EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. CONSEQÜÊNCIAS. LEI N 8.078/90.
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1 EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. CONSEQÜÊNCIAS. LEI N 8.078/90. Numa relação litigiosa envolvendo partes economicamente desiguais, onde uma delas detém toda a prova documental e técnica para a solução da lide, porquanto autora dos contratos e lançamentos impugnados, tem-se por caracterizada a hipossuficiência da outra parte, que autoriza a inversão do ônus da prova, mas não lhe obriga a pagar pela realização de prova que não venha a requerer. Desta feita, a inversão obriga o fornecedor a provar o acerto de seus lançamentos contábeis e financeiros, diante da presunção que passa a viger a favor do consumidor. Agravo improvido. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento Nº da Comarca de BELO HORIZONTE, sendo Agravante (s): CREDICARD S/A - ADMINISTRADORA DE CARTÕES DE CRÉDITO e Agravado (a) (s): LEONARDO ANTÔNIO DE CASTRO, ACORDA, em Turma, a Sétima Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, REJEITAR A PRELIMINAR E NEGAR PROVIMENTO. Presidiu o julgamento o Juiz ANTÔNIO CARLOS CRUVINEL (1º Vogal) e dele participaram os Juízes NILSON REIS (Relator) e QUINTINO DO PRADO (2º Vogal).
2 O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado, na íntegra, pelos demais componentes da Turma Julgadora. -2- Belo Horizonte, 30 de agosto de JUIZ NILSON REIS Relator
3 V O T O -3- O SR. JUIZ NILSON REIS: Conheço do recurso, porque presentes os requisitos de sua admissibilidade. Trata-se de agravo contra decisão que deferiu pedido de inversão do ônus da prova em ação de nulidade de cláusula contratual c/c repetição de indébito, proposta pelo agravado em face da agravante. Alega a agravante que a decisão recorrida desatende ao preceito do art. 93, IX, da Constituição da República, porquanto não fundamentada; no mérito, que o agravado não preenche os pressupostos da hipossuficiência e verossimilhança, exigidos pela Lei n.º 8.078/90, como condição para o deferimento da inversão do ônus da prova. A preliminar de ausência de fundamentação, sob o argumento de que a decisão recorrida não teria observado a disposição do art. 93, IX, da Constituição da República, revela-se desprovida de subsistência. É que examinando-se a decisão hostilizada (fl.14-15,ta) constata-se, sem muito esforço, que o MM. Juiz a quo expôs os fundamentos de fato e de direito que geraram sua convicção a respeito do pedido de inversão do ônus da prova formulado pelo agravado. Assim, ao contrário do que afirma a agravante, observou-se, na espécie, o comando do art. 93, IX, da Constituição da República.
4 -4- Rejeita-se a preliminar. No mérito, cabe examinar se o agravado preenche os pressupostos exigidos pela Lei n.º 8.078/90, como condição para o deferimento da inversão do ônus da prova. Litigam as partes em ação de nulidade de cláusula contratual c/c ação de repetição de indébito(fl ,ta), onde o cerne da demanda se resume em averiguar a pertinência dos encargos financeiros cobrados, já que impugnadas de abusivas e potestativas as cláusulas do Contrato de Prestação de Serviços firmado. De início, cabe ressaltar que a hipossuficiência e a verossimilhança são pressupostos alternativos e não cumulativos para a inversão do ônus da prova(rjtamg, 75/47). A inversão do ônus da prova obriga o fornecedor a suportar as despesas decorrentes da realização de perícia por ele requerida e a determinada ex officio pelo Juiz, não mais se observando o art. 19, 2º, do CPC. Logo, a inversão do ônus da prova, não o obriga a arcar com as despesas da perícia requerida pela parte contrária (RJTAMG, 75/41) Com isso, com vênia, equivoca-se quem procura obrigar o fornecedor a arcar com as despesas das provas requeridas pelo consumidor, porquanto a inversão do ônus da prova não tem esse alcance. Além disso, a inversão
5 -5- não se refere à obrigação de pagar as custas das provas a serem produzidas pela parte contrária, pois a obrigação que se transfere à outra parte é precisamente a de elidir a presunção que vige em favor do consumidor, motivo por que terá de requerer a prova que necessita para eliminar tal presunção, além de arcar com as despesas das provas que requerer(rjtamg, 75/41). Desse modo, revela-se contraditória a posição do consumidor que busca a inversão do ônus da prova e requer a produção de prova pericial, pretendendo que a parte contrária arque com esse ônus (RJTAMG, 75/41), valendo ressaltar que na interpretação teleológica do art. 19 do CPC, inadmissível impor-se à parte que não a requereu, o pagamento antecipado das despesas de sua realização, ferindo-se até regras constitucionais do devido processo legal. No caso dos autos, a relação litigiosa envolve partes economicamente desiguais, onde uma delas detém toda a prova documental e técnica para a solução da lide, porquanto autora dos contratos e lançamentos impugnados. Esse fato caracteriza a hipossuficiência do agravado e autoriza a inversão do ônus da prova, mas não obriga a agravante a pagar pela realização de prova que não venha a requerer. Desta feita, a inversão obriga a agravante a provar o acerto de seus lançamentos contábeis e financeiros, diante da presunção que passa a viger a favor do agravado. Por fim, não se olvidando que a inversão do ônus da prova obriga o fornecedor a suportar as despesas decorrentes da realização de perícia por ele requerida e a determinada ex officio pelo Juiz, não mais se observando o art. 19, 2º, do CPC, manifesta-se improcedente a
6 -6- irresignação da agravante, face ao acerto da decisão recorrida. Assim sendo, NEGA-SE PROVIMENTO AO AGRAVO, para confirmar a decisão recorrida, de inversão do ônus da prova, em ação de nulidade de cláusula contratual c/c ação de repetição de indébito. Custas pela agravante. s o l / m p s
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