PROCESSAMENTO DOMÉSTICO DO FEIJÃO E AVALIAÇÃO DA SOLUBILIDADE PROTÉICA E ÍNDICE DE ABSORÇÃO DE ÁGUA EM DIFERENTES TEMPOS DE COZIMENTO

Documentos relacionados
CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DE GRÃOS DE FEIJÃO (Phaseolus vulgaris L.) CRUZ E COZIDOS RESUMO

AVALIAÇÃO DA FRAÇÃO PROTEICA DOS GRÃOS SECOS DE DESTILARIA COM SOLÚVEIS DE MILHO E DA TORTA DE ALGODÃO

AVALIAÇÃO SENSORIAL DE PREPARAÇÕES COM SOJA MARROM ADICIONADOS DE FEIJÃO CARIOQUINHA

XI Jornada Científica XI Semana de Ciência e Tecnologia IFMG Campus Bambuí

Propriedades Físicas de Grãos de Feijão Carioca (Phaseolus vulgaris)

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

COMPOSIÇÃO QUIMICA DE FARINHAS DE DIFERENTES ESPÉCIES DE INSETOS COMO INGREDIENTE PARA RAÇÃO ANIMAL

CURVA DE HIDRATAÇÃO DE FEIJÃO CARIOCA EM TEMPERATURA CONTROLADA

Efeitos do armazenamento em atmosfera modificada sobre propriedades físicoquímicas

ACEITABILIDADE DE DEZ CULTIVARES E UMA LINHAGEM DE FEIJÃO- CAUPI (Vigna unguiculata ( L.) Walp) CRUS E PROCESSADOS

EXTRATO PROTEICO VEGANO BLOQUEADOR DE CARBOIDRATOS TRATAMENTO DE OBESIDADE

Rendimento e Qualidade de Grits para Extrusão de Algumas Variedades de Milho Produzidos pela Embrapa

ALIMENTOS ALTERNATIVOS PARA CRIAÇÃO DE SUÍNOS NA FASE DE CRESCIMENTO E TERMINAÇÃO

Alterações nas Propriedades Tecnológicas e Nutricionais de Grãos de Feijão Preto Armazenado

Hidratação de Grãos de Diferentes Marcas de Feijão-carioca Comercializadas em Bandeirantes-PR

OBTENÇÃO E UTILIZAÇÃO DE FARINHA DE FEIJÕES-CAUPI DE GRÃOS BRANCOS NA ELABORAÇÃO DE PASTEL DE FORNO

COMPOSIÇÃO CENTESIMAL E O TEOR DE MINERAIS DE LINHAGENS DE FEIJÃO-CAUPI (Vigna unguiculata (L.) Walp.)

RELATÓRIO DE PESQUISA - 49

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO Campus Experimental de Dracena PLANO DE ENSINO CURSO DE GRADUAÇÃO EM: ZOOTECNIA

Comparação dos modelos de Gompertz e Verhulst no ajuste de dados de uma variedade de feijão

MISTURA PRONTA PARA PREPARO DE SOPA COM FIBRA DE FEIJÃO COMUM (Phaseolus vulgaris L.)

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE ABÓBORA E MORANGA CRISTALIZADAS PELO PROCESSO DE AÇUCARAMENTO LENTO.

SORGO - UMA BOA ALTERNATIVA PARA REDUÇÃO DOS CUSTOS DE ALIMENTAÇÃO

AVALIAÇÃO SENSORIAL DE BARRAS DE CEREAIS COM PASSAS DE MIRTILO (Vaccinium ashei Reade) COM E SEM DESIDRATAÇÃO OSMÓTICA

ELABORAÇÃO E ACEITAÇÃO DE PÃO COM REDUÇÃO DE CLORETO DE SÓDIO E CARACTERÍSTICAS FUNCIONAIS

Substituição do farelo de soja pela torta de babaçu em rações balanceadas para frangos de corte na fase de 22 a 42 dias de idade

PROPRIEDADES DE ABSORÇÃO E SOLUBILIZAÇÃO DE EXTRUDADOS DE FARINHA MISTA DE FEIJÃO, MILHO E ARROZ BIOFORTIFICADOS

Avaliação da composição centesimal e determinação de minerais em rações para cães e gatos

Milho. Gérmen de milho. Gérmen de milho. Gérmen de milho 05/05/2008. Universidade Federal de Goiás Alimentos e Alimentação Animal

DESEMPENHO DE FRANGOS DE CORTE ALIMENTADOS COM DIETAS CONTENDO ÓLEO DE SOJA. Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Goiás, Brasil

Uso do grão de arroz na alimentação de suínos e aves

INFORMAÇÃO NUTRICIONAL DE BEBIDA À BASE DE EXTRATOS DE ARROZ E DE SOJA INFORMAÇÃO NUTRICIONAL DE BEBIDA À BASE DE EXTRATOS DE ARROZ E DE SOJA

100 ml leite UHT, com 87 % umidade equivalem a 13 g de matéria seca: ( = 13).

ACEITABILIDADE DE OVOS COM BASE NA DEGUSTAÇÃO E PIGMENTAÇÃO DA GEMA

III Seminário: Sistemas de Produção Agropecuária - Zootecnia

* Exemplos de Cardápios. Equipe: Divair Doneda, Vanuska Lima, Clevi Rapkiewicz, Júlia Prates

ELABORAÇÃO DE TALHARIM A BASE DE FARINHA DE FEIJÃO COMO FONTE ALTERNATIVA DE FERRO

VARIAÇÕES DO MÉTODO DE QUANTIFICAÇÃO DA PROTEÍNA SOLÚVEL EM SOJA DESATIVADA UTILIZADA NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL

CARACTERÍSTICAS E CONSUMO DE PESCADO NO SUL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Avaliação sensorial de requeijão cremoso de diferentes marcas comerciais

CONSUMO ALIMENTAR DE ESCOLARES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO NO MUNICÍPIO DE PALMAS TO

Nutritime. Uso do concentrado protéico de arroz na dieta de suínos, aves e peixes (salmão e truta).

Uso da Ora-Pro-Nobis para Codornas Japonesas em Fase de Postura

PROPRIEDADES FÍSICAS DE SEMENTES DE FEIJÃO (Phaseolus vulgaris L.) VARIEDADE EMGOPA 201 OURO

A Energia que vem do campo Linha de Produtos

Alimentos Alternativos disponíveis no Nordeste para Alimentação de Aves Tipo Caipira

DESEMPENHO E CARACTERÍSTICAS DE CARCAÇA DE SUÍNOS EM TERMINAÇÃO SUPLEMENTADOS COM DIFERENTES NÍVEIS DE RACTOPAMINA NA DIETA

CUSTO DE PRODUÇÃO DE TOURINHOS NELORE ALIMENTADOS COM DIETAS À BASE DE FUBÁ OU MILHO DESINTEGRADO COM PALHA E SABUGO (MDPS) Introdução

DESEMPENHO DE FRANGOS DE CORTE FÊMEAS RECEBENDO DIETAS COM NÍVEIS DE VALINA

AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CENTESIMAL DE FEIJÃO (Phaseolus vulgaris L) PÉROLA E BRS VALENTE EM DIFERENTES TRATAMENTOS

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

CARACTERIZAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CENTESIMAL E MINERAL DE DIFERENTES CULTIVARES DE FEIJÃO COMUM CRUS E COZIDOS

RESSALVA. Atendendo solicitação do autor, o texto completo desta dissertação será disponibilizado somente a partir de 17/04/2016.

ECONOMICIDADE DA SUBSTITUIÇÃO MILHO PELO RESÍDUO ÚMIDO DA EXTRAÇÃO DE FÉCULA DE MANDIOCA NA TERMINAÇÃO DE TOURINHOS EM CONFINAMENTO

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DA FARINHA DE MANDIOCA PRODUZIDA EM DIFERENTES ESTADOS DO PAÍS.

AVALIAÇÃO DO TEMPO DE COZIMENTO DA MASSA DE QUEIJO SOBRE A UMIDADE DE QUEIJO PRATO DURANTE A MATURAÇÃO

NUTRIÇÃO NA TERCEIRA IDADE. Como ter uma vida mais saudável comendo bem.

Produção e Composição Bromatológica de Cultivares de Milho para Silagem

Variabilidade para o teor de proteínas totais em linhagens F6 de feijão caupi no

Processamento de alimentos para cães e gatos. M. V. Mayara Aline Baller Nutrição de Cães e Gatos FCAV/Unesp-Jaboticabal

ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO CENTESIMAL DE RAÇÃO PARA FRANGOS DE CORTE MACHOS DE UMA EMPRESA DO SUL DE SANTA CATARINA.

Desenvolvimento de massa de pizza enriquecida com feijão-caupi (Vignaunguiculata (L.) Walp.)

DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS DE SEMENTE DE FEIJÃO (Phaseolus vulgaris L.) VARIEDADE EMGOPA OURO

Prêmio Jovem Cientista

UTILIZAÇÃO DA FARINHA DE SEMENTE DE ABÓBORA (Cucurbita pepo L.) COMO FONTE ALTERNATIVA NA ALIMENTAÇÃO DE SUÍNOS: EM FASE INICIAL

Coprodutos e subprodutos agroindustriais na alimentação de bovinos

Lei8080,19set.1990-Art.3º(BRASIL,1990) A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes,

Tempo de cozimento em três diferentes variedades de feijão carioca

AVALIAÇÃO DE GENÓTIPOS DE FEIJOEIRO COMUM NO ESTADO DE GOIÁS

Desempenho de leitões em fase de creche alimentados com soro de leite.

5º Simposio de Ensino de Graduação ELABORAÇÃO DE UM PÃO DE MANDIOCA COM BAIXO TEOR DE FENILALANINA

POTENCIAL NUTRICIONAL E CULINÁRIO DE LINHAGENS DE TEGUMENTO E COTILÉDONE VERDES PARA O MERCADO DE FEIJÃO-CAUPI VERDE

Palavras-Chave: INTRODUÇÃO

GERMINAÇÃO E VIGOR DE SEMENTES DE FEIJÃO-CAUPI EM FUNÇÃO DA COLORAÇÃO DO TEGUMENTO

AVALIAÇÃO DE POPULAÇÕES DE SOJA DESTINADAS À ALIMENTAÇÃO HUMANA PARA O ESTADO DE MINAS GERAIS

ALIMENTAÇÃO E SAÚDE 1 - A RELAÇÃO ENTRE A ALIMENTAÇÃO E SAÚDE

ELABORAÇÃO DE LICOR DE FRUTAS NATIVAS E TROPICAIS

5º Simposio de Ensino de Graduação ELABORAÇÃO DE UM PÃO DE MANDIOCA COM BAIXO TEOR DE FENILALANINA

11 a 14 de dezembro de 2012 Campus de Palmas

PROPRIEDADES FÍSICAS DOS FRUTOS DE MAMONA DURANTE A SECAGEM

AVALIAÇÃO SENSORIAL DA FIBRA DO PEDÚNCULO DO CAJÚ (Anacardium occidentale L.) EM DIFERENTES CONCENTRAÇÕES COMO RECHEIO EM PASTEIS

ESTABILIDADE DE GENÓTIPOS DE FEIJOEIRO COMUM NO ESTADO DE GOIÁS PARA PRODUTIVIDADE DE GRÃOS, CICLO 2005/2006 1

OBTENÇÃO DE FARINHA DE FEIJÃO CAUPI (Vigna unguiculata L. Walp)

EFEITO DOS NÍVEIS DE SALINIDADE DA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO NA PRODUÇÃO DO FEIJOEIRO COMUM*

CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS E BACTERIANAS DO LEITE CRU REFRIGERADO CAPTADO EM TRÊS LATICÍNIOS DA REGIÃO DA ZONA DA MATA (MG)

Qualidade de grãos de duas cultivares de arroz de terras altas produzidas em Minas Gerais

VALIDAÇÃO DE UMA EQUAÇÃO PARA PREDIÇÃO DO VALOR ENERGÉTICO DO MILHO COM DIFERENTES GRAUS DE MOAGEM E MÉTODOS DE FORMULAÇÃO DAS DIETAS

Bolsista, Embrapa Semiárido, Petrolina-PE, 2

Determinação da concentração de cromo na carne de frango de corte alimentados com ração suplementada

CURVA DE CRESCIMENTO DA LINHAGEM DE FRANGO DE CORTE CARIJÓ

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO Campus Experimental de Dracena PROGRAMA DE ENSINO CURSO DE GRADUAÇÃO EM: ZOOTECNIA

V Semana de Ciência e Tecnologia do IFMG campus Bambuí V Jornada Científica 19 a 24 de novembro de 2012

RELATÓRIO DE PESQUISA - 47

Composição química e valor nutritivo da soja crua e submetida a diferentes processamentos térmicos para suínos em crescimento

Princípios da Alimentação e Saúde

Avaliação química de resíduo de fecularia

Defesa de Estágio Extracurricular em Nutrição de Bovinos Leiteiros

Coprodutos e subprodutos agroindustriais na alimentação de bovinos

COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS GRÃOS SECOS EM GENÓTIPOS DE FEIJÃO-CAUPI CHEMICAL COMPOSITION OF DRY GRAINS IN COWPEA GENOTYPES

Coprodutos e subprodutos agroindustriais na alimentação de bovinos

Transcrição:

PROCESSAMENTO DOMÉSTICO DO FEIJÃO E AVALIAÇÃO DA SOLUBILIDADE PROTÉICA E ÍNDICE DE ABSORÇÃO DE ÁGUA EM DIFERENTES TEMPOS DE COZIMENTO L. R. M. Gotardo 1, R.F. Dias 2, F. H. Litz 3 E. A. Fernandes 4 A. G. L. Saar 5 E. M. M. Tassi 6 1- Departamento de Agroindústria e Tecnologia de Alimentos Instituto Federal do Triângulo Mineiro CEP: 38305-200 Ituiutaba MG Brasil, Telefone: 55 (34) 32714056 e-mail: (luciana.ruggeri@hotmail.com) 2- Faculdade de Medicina Veterinária Universidade Federal de Uberlândia, Laboratório de Análise de Matéria Prima e Ração CEP: 38400-902 Uberlândia MG Brasil, Telefone: 55 (34) 3225-8652 e-mail: (raquelfariadias@hotmail.com.br) 3 - Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinárias Universidade Federal de Uberlândia, Laboratório de Análise de Matéria Prima e Ração- Faculdade de Medicina Veterinária CEP: 38400-902 Uberlândia MG Brasil, Telefone: 55 (34) 3225-8652 e-mail: (fernandalitz@veterinaria.med.br) 4- Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinárias Universidade Federal de Uberlândia, Laboratório de Análise de Matéria Prima e Ração- Faculdade de Medicina Veterinária CEP: 38400-902 Uberlândia MG Brasil, Telefone: 55 (34) 3225-8652 e-mail: (evandro.fernandes@ufu,br) 5-Faculdade de Medicina Veterinária Universidade Federal de Uberlândia, Laboratório de Análise de Matéria Prima e Ração CEP: 38400-902 Uberlândia MG Brasil, Telefone: 55 (34) 3225-8652 e-mail: (gabiisaar@gmail.com) 6- Departamento de Nutrição - Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Medicina CEP: 38400-902 - Uberlândia MG Brasil, Telefone: 55 (34) 3225-8584 e-mail: (erikatassi@gmail.com) RESUMO O processamento térmico influencia na queda da solubilidade proteica e na redução da proteína disponível para digestão. Avaliou se a solubilidade proteica em KOH e o índice de absorção de água do feijão e o efeito do cozimento de 15, 30 e 45 minutos nos feijões Carioca, Jalo, Preto e Vermelho. Utilizaram-se feijões em grãos, procedendo ao cozimento com e sem maceração. As porcentagens de solubilidade em KOH dos grãos macerados (fez-se farinha destes para análises), apresentaram diferenças tanto para o feijão como para o tempo de cozimento, com médias de 18,47%, 13,38% e 11,20% em 15, 30 e 45 minutos de cozimento. Enquanto que para os feijões cozidos sem maceração, apenas o tempo de cozimento apresentou diferenças, com valores médios de 24,26%, 13,65% e 10,33% em 15, 30 e 45 minutos de cozimento. Conclui-se que, a forma de preparar o feijão pode influenciar no aproveitamento de seu valor nutricional. ABSTRACT Thermal processing influences the drop in protein solubility and the reduction of the protein available for digestion. The protein solubility in KOH and the water absorption index of the bean and the cooking effect of 15, 30 and 45 minutes in the Carioca, Jalo, Preto and Vermelho beans were evaluated. Grain beans were used, cooking with and without maceration. The percentages of solubility in KOH of the macerated grains (these were made for analysis), presented differences for both the beans and the cooking time, with averages of 18.47%, 13.38% and 11.20% in 15, 30 and 45 minutes cooking time. However, for cooked beans without maceration, only cooking time presented differences, with mean values of 24.26%, 13.65% and 10.33% at 15, 30 and 45 minutes of cooking time. It is concluded that, the way of preparing the beans can influence the utilization of their nutritional value.

PALAVRAS-CHAVE: maceração; proteína bruta; proteína solúvel. KEYWORDS: crude protein; maceration; soluble protein. 1. INTRODUÇÃO O feijão comum (Phaseolus vulgaris L.) é um alimento tradicional e muito consumido pelos brasileiros e constitui um dos principais componentes da dieta alimentar brasileira. Os grãos dessa leguminosa geralmente são ofertados no mercado secos e crus e representam uma importante fonte de proteína, ferro e carboidratos (Silva et al., 2009). Na alimentação brasileira é comum a preparação do arroz e feijão, representando para as pessoas de poder aquisitivo reduzido a principal fonte proteica, isto porque contemplam altas concentrações de aminoácidos sulfurados e lisina (Mesquita et al., 2007). Em relação ao seu conteúdo calórico, a ingestão do feijão corresponde à 11,2% da energia total consumida diariamente (Hoffmann, 2014). O valor nutritivo do feijão não se limita ao seu conteúdo proteico e calórico. A leguminosa também apresenta teores de vitaminas do complexo B e de fibra alimentar, colaborando na diminuição dos níveis de glicemia e de colesterol (Rios et al., 2003). O consumo recomendado pelo Ministério da Saúde (2006) é de uma porção diária da leguminosa, diversificando nas variedades de feijões e no modo de preparação. Os hábitos alimentares são bastante diversificados por todo território brasileiro e ainda dentro das mesmas regiões do Brasil. Considerando as características de padrão de identidade, qualidade, grupos, classes e tipos, cada região tem suas preferências. Segundo Ramalho e Abreu (1998), em Minas Gerais, na Zona da Mata, há consumo das classes preta e vermelha e a variedade carioca. Já no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba a preferência de consumo é pelo feijão carioca. Portaria n 161 de 24 de julho de 1987 (BRASIL, 1987) define as características de identidade e qualidade, apresentação e embalagem do feijão in natura que se destina a comercialização interna. O feijão é classificado em grupos, classes e tipos, segundo a espécie a coloração da película e a qualidade. Objetivou-se com esse projeto conhecer o impacto do processamento doméstico do feijão através da avaliação da solubilidade proteica em KOH e do índice de absorção de água e o efeito do cozimento em tempos de 15, 30 e 45 minutos nos feijões Carioca, Jalo, Preto e Vermelho. 2. MATERIAL E MÉTODOS As análises químicas decorreram no Laboratório de Análise de Matéria Prima e Ração da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia (LAMRA). As amostras de feijões (Phaseolus vulgaris L.) utilizadas foram das variedades Carioca, Preto, Jalo e Vermelho, sendo obtidas no comércio local de Uberlândia, Minas Gerais. O índice de absorção de água das amostras de feijão cru foi feito conforme metodologia proposta por Anderson et al. (1969). Os grãos foram selecionados e cozidos em água na proporção de 200 gramas para 1000 ml de água. As amostras que foram submetidas ao processo de maceração, ficaram em água dentro de panelas de pressão durante 11 horas na mesma proporção e posteriormente foram cozidos na água proveniente da maceração. O cozimento dos grãos de feijão foi em períodos de tempo de 0, 15, 30, 45 minutos, simulando o procedimento residencial com panelas de pressão de pressão, com capacidade de 4,5 litros, providas de tampas que vedam e válvulas para escape do vapor, que serve de controle da pressão. Foram utilizados fogões residenciais de 4 trempes e gás liquefeito de petróleo para a cocção.

O tempo foi medido através de cronômetro e a temperatura verificada por meio de termômetro, apenas para controle. Após os 30 minutos de cozimento foram adicionado 180 ml de água para continuar o cozimento, devido à necessidade dos grãos que secaram. Os feijões cozidos foram retirados com uma concha perfurada e secos sem o caldo da cocção em estufa de ar circulante por 72 horas à 55 C, e moídos em moinho de faca 1 milímetro. Para as análises físico-químicas utilizaram-se as farinhas dos feijões cozidos. A determinação de proteínas foi realizada conforme o método de KJELDAHL, que consiste na conversão do nitrogênio contido na amostra e sua quantificação. O fator de conversão de nitrogênio em proteína utilizado foi de 6,25, considerando que 16% da proteína é composta de nitrogênio. A determinação da solubilidade proteica foi em solução 0,2% de KOH descrita no Compêndio Brasileiro de Alimentação Animal (2009). Os teores de proteína total e solúvel no sobrenadante são determinados pelo método de KJELDAHL, utilizando-se o fator de conversão de 6,25. A solubilidade da proteína foi determinada como: (% proteína no sobrenadante/ % de proteína total) x 100. Análise estatística: os resultados foram submetidos a Análise de Variância ANOVA- fator duplo sem repetição (Excel) com grau de confiabilidade à 5% (p<0,5). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO O índice de absorção de água (IAA) é uma medida que reflete a capacidade do grânulo de amido em absorver água, mesmo temperatura ambiente. Para a farinha de feijão Carioca o IAA foi de 3,45 g gel/ g amostra, 3,74 g gel/ g amostra para a farinha de feijão Jalo, 3,10 g gel/ g amostra para o Preto e 3,89 g gel/ g amostra para a farinha de feijão Vermelho. Gomes et al (2012) encontraram 2,54 g de gel/g de amostra para farinha de feijão fradinho obtida na secagem à 40 C, 2,63 g gel/ g amostra à 50 C e 2,47 g gel/ g amostra à 60 C. Gomes et al. (2006) observou valores de IAA de farinhas de feijão entre 2,84 e 3,21 g de água absorvida/g de farinha. Tabela 1. Índice de Absorção de Água (%) dos feijões crus Índice de Absorção de Água (%) Carioca 344,95 Jalo 374,26 Preto 309,63 Vermelho 389,38 As médias encontradas de proteína bruta nos grãos cozidos, drenados e secos conforme descrito (TABELA 2) para os feijões sem maceração foram de 10,07% no tempo de 15 minutos de cozimento, 7,46% em 30 minutos e 6,53% em 45 minutos, apresentando diferenças no tempo de cozimento. Entretanto não houve diferença significativa entre as variedades de feijões para o mesmo tempo de cozimento, com médias de 8,53% para o Carioca, 8,13% para o Jalo, 7,99% para o Preto e 7,43% para o Vermelho. Tabela 2- Proteína Bruta (%) de feijões conforme adquirido no mercado e após cozimento em diferentes tempos. Grãos sem maceração

0* 15 30 45 MÉDIA ANOVA P valor Carioca 21,06 11,34 7,39 6,85 8,53 0,2717 Jalo 23,93 10.38 7,83 6,19 8,13 Tempo de cozimento 0,0004 Preto 20,96 9,55 7,33 7,09 7,99 Vermelho 19,51 9,02 7,27 5,99 7,43 MÉDIA 10,07 7,46 6,53 Os feijões macerados cozidos (TABELA 3) apresentaram valores de proteína bruta com diferença significativa para o tempo de cozimento, com médias de 8,21% em 15 minutos, 7, 00% em 30 minutos e 6,43% em 45 minutos de cozimento. A proteína bruta diferiu entre os feijões com maceração dentro dos diferentes tempos de cocção, o Carioca obteve média de 7,34%, o Jalo 7,34%, o Preto 7,44% e o Vermelho 6,74%. Tabela 3- Proteína Bruta (%) de feijões conforme adquirido no mercado e após cozimento em diferentes tempos. Grãos macerados 0* 15 30 45 MÉDIA ANOVA pvalor Carioca 21,06 8,37 7,07 6,58 7,34 0,0016 Jalo 23,93 8,28 7,15 6,58 7,34 Tempo de cozimento <0,0001 Preto 20,96 8,61 7,19 6,51 7,44 Vermelho 19,51 7.59 6,59 6,03 6,74 MÉDIA 8,21 7,00 6,43 As solubilidades proteicas em KOH para os feijões sem maceração (TABELA 4) variaram nos diferentes tempos de cocção, com médias de 24,26% em 15 minutos de cozimento, 13,65% em 30 minutos e 10,33% em 45 minutos. Enquanto as variedades dos feijões não apresentaram diferenças. As médias de solubilidade em KOH sob o efeito tempo de cocção não diferiram e para cada variedade foram de 16,27% para o Carioca, 19,28% para o Jalo, 13,61% para o Preto e 15,16% para o Vermelho. O valor mínimo de solubilidade proteica em KOH 0,2% para a soja segundo o Compêndio Brasileiro de Alimentação Animal (2009) é de 80% e para tremoço cru e após tratamento térmico Monteiro et al. (2010) encontraram valores de 79% e 75%, respectivamente. A disponibilidade proteica é afetada quando ocorre grande desnaturação das proteínas, apresentando solubilidade proteica inferior a 80% (LIMA et al., 2014). Mendes et al. (2004) relata variação de 73 a 85%, indicando subprocessamento em valores abaixo de 70% e superprocessamento acima de 85%. Brito et al. (2006) encontraram valores de solubilidade em KOH de 91% para sojas extrusadas subprocessada e 66% para superprocessada, enquanto que o processamento normal foi de 88%. Moura (2007) observou para farelo de soja 85,4% de solubilidade proteica em KOH, 70,2 % para sojas integrais tostada, 87,6% para as extrusadas e 78,6% para as micronizadas.

Ribeiro et al. (2005) encontraram valores de solubilidade em água das proteínas de feijão comum preto em armazenamentos a 41 C e 75 % de umidade relativa durante 30 dias de 67,61 % e em 60 dias 52,59%. Enquanto que o grupo controle, com armazenamento a 5 C e 60% de umidade relativa foi de 72,42 %. Tabela 4- Solubilidade em KOH (%) de feijões conforme adquirido no mercado e após cozimento em diferentes tempos. Grãos sem maceração 0* 15 30 45 MÉDIA ANOVA Pvalor Carioca 99,33 26,25 13,35 9,20 16,27 0,0626 Jalo 92,76 29,26 16,23 12,34 19,28 Tempo de cozimento 0,0002 Preto 86,40 18,98 11,81 10,05 13,61 Vermelho 93,36 22,53 13,19 9,75 15,16 MÉDIA 24,26 13,64 10,33 As médias encontradas de solubilidade proteica em KOH para os feijões após a maceração variaram (TABELA 5). Os valores médios para cada variedade dentro da média dos tempos de cozimento foram de 15,18% para o feijão Carioca, 16,27% para o Jalo, 12,46% para o Preto e 13,50% para o Vermelho. O tempo de cozimento foi significativo independente das variedades de 18,47% em 15 minutos de cozimento, 13,38% em 30 minutos e 11,20% em 45 minutos. Tabela 5- Solubilidade em KOH (%) de feijões conforme adquirido no mercado e após cozimento em diferentes tempos. Grãos macerados 0* 15 30 45 MÉDIA ANOVA Pvalor Carioca 99,33 19,26 13,53 12,75 15,18 0,0097 Jalo 92,76 20,75 15,32 12,73 16,26 Tempo de cozimento <0,0001 Preto 86,40 17,19 10,76 9,43 12,46 Vermelho 93,36 16,67 13.92 9,89 13,50 MÉDIA 18,47 13,38 11,20 4. CONCLUSÕES Conclui-se que, tratando se de uma fonte de proteína barata e muito utilizada na alimentação humana, deve-se tomar cuidado acerca da preparação do feijão, pois o tempo de maceração pode ser uma opção para subsídio de proteínas na alimentação de população despossuída. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Anderson, R.A., Conway, H.F., Pfeifer V.F., Griffin Junior, E.R. (1969). Gelatinization of corn grits by Roll-and extrusion-cooking. Cereal Science Today, 14 (1), 4-12. Brasil. Ministério da Saúde. (2006). Guia alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável. Brasília. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brito C.O., Albino L.F.T.; Rostagno H.S.; Gomes, P.C.; Dionizio, M.A.; Carvalho, D.C.O. (2006). Adição de complexo multienzimático em dietas à base de soja extrusada e desempenho de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, 35 (2), 457-461. Compêndio Brasileiro de Alimentação Animal. (2009). Métodos analíticos, Brasília, Ministério da Agricultura e dos Abastecimentos. Gomes, G.M.S., Reis, R.C., Silva, C.A.D.T. (2012). Obtenção de farinha de feijão Caupi (Vigna unguiculata L. Walp). Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, 14 (1), 31-36. Gomes, J. C., Solva, C. O., Costa, N. M. B., Pirozi, M. R.(2006). Desenvolvimento e caracterização de farinhas de feijão. Revista Ceres, 53 (309). Hoffmann, R. (2014). A agricultura familiar produz 70% dos alimentos consumidos no Brasil? Segurança Alimentar e Nutricional, 21 (1), 417-421. Lima, C. B., Costa F.G.P., Ludke, J.V., Lima Júnior, D.M., Mariz T.M.A., Pereira, A.P., Silva, G.M., Almeida, A.C.A. (2014). Fatores antinutricionais e processamento do grão de soja para alimentação animal. ACSA Agropecuária Científica no Semiárido, 10 (4) 24-33. Mendes W. S., Silva I.J., Fontes D.O., Rodriguez N.M., Marinho P.C., Silva F.O., Arouca C.L.C., Silva F.C.O. (2004). Composição química e valor nutritivo da soja crua e submetida a diferentes processamentos térmicos para suínos em crescimento. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, 56 (2), 207-213. Monteiro M. R. P., Oliveira C.T., Silva L.S., Mendes F.Q., Sant ana R.C.O. (2010). Efeito do tratamento térmico na digestibilidade, solubilidade e índice de atividade de uréase em tremoço (Lupinus albus e Lupinus angustifolius). Alimentos e Nutrição, 21 (3), 487-493. Moura, W. C. O. (2007). Soja integral processada em dietas para codornas japonesas em postura. ( Dissertação Mestrado) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. Mesquita F. B., Correa A. D., Abreu C. M. P., Lima R. A. Z., Abreu A. F. B. (2007). Linhagens de feijão (Phaseolus vulgaris L.): composição química e digestibilidade protéica. Ciência e Agrotecnologia, 31(4), 1114-1121. Ramalho, M. A. P., Abreu, A. F. B. Cultivares. In: Vieira, C.; Jr., T. J. P., Borem, A. (1998) : Aspectos gerais e cultura no estado de Minas Gerais. (1.ed). Viçosa: Editora UFV. Ribeiro H.J.S.S., Prudencio-Ferreira S.H., Miyagui D.T. (2005). Propriedades físicas e químicas de feijão comum preto, cultivar Iapar 44, após envelhecimento acelerado. Ciência e Tecnologia dos Alimentos, 25 (1), 165-169. Rios A. de O., Abreu C. M. P., Corrêa A. D. (2003). Efeito da estocagem e das condições de colheita sobre algumas propriedades físicas, químicas e nutricionais de três cultivares de feijão (Phaseolus vulgaris, L.). Ciência e Tecnologia dos Alimentos, 23(Suplemento) 39-45. Silva A.G., Rocha L.C.. Canniatti Brazaca S.G. (2009). Caracterização físico-química, digestibilidade protéica e atividade antioxidante de feijão comum (Phaseolus vulgaris L.). Alimentos e Nutrição, 20 (4) 591-598.