FORMAÇÃO DE IDENTIDADE DOCENTE: APROPRIAÇÕES DO GÊNERO PROFISSIONAL NO ÂMBITO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO

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Transcrição:

FORMAÇÃO DE IDENTIDADE DOCENTE: APROPRIAÇÕES DO GÊNERO PROFISSIONAL NO ÂMBITO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO Introdução Mirelle da Silva Monteiro Araujo Universidade Federal da Paraíba mirelle_monteiro@hotmail.com O que significa ser um bom professor? é certamente uma pergunta que muitos professores já se fizeram, sejam eles professores em formação inicial ou continuada, ou até professores formadores. Medrado (2 012) afirma que esta pergunta rondou ela e seu alunos do Curso de Letras Estrangeiras da UFPB por uma década e meia, e acreditamos que não apenas ela e suas turmas, mas todo aquele que trilha o caminho da docência deve ter em algum momento se questionado sobre a existência de uma resposta pronta e infalível para esta pergunta. Porém certamente não a encontrou, pois o agir docente envolve uma série de aspectos complexos, a exemplo da linguagem que perpassa o trabalho atuando no/sobre/como trabalho. A perspectiva teórica adotada neste artigo é a da Clínica da atividade aliada ao Interacionismo sociodiscursivo, [FAITA (2004), AMIGUES (2004), MACHADO (2007), MACHADO E GUIMARÃES (2009), SILVA, BARROS E LOUZADA (2011)], ela nos permite realizar uma discussão sobre o trabalho docente levando em consideração o professor, os outros, o meio, os artefatos e o contexto mais amplo do sistema de ensino e do momento sócio-histórico. Embora não seja possível responder objetivamente (sem considerar os contextos) o que significa ser um bom professor? temos pessoas que tecem opiniões sobre o assunto, os pais, outros funcionários da escola, e os próprios professores (até os que em formação inicial ainda não ministraram aulas) conhecem uma série de aspectos, de formas de fazer sobre o que é ser um bom professor e não podemos esquecer os documentos oficiais para o ensino que trazem prescrições sobre o agir docente. As formas identificadas pelo professor para falar sobre a atividade docente, são elementos que compõem a identidade profissional, caracterizando uma ação comum que reconhecemos em nós ou nos outros sobre o que é agir em uma profissão. Conforme Medrado (2012) estas formas relativamente

estáveis do agir reporta-se a noção de gênero, do Círculo de Bakhtin e atualmente transposta para a Clínica da atividade. Na perspectiva da Clínica da Atividade o gênero profissional é entendido como: [...]aquilo que os trabalhadores de um meio dado conhecem e veem, esperam e reconhecem, apreciam ou temem; é o que lhes é comum e que os reúne sob condições reais de vida; o que eles sabem que devem fazer graças a uma comunidade de avaliações pressupostas, sem que seja necessário reespecificar a tarefa a cada vez que ela se apresenta. È como uma senha conhecida apenas por aqueles que pertencem a um mesmo horizonte social e profissional (CLOT, 2007, p.41) Conforme a afirmação de Clot existe uma senha, ou seja, recursos, normas, valores etc. que estão inseridos nos sujeitos profissionais e entre eles e os objetos de suas ações, está senha serve para o indivíduo ter algum controle sobre o que não foi planejado e para permitir o seu desenvolvimento em uma determinada função. Assim o gênero profissional organiza as atividades profissionais, uma vez que ele dá um padrão para o fazer, e também é oriundo das atividades coletivas. Conforme Medrado (2012, p.155) os gêneros da atividade podem ser considerados estruturadores de nossas atividades profissionais, no sentido de que os gêneros do discurso são formas relativamente estáveis de agir discursivamente [...], organizando a estrutura social e sendo reconhecíveis a partir de uma função comunicativa e os gêneros da atividade servem como uma forma relativamente estável do agir profissional que são reconhecíveis a partir do agir coletivo. O gênero profissional não inválida ações criativas, ao aprendermos um gênero profissional estamos aprendendo a agir socialmente dentro de um contexto, assumimos o agir em uma profissão. Se profissionalizar exige um conhecimento profundo sobre o que se faz, para que o professor seja um profissional do ensino é preciso que ele conheça muito bem o que deve fazer, se atualizando teoricamente, mas não apenas isso, haja vista os diferentes contextos de ensino que um professor pode ensinar, é preciso também aprender a transformar as emoções vividas na formação inicial em aprendizado e desenvolvimento profissional Medrado (2012, p.156).

A formação da identidade do professor em formação inicial está ligada ao aprender a fazer, ao dominar um gênero profissional que traz concepções que são construídas histórica e socialmente sobre sua profissão e que podem ser revisitas e reconstruídas. Tratando teoria e prática como indissociáveis e procurando refletir sobre a própria prática re/des/construindo. A formação da identidade docente passa pelo ato de apropriação de características próprias ao gênero profissional, incluindo as prescrições. Ao investigarmos a componente curricular denominada Estágio Supervisionado, em uma universidade pública da região Nordeste, verificamos que a elaboração de uma sequência didática é exigida, se configurando como uma prescrição, para que os estagiários possam se inserir na prática de ensino. Cientes dessa prescrição objetivamos analisar como os de estagiários do Curso de Licenciatura em Letras (habilitação em língua portuguesa) de uma instituição pública da região Nordeste de nosso país lidam com a apropriação do gênero profissional frente à prescrição de elaboração de uma sequência didática (do ravante SD) e identificar as dimensões mobilizadas pelo professor em formação inicial quando ele se auto avalia sobre sua proficiência para elaborar uma SD. Metodologia Os dados analisados neste artigo foram coletados através da aplicação de um questionário, composto por 20 questões, que exploram temas relativos à formação inicial, os exemplares do questionário foram respondidos por professores em formação inicial (49 colaboradores), do curso de licenciatura em Letras de uma instituição pública de ensino superior da região Nordeste, no ano de 2013, esses professores já haviam cursado no mínimo uma disciplina de Estágio Supervisionado de intervenção, portanto já haviam passado pela elaboração de uma sequência didática e atuado na prática de ensino. Neste artigo trazemos à análise das respostas concedidas a questão de número 11 do questionário, que é a seguinte: Como você avalia sua proficiência para elaborar uma sequência didática: Ruim ( ) Regular ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente ( ) Justifique a escolha dessa alternativa. Essa questão exige que o colaborador se auto avalie, quanto a sua formação de identidade profissional, através da apropriação de aspectos referentes ao gênero profissional,

especificamente exploramos a apropriação de uma prescrição da disciplina de Estágio Supervisionado, a elaboração de sequências didáticas para ministrar aulas, e inserir o discente do curso de Letras em uma posição de docente da educação básica. Discutindo a Apropriação do Gênero Profissional A questão 11 exige que o colaborar avalie sua proficiência para elaborar sequências didáticas (prescrição exigida para ministrar aulas durante o período de estágio) e assim ele traz em seu discurso as dimensões que ele mobiliza para elaborar uma SD e também revela como ele se apropria do gênero profissional. Diante dessa questão que solicita uma auto avaliação sobre a apropriação do gênero profissional obtivemos diversas respostas, segue algumas delas: Colaborador 1 Avaliação que ele faz sobre sua proficiência para elaborar SD (X) Bom Justificativa: Eu creio que consigo fazer uma boa seleção de textos em torno de uma temática visando e desenvolvimento crítico-reflexivo dos alunos. O colaborador 1 avalia sua proficiência para elaborar SD como boa, ele justifica sua avaliação utilizando a primeira pessoa do singular revelando que ele se coloca como sujeito que está tecendo opinião sobre sua profissão, que está se inserindo no gênero profissional e crer que as ações devem ser feitas de determinado modo. Ao se referir à elaboração da SD ele mostrar que compreende seu meio profissional mobilizando conhecimentos sobre a dimensão interpessoal, seu critério para selecionar textos está centrado em seus alunos. Ele também expõe o conhecimento teórico de que sequência didática é elaborada tendo como lastro os textos trazendo a tona dimensão transpessoal (história coletiva) em sua profissão. Colaborador 2 - Avaliação que ele faz sobre sua proficiência para elaborar SD (X) Ruim Justificativa: Às vezes elaboramos sequências didáticas que não condizem com o nível da turma, necessitamos de uma reelaboração e revisão contínua. O colaborador 2 utiliza a primeira pessoa do plural, trazendo o coletivo do trabalho, ele e os outros professores. Ele revela que ele ainda não se vê como inserido no gênero profissional de forma satisfatória ao utilizar a expressão ás vezes e por isso se avalia como ruim em elaborar SD. Mas ao se justificar percebemos que o colaborador 2 mobiliza o conhecimentos referentes a sua

profissão ele pensa na dimensão interpessoal para elaborar uma SD, pois ele fala sobre o nível de seus alunos e vê a necessidade de reelaborar ou seja de renormatizar uma auto prescrição feita em sua sequência didática. Conclusão Através da análise da auto avaliação dos estagiários, percebemos como o professor em formação inicial se apropria do gênero profissional e das prescrições desse gênero. O colaborador 1 traz o perfil de um profissional que já se coloca no lugar de opinar sobre sua profissão, o colaborador 2 traz um outro perfil que demonstrar ainda um conflito com a prescrição, uma insegurança quanto a capacidade de cumprir. Ambos nos mostram como o profissional em formação inicial se apropria do gênero profissional passando a considerar outras dimensões que envolvem seu trabalho, nas respostas desses colaboradores fica evidente as dimensões interpessoal e transpessoal. Referências AMIGUES, René. Trabalho do professor e trabalho de ensino. In: MACHADO, Anna Raquel (Orgs.). O ensino como trabalho. São Paulo: EDUEL, 2004. p. 37-53. CLOT, Y. A Função psicológica do trabalho. Rio de Janeiro: Vozes, 2007. FAITA, D. Gêneros de discurso, gêneros de atividade, análise da atividade do professor. In.: MACHADO, A. R. (Org.) O ensino como trabalho: uma abordagem discursiva. São Paulo: Eduel, 2004. p. 57-80. MACHADO, Anna Rachel. Por uma concepção ampliada do trabalho do professor. In: GUIMARÃES, Ana Maria de Mattos et. Al. O interacionismo Sociodiscursivo: questões epistemológicas e metodológicas. São Paulo: Mercado das Letras, 2007. p. 77-97. MACHADO, Anna Rachel; GUIMARÃES, Ana Maria de Mattos. O Interacionismo sociodiscursivo no Brasil. In.:ABREU-TARDELLI, Lília Santos; CRISTOVÃO, Vera Lúcia Lopes (orgs.) Linguagem e Educação: O Ensino e Aprendizagem de Gêneros Textuais. São Paulo: Mercado das Letras, 2009. p. 17-42. MEDRADO, B. P. Tornando-se professor: a compreensão de graduandos em Letras sobre a atividade educacional. In: MEDRADO. B.P, REICHMANN, C.L. (orgs.) Projetos e práticas na formação de professores de Língua Inglesa. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2012, p.151-169. SILVA, C. O; BARROS, M. E. e LOUZADA, A. P. F. Clínica da Atividade: dos conceitos às apropriações no Brasil. In: BENDASSOLLI, P. F e SOBOLL, L. A (Orgs.) Clínicas do Trabalho. São Paulo: Editora Atlas, 2011, p. 188-207.