ACÓRDÃO Registro: 2016.0000039152 Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Execução Penal nº 7003111-29.2015.8.26.0071, da Comarca de Bauru, em que é agravante SIDNEY AUGUSTO PINHEIRO DAMASCENO, é agravado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E BORGES PEREIRA. São Paulo, 2 de fevereiro de 2016. Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica
Agravo em Execução nº 7003111-29.2015.8.26.0071 Comarca: Bauru Agravante: SIDNEY AUGUSTO PINHEIRO DAMASCENO Defensora Pública: Maria Cecília Remoli de Souza Lopes VOTO Nº. 12285 Agravo em execução. Falta disciplinar. Pleito preliminar de nulidade da sentença por ausência de oitiva judicial do agravante. Oitiva judicial obrigatória somente em caso de regressão de regime. Preliminar rejeitada. No mérito, requer a absolvição por insuficiência probatória. Inviabilidade. Acervo probatório farto e seguro. Pedido subsidiário de afastamento da interrupção de prazo e do perdimento dos dias remidos. Falta grave somente interrompe o prazo para obtenção de progressão de regime, não se estendendo aos demais benefícios, conforme decisão 'a quo'. Precedentes dos Tribunais Superiores. Escorreita fundamentação acerca do 'quantum' cassado dos dias remidos. Recurso improvido. Trata-se de Agravo em Execução, interposto por SIDNEY AUGUSTO PINHEIRO DAMASCENO, em face de decisão proferida em 31 de março de 2015 (fls. 27/27v), pelo MM. Juiz de Direito, Dr. Davi Márcio Prado Silva, da 1ª Vara de Execuções Criminais da Comarca de Bauru, que reconheceu a prática de falta grave pelo sentenciado, declarando o perdimento de 1/6 dos dias remidos. Agravo de Execução Penal nº 7003111-29.2015.8.26.0071 2
Irresignada, sustenta a defesa do agravante, em sua minuta (fls. 30/33), ser imperiosa a reforma da referida decisão, arguindo, preliminarmente, a nulidade da sentença por ausência de oitiva judicial do agravante. No mérito, requer a absolvição da falta grave e, subsidiariamente, a ininterrupção do lapso para futuras progressões, além do afastamento da perda dos dias remidos. O Ministério Público, em sua contraminuta (fls. 35/41), bateu-se pelo acerto do decisum. A decisão foi mantida (fl. 42), por seus próprios e jurídicos fundamentos. A douta Procuradoria Geral de Justiça apresentou parecer (fls. 45/59) opinando pelo desprovimento ao recurso. Devidamente processado, o agravo não comporta provimento. Segundo consta, o acusado, pela janela do setor do parlatório, proferiu ameaça contra os agentes penitenciários que acompanhavam o trabalho dos sentenciados. Preliminarmente, imperioso observar que, ao contrário do mencionado nas razões recursais, a prévia oitiva judicial do reeducando é providência adstrita somente aos casos onde houver regressão de regime, o que, in casu, não ocorreu, porquanto já se encontrava em regime fechado. Superada a questão, tenho que o magistrado de primeiro grau, proferiu referida decisão bem fundamentada no tocante ao mérito. Agravo de Execução Penal nº 7003111-29.2015.8.26.0071 3
Os agentes penitenciários Edilson e Paulo confirmaram os fatos narrados no comunicado de evento. Asseveraram ter o sentenciado dito a seguinte frase para outros detentos que possuíam enxadas e rastelos: tem que cortar a cabeça desse policial aí, referindo-se a Edilson. Em sua oitiva, o agravante alegou ter avistado, pela janela, um conhecido trabalhando na área externa e brincou com ele, dizendo que havia cortado cabeça de polícia na rua e agora teria que cortar grama na penitenciária. Salientou que não disse nada que se referisse ao funcionário e tudo não passou de um mal entendido. Diante disso restou evidente a prática faltosa, sendo devidamente homologada, nos termos do art. 50, inciso VI, da Lei de Execução Penal, como bem fundamentado pelo juízo a quo. Ainda, faz-se mister ressaltar que, em relação ao perdimento dos dias remidos, corretamente foram apontados os elementos que demonstraram a convicção do magistrado sobre a conduta do reeducando, suficientes a justificar o patamar de 1/6 imposto. Por fim, sobre contagem dos prazos para concessão de benefícios, o art. 127 da Lei de Execução Penal impõe o reinício do período para progressão de regime do condenado, punido pelo cometimento de falta grave no decorrer da execução, não ensejando margem a interpretação distinta. Neste sentido, já uníssona a jurisprudência: Agravo de Execução Penal nº 7003111-29.2015.8.26.0071 4
HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. FALTA GRAVE (FUGA). INTERRUPÇÃO NA CONTAGEM DO LAPSO TEMPORAL PARA A CONCESSÃO DE BENEFÍCIO DE PROGRESSÃO DE REGIME. CABIMENTO. LIVRAMENTO CONDICIONAL. ENTENDIMENTO DO TRIBUNAL A QUO EM CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. COMUTAÇÃO DAS PENAS. INTERRUPÇÃO DO PRAZO PARA OBTENÇÃO DO BENEFÍCIO PELO CONDENADO. ILEGALIDADE. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. PRECEDENTES. NOVA REDAÇÃO AO ART. 127 DA LEI N.º 7.210/84. PERDA DE ATÉ 1/3 (UM TERÇO) DOS DIAS REMIDOS. PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS BENÉFICA. APLICABILIDADE. WRIT CONCEDIDO, DE OFÍCIO, NESSE PONTO. O Paciente fugiu em 15 de dezembro de 2010, sendo recapturado em 23 de dezembro de 2010. O cometimento de falta grave pelo condenado implica a regressão de regime, Agravo de Execução Penal nº 7003111-29.2015.8.26.0071 5
a perda dos dias remidos e o reinício da contagem dos prazos para obter o benefício da progressão de regime. Precedentes desta Corte e do Supremo Tribunal Federal. (Habeas Corpus nº. 211307/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 19.10.2011) FALTA GRAVE. POSSE. ENTORPECENTE. Na Turma, já se consolidou o entendimento de que o cometimento de falta grave pelo apenado implica reinício da contagem do prazo para a concessão de benefícios relativos à execução da pena, inclusive a progressão de regime prisional. Contudo, a contagem do novo período aquisitivo do requisito objetivo deverá iniciar-se na data do cometimento da última falta grave, a incidir sobre o remanescente da pena e não sobre a totalidade dela. A falta grave em questão é a posse de entorpecente pelo apenado no interior do estabelecimento prisional, na vigência do regime semiaberto, devidamente apurada em regular procedimento administrativo disciplinar (não há que se falar em corpo Agravo de Execução Penal nº 7003111-29.2015.8.26.0071 6
de delito). Precedentes citados: HC 66.009-PE, DJ 10/9/2007; REsp 842.162- RS, DJ 5/2/2007, e HC 72.080-SP, DJ 3/9/2007. (Habeas Corpus 122.860/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 12.05.2009). Ao contrário do que sustenta a defesa, o mesmo ocorre quando o infrator já se encontra em regime fechado e comete falta grave, reiniciando-se a contagem do prazo para sua progressão. Conforme vimos entendendo: Prática de falta grave e nova contagem: se o condenado cometer falta grave, enquanto cumpre pena no regime fechado (ou semiaberto), para efeito de progressão, deve começar a computar o período de um sexto novamente. 1 Como sabido, a prática de falta grave é indicativo de ausência de assimilação da terapêutica penal, sinalizando a necessidade de regressão ou inaptidão à progressão e, por conseguinte, a impossibilidade de contemplação do benefício. A progressão tem como fundamento a confiança no restabelecimento do condenado. Destarte, havendo 1 NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas, 8ª Ed., Vol. 2, Nota 253 ao art. 112, p. 288. Agravo de Execução Penal nº 7003111-29.2015.8.26.0071 7
qualquer indício de desvio do processo regenerativo pelo sentenciado, o benefício é suspenso, iniciando-se novo período de avaliação e aquisição, como forma de reprimir as adversidades. Por outro lado, como bem fundamentado pelo juízo a quo, não há interrupção de prazo aquisitivo para a concessão dos demais benefícios, assim, a prática de falta disciplinar de natureza grave não interrompe o cômputo do tempo de cumprimento de pena para a concessão da comutação de penas ou do livramento condicional, mas tão somente daquele necessário à progressão de regime. Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao presente agravo defensivo, mantendo-se, in totum, a r. decisão atacada, por seus próprios e jurídicos fundamentos. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Agravo de Execução Penal nº 7003111-29.2015.8.26.0071 8