EMENTA: FACTORING TÍTULO NEGOCIADO FRUSTRAÇÃO DE PAGAMENTO RESPONSABILIDADE DO RÉU ENDOSSANTE INCIDÊNCIA ADMITIDA Não se vê maculada por abuso ou ilegalidade a obrigação contratual imputada ao réu endossante de pagar o título negociado em operação de factoring quando frustrada sua satisfação pelo sacado. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 2.0000.00.520237-3/000, da Comarca de BETIM, sendo Apelante (s): BEMEC BETIM MECÂNICA INDUSTRIAL LTDA. e Apelado (a) (os) (as): CCCS CADASTRO, CRÉDITO, COBRANÇA E SERVIÇOS LTDA. ACORDA, em Turma, a Décima Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, REJEITAR A PRELIMINAR E NEGAR PROVIMENTO Presidiu o julgamento o Desembargador DOMINGOS COELHO (Revisor) e dele participaram os Desembargadores SALDANHA DA FONSECA (Relator) e ANTÔNIO SÉRVULO (Vogal).
-2- O voto proferido pelo Desembargador Relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma Julgadora. Assistiu ao julgamento, pela apelante, o Dr. José Anchieta da Silva Belo Horizonte, 23 de novembro de 2005. DESEMBARGADOR SALDANHA DA FONSECA Relator
-3- V O T O O SR. DESEMBARGADOR SALDANHA DA FONSECA: Cuida-se de ação de cobrança ajuizada por CCCS Cadastro, Crédito, Cobrança e Serviços Ltda. em face de BEMEC Betim Mecânica Industrial Ltda. ao argumento de que se faz credora da quantia de R$15.612,80 (quinze mil, seiscentos e doze reais e oitenta centavos), advinda de título negociado em legítima operação de factoring, por cujo não pagamento deve responder a ré endossante. Calcado na r. sentença de f. 113-117, o juízo de origem houve por bem julgar procedente o pedido para impor à ré o pagamento de R$15.612,80 (quinze mil, seiscentos e doze reais e oitenta centavos), acrescido de juros moratórios e correção monetária. Deparando-se com o julgado assim proferido, recorre a demandada. Valendo-se da apelação de f. 119-132 argúi, em preliminar, nulidade do julgado por cerceamento de defesa eis que, segundo afirma, não oportunizada a produção das provas por ela requeridas. No mérito, denuncia a natureza abusiva do contrato havido entre as partes que, justamente por isto, não subsiste à vista do Código de Defesa do Consumidor e do Código Civil atual, daí decorrendo a improcedência do pedido. Conheço do recurso, porque preenchidos os pressupostos de admissibilidade exigidos. - Preliminarmente Nulidade do julgado
-4- Denuncia a apelante nulidade do julgado por cerceamento de defesa. É que, segundo afirma, a produção das provas requeridas, notadamente a pericial, tem feição essencial para o desate da controvérsia, em particular... para se demonstrar o efetivo valor devido... (f. 123), não subsistindo a antecipação de julgamento levada a efeito com fulcro no artigo 330, I, do CPC. A par das razões erigidas, assim não concluo. Conforme se vê da resposta de f. 41-53, a defesa de mérito produzida pela ré ancora-se na insubsistência do contrato, ante a sua natureza adesiva, bem assim na inexistência de juros contratualmente identificados que, quando nada, deverão incidir segundo patamar legal. Não há, conforme se infere a partir dali, qualquer discussão fática a demandar a dilação probatória a esta altura reputada indispensável pela apelante. Outrossim, subsiste em prejuízo da apelante preclusão declarada na audiência de f. 99, e em nenhum momento por ela impugnada. À vista disto, tenho que a hipótese insere-se na previsão constante do artigo 330, I, do CPC, não havendo necessidade alguma da invocada produção de prova em audiência, daí emergindo o acerto da antecipação levada a efeito que se justifica, ademais, pela preclusão declarada em desfavor da apelante. Disto resulta a absoluta ausência de vulneração aos invocados artigos 5º, LV, da Constituição Federal; 130 e 332, do CPC. Nulidade ausente. Preliminar rejeitada.
-5- - No mérito Valendo-se da argumentação de f. 126-129, busca a apelante ver afastada a condenação imposta em seu prejuízo. É que, segundo assevera, o contrato havido entre as partes tem feição abusiva e, justamente por isto, não subsiste em face do Código de Defesa do Consumidor, bem assim do Código Civil atual, daí emergindo a improcedência do pedido. Não vislumbro mácula contratual capaz de inviabilizar a condenação imposta na origem. Quanto ao Código de Defesa do Consumidor, posto que, ausente relação de consumo entre as partes, não subsiste sua aplicação. O ocorrido evidencia propósito de fomento à atividade da apelante a quem falta, nesta condição, qualidade de consumidor, assim definido pelo artigo 2º, daquele Código. O Código Civil atual, por seu turno, não autoriza a conclusão perseguida pela ré de que estaria em pauta contrato maculado. A hipótese prevista em seu artigo 115 não se vê caracterizada nestes autos, disto resultando a prevalência do pacto havido, inclusive porque não demonstrada a quebra da boa-fé. Prevalece, destarte, a responsabilidade contratual imposta à demandada nos termos do instrumento de f. 13-19, com destaque para a cláusula quinta. Afastada a natureza abusiva do contrato, e não tendo a ré demonstrado a existência de qualquer fato modificativo, impeditivo ou extintivo da pretensão, concluo pelo acerto do decisório.
-6- Com tais fundamentos, após rejeitar a prefacial alçada, nego provimento à apelação para, com isto, manter a r. sentença proferida, nos termos em que se apresenta. Custas recursais, pela apelante. DESEMBARGADOR SALDANHA DA FONSECA