NEOLOGISMOS NA LIBRAS

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Transcrição:

NEOLOGISMOS NA LIBRAS Emiliana Faria Rosa Universidade Federal do Pampa emilianarosa@gmail.com Bianca Ribeiro Pontin Universidade Federal do Rio Grande do Sul biancapontin@gmail.com "A língua, por assim dizer, é o espaço social das ideias." G. Tarde Mudanças linguísticas são observadas em qualquer língua. No caso deste artigo, os neologismos serão analisados. A renovação lexical é constante e necessária, visto que uma língua nunca permanece a mesma para sempre. Neologismo seria então o processo de criação lexical (ALVES, 1990, p. 5), ou seja, a criação de um novo léxico dotado de significação. Ainda segundo Alves (1990), explica-se que os neologismos podem ser formados por léxicos de outras línguas ou por processos vindos da própria língua. O acréscimo lexical, ou seja, a criação de um neologismo, ocorre em sua maioria por derivação ou composição. Neste artigo observaremos a criação de neologismo na Libras, Língua Brasileira de Sinais. Assim como em toda e qualquer língua, a Libras possui neologismos. Esses surgem predominantemente na língua oral, em vista de uma necessidade momentânea. Segundo Rosa (2009), a língua de sinais é o mais visível e influente traço identitário na construção de uma identidade surda. Libras: Língua Brasileira de Sinais, nascida da língua de sinais francesa e modificada

através do tempo pela comunidade surda do Brasil. É a língua natural da comunidade surda, uma língua visuoespacial. A Libras é reconhecida, cientificamente, como um sistema linguístico de comunicação gestual-visual, com estrutura gramatical própria, oriunda das comunidades surdas brasileiras. É uma língua natural, formada por regras morfológicas, sintáticas, semânticas e pragmáticas próprias. É uma língua completa, com estrutura independente da língua portuguesa. Além disso, possibilita o desenvolvimento cognitivo dos surdos, favorecendo o acesso destes aos conceitos e conhecimentos existentes. Os usuários da Libras são os surdos, familiares, profissionais da área e todas as pessoas que convivem ou trabalham com surdos ou tenham interesse por utilizar, pesquisar e aprender esta língua. As comunidades surdas do Brasil vêm lutando para serem respeitadas enquanto minorias linguísticas e a FENEIS tem apoiado essa causa desde sua fundação. Temos vários registros da nossa luta pelo reconhecimento da Libras até a conquista de sua regulamentação (FENEIS, 2008). 1 A Língua Brasileira de Sinais ainda é discriminada. Algumas pessoas ainda possuem a ideia de que o surdo usa uma linguagem gestualizada que não se foca, não tem uma amplitude, um conceito linguístico. Para muitos, a Libras é uma mímica sem base conceitual, gramatical, sem o pilar em que se baseiam as línguas de outras culturas. Libras, seguindo esse ponto de vista, serviria apenas para uma comunicação rudimentar e primitiva. Ou seja, vista dessa forma, a Libras seria um fator de exclusão dentro da sociedade, pois a mesma não é vista com o mesmo status e as mesmas propriedades de uma língua oral, embora faça uso de outros diferentes canais para transmissão da linguagem. A língua dos ouvintes não é a língua dos surdos, por isso surgem muitos problemas em relação às duas línguas e suas relações cotidianas, opondo-as. Na sociedade ouvinte, a imposição da língua oral é fato inegável. É a imposição da cultura como meio de dominação, propagação de saberes e 1 Disponível em: <http://www.feneis.com.br/page/libras.asp>. Acesso em: jun. 2010.

controle de uma sociedade. Esse ponto de vista é explicitado em relação à demora na homologação do Decreto da Lei de Libras Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005 que regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Depois de entendermos que a Libras é uma língua como qualquer outra, podemos retomar a discussão sobre neologismos em Libras. Primeiramente um sinal é criado a partir dos parâmetros fonológicos 2 presentes nesta língua de acordo com o contexto e a necessidade do referido sinal. Neologismos na Libras devem ser compreendidos dentro do contexto ideológico e cultural em que se inserem. Mas como se cria um neologismo na língua de sinais? A principal forma de criação é a associação à imagem do objeto, palavra ou ao que for. A imagem, o visual, é imprescindível ao surdo e à língua de sinais. Esta, por ser uma língua visual, possui signos em sua maioria icônicos e menos arbitrários, visto a importância da imagem. Um sinal nunca é criado sem fundamentação. Há sempre algo que faz com que ele seja requerido. Pode ser por não haver uma explicação mais clara ou ainda por empréstimo linguístico tal como nas línguas orais. Esse empréstimo linguístico acontece quando uma palavra de uma língua oral passa a ser conhecida e usada pela comunidade surda. Como é 2 Os parâmetros fonológicos são: Configuração de mão, ou seja, a forma como as mãos são posicionadas para a criação do sinal desejado. Há uma base de 64 configurações diferentes; locação de mão (ou ponto de articulação), que é definido pelo corpo, ou seja, o local no corpo onde é articulado o sinal (os pontos de articulação podem ser na cabeça, troco ou no espaço neutro em frente ao corpo); movimento da mão na língua de sinais, que é um parâmetro complexo que pode envolver uma rede de direções, formas e os movimentos internos da mão, pulso ou espaço. (As mudanças de movimentos distinguem mudanças lexicais para diferenciar algo no espaço referente ao objeto. O movimento ainda pode ser definido como unidirecional, bidirecional ou multidirecional); orientação de mão, que é referente à posição em que se encontra a palma. (A orientação de mão pode colocar a palma para cima ou para baixo, para dentro ou para fora ou para os lados dependendo do sinal a ser produzido; expressões não manuais (expressões faciocorporais), que são os movimentos da face, dos olhos, da cabeça e do troco, isto é, são marcações sintáticas e diferenciações lexicais (É uma forma de referência específica da língua de sinais. Se na língua portuguesa há entonação, nasalização e características de produção de fonemas, a expressão faciocorporal na língua de sinais tem essa função de reproduzir expressões de concordância, topicalização, relações, interrogações, negações, etc.) (ROSA, 2010, p. 4).

o caso de, citando um exemplo do cotidiano, a palavra twitter. Vinda da língua oral inglesa, foi incorporada inicialmente na língua de sinais pela soletração manual 3. Com o uso contínuo dessa rede social, os surdos começaram a criar sinais para essa palavra. Um dos sinais para twitter é o mesmo sinal para PASSARINHO 4. Como abaixo a figura comprova: PASSARINHO 5 Há também neologismos baseados em sinais já existentes por derivação, como o caso dos sinais FONOLOGIA e FONÉTICA. Ambos os sinais possuem a mesma base, mas derivação diferente, ou seja, os sinais usam a configuração de mão (doravante CM) 14 de base e, respectivamente, a CM 64 e 21, seguidas dos movimentos específicos. Esses sinais foram cria- 3 Forma de soletrar usando o alfabeto manual, também conhecida com datilologia. 4 Na língua de sinais, os sinais são grafados em maiúscula quando escritos pela língua portuguesa. 5 Fonte: Dicionário de LIBRAS da FADERS. Disponível em: < http://www.portaldeacessibilidade.rs.gov.br/portal/uploads/dicionario_libras_cas_faders.pdf >. Acesso em: ago. 2010.

dos pela necessidade de um sinal correspondente ao conteúdo ministrado em Letras/Libras 6. Como consta nas figuras abaixo: FONOLOGIA FONÉTICA 7 Há ainda sinais criados pela composição, ou seja, dois sinais que, ao serem sinalizados, passam a ser outro sinal com significado próprio. Como é o caso de ESCOLA. Para a criação do sinal ESCOLA e IGREJA, no primeiro sinal, houve composição pelo uso dos sinais CASA e ESTUDAR. Observe os sinais de CASA e ESTUDAR: 6 Letras/Libras: Curso Superior EAD de Letras/Libras, já existente na modalidade presencial. Iniciado em 2006 e criador de vários neologismos visando à propagação dos conteúdos disciplinares. 7 Imagens disponíveis no glossário do Curso Letras/Libras. Disponível em: <www. libras.ufsc.br>. Acesso em: ago. 2010.

CASA 8 ESTUDAR 9 E o sinal ESCOLA: ESCOLA 10 8 Fonte: Dicionário de LIBRAS da FADERS. Disponível em: < http://www.portaldeacessibilidade.rs.gov.br/portal/uploads/dicionario_libras_cas_faders.pdf >. Acesso em: ago. 2010. 9 10

No sinal de IGREJA, a composição também é percebida. Como se comprova abaixo: CASA 11 CRUZ 12 E o sinal de IGREJA: IGREJA 13 11 12 13

Os neologismos na Libras podem acontecer de uma forma linguisticamente acadêmica, ao se criarem sinais para termos de uso educacional ou vocábulos para acréscimo linguístico; ou, informalmente, nas rodas de conversas, nas quais surdos criam sinais próprios para algo que ocorra naquela situação linguística momentânea. Com o número crescente de ingresso dos surdos na pós-graduação, aumentou a necessidade de se criarem sinais para nomes técnicos na sua área de estudos. Muitas vezes os surdos combinam com o intérprete de língua de sinais o sinal provisório para nome dos teóricos e ainda para termos técnicos/acadêmicos. O sinal provisório é criado em situação de urgência, mas há certa resistência para divulgá-lo, porque não há essência da cultura surda: a visualidade. É preciso estudar e conhecer profundamente o significado/nome e associar algo da visualidade para depois criar o sinal com qualidade cultural, evitando que o sinal seja influenciado pelo português. Um exemplo é o sinal para o autor Stuart Hall. Em algumas universidades com mestrandos e doutorandos surdos, o sinal foi criado com urgência para que os intérpretes não precisassem soletrar a toda a hora o nome do teórico em questão. Associaram o nome à bala chamada Halls. Como se observa abaixo: HALL 14 14 Fonte: imagem das autoras.

No ano de 2001 surgiu um grupo de estudos da criação de sinais, o FESAI Fórum de Estudos Surdos na Área de Informática; este fórum foi organizado pela FENEIS Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos. O grupo era composto de alunos que cursavam o ensino superior em informática e, juntamente a intérpretes e participantes, estudaram e criaram sinais próprios para informática, criaram um dicionário em CD e divulgaram com a tentativa de padronizar. 15 Observa-se assim que a criação de neologismos pode ocorrer de forma individual ou de forma coletiva, dependendo de seu objetivo e necessidade. Tem-se que um sinal ao ser criado passa a ser derivado de uma situação, ou seja, a enunciação para Bakhtin é a orientação da palavra por uma situação de mundo, mas essa orientação é devida ao próprio caráter do signo linguístico (DIAS apud BRAIT, 2005, p. 106). É preciso observar a língua e a criação de um sinal, compreender seu funcionamento, ou ainda, Para Saussure, a sistematicidade da língua [...] depende da existência, dentro do indivíduo, de uma faculdade de associação e de uma de coordenação (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006, p. 55). Entende-se então que a língua de sinais possui uma formação de neologismos que segue padrões linguísticos próprios das línguas visuais e dos parâmetros fonológicos e morfológicos, mas, como qualquer língua, a criação desses neologismos respeita sua essencialidade linguística: a visualidade. REFERÊNCIAS BRAIT, Beth (org.). Bakhtin, Dialogismo e Construção do Sentido. São Paulo: Editora UNICAMP, 2005. QUADROS, Ronice; KARNOPP, Lodenir. Língua de sinais brasileira. Estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004. ROSA, Emiliana Faria. Olhares sobre si: a busca pelo fortalecimento das identidades surdas. Salvador: UFBA, 2009.. Fonologia da LIBRAS. Artigo redigido para a disciplina de Fonologia referente ao Curso de Doutorado pela UFSC. Florianópolis: UFSC, 2010. WEINREICH; LABOV; HERZOG. Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2006. 15 Mais informações no site: <http://www.feneis.org.br/rs/fesai/>.