Inquérito Civil n.º 1.26.000.001064/2012-16 Manifestação n.º 194/2014-MPF/PRM-CG/PB MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Procuradoria da República em Pernambuco 3º Ofício da Tutela Coletiva O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio do procurador da República ao final assinado, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, oferece a seguinte PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO: I - RELATÓRIO Trata-se de inquérito civil instaurado com o intuito de apurar as supostas irregularidades na escola municipal de Recife/PE denominada Edite Braga: A) no ano de 2008, a presidente do conselho escolar, a Sra. GILZEMER QUEIROZ DE BRITO, utilizando recursos do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), teria adquirido materiais (não especificados) que até a data da representação (04/09/2009) não haviam sido recebidos na escola; B) num dia de sábado do mês de maio de 2009, GILZEMER QUEIROZ DE BRITO, acompanhada por seu marido, retirou o livro de atas e as pastas (ao menos parte delas) de prestação de contas da execução financeira das verbas do PDDE da unidade executora, impossibilitando o acompanhamento feito pelo Conselho Fiscal; Av. Agamenon Magalhães, n.º 1800, Espinheiro Recife CEP: 52021-170 Fone: (081) 2125-7300
C) prestação de contas efetuadas sem a devida realização de reunião para este fim e sem apresentação das pastas ao Conselho Fiscal, para exame de notas e recibos. Além disso, pareceres fiscais assinados por diretores e não por conselheiros; D) A professora LUCENIRA FÁBIA FEITOSA BARBOSA, tesoureira da unidade executora e serviu como secretária numa das reuniões do conselho escolar, não concluiu em tempo oportuno a ata de reunião havida no dia 29/06/2009 e colheu as assinaturas dos presentes de forma irregular, sem a realização de reunião, em momento específico para aprovação, onde pudessem ser apresentadas as observações quanto à falta de legitimidade de registros. Conforme comprova as fls. 20 e 21 dos autos, o Município de Recife/PE instaurou procedimento administrativo disciplinar com o objetivo de apurar tais pretensas ilicitudes, bem como se a denunciante, a Sra. Ana Carmen de Araújo Peixoto, também perpetrou alguma irregularidade sujeita à punição. Atendendo requerimento deste Parquet, o Município do Recife/PE remeteu cópia do mencionado procedimento administrativo disciplinar, o qual se encontra no anexo III (volume único). É o que importa relatar. II RAZÕES Compulsando detidamente os autos, em especial o Relatório de fls. 621/726 (numeração original) do procedimento administrativo disciplinar inserto no anexo III (volume único) lavrado pela Comissão de Inquérito da Prefeitura de Recife/PE, conclui-se que não há elementos probatórios mínimos que apontem para o cometimento de improbidade administrativa pela Sra. GILZEMER QUEIROZ DE BRITO ou pela Sra. LUCENIRA FÁBIA FEITOSA BARBOSA, conforme será demonstrado nas próximas linhas. Fone: (083) 3341-4109 2/7
1 Materiais Escolares Adquiridos no ano de 2008 com Recursos do PDDE que Não Teriam sido Recebidos na Escola Sobre tal ponto, a Comissão de Inquérito da Prefeitura de Recife/PE colheu o depoimento de várias pessoas, sendo que nenhuma delas declarou que GILZEMER QUEIROZ DE BRITO empregou recursos do PDDE no pagamento de materiais que não foram entregues vide principalmente as fls. 698/702 (numeração original) do Relatório do procedimento administrativo disciplinar contido no anexo III (volume único). citados depoimentos: A título de exemplo, cumpre reproduzir as passagens de alguns dos ( ) que em nenhum momento as prestações de contas apresentadas pela escola deixaram de ser aprovadas, tanto pelo Conselho escolar, bem como pelo Setor de Convênios e Suprimentos da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer ( ) que os pequenos problemas apresentados durante a prestação de contas se referiam a pequenas falhas apresentadas no documento, estes que eram corrigidos (...) (Testemunho de fls. 229/231 do PAD de Lúcio Flávio Vieira da Silva, na época dos fatos ora investigados gerente administrativo escolar) (...) que ela depoente ao final concluiu que não havia qualquer pendência na prestação de contas realizada pela investigada GILZEMER durante o período de 2008 a julho de 2009, entretanto, verificou ela depoente que de fato havia problema de relacionamentos entre as investigadas [GILZEMER e ANA CARMEN] que repercutia na jornada de trabalho de ambas ( ) (Testemunho de fls. 277/280 do PAD de Laura Maria Alves Cardoso, então diretora de gestão de pessoas da secretária de educação, esportes e Lazer) Fone: (083) 3341-4109 3/7
( ) acredita que ela depoente que não havia qualquer pendência financeira referente a Escola Municipal Edite Braga em relação ao exercício de 2008 até julho de 2009, uma vez que se existisse a pendência financeira as verbas dos Programas da Escola Aberta não teriam sido repassadas para a Escola Edite Braga ( ) que o Programa Escola Aberta era e é acompanhado pelo núcleo do Programa, este composto por: 05 professores e um cargo comissionado e mais 21 supervisores, todos da Rede Municipal de Ensino ( ) que efetivamente a Escola Edite Braga nunca foi penalizada por não executar as atividade do Programa ou deixar de prestar contas ( ). (Testemunho de fls. 302/304 do PAD de Elcyene Vasconcelos Carvalho, coordenadora do Programa Escola Aberta) Na mesma linha, Fernando da Silva Alves, então fornecedor dos materiais adquiridos por meio dos recursos do PDDE do exercício de 2008, asseverou que nunca deixou de entregar qualquer material adquirido pela escola, bem como que por seis ou sete anos forneceu produtos à Escola Municipal Edite Braga, inclusive durante a gestão que antecedeu a das investigadas [GILZEMER e ANA CARMEN] (Testemunho de fls. 226/228 do PAD). Ademais, como se observa ante o ofício de fl. 14 e os documentos de fls. 22/55, a prestação de contas dos recursos do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), relativa ao ano de 2008 do colégio Edite Braga, efetuada pela Sra. GILZEMER QUEIROZ DE BRITO, foi devidamente aprovada sem qualquer restrição. Diante de tal quadro, não há elementos probatórios mínimos que indiquem que GILZEMER QUEIROZ DE BRITO, na condição de gestora da Escola Edite Braga, praticou improbidade administrativa com recursos do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) do exercício de 2008 na verdade, as provas apontam em sentido contrário, de modo que tudo leva a crer que sequer houve qualquer ilícito. Fone: (083) 3341-4109 4/7
2 Retirada de Atas e Pastas de Prestação de Contas da Execução Financeira das Verbas do PDDE do Colégio Edite Braga, Impossibilitando o Acompanhamento do Conselho Fiscal Elucida acerca de tal questão o Relatório do procedimento administrativo disciplinar contido no anexo III (fl. 704 numeração original): (...) Ademais, face a constatação de ausência de irregularidades nas prestações de contas a que se referiram os documentos supostamente contidos nas supraditas pastas, o fato de a indiciada ter levado aquele material para sua residência torna-se irrelevante. A propósito, observe-se que a própria denunciante, Ana Carmem de Araújo Peixoto, admitiu, em seu depoimento de fls. 143/148, a regularidade das prestações de contas do PDDE ( ) Enfim, não se constitui fato excepcional gestores levarem documentos para casa a fim de adiantar ou concluir alguma tarefa de trabalho. ( ). Em face do esposado e considerando que não há nos autos provas mínimas que sugiram que foi impossibilitado o acompanhamento da prestação de contas do PDDE do ano de 2009 pelo Conselho Fiscal, não pode ser imputado a GILZEMER QUEIROZ DE BRITO a prática de ato de improbidade administrativa. 3 - Prestação de Contas Efetuadas Sem a Devida Realização de Reunião e Sem Apresentação das Pastas ao Conselho Fiscal. Pareceres Fiscais Assinados por Diretores e Não por Conselheiros irregularidades. Mais uma vez não se obteve qualquer prova que confirmasse tais Fone: (083) 3341-4109 5/7
A bem da verdade, as provas insertas nos autos apontam em sentido contrário. Afinal, como visto, todos os depoentes destacam a regularidade da prestação de contas do PDDE do ano de 2009, inclusive os já referidos Lúcio Flávio Vieira da Silva, Laura Maria Alves Cardos e Elcyene Vasconcelos Carvalho. Como se não bastasse, as mesmas prestações de contas já foram devidamente aprovadas e o foram, entre outros motivos, exatamente porque consta nos pareceres fiscais as assinaturas dos conselheiros, e não dos diretores (vide a fl. 26 dos autos principais). 4 - LUCENIRA FÁBIA FEITOSA BARBOSA Não Concluiu em Tempo Oportuno a Ata de Reunião Havida no Dia 29/06/2009 e Colheu as Assinaturas dos Presentes de forma irregular, sem a realização de reunião, em momento específico para aprovação Por óbvio, o recomendável é que ao fim da reunião seja concluída a sua ata, colhendo-se, ato contínuo, as assinaturas dos presentes. Todavia, o fato de ser lavrada a ata posteriormente, embora não recomendável, não configura por si só improbidade administrativa. Explicando melhor, se a mencionada ata, ainda que formulada em data posterior, revele a verdade sobre o que de fato ocorreu na reunião, deparamo-nos com uma mera irregularidade formal, que não caracteriza, a toda evidência, improbidade administrativa. Assim, como não se verifica nos autos qualquer prova de que a ata lavrada por LUCENIRA FÁBIA FEITOSA BARBOSA não espelhe a verdade sobre o que de fato sucedeu na correspondente reunião, não se pode falar em improbidade administrativa o contexto probatório dos autos ora discutido nesta peça, aliás, desvela exatamente o contrário, ante os depoimentos já destacados acerca da do PDDE do ano de 2009, bem como a sua aprovação pela Secretaria de educação do Município de Recife/PE. Fone: (083) 3341-4109 6/7
III CONCLUSÃO Ante o exposto, exsurge inconteste que não há qualquer outra providência a ser efetivada no presente inquérito civil por esta Procuradoria da República, restando, tão somente, arquivá-lo. Ademais, não subsiste nos autos qualquer evidência de conduta que possa repercutir na esfera da improbidade administrativa. Eis por que o Ministério Público Federal decide ARQUIVAR o presente procedimento. Tratando-se de tema afeto à 5.ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal, encaminhem-se-lhe os presentes autos para a devida apreciação nos termos do art. 62, IV, da Lei Complementar nº 75/93 e do art. 9, 1.º, da Lei 7.347/85, regulamentado pelo art 17, 2.º, da Resolução n.º 87/06 do Conselho Superior do Ministério Público Federal. Cumpre salientar que não há noticiante a ser oficiado, pois se trata de procedimento aberto a partir de provocação do Ministério Público Estadual, que agiu, portanto, em consonância com a sua obrigação legal. Em arremate, informa que deixa de comunicar os fatos à Advocacia Geral da União, a fim de que sejam adotadas as providências cabíveis para ressarcimento do dano, pois, a rigor, não restou comprovado nos autos qualquer dano ao patrimônio da União, na esteira do que prescreve o Enunciado nº 8 da 5ª CCR. Recife/PE, 25 de março de 2014. Sérgio Rodrigo Pimentel de Castro Pinto Procurador da República Fone: (083) 3341-4109 7/7