TÍTULO: IMPORTÂNCIA DO ESTUDANTE DE NUTRIÇÃO NA ATUAÇÃO DE TRABALHOS DE EXTENSÃO NA POPULAÇÃO DE RECRUTADOS AO EXÉRCITO NO MUNICÍPIO DE VIÇOSA M.G. AUTORES: Patrícia Aparecida Fontes - Bolsista do PIBIC/CNPq - UFV e estudante do Curso de Nutrição da Universidade Federal de Viçosa (papfontes@bol.com.br), Pr a Sílvia Eloiza Priore - Nutricionista, Mestre e Doutora pela Universidade Federal de São Paulo e Professora da Universidade Federal de Viçosa (sepriore@mail.ufv.br), Pr a. Sylvia do Carmo Castro Franceschini - Nutricionista, Mestre e Doutora pela Universidade Federal de São Paulo e Professora da Universidade Federal de Viçosa (sylvia@mai.ufv.br), Pr a Sônia Machado Rocha Ribeiro - Nutricionista, Mestre pela Universidade Federal do Paraná e Professora da Universidade Federal de Viçosa (sribeiro@mail.ufv.br) ÁREA TEMÁTICA: Saúde INTRODUÇÃO A adolescência é um período de transição entre a infância e a fase adulta caracterizada por intenso crescimento e desenvolvimento, onde ocorrem intensas transformações anatômicas, fisiológicas, mentais e sociais. Em razão destas mudanças, uma série de conseqüências podem influenciar o bem-estar nutricional do adolescente (SHILS, 1994; CHIPKEVITCH 1995; MAHAN & ESCOTT-STUMP,1998). É considerada também um período de grande facilidade de mudança e incorporação de novos hábitos alimentares (GRAZINI, 1996). Segundo FARTHING (1991), nesta fase o adolescente é amplamente influenciado por fatores internos como auto-estima e imagem, valores familiares, preferências alimentares e desenvolvimento psicossocial; e por externos como hábitos familiares, pares, meios de comunicação, modismo, e outros, tendo efeito no comportamento alimentar bem como sofrendo interferências do mesmo. Nessa época, os adolescentes são vulneráveis e facilmente influenciáveis, adotando assim dietas e comportamentos em função de modismos passageiros, necessitando assim serem bem orientados para que seus hábitos alimentares adquiridos sejam satisfatórios pois estes ajudarão a manter uma boa saúde ao longo da vida (ORTEGA et. al., 1996). 1
O excesso de peso e a obesidade que se desenvolvem na adolescência podem ter efeitos desfavoráveis sobre a saúde muitas décadas mais tarde, por isso a adolescência se torna um momento privilegiado para se colocar em prática medidas preventivas neste sentido (JACOBSON, 1998). MOREIRAS & CARBAJAL (1992) afirmam que a infância e a adolescência são as melhores fases para aquisição de bons hábitos alimentares, pois a aprendizagem e a formação de atitudes ocorrem, principalmente nesta fase da vida. Este estudo busca conhecer os hábitos alimentares dos adolescentes recrutados ao Exército, para que diante das inadequações, sejam estabelecidos orientações dietéticas, visando introduzir melhores hábitos de vida que contribuam para a saúde e bem estar atual e futuro. OBJETIVOS Verificar parâmetros sócio-econômicos, dietéticos e a prática de atividade física em adolescentes do sexo masculino que serviram ao Exército no município de Viçosa MG, nos anos de 2001 e 2002. METODOLOGIA Casuística: Este estudo foi realizado com 200 adolescentes, na faixa etária de 18 e 19 anos, que serviram ao Exército no município de Viçosa M G., nos últimos dois anos. Métodos: Inicialmente foram expostos os objetivos, etapas e forma de desenvolvimento do trabalho às autoridades locais responsáveis do Exército e após a autorização, relatou-se as atividades a serem desenvolvidas aos jovens recrutas. Manteve-se a privacidade, para cada jovem individualmente foi realizado um questionário sócio-cultural, familiar e dietético. Orientações gerais foram dadas no final das avaliações, entretanto, foi feito um encaminhamento por escrito individual para o domicílio de cada jovem contendo orientações específicas de acordo com o questionário respondido. Juntamente com este foi encaminhado um folder contendo dicas sobre uma alimentação saudável e noções sobre a pirâmide de alimentos. 2
A caracterização sócio cultural foi feita estudando as variáveis: consumo de bebida alcoólica, suplementos alimentares, hábito de fumar e prática de atividade física. A caracterização dietética se deu através de anamnese alimentar, que incluía um inquérito referente a alimentação habitual. Obteve-se informações sobre o consumo semanal dos alimentos, preferências, recusas e quais os motivos que levam a estas e quais as refeições realizadas com os seus respectivos horários e locais. RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracterização Sócio-cultural O consumo de bebidas alcoólicas foi citado por 105 (56,1%) dos jovens estudados. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (WHO, 1993), o consumo de álcool tem aumentado em quantidade e em freqüência e a idade inicial de consumo tem diminuído na maioria dos países, sendo maior na população masculina adolescente. Em relação a periodicidade da ingestão, observou-se que nenhum jovem consumia bebida alcoólica diariamente, sendo 65 (61,9%) relataram ingerir uma vez aos fins de semana e o restante, 40 (38,2%) faziam de 2 a 4 vezes por semana. Segundo PRIORE (1998), o hábito de ingestão alcoólica, mesmo que esporádico, pode ser prejudicial tanto para fase fisiológica em que o adolescente se encontra, como para as posteriores. Em relação ao hábito de fumar, cerca de 15 (8%) são adeptos desta prática. Dos jovens que fumam, a mediana de cigarros consumidos por dia foram 8, sendo o mínimo de 2 e o máximo de 40 cigarros. Sabe-se que o tabaco é o maior fator de risco isolado relacionado à morbidade e mortalidade no mundo e que cerca de 90% dos fumantes adultos atuais tornaram-se dependentes da nicotina até os 19 anos de idade (COSTA & GOLDFARB, 1999). Observa-se que a maior parte dos jovens estudados 153 (81,7%) praticam algum tipo de atividade física extra as realizadas no Exército. Para os adolescentes, a prática de atividades físicas e recreativas, além de constituir um fator importante na formação da personalidade, promove um desenvolvimento corporal saudável, prevenindo ou retardando problemas de saúde que possam vir a surgir na vida adulta (COSTA, 1991). 3
O consumo de suplementos alimentares foi observado apenas em 10 (5,3%) dos adolescentes estudados. Entre os mais relatados pelos adolescentes estão albumina, carboflesh, levedura de cerveja, maltodextrina e vitassay stress. Suplementação de creatina não foi relatado neste estudo. Aconselha-se entretanto, uma detalhada avaliação de critérios fundamentais para a prescrição de tal suplementação, tais como a atividade física a ser praticada, população a ser submetida ao tratamento ergogênico, dosagem e duração da suplementação (TIRAPEGUI et. al., 2002). Caracterização Dietética As refeições mais realizadas pelos adolescentes eram o almoço (100%), jantar ou lanche da noite (91,4%), lanche da tarde (88,2%), desjejum (84%), colação (71,1%), e em menor proporção a ceia (40,1%). As principais refeições eram consumidas pela maior parte dos adolescentes, sendo o jantar muitas vezes substituído por lanche por alguns adolescentes. É verificado um elevado percentual de adolescentes que realizam o desjejum (84%) de acordo com a Tabela 1. A primeira refeição do dia é importante para o bom rendimento escolar, além de dividir melhor as calorias durante o dia, evitando assim a obesidade (AXELRUD et. al., 1995). Segundo MAHAN (1998), os alimentos consumidos no desjejum geralmente fornecem nutrientes tais como cálcio, riboflavina e ácido ascórbico. Ressalta-se, então a importância do desjejum para a ingestão diária total de nutrientes, destacando a necessidade da realização deste. É interessante a realização da colação (71,1%), pois esta ajuda a aumentar o fracionamento da dieta, que é um dos principais objetivos da orientação nutricional. 100% dos adolescentes estudados realizavam almoço, sendo que 93% o faziam na própria casa. PRIORE (1998), analisando as três principais refeições (desjejum, almoço e jantar), verificou que o almoço foi a refeição mais consumida, 88,4% entre os 320 adolescentes estudados. É grande o percentual de adolescentes que realizam lanche da tarde (88,2%) segundo a Tabela 1. BULL et. al. (1992) assinalam que os lanches não deveriam estar associados com comer mal, pois em uma dieta balanceada, há lugar para todos os tipos de alimentos. Entretanto, com a substituição da dieta balanceada por uma sucessão 4
de lanches altamente gordurosos e produtos de confeitaria (doces e frituras), demonstram que os hábitos alimentares de muitos adolescentes não são saudáveis, e podem comprometer a saúde atual e futura. 91,4% dos adolescentes realizam o jantar ou lanche noturno. O jantar era muitas vezes substituído por um lanche, sendo que a maioria o realizava em casa (89,4%). A ceia é a refeição menos realizada pelos adolescentes estudados (40,1%). Analisando a preferência pelos alimentos de acordo com os grupos da pirâmide alimentar, verificou-se maior percentual pelo grupo dos cereais, massas e tubérculos, sendo as massas (66,3%) as mais citadas, seguidas pelas carnes e embutidos (55%). Segundo BIRCH (1992), essa preferência pode ter sido adquirida na infância por influência dos adultos que também costumam ter este tipo de hábito. Verificou-se que os alimentos menos consumidos pelos adolescentes são as hortaliças, sendo o jiló o mais citado (52%), seguido da cebola (17,1%), beterraba (14,2%) e abóbora (7,1%). PRIORE (1998), relata resultados semelhantes, onde mais da metade dos adolescentes estudados em São Paulo, também disseram recusar hortaliças. Pode-se relacionar esse resultado encontrado em função do hábito alimentar dessa faixa etária que tende a recusar certos alimentos. Isso demonstra a importância de se orientar os adolescentes, conscientizando-os em relação ao consumo dos demais grupos de alimentos, principalmente as hortaliças e frutas que são ricos em minerais e vitaminas. CONCLUSÃO Em relação ao hábito de fumar e beber, verificou-se que 56,1% ingeriam bebidas alcoólicas e 8% fumavam. A prática de atividade física extra as realizadas no Exército é alta (81,7%). O uso de suplementos alimentares foi relatado por 5,3% dos adolescentes. Quanto às refeições realizadas, obteve-se que realizam desjejum 84%; colação 71,1%; almoço, 100%; lanche da tarde, 88,2%; lanche noturno ou jantar, 91,4% e ceia, 40,1%. Os alimentos mais citados pelos adolescentes como ingestão habitual foram arroz, feijão, macarrão, pizza, lasanha, pão, chocolates, entre outros. Estes resultados demonstram a necessidade de orientar os adolescentes, visando: estimular o consumo de alimentos fonte de fibras, evitando os produtos refinados; adequar a ingestão de carnes, dando preferência sempre às carnes magras; substituir as 5
frituras por outros tipos de preparação como grelhados, assados e cozidos, para que não se acrescentem lipídios, evitando assim a desproporção da dieta. Estes resultados refletem as características da fase em que se encontram, ou seja, preocupam-se com o corpo mas não com a saúde atual e futura. Este tipo de iniciativa reforça a importância de se atuar com grupos específicos de forma a detectar os problemas nutricionais destes adolescentes, visando estabelecer orientações nutricionais para a promoção da saúde e para prevenir a prevenção de doenças. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. AXELRUD, E.; GLEISER, D.; FISCHMANN, J. _ Causas da obesidade In:- Obesidade na adolescência: uma abordagem para pais, educadores e profissionais da saúde. Porto Alegre, ABDR, 15-18, 1995. 2. BULL, N.L.; PHILL, M. Dietary habits, food comsuption and nutrient intake during adolescence Journal of adolescence health 13(5); 384-8, 1992. 3. CHIPKEVITCH, E._ Puberdade & adolescência: aspectos biológicos, clínicos e psicossociais. São Paulo, Roca, 1995, 752p. 4. COSTA, O. T. _ A prática esportiva na adolescência. In: CONGRESSO NACIONAL À SAÚDE DO ADOLESCENTE, 1, Rio de Janeiro, 1991. Cursos pré-congressos. Rio de Janeiro, 1991. 5. COSTA, L. & GOLDFARB, S. _ Tabagismo_ Estudos em adolescentes e jovens - Cadernos juventude, saúde e desenvolvimento, vol. 1, Brasília, 1999. 6. FARTHING, M. C. _ Current eating patterns of adolescents in the United States. Nutrition Today March/April:35-9, 1991. 7. GRAZINI, J. T._ Analogia entre comerciais de alimentos e hábito alimentar de adolescentes. São Paulo, 1996. [Tese de mestrado Universidade Federal de São Paulo]. 8. JACOBSON, M. S. _ Nutrição na adolescência Anais Nestlé, 55, 24-33, 1998. 9. MAHAN, L. K. Nutrição na adolescência In:- Krause: Alimentos, Nutrição & Dietoterapia; /Tradução Andréa Favano/ -9 a ed- São Paulo; Roca, 280-291,1998. 6
10. MOREIRAS, O. & CARBAJAL, A. Determinantes socioculturales Del comportamiento alimentario de los adolescentes Anales Españholes de Pediatria, 36, S. 49, p.102-5, 1992. 11. ORTEGA, R. M.; CARVAJALES, P. A; REQUEJO, A. M; SOBALER, A. M. R; SOBRADO, M. R. R.; GONZÁLEZ-FERNÁNDEZ, M. Hábitos alimentarios e ingesta en adolescentes com sobrepeso em compación con los de peso normal. Anales Españholes de Pediatria; v.44, n.3, p.203-8, 1996. 12. PRIORE, S. E.- Composição corporal e hábitos alimentares de adolescentes: uma contribuição à interpretação de indicadores de estado nutricional. São Paulo, 1998. [Tese de doutorado Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina]. 13. SHILS, M. E.; OLSON, J. A.; SHIKE, M. Diet, nutrition and adolescence In: - Modern Nutrition in Health and Disease - 8 a ed- U.S.A, 759-69, 1994. 14. TIRAPEGUI, J.; MENDES, R. R.; CASTRO, I. A. _ Suplementação de creatinina e atividade física._ Revista Nutrição em Pauta, mar/abr, 2002. 7