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Transcrição:

R- ' n PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAlBA ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL N. 001.2005.024090-01002 (oriunda da 6' Vara Cível da Comarca de Campina Grande) RELATOR: Dr. ARNÓBIO ALVES TEODÓSIO (em substituição ao Des. Manoel Soares Monteiro) APELANTE: UNIMED Campina Grande, Cooperativa de Trabalho Médico LTDA ADVOGADOS Dr. Giovanni Dantas de Medeiros e Outra APELADO: Josefa Edviges Pereira Cavalcante ADVOGADO: Dr. José de Paula Rego APELAÇÃO CÍVEL AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CLÁUSULA CONTRATUAL C/C REPETIÇÃO DO INDÉBITO PLANO DE SAÚDE TRATAMENTO DE QUIMIOTERAPIA NEGATIVA DE COBERTURA CLÁUSULA EXCLUDENTE DE TRATAMENTO NULIDADE ABUSIVIDADE CONFIGURADA INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR PROCEDIMENTO CIRÚRGICO ANTERIORMENTE REALIZADO DESPROVIMENTO DO RECURSO. - Afiguram-se nulas as cláusulas exonerativas de responsabilidade do fornecedor, nos contrato de plano de saúde, em função de exclusão contratual de procedimento necessário ao tratamento do segurado, eis que neste caso não deve prevalecer o princípio contratual da autonomia da vontade. - "O plano de saúde pode estabelecer quais doenças estão sendo cobertas, mas não que tipo de tratamento está alcançado para a respectiva cura. Se a patologia está coberta, no caso, o câncer, é inviável vedar a quimioterapia pelo simples fato de ser esta uma das alternativas possíveis para a cura da doença" (REsp 668.216/SP). - Desprovimento do apelo. Vistos, relatados e discutidos estes autos, antes identificados: Acorda a Egrégia ia Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, a unanimidade, NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO DE APELAÇÃO. RELATÓRIO Guilherme Pereira Cavalcante propôs AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CLÁUSULA CONTRATUAL C/C REPETIÇÃO DO INDÉBITO, com pedido de tutela antecipada, em desfavor de UNIMED Campina Grande Cooperativa de Trabalho Médico LTDA sob o argumento de que a demandada lhe negou a realização de aplicações de quimioterapia, alegando que o plano de saúde não abrangia essa modalidade de tratamento. Ao final, o autor requereu a declaração de nulidade da cláusula contratual, obrigando a promovida a custear integralmente o tratamento, bem como a repetição em dobro do que foi pago. Inaudita altera parte, concedeu-se medida liminr(fl. 51/54) a fim de que a promovida autorizasse a quimioterapia em tantas sessões quantas fossem necessárias ao autor. Contra essa decisão foi interposto agravo de instrumento (fl. 57/68). I( gr 1 44.411 Illgr

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAIBA 2 Citada, a demandada apresentou contestação (fl. 81/86), argüindo, em preliminar, a decadência e a prescrição do direito do autor. No mérito, aduziu que o tratamento é expressamente excluído do plano de saúde contratado, motivo pelo qual não haveria de custeá-lo. Impugnação à fl. 100/101. Por intermédio da sentença de fl. 106/109, o MM Juiz de Direito rejeitou as preliminares e, no mérito, julgou procedente o pedido, confirmando os termos da tutela antecipada anteriormente concedida e condenando a promovida à devolução em dobro do valor pago indevidamente.); Irresignada, UNIMED Campina Grande Cooperativa de Trabalho Médico LTDA interpôs recurso apelatório (fl. 111/122), alegando que o plano de saúde do autor é anterior à Lei n. 9.656/98 e não foi adaptado a esta, bem como que o tratamento requerido está expressamente excluído da cobertura do contrato. Através da petição de fl. 126, Josefa Edviges Pereira Cavalcante requereu sua habilitação no processo, ante o falecimento de seu genitor. Contra-razões à fl. 130/135. 110 A Procuradoria-Geral de Justiça manifestou-se pelo desprovimento do recurso (fl. 143/146). É o relatório. Voto: Dr. ARNÓBIO ALVES TEODÓSIO Conheço o recurso de apelação, porquanto adequado (art. 513, CPC), tempestivo (fl. 109 verso c/c 111) e preparado (fl. 123). Não havendo preliminares a serem apreciadas, adentro desde já no mérito da causa. Em princípio, postule-se que a relação jurídica versada na presente demanda configura nítida relação consumerista, uma vez que ambas as parte encontram-se insertas nos conceitos dos arts. 2 e 3 do Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, transcritos in verbis: Art. 2 Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. (...) Art. 3 Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. (...) 2 Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. Ademais, a avença de prestação de serviços médico-hospitalares, coligada às fl. 13/14, enquadra-se perfeitamente no conceito de contrato de adesão, posto que, sob todos os seus aspectos, obedece aos contornos jurídicos estabelecidos no art. 54 do mesmo CDC: "Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo". Pertinentemente a estes contratos de consumo na modalidade de adesão, os incisos I e IV, e 1, todos do art. 51, vedam a inobservância do principio da boa-fé contratual, que no caso dos autos deixou de ser obedecido quando da negativa de cobertura do tratamento quimioterápico por moléstia grave (câncer). A seguir transcrevo os dispositivos mencionados: 4110Y g ".4r1110-11 dr

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA 3 Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vicios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis; (...) IV - estabeleçam obrigações consideradas iniguas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade; (...) 10, (grifei) 1 Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade que: I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence; II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual; III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso. O que o diploma consumerista veda é a cláusula contratual que pretende retirar da cobertura do plano de saúde determinadas hipóteses que, devido à natureza do contrato, deveriam ser por ele abrangidas. Tais cláusulas, então, por serem abusivas e restringirem direito inerentes à natureza do contrato, não podem prevalecer em desfavor do consumidor de boa-fé, devendo ser, portanto, consideradas nulas. Em verdade, a limitação ou eliminação da responsabilidade da administradora de plano de saúde coloca o aderente do contrato em desvantagem exagerada, prejudicando o equilíbrio contratual e violando o princípio da boa-fé, que deve regular indistintamente os contratos. Ilk. O consumidor ao aderir ao plano de saúde o faz na convicção e certeza de que na infelicidade de adoecer será atendido com os cuidados específicos que exigem a moléstia que o acomete. A administradora, por sua vez, que se desobriga por conta própria ao cumprimento do contrato, age de má-fé por receber mensalmente o prêmio e não prestar o serviço esperado pelo contratante, ainda mais quando a doença exige continuidade de tratamento após o procedimento cirúrgico, como é o caso dos autos. Tal insegurança não se coaduna com a orientação esposada pela legislação consumerista. Ora, no caso em espécie, o contrato de prestação de assistência médica firmado entre as partes (fl. 13/14) não exclui do seu âmbito de cobertura a doença neoplasia maligna (câncer) tanto que custeou a cirurgia a que se submeteu o autor. Contudo, de forma ambígua e retirando do contrato o meio de tratamento indispensável para a cura do paciente, exclui de seu âmbito de cobertura o tratamento quimioterápico. Tribunal de Justiça: Proferindo julgamento em caso idêntico ao presente, assim entendeu o Superior SEGURO SAÚDE. COBERTURA. CÂNCER DE PULMÃO. TRATAMENTO COM QUIMIOTERAPIA. CLÁUSULA ABUSIVA. 1. O plano de saúde pode estabelecer quais doenças estão sendo cobertas, mas não que tipo de tratamento está alcançado para a respectiva cura. Se a patologia está coberta, no caso, o câncer, é inviável vedar a quimioterapia pelo simples fato de ser esta uma das alternativas possiveis para a cura da doença. A abusividade da cláusula reside exatamente nesse preciso aspecto, qual seja, não pode o paciente, em razão de cláusula limitativa, ser impedido de receber tratamento com o método mais moderno disponível no momento em que instalada a doença coberta. 2. Recurso especial conhecido e provido (REsp 668.2161SP, Rel. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, 3' Turma, DJ 02.04.2007). ' 1 arir

e n PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA 4 Por oportuno, transcrevo a fundamentação adotada pelo Ministro-Relator Carlos Alberto Menezes Direito na transcrita decisão: Ação de obrigação de fazer em que o autor postula pagamento pelo seguro de quimioterapia em decorrência de câncer de pulmão, a ser feito em 12 aplicações, negado pela seguradora ré alegando que a apólice não cobre tratamento ambulatorial nem quimioterapia. A tutela antecipada foi deferida para o custeio das despesas com o tratamento. Durante o curso do processo o autor veio a falecer. A sentença julgou procedente o pedido. Afirmou o Juiz que "o argumento da ré, de que em 1992 foi fornecido um novo contrato ao Anselmo, incluindo"a cobertura de despesas com quimioterapia, não deve ser acolhido, pois a ré não demonstrou efetivamente que as condições gerais juntadas por cópia a fls. 112/123 foram enviadas a Anselmo para que ele pudesse optar por um plano com cobertura mais ampla, não tendo a ré sequer demonstrado que tenha sugerido aos seus segurados que optassem por tal plano e qual a quantia que seria paga pela cobertura mais ampla" (fl. 191). Ademais, entendeu que a cláusula de exclusão rompe o equilíbrio contratual e causa vantagem exagerada em favor da ré "colocando o segurado em posição de excessiva onerosidade, já que não pode dispor dos benefícios pelos quais pagou, deve tal cláusula ser declarada nula, condenando-se a ré a pagar todas as despesas feitas no tratamento de Anselmo, já falecido" (fl. 191). Os embargos de declaração foram recebidos para anular também outra cláusula do contrato que proibia tratamento ambulatorial. O Tribunal de Justiça de São Paulo proveu a apelação da seguradora ao fundamento de que a "cláusula que excluiu as despesas com quimioterapia e com assistência médica ambulatorial quando não motivada por acidente pessoal (item 3, alínea e y, a fis. 33), além de visível e de redação induvidosa, é perfeitamente legal e nada tem de abusiva, sequer ofendendo o artigo 51 do Código de Defesa do Consumidor, cujo artigo 54, 4 0, admite, de expresso, a existência de disposição limitativa, desde que escrita em destaque, possibilitando a sua identificação e compreensão pelo consumidor" (fl. 277). Por outro lado, assinalou o acórdão não ser possível ter como violados dispositivos da Lei n 9.656/98 porque "em momento algum o apelado evidenciou tenha o de cujus, que era profissional do Direito, optado pela adaptação do seu contrato aos termos da lei em apreço e muito menos a recusa da apelante a tanto" (fl. 279). Os embargos de declaração foram rejeitados. O especial assinala, desde logo, a possibilidade de adaptação de seu plano aos termos da Lei n 9.656, de 1998. O acórdão afirmou que não há prova da opção nem da recusa da empresa em aceitá-la. Isso tem a cobertura da Súmula n 7 da Corte. Mas caberia examinar a questão sob o ângulo rechaçado pelo Tribunal local ao reformar a sentença, ou seja, a possibilidade da cobertura excluir determinadas patologias. A orientação que se vem firmando, e que merece exame da Corte, é sobre esse ponto, considerando a consolidação legislativa vigente com a Lei n 9.656/98. O que se procurou fazer, pelo menos no meu entender, foi estabelecer critério para proteger o consumidor e ao mesmo tempo assegurar a viabilidade empresarial dos planos privados de saúde. De fato, não se pode negar o direito do contrato de estabelecer que tipo de doença está ao alcance do plano oferecido. Todavia, entendo que deve haver uma distinção entre a patologia alcançada e a terapia. Não me parece razoável que se exclua determinada opção terapêutica se a doença está agasalhada no contrato. Isso quer dizer que se o plano está destinado a cobrir despesas relativas ao tratamento, o que o contrato pode dispor é sobre as patologias cobertas, não sobre o tipo de tratamento para cada patologia alcançada pelo contrato. Na verdade, se não fosse assim, estar-se-ia autorizando que a empresa se substituísse aos médicos na escolha da terapia adequada de acordo com o plano de cobertura do paciente. E isso, pelo menos na minha avaliação, é incongruente com o sistema de assistência à saúde, porquanto quem é senhor do tratamento é o especialista, ou seja, o médico que não pode ser impedido de escolher a alternativa que melhor convém à cura do paciente. Além de representar severo risco para a vida do consumidor. Foi nessa linha que esta Terceira Turma caminhou quando existia limite de internação em unidade de terapia intensiva (REsp n 158.7281RJ, da minha relatoria, DJ de 17/5/99), reiterado pela Segunda Seção (REsp n 251.024/SP, Relator o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 4/2/02). Isso quer dizer que o plano de saúde pode estabelecer que doenças estão sendo cobertas, mas não que o tipo de tratamento está alcançado para a respectiva cura. Assim, por exemplo, se está coberta a cirurgia cardíaca, não é possível vedar a utilização de stent, ou, ainda, se está coberta a cirurgia de próstata, não é possível impedir a utilização de esfíncter artificial para controle da micção. O mesmo se diga com relação ao câncer. Se a patologia está coberta, parece-me inviável vedar a quimioterapia pelo simples fato de que a quimioterapia é uma das alternativas,msiveis para a cura da doença. Nesse sentido, parece-me que a abusividade da cláusisloreside exatamente nesse preciso aspecto, qual seja, não pode o paciente, consumidor do plano de saúde, ser impedido de receber off"

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA 5 tratamento com o método mais moderno do momento em que instalada a doença coberta em razão de cláusula limitativa. É preciso ficar bem claro que o médico, e não o plano de saúde, é responsável pela orientação terapêutica. Entender de modo diverso põe em risco a vida do consumidor. Assim, no caso, não havendo exclusão do câncer na apólice do autor, não há como impedir a cobertura do seguro para o tratamento por quimioterapia em regime ambulatorial ou de internação. Conheço do especial e lhe dou provimento para restabelecer a sentença. (grilos acrescidos) Constitui-se em direito do consumidor ser protegido contra publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços (art. 6, IV, CDC). Retomando o que restou dito acima, são consideradas abusivas e nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade (art. 51, IV). Observe-se que o art. 51 do Código de Defesa do Consumidor trata de cláusulas abusivas nas relações de consumo, autorizando o Juiz a declará-las nulas, de ofício, quando configurada a sua abusividade. E o caso dos autos. Se por um lado não se discute que a vida é o bem maior do cidadão, devendo ser protegida acima de todos os outros direitos; por outro, a cláusula do presente contrato que exclui a quimioterapia, por ser demasiadamente onerosa ao contratante, é nula, porquanto ofende o princípio da equivalência contratual e atenta contra o mesmo e fundamental direito à vida. Desse modo, ainda que haja cláusula de exclusão expressa do procedimento quimioterápico, há a informação de que a recorrido se submeteu a procedimento cirúrgico e que a complementação do tratamento através de sessões de quimioterapia se mostrou imprescindível para o tratamento da doença, tudo conforme melhor consta do atestado de fl. 15/16. Não podendo o contrato de plano de saúde prever a cobertura de determinado tipo de doença e, a um só tempo, excluir da cobertura sua mais eficaz forma de tratamento, entendo que a cláusula que exclui o tratamento quimioterápico ao portador de neoplasia maligna atenta contra todos os pré-falados princípios consumeristas acima referidos. Dessa forma, irretocável é o entendimento esposado na sentença de primeiro grau, não merecendo qualquer reforma por parte dessa Corte de Justiça. Por tal razão e com base nos fundamentos táticos e jurídicos acima expostos, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO DE APELAÇÃO. É como voto. Por votação indiscrepante, negou-se provimento ao recurso de apelação. Presidiu sem voto os trabalhos, o Des. Manoel Soares Monteiro. Participaram do julgamento, além do Relator, os Exmos. Drs. Miguel de Britto Lyra Filho, Juiz de Direito convocado para substituir o Des. José Di Lorenzo Serpa, e Maria das Neves do Egito de Araújo Duda Ferreira, Juíza de Direito convocada em razão do afastamento do eminente Des. Marcos Antônio Souto Maior. Presente a Exma. Dra. Marilene Lima C. Carvalho, Procuradora de Justiça convocada. Sala de Sessões da Egrégia i a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, aos 09 dias do mês de agosto do ano 2007. Á Oftgal, Dr. em: J 'ine Direito Convocado,

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