A AVALIAÇÃO NO CURSO DE FORMAÇÃO DE INTÉRPRETES DA ASSOCIAÇÃO DE INTÉRPRETES/TRADUTORES DE LIBRAS DO CEARÁ



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Transcrição:

A AVALIAÇÃO NO CURSO DE FORMAÇÃO DE INTÉRPRETES DA ASSOCIAÇÃO DE INTÉRPRETES/TRADUTORES DE LIBRAS DO CEARÁ Aline Nunes de Sousa Andréa Michiles Lemos Universidade Federal do Ceará Programa de Pós-Graduação em Linguística Resumo A Associação de Intérpretes/Tradutores de LIBRAS do Ceará (APILCE) é uma entidade que tem, entre outras finalidades, o objetivo de promover e apoiar a realização de cursos de formação, capacitação, oficinas e similares, visando o aperfeiçoamento profissional dos associados. A APILCE é composta por uma diretoria e dois conselhos. O Conselho de Admissão e Classificação Linguística (CACL) é formado por quatro intérpretes associados dentre os quais as autoras desse trabalho fazem parte e dois surdos convidados. É de responsabilidade desse conselho a admissão de novos sócios, a classificação dos sócios em categorias e níveis de interpretação, a elaboração e aplicação de bancas de avaliação nos cursos de formação, entre outras funções. Com o intuito de promover a capacitação de profissionais intérpretes, a APILCE desenvolve Cursos de Formação (200h), abrangendo disciplinas sobre o histórico da comunidade surda, cultura e identidade surda, técnicas de interpretação LIBRAS/Português/LIBRAS, estrutura linguística da LIBRAS, ética e profissionalismo, uso de classificadores na LIBRAS, entre outros. Tendo em vista a recenticidade da área de interpretação/tradução de LIBRAS, é de suma importância que modelos de avaliação de interpretação sejam desenvolvidos e partilhados entre entidades que trabalham com formação de tradutores/intérpretes de língua de sinais TILS. Por esse motivo, o presente trabalho visa apresentar o modelo de avaliação de ingresso e de avaliação final do curso de formação de TILS da APILCE, desenvolvido pelo CACL, descrevendo as etapas que compõem esse processo e justificando a relevância das mesmas. A banca para ingresso no curso tem o objetivo de avaliar os candidatos quanto ao domínio de LIBRAS e de português, o uso de expressões faciais e corporais e habilidades de interpretação. Para isso, o CACL elaborou as seguintes etapas: (1) entrevista em LIBRAS, (2) atividade de dramatização usando apenas mímica, (3) atividade de interpretação LIBRAS/Português, utilizando um texto filmado em LIBRAS e (4) atividade de interpretação Português/LIBRAS, utilizando um texto impresso lido em voz alta. A banca de avaliação ao final do curso, com o objetivo de certificar os alunos, consta de quatro etapas: (1) atividade de descrição de figuras com uso de classificadores (tradução intersemiótica); (2) atividade de descrição de cenas de filmes de ação com uso de classificadores (tradução intersemiótica); (3) atividade de interpretação LIBRAS/Português, utilizando um texto filmado em LIBRAS e (4) atividade de interpretação Português/LIBRAS, utilizando um texto impresso lido em voz alta. Nas etapas (3) e (4) da avaliação de ingresso e da avaliação final, os textos envolvem gêneros textuais diversos, tais como entrevista, sinopse de filme, resumo de novelas, crônica, conto, depoimento, aula expositiva etc. A elaboração das etapas e os critérios avaliados em cada uma se sustentam em Jakobson (1971), Reib e Vermeer (1991), Quadros (2004), Ferreira-Brito (1995), Felipe (2002), Hortêncio (2005), entre outros autores. O modelo de avaliação apresentado neste trabalho não pretende ser definitivo. É preciso que ele seja reavaliado permanentemente tendo em vista a atualidade da área em formação. Palavras-chave: avaliação, curso de formação, intérpretes de LIBRAS.

1. Introdução No Ceará, bem como no restante do país, a atuação do tradutor/intérprete de língua de sinais (TILS) teve início de maneira informal em instituições religiosas pastorais, ministérios, entre outros. Na década de 1990, no nordeste, o movimento rumo à profissionalização dos TILS foi tomando maiores proporções a partir de encontros nordestinos organizados nas capitais João Pessoa, Recife e Fortaleza. Em Fortaleza, a Associação dos Surdos do Ceará (ASCE) foi a primeira instituição a congregar os TILS. O primeiro curso de formação de intérpretes de língua de sinais do estado foi realizado em parceria com instituições governamentais no ano de 2001. De acordo com Quadros (2004, p. 51), a preocupação em formar intérpretes surge a partir da participação ativa da comunidade surda na comunidade em que está inserida. Logo, a crescente participação dos surdos na comunidade de Fortaleza em escolas, igrejas, mercado de trabalho, faculdades foi que gerou a necessidade de profissionalização dos TILS, que antes atuavam de maneira voluntária, em poucos espaços e sem formação específica. Com a criação do escritório regional da Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos (FENEIS) em Fortaleza, em 2003, os TILS passaram a fazer parte dessa instituição, atrelados ao departamento de intérpretes. A FENEIS/CE promoveu cursos de formação de intérpretes em parceria com a Associação dos Pais e Amigos do Deficiente Auditivo (APADA) e instituições governamentais. Em 2006, foi fundada a Associação dos Profissionais Intérpretes e Tradutores da Língua Brasileira de Sinais do Ceará (APILCE), uma entidade que tem, entre outras finalidades, o objetivo de promover e apoiar a realização de cursos de formação, capacitação, oficinas e similares, visando o aperfeiçoamento profissional dos associados. A APILCE é composta por uma diretoria e dois conselhos. O Conselho de Admissão e Classificação Linguística (CACL) é formado por quatro intérpretes associados dentre os quais as autoras desse trabalho fazem parte e dois surdos convidados. É de responsabilidade desse conselho a admissão de novos sócios, a classificação dos sócios em categorias e níveis de interpretação, a elaboração e aplicação de bancas de avaliação nos cursos de formação, entre outras funções. Com o intuito de promover a capacitação de profissionais intérpretes, a APILCE desenvolve cursos de formação de TILS, abrangendo disciplinas sobre o histórico da comunidade surda, cultura e identidades surdas, técnicas de interpretação LIBRAS/Português/LIBRAS, estrutura Linguística da LIBRAS, ética e profissionalismo, uso de classificadores na LIBRAS, entre outros.

Tendo em vista a recenticidade da área de interpretação/tradução de LIBRAS, é de suma importância que modelos de avaliação de interpretação sejam desenvolvidos e partilhados entre entidades que trabalham com formação de TILS. Por esse motivo, o presente trabalho visa apresentar o modelo de avaliação de ingresso e de avaliação final do curso de formação de TILS da APILCE, desenvolvido pelo CACL, descrevendo as etapas que compõem esse processo e justificando a relevância das mesmas. 2. O modelo de avaliação e o curso de formação de TILS da APILCE 2.1. Banca de Avaliação Inicial A banca para ingresso no curso de TILS da APILCE tem o objetivo de avaliar os candidatos quanto ao domínio de LIBRAS e de português, o uso de expressões faciais e corporais e habilidades de interpretação. Essa avaliação se faz necessária devido à carga horária limitada do curso e ao foco que é desenvolver as habilidades de interpretação e tradução de pessoas que já dominam a língua de sinais e que desejam atuar como intérpretes profissionais. O foco não é, pois, ensinar a Libras em nível básico. Para isso, o CACL elaborou as seguintes etapas: (1) entrevista em LIBRAS, (2) atividade de dramatização usando apenas mímica, (3) atividade de interpretação LIBRAS/Português, utilizando um texto filmado em LIBRAS e (4) atividade de interpretação Português/LIBRAS, utilizando um texto impresso lido em voz alta. Na entrevista, o objetivo é verificar o nível de domínio de língua de sinais pelo candidato, seu grau de envolvimento na comunidade surda, sua formação acadêmica, entre outros aspectos. Na atividade de dramatização, o candidato sorteia uma situação a ser dramatizada. Avalia-se a facilidade e a criatividade do candidato quanto ao uso de expressões faciais e corporais. Na língua de sinais, a presença de componentes não manuais (expressão facial, movimento do corpo etc.) é bastante frequente e importante na diferenciação de significados, como sustenta Ferreira-Brito (1995). De acordo com Jakobson (1971), a tradução pode ocorrer entre línguas (tradução interlingual), na mesma língua (tradução intralingual) e na interpretação de signos verbais por meio de sistemas de signos não-verbais (tradução intersemiótica). Como as atividades (3) e (4) envolvem tradução da LIBRAS para o português e vice-versa, trata-se pois de uma tarefa de tradução interlingual. Essas atividades utilizam textos de gêneros diversificados, tais como

entrevista, sinopse de filme, resumo de novelas, crônica, conto, depoimento, aula expositiva etc. Como sustentam Reib e Vermeer (1991), conhecer o tipo de texto a ser traduzido é o primeiro passo do processo de tradução, pois a identidade do texto, em grande parte, é definida pelo gênero ao qual ele faz parte. A finalidade das etapas (3) e (4) é avaliar a aptidão dos candidatos quanto às habilidades necessárias para a tradução simultânea, como por exemplo, o uso da memória de curto e longo prazo, conhecimento das estruturas das línguas envolvidas, domínio dos registros formal e informal, entre outras (HORTÊNCIO, 2005; PAGANO, 2006). Nessas etapas, os candidatos escutam o texto em português e assistem ao vídeo em língua de sinais duas vezes. Na primeira, apenas observam, procurando se familiarizar com o tema e organizar mentalmente a tradução. Na segunda, eles traduzem simultaneamente os textos. Essas etapas fazem parte de uma sondagem inicial a fim de selecionar os candidatos mais qualificados para participarem do curso de formação. 2.2. Curso de Formação da APILCE O curso de formação de TILS da APILCE objetiva capacitar pessoas que dominam a LIBRAS e que se interessam em receber formação teórica e prática na área de tradução/interpretação de língua de sinais. Até 2009, os cursos de formação da APILCE tinham carga horária de 200h. A partir de 2010, esses cursos passam a ter 300h. Atualmente, o curso conta com a seguinte grade curricular: Módulos Carga Horária 1 2 Cultura e Identidades Surdas História da Ed. de Surdos e Filosofias Educacionais Atuação do Profissional Intérprete de Libras Legislação Ética Profissional Introdução à linguística geral Libras: introdução aos aspectos fonológicos, morfológicos e sintáticos Libras: expressões não-manuais (teoria) Libras: o uso de classificadores (teoria) Noções de ELS 40h 40h

3 4 5 (LP/LS) 6 (LS/LP) Teoria da Tradução: conceitos de tradução e classificações Tradução x Interpretação Estratégias de Tradução Fonoterapia: impostação e cuidados com a voz Terapia ocupacional: prevenção de LER e DORT Teatro: expressão facial e corporal Lab. de Interpretação I: Uso de CL e ENM Lab. de Interpretação II: Gêneros textuais (diálogos, textos informativos etc.) Lab. de Interpretação III: Gêneros textuais (discurso político, gêneros acadêmicos, textos jurídicos, textos da área médica etc.) Lab. de Interpretação IV: Gêneros textuais (textos literários: contos, fábulas, poesias etc.) Lab. de Interpretação V: Uso de CL e ENM Lab. de Interpretação VI: Gêneros textuais (diálogos, textos informativos: jornais, documentários etc.) Lab. de Interpretação VII: Gêneros textuais (discurso político, gêneros acadêmicos, textos jurídicos, textos da área médica etc.) Lab. De Interpretação VIII: Gêneros textuais (textos literários: contos, fábulas, poesias etc.) 20h 45h 60h 70h 7 Relatório de observação de interpretações orientadas 25h Total 300h Os professores do curso são intérpretes sócios da APILCE com experiência e formação nas áreas a serem trabalhadas. No entanto, nas disciplinas de "Terapia ocupacional: prevenção de LER e DORT" e "Teatro: expressão facial e corporal", os professores não são TILS. São professores convidados pela APILCE, especialistas nessas áreas. O material didático é produzido por cada professor e consta de apostilas e vídeos. 2.3. Banca de Avaliação Final A banca de avaliação ao final do curso, com o objetivo de certificar os alunos, consta de quatro etapas: (1) atividade de descrição de figuras com uso de classificadores (tradução intersemiótica);

(2) atividade de descrição de cenas de filmes de ação com uso de classificadores (tradução intersemiótica); (3) atividade de interpretação LIBRAS/Português, utilizando um texto filmado em LIBRAS e (4) atividade de interpretação Português/LIBRAS, utilizando um texto impresso lido em voz alta. Nessas etapas, os cursistas são avaliados quanto as habilidades e estratégias de tradução que foram trabalhadas ao longo do curso de formação. Na atividade de descrição de figuras, a banca seleciona duas imagens e apresenta ao candidato durante alguns segundos. Em seguida, espera-se que o aluno faça uso de classificadores (FELIPE, 2002) para descrever as imagens a ele apresentadas. Na atividade de descrição de filmes de ação, a banca seleciona previamente uma cena e apresenta ao cursista duas vezes. Ele observa e, em seguida, descreve a cena prioritariamente com o uso de classificadores. De acordo com Ferreira-Brito (1995), é possível que o uso de classificadores seja abundante na língua de sinais devido à modalidade espacio-visual de língua, o que pode favorecer mais a existência dos mesmos. Sendo assim, é extremamente importante que o TILS domine o uso desse recurso. Na etapa (3), o aluno assiste a um vídeo em LIBRAS, previamente selecionado pela banca. Como na avaliação inicial, ele assiste ao vídeo uma vez, sem traduzir, e na segunda exibição, ele faz a tradução oral. Nessa etapa, são avaliadas as mesmas habilidades descritas na primeira avaliação, além das particularidades trabalhadas durante o curso, como o acompanhamento do discurso oral, a velocidade, a tensão, a modulação da voz e o vocabulário específico do assunto tratado. Na etapa (4), o aluno sorteia um texto a ser lido por um dos membros da banca. Como na etapa anterior, ele escuta uma vez a leitura do texto, sem traduzir, e na segunda leitura, ele faz a tradução. Além das habilidades avaliadas na avaliação inicial, é observado o desempenho dos cursistas quanto ao uso do espaço, o uso de expressões não-manuais, a clareza da datilologia e o vocabulário específico do tema tratado. Nas duas bancas de avaliação, os alunos com média igual ou superior a 60% de aproveitamento são considerados aprovados. As etapas (1) e (2) têm peso 1, e as etapas (3) e (4) têm peso 2. Após a avaliação final, os aprovados recebem certificação da APILCE. Os cursistas com média abaixo de 40% são reprovados, tendo que se submeter novamente a outro curso de formação. Os cursistas com média entre 40% e 55% são convidados a fazer uma oficina de aperfeiçoamento de 40h a fim de aprimorar as lacunas percebidas na banca de avaliação final. Dependendo do seu desempenho na oficina, poderá receber certificado.

3. Considerações Finais O modelo de avaliação apresentado neste trabalho não pretende ser definitivo. É preciso que ele seja reavaliado permanentemente tendo em vista a atualidade da área em formação. Para isso é necessário que se façam pesquisas para investigar a eficiência desse modelo de avaliação e sua adequação à realidade do curso de formação da APILCE. A investigação poderia envolver a aplicação de questionários aos candidatos na avaliação inicial e após a avaliação final, questionários direcionados aos professores do curso acerca da avaliação final e a filmagem de todo o processo de seleção inicial e avaliação final, verificando a condução do mesmo pelo CACL, a fim de detectar os pontos positivos e negativos do modelo aplicado e sugerir mudanças. A área de tradução/interpretação da LIBRAS tem se expandido bastante em nosso país e, portanto, demandado cada vez mais profissionais especializados. Daí a importância da formação desses profissionais e da avaliação de seu desempenho por entidades que representem legitimamente essa categoria. Referências Bibliográficas FELIPE, Tânia A. Sistema de Flexão Verbal na LIBRAS: Os classificadores enquanto Marcadores de Flexão de Gênero. Anais do Congresso Surdez e Pós-Modernidade: Novos rumos para a educação brasileira - 1º. Congresso Internacional do INES. 7º. Seminário Nacional do INES. Rio de Janeiro: INES, Divisão de estudos e Pesquisas. 2002, p. 37-58 FERREIRA-BRITO, Lucinda. Por uma gramática de língua de sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995. HORTÊNCIO, Germana F. H. Um Estudo Descritivo sobre o Papel dos Intérpretes de LIBRAS no âmbito organizacional das Testemunhas de Jeová. 2005. 108f. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) - Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza. JAKOBSON, Roman. Linguística e comunicação. Trad. I. Blikstein e J. P. Paes. 5. ed. São Paulo: Cultrix, 1971. PAGANO, Adriana. Crenças sobre a tradução e o tradutor: revisão e perspectivas para novos planos de ação. In: ALVES, F., MAGALHÃES, C. e PAGANO, A. Traduzir com autonomia: estratégias para o tradutor em formação. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2006. p. 9 28. QUADROS, Ronice M. de. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa. Secretaria de Educação Especial; Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos - Brasília: MEC; SEESP, 2004. REIB, Katharina; VERMEER, Hans. Grundlegung einer allgemeinen Translationstheorie. Tübingen: Max Niemeyer Verlag, 1984/1991.