AS INFLUÊNCIAS DO COTIDIANO NA CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES DE LICENCIANDOS EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Resumo TOLENTINO, Patricia Caldeira UEPG pctolentino@uepg.br ROSSO, Ademir José UEPG ajrosso@uepg.br Eixo Temático: Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: CAPES A formação acadêmica nos cursos de licenciatura é o lócus da constituição do conhecimento de base para a docência, em um processo que compreende observações, vivências e experiências. O presente trabalho pretende abordar, dentro do contexto da formação docente em um curso de licenciatura em Ciências Biológicas, as circunstâncias que envolvem o processo formativo, enfocando a influência de determinantes culturais e os conhecimentos estão sendo priorizados na formação, à luz do conceito de habitus, proposto por Pierre Bourdieu e de representação social, correspondente à teoria de Serge Moscovici. Objetivou-se analisar as representações de professor e biólogo dos acadêmicos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas de uma universidade pública do interior do Paraná. Buscou-se identificar e explicitar as representações geradas pelos licenciandos, empregando elementos da Teoria das Representações Sociais no seu enfoque estrutural. O universo da pesquisa foi composto de 138 acadêmicos do 1º ao 4º ano do curso, dos turnos vespertino e noturno no ano de 2010 que responderam a um questionário de livre associação de palavras e seu conteúdo foi submetido ao processamento pelo software Ensemble de programmes permettant l analyse des evocations (EVOC). Por meio da análise do núcleo central de suas representações de professor e biólogo, pode-se perceber que a concepção dos licenciandos em relação ao biólogo é homogênea. Quanto à representação de professor, tiveram-se as evocações dos licenciandos como uma construção histórica bastante arraigada na trajetória escolar que pode ser muito resistente à formação recebida na licenciatura. Este reflexo nas evocações dos licenciandos pode sintetizar a apropriação dos elementos circulantes neste espaço social, legitimando as posições hierarquizadas do conhecimento biológico e do conhecimento educacional. Considera-se este trabalho como um objeto de reflexão aos formadores de futuros professores de Ciências e Biologia a pensar além das especificidades do conhecimento biológico, integrando a estes os objetos da docência. Palavras-chave: Formação de professores. Representações sociais. Habitus.
11142 Introdução A formação acadêmica nos cursos de licenciatura é o lócus da constituição do conhecimento de base para a docência, em um processo que compreende observações, vivências e experiências. Estas informações são interpretadas a partir dos enquadramentos culturais e teórico-metodológicos que vão sendo adquiridos e redimensionados durante a trajetória formativa. Esta base de conhecimento irá se expressar a todo o momento por meio das representações que se constroem e são construídas no processo de desenvolvimento pessoal e profissional. De acordo com recente estudo de Gatti (2010), as licenciaturas em Ciências Biológicas dedicam um grande percentual de sua carga horária para as disciplinas de conteúdo disciplinar, retratando a ausência de um eixo formativo definido para a docência. Brando e Caldeira (2009) apontam a dificuldade de um curso de licenciatura em Ciências Biológicas em construir a imagem de professor, acentuando a construção do pesquisador nas áreas específicas da Biologia. Este trabalho pretende abordar, dentro do contexto da formação docente em um curso de licenciatura em Ciências Biológicas, as circunstâncias que envolvem o processo formativo, enfocando a influência de determinantes culturais e os conhecimentos estão sendo priorizados na formação. Dirige-se o olhar ao cotidiano do um curso de licenciatura que, de certa forma, orienta a formação de seus estudantes e direciona seus interesses fazendo com que se estruturem disposições 1 voltadas a outro perfil profissional 2. Os conceitos de habitus, proposto por Pierre Bourdieu e de representação social, correspondente à teoria de Serge Moscovici se apresentam como elementos centrais no presente trabalho. O habitus mantém uma cumplicidade ontológica com o mundo social que o produz, procedente de um conhecimento sem consciência, esclarecendo que são disposições adquiridas, socialmente constituídas. (BOURDIEU, 1999) Estas disposições são adquiridas por aprendizagem implícita ou explícita, funcionando como esquemas geradores de 1 As disposições são atitudes, inclinações para perceber, sentir, fazer e pensar, interiorizadas pelo indivíduo em razão de suas condições objetivas de existência, e que funcionam então como princípios inconscientes de ação, percepção e reflexão (BONNEWITZ, 2003 p. 77). 2 O parâmetro a ser considerado como modelo dentro do processo formativo é o da formação profissional Bacharelado devido à sua atuação profissional voltada à pesquisa servir como base de identificação com as Ciências Biológicas e a qual denominamos neste trabalho de biólogo, com o conhecimento que o licenciado também pode possuir esta denominação.
11143 estratégias conforme os interesses objetivos dos seus autores, sem terem sidos gerados para este fim (BOURDIEU, 2003). Os indivíduos são agentes atuantes, dotados de um senso prático, proveniente do sistema de preferências resultante da incorporação das estruturas que guiam a percepção objetiva (BOURDIEU, 1997). A representação social se apresenta como uma visão de mundo, onde não há distinção entre sujeito e objeto. O objeto está presente no contexto, que é concebido pelo indivíduo ou grupo de alguma maneira, enquanto prolongamento de suas atitudes e de seu comportamento (ABRIC, 2000). Segundo Jodelet (2001), as representações são guias nas definições dos diferentes aspectos da realidade, interpretando-os e posicionando-se frente a eles por meio de um ato de pensamento o qual o sujeito relaciona-se com o objeto. A abordagem das representações sociais acompanha produto e processo da atividade de adequação da realidade exterior ao pensamento e a organização psicológica e social dessa realidade. A Teoria das Representações Sociais foi desenvolvida, segundo Moscovici (2003 p. 176) sob o seguinte pano de fundo: a primazia das representações ou crenças, a origem social das percepções e crenças e o papel, algumas vezes de coação, dessas representações e crenças. Como forma de conhecimento prático, as representações sociais estão implantadas entre as correntes que analisam o conhecimento do senso comum rompendo com o estatuto da objetividade e da busca da verdade, rompendo com a ciência-verdade e o senso comumilusão, tratando-se de uma amplitude do olhar ao ver o senso comum como conhecimento legítimo e propulsor de transformações sociais (SPINK, 1995). Como um dos desdobramentos da Teoria das Representações Sociais, a abordagem estrutural concentra sua atenção em representações estabilizadas (DESCHAMPS; MOLINER, 2009). Moscovici (2003 p. 219) trata desta hipótese sendo a representação social composta por elementos cognitivos, ou esquemas estáveis, ao redor dos quais estão ordenados outros elementos cognitivos, ou esquemas periféricos. O núcleo central é determinado pela natureza do objeto representado e pelo tipo de relações mantidas com esse objeto. O núcleo central ou núcleo estruturante de uma representação assumem, segundo Abric (2000), duas funções básicas: uma função geradora, criando ou transformando significados dos outros elementos constitutivos da representação, dando a eles um sentido e um valor; e uma função organizadora, que une entre si os elementos da representação e uma função estabilizadora, na qual o autor coloca que o núcleo central é o elemento mais estável da representação, sendo
11144 assim o que mais vai resistir à mudança. Qualquer modificação no núcleo central transforma completamente a representação. O núcleo central pode assumir duas dimensões distintas: uma dimensão funcional, utilizada para fins operatórios e uma dimensão normativa, a qual um estereótipo, norma ou atitude marcada fará parte do centro da representação (SÁ, 1996). É por meio dos elementos periféricos que as representações aparecem no cotidiano, sendo o funcionamento do núcleo central compreendido como uma dialética contínua com a periferia (FLAMENT apud ALVES-MAZZOTTI, 2007). Se o sistema central é normativo, o sistema periférico é funcional; quer dizer que graças a ele que a representação pode se ancorar na realidade do momento (ABRIC apud SÁ, 1996) A articulação conceitual do habitus com a representação social considera não apenas os sujeitos da representação, mas sim o meio social em que transitam, permitindo discutir com maior propriedade as condições objetivas dos produtores das representações. A particularidade do estudo das representações sociais é o fato de integrar na análise desses processos a pertença e participação, sociais ou culturais, do sujeito (JODELET, 2001 p. 27). O trabalho de Bourdieu pressupõe a estrutura social, realidade objetiva que engedra disposições que são incorporadas nas experiências e práticas do cotidiano. A noção de habitus como sistema de disposições duráveis predispostas a funcionar como estruturas estruturantes, quando unida com a ideia de representações sociais ultrapassam a especificidade individual que é transmitida pelo informante no momento da pesquisa, inserindo-os na estrutura dos espaços sociais o qual fazem parte. A utilização das representações sociais proporciona um quadro de análise e interpretação que permite compreender a interação do indivíduo com o contexto social. Assim, por meio das representações de acadêmicos do curso de licenciatura, podem-se entender os processos que atuam na estruturação sociocognitiva da realidade e as características do meio social e ideológico. A partir deste quadro, coloca-se o espaço social em que os licenciandos estão inseridos na compreensão da influência das disposições adquiridas nas práticas desenvolvidas durante a graduação. O habitus, princípio gerador das práticas, é importante instrumento para análise das atitudes que estruturam as representações e geram as práticas do cotidiano do curso.
11145 Metodologia Este trabalho teve como objetivo a análise das representações de professor e biólogo dos acadêmicos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas de uma universidade pública do interior do Paraná. Buscou-se identificar e explicitar as representações geradas pelos licenciandos, empregando elementos da Teoria das Representações Sociais no seu enfoque estrutural (ABRIC, 2000). O universo da pesquisa foi composto de 138 acadêmicos do 1º ao 4º ano do curso (n=158), dos turnos vespertino e noturno no ano de 2010. Os licenciandos participaram do estudo após a ciência da pesquisa e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. A coleta de dados foi realizada por meio da aplicação de questionário com questões fechadas e abertas e as informações coletadas foram submetidas ao processamento por meio de softwares de análise de dados. O questionário é uma técnica de investigação que tem por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses e expectativas com questões apresentadas por escrito aos indivíduos (GIL, 1999). O presente artigo apresenta os resultados relativos à primeira parte do questionário em que se obteve, a partir das questões abertas de associação livre de palavras, a evocação dos sujeitos sobre os temas indutores professor é e biólogo é. Este conteúdo foi submetido ao processamento pelo software Ensemble de programmes permettant l analyse des evocations (EVOC), um conjunto de programas elaborado por Pierre Vergés que analisa as evocações, buscando seus elementos centrais e periféricos. Os relatórios fornecidos pelo software favorecem o reconhecimento da estrutura das representações sociais por meio da construção de um quadro com os elementos estruturais. Análise das evocações à expressão indutora biólogo é A associação ao significado da expressão biólogo é produziu, nos 138 licenciandos participantes do estudo, um total de 728 palavras, das quais 170 são termos diferentes. Para composição dos elementos estruturais foram desprezadas as evocações cuja freqüência foi igual ou inferior a 3 (25% do total). A constituição dos valores para a composição do núcleo central e elementos periféricos foram extraídas de relatório RANGMOT emitido pelo software: freqüência mínima = 4, freqüência intermediária = 14 e ordem média das evocações (OME) = 3,2.
11146 A figura 1 ilustra a organização dos elementos oriundos das evocações: Os elementos considerados centrais na representação social de biólogo foram pesquisador, conscientização, vida, preservação, conhecimento, amor, observador, responsabilidade, ambiente, dedicação. O elemento pesquisador foi evocado com maior freqüência e teve uma OME menor, significando ter sido evocado mais prontamente, o que confirma sua provável centralidade. Os demais elementos que fazem parte do grupo, entretanto mesmo compondo o núcleo central, têm uma posição hierárquica menor pela diferença na freqüência quando comparadas a pesquisador. Sendo assim, estes elementos não são nucleares à representação social de biólogo pelos licenciandos. A pesquisa é a principal atividade da formação do bacharel em Ciências Biológicas, sendo a centralidade da representação coerente à qualificação e exercício profissional, conforme prescreve o documento (CNE/SESu, 2002) que rege a formação do biólogo. Os elementos que aparecem nos quadrantes superior direito e inferior esquerdo fornecem suporte ao núcleo central, compondo a periferia da representação. Os elementos curiosidade, ético, respeito e compromisso remetem aos atributos do profissional cuja pesquisa é sua ferramenta de trabalho. A presença do elemento professor é resultante da opção de atuação no mercado de trabalho, podendo ser justificada pelo fato que os licenciados em Ciências Biológicas também serem considerados biólogos. O elemento educador pode justificar a consciência da responsabilidade deste profissional nos vários contextos de atuação profissional. Os elementos do quadrante inferior direito compõem a periferia mais distante.
11147 Estes elementos não são organizadores da representação, mas constituem particularidades que confirmam o indicativo da relação ao pesquisador. Análise das evocações à expressão indutora professor é A associação ao significado da expressão professor é produziu, nos 138 licenciandos participantes do estudo, um total de 753 palavras nas respostas, dos quais 121 são termos diferentes. Para composição dos elementos estruturais foram desprezadas as evocações cuja freqüência foi igual ou inferior a 6 (22,8% do total). A constituição dos valores para a composição do núcleo central e elementos periféricos foram extraídas de relatório RANGMOT emitido pelo software: freqüência mínima = 7, a freqüência intermediária = 23 e OME = 3,3. A figura a seguir apresenta os elementos oriundos das evocações: Os elementos considerados centrais na representação social de professor foram educador, conhecimento, pesquisador, ensino, formador, aprendizagem; sendo os três primeiros elementos mais frequentemente evocados. O elemento educador e conhecimento foram evocados com maior freqüência e obtiveram uma OME menor, significando terem sido evocadas mais prontamente, o que confirma a provável centralidade, seguido do elemento pesquisador. Os demais elementos que fazem parte do grupo, apesar de comporem o núcleo
11148 central, têm uma posição hierárquica menor, não sendo imprescindíveis a esta representação social de professor pelos licenciandos. No elemento educador, há evidências que os licenciandos compreendam professor e educador como sinônimos. Pode-se dizer que a representação de professor dos licenciandos foram construídas historicamente, desenhadas no momento da socialização dentro do espaço escolar enquanto foram alunos e contribuem hoje para a noção sobre o que é ser professor. De acordo com Abric (1994 apud Sá, 1996) os elementos centrais permitem compreender a realidade vivida pelos indivíduos ou grupos. Porém, o que se pode perceber diante de duas concepções presentes em educador é que, de acordo com Bourdieu (2008), elas foram comandadas pelas condições passadas da produção de seu princípio gerador (p. 84). Zeichner e Gore (1990 apud Imbernón, 2000) ressaltam esta questão dizendo que, alguns princípios da ação educativa são interiorizados durante a etapa escolar, em que se assumem determinados esquemas ou imagens da docência. Neste sentido, subentende-se que alguns licenciandos tiveram uma vivência diferente da relação professor-educador. O domínio do conteúdo pelo professor é expresso a partir da evocação conhecimento. Carvalho e Gil-Pérez (2006) ressaltam a importância do conhecimento da matéria a ser ensinada pelos professores de Ciências. Kuenzer (1999) expõe que conhecer o conteúdo específico não basta, deve-se ter a capacidade de transpô-lo para situações educativas. A suposta centralidade do elemento pesquisador pressupõe um olhar à representação de biólogo. Levando em consideração que a pesquisa realizada pelo professor deve ser realizada em torno dos eventos que envolvem a prática pedagógica e que a maioria dos licenciandos participantes da pesquisa ainda não teve sua inserção no ambiente escolar 3, não se pode consolidar um atributo de pesquisa como central na representação de professor, pois não há, neste sentido, uma bagagem que possa sedimentar esta imagem. Presume-se que a noção de pesquisador possua o mesmo significado que para biólogo, podendo considerar um transporte do atributo à representação do professor, pois esta será a sua principal habilitação profissional após a conclusão do curso. Para Deschamp e Moliner (2009) as representações sociais podem se tornar produtos identitários e instrumentos de afirmação de um grupo, organizando a percepção do espaço social em conveniência com as aspirações identitárias dos indivíduos. Tomando como 3 A inserção dos licenciandos no ambiente escolar se inicia a partir do 3º ano do curso com a disciplina Estágio Curricular Supervisionado I.
11149 orientação os pensamentos de Bourdieu, os autores sintetizam que as condições objetivas de existência determinam os processos pelos quais se elaboram e se interiorizam as representações do social (p. 111). A apropriação do elemento pesquisador revela as disposições circulantes no espaço social dos licenciandos, disposições duravelmente inculcadas, pela presença central do elemento pesquisador que engedram aspirações e práticas objetivamente compatíveis com as condições objetivas (BOURDIEU, 2003 p. 56). Entre os elementos periféricos da representação, observa-se a associação dos atributos do professor à afetividade no trabalho pedagógico por meio de expressões como dedicação, responsabilidade, amigo, exemplo, motivação, compreensão. Os elementos periféricos, mais associados ao contexto imediato nos quais os indivíduos estão inseridos (ABRIC, 2000), podem ser considerados como a importância para os licenciandos em desenvolver sua formação pautada em um componente afetivo. De acordo com Guareschi e Jovchelovitch (2003) a dimensão afetiva está presente na própria noção de representações sociais, juntamente com as dimensões cognitiva e social. Ribeiro, Jutras e Louis (2005) expressam que a afetividade é impulsionada pela expressão dos sentimentos e das emoções e pode desenvolver-se por meio da formação. Considerações finais Essas análises foram subsidiadas pela Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici relacionando-a com o conceito de habitus de Pierre Bourdieu, mostrando a possibilidade de articulação entre estes referenciais na produção de resultados em torno da compreensão do processo de construção bases identitárias durante a formação em um curso Licenciatura. Dentro desta perspectiva, o curso de Licenciatura em Ciências Biológicas foi visto como espaço social, pois como responsável pela formação profissional do professor de Ciências e Biologia, produz valores e referências durante o período da graduação. Estes valores são expressos nas disposições (habitus) dos indivíduos, que mobilizam estruturas cognitivas por meio das quais são representados este mundo e seus objetos. Por meio da análise do núcleo central de suas representações de professor e biólogo, pudemos perceber que a concepção dos licenciandos em relação ao biólogo é homogênea, com a centralidade única do elemento pesquisador e de todos os outros elementos da representação se ligando a este. Conjuga-se a certeza do que o outro representa, juntamente com suas atribuições sociais e morais. Certezas que são reafirmadas nas rotinas e práticas do
11150 processo formativo e se estruturam cognitivamente nos licenciandos. Quanto à representação de professor, tivemos as evocações dos licenciandos como uma construção histórica bastante arraigada na trajetória escolar, muito resistente à formação recebida na licenciatura. Os elementos de afetividade expressos na representação de professor revelam uma visão romântica e abstrata de um educador centrado nas relações interpessoais, tidos, então como importantes para o exercício profissional, porém insuficiente para o exercício profissional qualificado. O que se destaca nesta representação é o transporte do elemento pesquisador à representação do professor, que revelam as disposições circulantes no espaço social dos licenciandos. Este reflexo nas evocações dos licenciandos podem sintetizar a apropriação dos elementos circulantes neste espaço social, legitimando as posições hierarquizadas do conhecimento biológico e do conhecimento educacional. A função de orientação das representações sociais, citada por Abric (2000), que guia comportamentos e práticas evidencia a falta de referências ao ofício de professor, na ausência de elementos como escola e sala de aula em suas representações de professor. Os licenciandos estão sendo conduzidos ao ambiente escolar em uma realidade que não condiz ao que se vivenciará no cotidiano profissional. Para concluir, considera-se este trabalho como um objeto de reflexão aos formadores de futuros professores de Ciências e Biologia a pensar além das especificidades do conhecimento biológico, integrando os objetos da docência que integra relacional e dinamicamente docente-conhecimento-discente-contexto social, de fundamental importância para a construção da cidadania dos muitos alunos que passarão por eles e imprescindível na chegada a um nível de excelência no ensino de Ciências e Biologia na Educação Básica. REFERÊNCIAS ABRIC, J. C. A abordagem estrutural das Representações Sociais. In: In: MOREIRA, A. S. P.; OLIVEIRA, D. C. (Orgs.). Estudos Interdisciplinares de representação social. Goiânia: AB Editora, 2000. ALVES-MAZZOTTI, A. J. Representações da identidade docente: uma contribuição para a formulação de políticas. Ensaio: avaliação em políticas públicas, v.15, n. 57, p. 579-574, Out/Dez 2007. BONNEWITZ, P. Primeiras lições sobre a sociologia de P. Bourdieu. Petrópolis: Vozes, 2003.
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