6. Moeda, Preços e Taxa de Câmbio no Longo Prazo



Documentos relacionados
6. Moeda, Preços e Taxa de Câmbio no Longo Prazo

A Taxa de Câmbio no Longo Prazo

8. Mercado de Trabalho, Emprego e Desemprego

O processo de criação de moeda. 1. Conceitos básicos 31

Capítulo 4. Moeda e mercado cambial. Objectivos do capítulo

5. Moeda e Política Monetária

Macroeconomia. Faculdade de Direito UNL 2008/09. José A. Ferreira Machado

Macroeconomia. Prof. Aquiles Rocha de Farias

IGEPP GESTOR Política cambial. Relação entre taxa de juros, taxa de câmbio e regimes cambiais. Prof. Eliezer Lopes

ECONOMIA INTERNACIONAL II Professor: André M. Cunha

Capítulo 1. Taxas de câmbio e mercados de divisas. Objectivos do capítulo

Aula 25 - TP002 - Economia - 26/05/2010 Capítulo 32 MANKIW (2007)

Curso DSc Bacen - Básico Provas Macroeconomia. Prof.: Antonio Carlos Assumpção

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA

UNIVERSIDADE DOS AÇORES DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E GESTÂO EXEMPLO de TESTE

Aula Teórica nº 11 Sumário:

Questões de Economia Cesgranrio. Macroeconomia

Vamos usar a seguinte definição: Aumento da taxa de cambio = Desvalorização. Taxa de cambio real : é o preço relativo dos bens em dois paises.

Sumário. Conceitos básicos 63 Estrutura do balanço de pagamentos 64 Poupança externa 68

TRABALHO DE ECONOMIA:

A diferença entre o curto e o longo prazo

Mercado de Divisas e

Taxas de câmbio. A condição de paridade não coberta da taxa de juro. O fenómeno do sobreajustamento da taxa de câmbio.

MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS MÓDULO 7 POLÍTICA CAMBIAL

UNIJUI Universidade Regional do Noroeste do Estado do RS ECONOMIA II PROFESSOR AGENOR CASTOLDI APONTAMENTOS DE MACROECONOMIA

Capítulo 3. Taxas de câmbio e mercados de divisas. Objectivos do capítulo

Estudos sobre a Taxa de Câmbio no Brasil

3.1 Da c onta t bil i i l d i ade nacio i nal para r a t e t ori r a i ma m cro r econômi m c i a Det e er e mi m n i a n ç a ã ç o ã o da d

Prof. Dr. Antony Mueller Economia Internacional

ECONOMIA INTERNACIONAL II. Paridade Poder de Compra. Teoria: um primeiro olhar. A Lei do Preço Único

Construção do. Incidência da abertura externa sobre IS-LM Construção, interpretação e deslocamento da curva BP

Pindyck & Rubinfeld, Capítulo 15, Mercado de Capitais::REVISÃO

3. A Moeda e a Inflação no Longo prazo

como Indicador de Competitividade

Teoria Macroeconômica I

O Custo Unitário do Trabalho na Indústria

Taxa de Câmbio. Recebimento de juros Recebimentos de lucros do exterior Receita de rendas do trabalho

Circuito Económico e Contabilidade Nacional

CAPÍTULO 11. Poupança, acumulação de capital e produto. Olivier Blanchard Pearson Education

Agregados macroeconômicos:

2. CONTABILIDADE NACIONAL

2 DISCIPLINA: Economia M6 Ano :11º C DATA: 10/07/2013 Cursos Profissionais: Técnico de Restauração Variante de Restaurante - Bar

Taxa de câmbio (19/08/2015)

RISCOS E OPORTUNIDADES PARA A INDÚSTRIA DE BENS DE CONSUMO. Junho de 2012

NOME: NÚMERO: GRUPO I (8 valores)

NBC TSP 10 - Contabilidade e Evidenciação em Economia Altamente Inflacionária

ANEXO VII OBJETIVOS DAS POLÍTICAS MONETÁRIA, CREDITÍCIA E CAMBIAL LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS

Um Novo Modelo de Desenvolvimento para o Brasil

CRITÉRIOS / Indicadores

Keynesiano Simples e IS-LM

Avaliação Distribuída 2º Mini-Teste (30 de Abril de h00) Os telemóveis deverão ser desligados e guardados antes do início do teste.

Parte III Política Cambial

Economia Financeira Internacional Ano Lectivo 2000/2001

O Processo Cumulativo de Wicksell:

Política Cambial. Política Cambial e. Balanço de Pagamentos 26/03/2013. Mecanismos de intervenção na Economia. O que é Balanço de Pagamentos?

1 (V) 1 Usualmente assume-se que as empresas agem de forma a maximizar suas utilidades

School of Economics and Management

Teoria do comércio Internacional

Setor externo estatísticas do comércio exterior

O Comportamento da Taxa de Juros. Introdução. Economia Monetária I (Turma A) - UFRGS/FCE 6/10/2005. Prof. Giácomo Balbinotto Neto 1

Faculdade de Economia do Porto Ano Lectivo de 2004/2005. Introdução. Equilíbrio em Autarcia e em Livre Comércio. LEC 207 Economia Internacional

(Esta questão vale dois pontos e a análise deve ser feita graficamente)

10º FÓRUM DE ECONOMIA. Política Cambial, Estrutura Produtiva e Crescimento Econômico: fundamentos teóricos e evidências empíricas para o Brasil

A Análise IS-LM: Uma visão Geral

Economia Financeira Internacional

Unidade II. Mercado Financeiro e de. Prof. Maurício Felippe Manzalli

NOTA CEMEC 03/2015 FATORES DA QUEDA DO INVESTIMENTO

Determinação de Preços Internos Fluxos Comerciais Lucros das Empresas Valorização de Activos Crescimento Económico

Condicionantes do Desenvolvimento Sustentável numa União Monetária

As exportações brasileiras ficaram mais competitivas com a desvalorização do real?

Duração da Prova: 120 minutos. Tolerância: 30 minutos.

2. Condições de Equilíbrio do Modelo No modelo keynesiano simples, a economia estará em equilíbrio se:

MACROECONOMIA I LEC201 Licenciatura em Economia 2007/08

EXAME PARA CONTABILISTA CERTIFICADO DELIBERAÇÃO Nº 001/CTEC/ NOVEMBRO-DEZEMBRO DE 2013 PROVA DE ECONOMIA GERAL

NOTA CEMEC 06/2015 CÂMBIO CONTRIBUI PARA RECUPERAÇÃO DE MARGENS E COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA

MACROECONOMIA II PROFESSOR JOSE LUIS OREIRO PRIMEIRA LISTA DE EXERCÍCIOS

Princípios de Finanças. Prof. José Roberto Frega, Dr.

Prova Escrita de Economia A

Aula 2 Contextualização

Uma avaliação crítica da proposta de conversibilidade plena do Real XXXII Encontro Nacional de Economia - ANPEC 2004, Natal, dez 2004

CASO 7 A evolução do balanço de pagamentos brasileiro no período do Real

Ciclos Econômicos. Expectativas adaptativas do monetarismo Ciclo real de negócios novoclássico Rigidez de preços novokeynesiana

PROGRAMAS DAS UNIDADES CURRICULARES. Análise de Informação Económica para a Economia Portuguesa

Para evitar dupla contagem não são contabilizados os bens intermediários. Valor Agregado = VA = VBP Cons. Intermediário PN = ΣVA

Provas de Acesso ao Ensino Superior Para Maiores de 23 Anos Candidatura de Tempo para realização da prova: 2 horas Tolerância: 30 minutos

CONTABILIDADE NACIONAL

A melancolia das commodities: o investimento empresarial na América Latina Nicolás Magud

Aula 24 24/05/2010 Bibliografia: Capítulo 31 MANKIW (2007)

TEORIA MACROECONÔMICA II ECO1217. Aula 14 Professores: Márcio Gomes Pinto Garcia Dionísio Dias Carneiro 27/04/2006. Conteúdo

Seminários Extraordinários do Departamento de Economia. Edmund Phelps Prémio Nobel da Economia Miguel St. Aubyn (ISEG/UTL)

Instrumentalização. Economia e Mercado. Aula 4 Contextualização. Demanda Agregada. Determinantes DA. Prof. Me. Ciro Burgos

PAGAMENTOS INTERNACIONAIS E TAXA DE CÂMBIO


2. São grupos, respectivamente, de crédito na Conta 1 (PIB) e débito na Conta 2 (RNDB) das Contas Nacionais:

B 02-(FCC/EMATER-2009)

Correlação entre Termos de Troca e Preços Internacionais de Commodities

Aula 4: Política Cambial

Curso de Políticas Públicas e Desenvolvimento Econômico Aula 3 Política Monetária

Investimento internacional. Fluxos de capitais e reservas internacionais

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA Exame de 2ª época

Transcrição:

6. Moeda, Preços e Taxa de Câmbio no Longo Prazo 6. Moeda, Preços e Taxa de Câmbio no Longo Prazo 6.1. Introdução 6.2. O Princípio da Neutralidade da Moeda 6.3. Taxas de Câmbio Nominais e Reais 6.4. O Princípio da Paridade dos Poderes de Compra Burda & Wyplosz, 5ª Edição, Capítulo 6 1

6.3. Taxas de Câmbio Nominais e Reais Taxas de câmbio nominais O estabelecimento de relações económicas entre países requer a conversão de valores económicos entre diferentes moedas nacionais. A conversão ocorre a uma taxa de câmbio nominal, em mercados especializados; mercados cambiais: mercados financeiros internacionais nos quais empresas financeiras tipicamente bancos transacionam entre si diferentes moedas. Taxa de câmbio nominal: numero de unidades duma moeda que é trocado por uma unidade de outra moeda, i.e. o preço duma moeda em termos de outra. No nosso caso, as taxas de câmbio nominais (S) são expressas em unidades de moeda estrangeira por unidade de moeda nacional. Nessa definição, um aumento (diminuição) de S corresponde a uma apreciação (depreciação) da moeda nacional. Numero de unidades de moeda estrangeira S 1 unidade de moeda nacional 2

6.3. Taxas de Câmbio Nominais e Reais Taxas de câmbio reais Para a análise económica é particularmente relevante (para além do preço relativo das moedas nacionais) o preço relativo dos produtos nacionais; este é um indicador do poder de compra internacional da produção nacional ou da competitividade-preço da economia nacional. Taxa de câmbio real: preço relativo dum cabaz de produtos domésticos em termos dum cabaz de produtos do exterior. Dado que os preços dos produtos de diferentes países estão expressos em moedas diferentes, a sua comparação requer a respetiva conversão numa unidade monetária comum, por recurso a uma taxa de câmbio nominal. Taxa de câmbio real com preços expressos em moeda estrangeira: Taxa de câmbio real com preços expressos em moeda nacional: P S P P P /S 3

6.3. Taxas de Câmbio Nominais e Reais Taxas de câmbio reais Adiante ver-se-á de forma mais sistemática os problemas de cálculo de taxas de câmbio reais, incluindo a questão de qual o cabaz de produtos a considerar. Essa escolha tem, contudo, fundamentos e implicações teóricas, interessando distinguir duas abordagens entre as várias alternativas disponíveis: Termos de troca externos: Termos de troca internos: P P P P exportações importações bens não transaccionáveis bens transaccionáveis TT externos: analisa os preços relativos dos bens que são de fato transacionados. TT internos: analisa os incentivos e a capacidade da economia para afetar recursos à produção de bens transacionáveis (e garantir o equilíbrio externo). 4

6.3. Taxas de Câmbio Nominais e Reais Taxas de câmbio reais: níveis vs. variações Em termos agregados (macroeconómicos) compara-se os preços dum cabaz representativo da produção, consumo ou comércio externo de cada país. Os deflatores e os índices de preços são números índices. Então, as taxas de câmbio reais são igualmente números índices e, portanto, o seu valor não tem uma leitura direta em níveis, mas sim em variações. P S ln ln S ln P ln P P d d ln ln S ln P ln P dt dt 1 d 1 ds 1 dp 1 dp dt S dt P dt P dt d ds S 5

6.3. Taxas de Câmbio Nominais e Reais Taxas de câmbio reais: determinantes No decurso de um dado período de tempo, podem variar em resultado de: 1. Alterações na taxa de câmbio nominal; 2. Diferenciais de inflação entre a economia nacional e a estrangeira. d ds S Exemplo: uma apreciação real (aumento do preço relativo dos produtos nacionais em termos dos produtos estrangeiros) pode decorrer de i. Apreciação (nominal) da moeda nacional (aumento de S); ii. Diferencial positivo de inflação nacional relativamente à inflação estrangeira; Uma apreciação real corresponde a uma perda de competitividade-preço da economia nacional cada unidade de produto nacional passa a ser trocada, em média, por menos unidades de produtos estrangeiros porque os preços relativos dos produtos nacionais aumentaram e/ou esses preços são mais elevados quando expressos em moeda estrangeira. 6

6.3. Taxas de Câmbio Nominais e Reais Taxas de câmbio reais: medição A medição de taxas de câmbio levanta dois problemas práticos: 1. Definição de exterior ; 2. Definição de preços dos produtos. d ds S 1. Taxa de câmbio efetiva vs. bilateral Na realidade o país não se relaciona apenas com um outro, pelo que são relevantes no seu relacionamento económico externo n taxas bilaterais; Taxa de câmbio efetiva: média das taxas de câmbio e dos índices de preços dos países com os quais o nosso país tem relações económicas, ponderada pelo respetivo peso nas relações externas nacionais; Para efeitos de modelização e análise económica, é interessante calcular-se um índice de taxa de câmbio efetiva (indicador sintético). 7

6.3. Taxas de Câmbio Nominais e Reais Taxas de câmbio reais: medição 1. Taxa de câmbio real efetiva: Requer o cálculo de (i) taxa de câmbio nominal efetiva e (ii) índice médio de preços dos produtos do exterior; i. Taxa de câmbio nominal efetiva: média ponderada das taxas de câmbio bilaterais, em que os pesos w são importância relativa no comércio externo: 1 2 3 4 w w w w w n n S S S S S... S, em que w 1 1 2 3 4 n i 1 ii. Índice de preços no exterior efetivo: média dos índices de preços dos países considerados em S, ponderados igualmente com os pesos w: 1 2 3 4 P P P P P... P, em que w 1 Então, a taxa de câmbio real efetiva é: w w w w w n n 1 2 3 4 n i 1 d ds S w1 w2 w3 w n P P P P P S1 S2 S3... Sn S P1 P 2 P 3 P n P i i 8

6.3. Taxas de Câmbio Nominais e Reais Taxas de câmbio reais: medição 2. Preços dos produtos: Há uma variedade de preços considerados em análises aplicadas. Dificuldade: não é possível utilizar-se cabazes de produtos estritamente comparáveis. Alternativas usuais: i. Deflator do PIB (problema: composição diferente e variável no tempo) ii. iii. d ds S Índices de preços no consumidor (problema: padrões de consumo diferentes) Custos unitários em trabalho (interessante, no sentido em que o fator trabalho está presente na produção de todos os bens e serviços) iv. Termos de troca externos: deflator das exportações dividido pelo das importações (problema: comércio externo é apenas uma parte da produção) v. Termos de troca internos: índice de preços dos produtos domésticos não transacionáveis dividido por um índice de preços dos produtos transacionáveis. A escolha da medida dos preços depende das características do país e dos objetivos da análise. 9

6.3. Taxas de Câmbio Nominais e Reais Exemplo: Taxa de câmbio real dum conjunto de países da Área do Euro medida pelos custos unitários em trabalho na indústria transformadora relativamente aos da Alemanha (Relatório da OCDE de outubro de 2010). 10

6.4. Princípio da Paridade dos Poderes de Compra O Princípio da Paridade dos Poderes de Compra Hipótese teórica sobre a taxa de câmbio de equilíbrio no longo prazo. o Para a nação cumprir a sua restrição intertemporal, o saldo primário da balança externa corrente no futuro (equilíbrio de longo prazo) tem de respeitar a condição: PCA PCA F PCA 1 r PCA 1 r F PCA 1 r F PCA F 1 r 2 1 1 1 2 1 2 1 1 2 (sendo F i a PLII no início do período i em termos de bens desse período) o Uma posição líquida de investimento internacional positiva F 2 >0 permite um défice no futuro; um endividamento externo F 2 <0 exige um exdedente no futuro. o A liberdade do país escolher o padrão de balança de pagamentos externos ao longo do tempo deixa de existir no futuro, no último período, i.e. no longo prazo (aí o país ou paga a dívida acumulada ou gasta os ativos, capital e juros, herdados). 11

6.4. Princípio da Paridade dos Poderes de Compra o O saldo da balança corrente primária depende negativamente da taxa de câmbio real: uma apreciação real corresponde a um aumento do preço relativo dos produtos nacionais em termos dos estrangeiros, a uma perda de competitividade externa da economia e portanto, faz aumentar as importações e diminuir as exportações. PCA (, ) Taxa de câmbio real Declive: exportações líquidas aumentam quando os preços dos produtos domésticos diminuem relativamente aos produtos estrangeiros (taxa de câmbio real, ) PCA Défice 0 Excedente Deslocação: alterações nas condições macroeconómicas domésticas ou internacionais e alterações na competitividade relativa não associada aos preços relativos

6.4. Princípio da Paridade dos Poderes de Compra o Então, a condição de equilíbrio externo da economia no longo prazo é compatível apenas com um determinado valor para o saldo PCA 2 ; o E é, portanto, compatível apenas com um determinado valor para a taxa de câmbio real a taxa de câmbio real de equilíbrio ou de longo prazo. PCA 2 Taxa de câmbio real F 2 : posição líquida de investimento internacional no início de 2 Défice 0 A -F 2 -F 2 A PCA (, ) Excedente Se F 2 <0, então a taxa de câmbio real de equilíbrio de longo prazo deverá assegurar um excedente equivalente da balança corrente primária. Se F 2 <F 2, a taxa de câmbio real de equilíbrio de longo prazo é menor, de forma a que o excedente primário seja maior.

6.4. Princípio da Paridade dos Poderes de Compra o O valor da taxa de câmbio real de equilíbrio de longo prazo depende de um conjunto de variáveis fundamentais reais tais como: o dotação de recursos produtivos (capital, trabalho, recursos naturais) produtividade dos fatores produtivos (tecnologia, qualificação humana, ) preferências (consumo vs poupança, trabalho vs lazer, ) A taxa de câmbio real de equilíbrio é muito estável altera-se muito gradualmente ou pode mesmo considerar-se constante (porque depende de factores estruturais, que raramente ou lentamente se alteram). o Quando a taxa de câmbio real de equilíbrio de longo prazo está estável/constante, diz-se que se verifica o Princípio da Paridade dos Poderes de Compra (PPC). o PPC: sob o pressuposto de comércio internacional livre, a concorrência induz a convergência entre os preços dos bens domésticos e os dos bens estrangeiros. 14

6.4. Princípio da Paridade dos Poderes de Compra O Princípio da Paridade dos Poderes de Compra Absoluta PPPC aplicado ao nível, valor absoluto, da taxa de câmbio. No limite, se o mercado de bens e serviços global fosse perfeitamente concorrencial e os custos de transporte irrelevantes, um cabaz de produtos deveria ter o mesmo preço em todos os países, quando expresso numa mesma unidade monetária. Eventuais diferenças de preço seriam anuladas por arbitragem aumento da quantidade procurada nos mercados em que os preços estivessem mais baixos e redução da quantidade procurada naqueles em que estivessem mais altos até que as oportunidades de lucros de arbitragem desaparecessem. Lei do Preço Único (Princípio da Paridade dos Poderes de Compra absoluta): P S P 1 15

6.4. Princípio da Paridade dos Poderes de Compra O Princípio da Paridade dos Poderes de Compra Absoluta A taxa de câmbio real seria não apenas estável mas igual a 1. P S P 1 Contudo, relativamente à taxa de câmbio real (valor absoluto) de uma dada economia, observa-se, empiricamente, que não existe uma tendência para a convergência dessa taxa para a unidade. Ou seja, se por exemplo temos um país em que um cabaz de bens desse país adquire dois cabazes de bens de um outro país, a taxa de câmbio real desse país tende a permanecer ao longo do tempo num valor elevado. Empiricamente, não se observa a paridade dos poderes de compra em termos absolutos. Nota: entre as razões para que tal aconteça, inclui-se o fato dos mercados serem localmente e não globalmente concorrenciais e o fato duma parte dos bens e serviços não serem transacionáveis. 16

6.4. Princípio da Paridade dos Poderes de Compra O Princípio da Paridade dos Poderes de Compra Relativa PPPC aplicado à variação ao longo do tempo da taxa de câmbio real. Seguindo a PPC, no longo prazo, a taxa de câmbio real será constante ao longo do tempo: d 0 d ds Dado que Esta condição de equilíbrio de longo prazo tem uma consequência numa economia com comércio internacional livre: ds S S 17

6.4. Princípio da Paridade dos Poderes de Compra O Princípio da Paridade dos Poderes de Compra Relativa d 0 ds S Se numa dada economia o stock de moeda acelerar, então, pela TQM, no longo prazo a inflação virá a aumentar; Se a taxa de câmbio nominal se mantivesse estável, tudo o resto constante, a taxa de câmbio real apreciar-se-ia em resultado do diferencial de inflação; A economia perderia gradualmente competitividade-preço, o que geraria um défice externo que se tornaria insustentável; A taxa de câmbio nominal teria de depreciar, sob pena do país não cumprir a sua restrição orçamental intertemporal, seja politicamente (se regime de câmbios fixos) seja pelas forças do mercado cambial (se regime de câmbios flexíveis). 18

6.4. Princípio da Paridade dos Poderes de Compra O Princípio da Paridade dos Poderes de Compra A o e o o Dicotomia clássica (o equilíbrio de longo prazo das variáveis reais e nominais é determinado independentemente) Princípio da Neutralidade da Moeda (no longo prazo, alterações na quantidade de Moeda apenas causam alterações da inflação e das variáveis nominais) aplicados à taxa de câmbio: No longo prazo, a quantidade de Moeda de cada país afeta a taxa de inflação respetiva (TQM); No longo prazo, a diferença entre as taxas de inflação nacionais reflete-se apenas em alterações na taxa de câmbio nominal (S) e não na taxa de câmbio real ( ). 19

6.4. Princípio da Paridade dos Poderes de Compra O PPPC Relativa e a Teoria Quantitativa da Moeda De acordo com a TQM, no longo prazo a inflação é dada por m De acordo com o Princípio da Paridade dos Poderes de Compra Relativa: ds S N N m y m y y N Assumindo, por simplificação, que as taxas de crescimento do produto natural são idênticas na nação e no exterior, obtém-se o seguinte resultado: ds m S m Pode prever-se que, no longo prazo, os movimentos da taxa de câmbio nominal são explicados pela diferença das taxas de crescimento da oferta nominal de moeda no país, relativamente à oferta nominal de moeda no exterior. 20

6.4. Princípio da Paridade dos Poderes de Compra Inflation and exchange rate depreciation, 1975-2006 Burda & Wyplosz, fig. 6.01 (b) Diferenciais de taxas de inflação face à dos EUA vs. Taxas de depreciação das moedas nacionais face ao Dólar taxas anuais médias (ao longo de 30 anos) de 155 países. Princípio da Paridade dos Poderes de Compra relativos é aparente numa média de muitos anos (medida que aproxima o longo prazo).

6.4. Princípio da Paridade dos Poderes de Compra Dutch Guilder's nominal and real exchange rate (1970-2007) 150 125 100 75 50 Nominal Real Bilateral ($/DGL) 1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006