitante. (CJ nº 0148098-78.2010.8.26.0000, Rel. Des. Maia da Cunha, j. em 25.11.2010). As rés possuem endereço na área abrangida pela competência do Foro Regional do Jabaquara. Considera-se, portanto, competente o juízo suscitado. Conflito de Jurisdição nº 0010650-19.2017.8.26.0000 4/5
DISPOSITIVO Ante o exposto, julga-se procedente o conflito para declarar a competência do juízo suscitado (1ª Vara Criminal do Foro Regional do Jabaquara). Alves Braga Junior Relator ASSINADO COM CERTIFICADO DIGITAL Conflito de Jurisdição nº 0010650-19.2017.8.26.0000 5/5