PRIMEIRO PASSO PARA A MUDANÇA



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Transcrição:

52 PRIMEIRO PASSO PARA A MUDANÇA Em janeiro deste ano, o Inmetro publicou a Portaria que estabelece os requisitos de avaliação da conformidade para a certificação voluntária de instalações elétricas de baixa tensão. Desde então, os interessados podem seguir um método comum de análise documental, inspeção visual e de ensaios Por Waleria Mattos A busca pela certificação de instalações elétricas, seja ela voluntária ou compulsória, é uma solicitação antiga do setor, pois há anos associações e profissionais lutam por uma medida que proporcione mais segurança às pessoas. Pensando nisso, para incentivar instalações de qualidade e livres de riscos, em janeiro de 2014, o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) publicou a Portaria nº 51, cujo foco foi estabelecer requisitos de avaliação da conformidade para instalações elétricas de baixa tensão por meio da certificação voluntária e, desse modo, impedir possíveis acidentes provenientes de instalações inadequadas em edificações. O modelo proposto pelo Inmetro divide-se em três etapas: a primeira é a análise documental, na qual o solicitante deve encaminhar um apelo formal ao Organismo de Avaliação da Conformidade (OCP), contendo a bibliografia técnica da instalação; o segundo passo consiste na inspeção visual; e por último, os ensaios técnicos previstos pela norma NBR 5410 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A publicação corresponde à primeira medida para a certificação de instalações no padrão Inmetro, pois, até então, não havia arquivo algum disponível para os profissionais da área que estabelecesse os critérios técnicos e documentais a serem seguidos. A partir da Portaria, os interessados em certificar instalações elétricas devem, primeiramente, acreditar-se junto ao Instituto. As condições mínimas de segurança estabelecidas pela Portaria nº 51 são válidas para instalações elétricas de edificações novas e/ou para reformas em edificações existentes, independentemente do seu uso. No entanto, quando pensamos em certificação voluntária de instalações elétricas, logo questionamos: haverá um empenho especial do setor e da sociedade em certificar as instalações? Inúmeras medidas se tornaram eficazes no Brasil pelo fato de serem compulsórias, como o uso do cinto de segurança ou a cadeirinha infantil. Porém, no caso das instalações elétricas, certificar obrigatoriamente exige o envolvimento de diversos outros setores, como o da construção civil e até mesmo o governo. Assim, é difícil aplicar uma lei. Um dos principais problemas apontados pelos especialistas ouvidos pela reportagem da revista Lumière Electric é o fato de o Brasil não dispor de nenhum órgão oficial responsável por fiscalizar a certificação. Uma das alternativas para isso seria que tal função ficasse a cargo da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), por meio das concessionárias de energia elétrica, visto que as distribuidoras têm contato direto com os consumidores. Esse modelo já foi aplicado em outros países e os resultados foram eficientes e positivos. É importante ressaltar que a Portaria 51 igualmente pode

Stockvault 53 ser utilizada para certificar instalações elétricas de áreas externas às edificações, cobertas ou descobertas; locais de acampamento (campings); marinas e instalações análogas; canteiros de obras; feiras e exposições; parques de diversões e outras instalações temporárias. A avaliação depende da complexidade do projeto, porque cada um tem suas particularidades. Além da análise burocrática, a inspeção visual é de suma importância. Nessa fase, o profissional deve ter muita cautela, pois é exatamente neste estágio em que há a possibilidade de perceber se a mão de obra foi deficiente ou não. Então, são verificados os tipos de materiais aplicados e como foram instalados, porque os produtos podem pertencer aos melhores fabricantes, mas caso sejam aplicados incorretamente, haverá o comprometimento de toda a instalação, detalha Eduardo Daniel, superintendente da Certiel Brasil. Ele conta também que é impossível estabelecer um tempo mínimo para avaliar as não conformidades da instalação, e que nesse caso, o OCP deve fazer um estudo detalhado do ambiente. O período de validade da certificação foi mais uma condição observada com cuidado, uma vez que o usuário tem a possibilidade de fazer modificações na instalação a qualquer momento. Para não haver ruídos de comunicação, tivemos de deixar claro que a certificação é a fotografia da instalação elétrica daquela data, elucida Marcio Damasceno, responsável pelo Programa de Avaliação da Conformidade para Instalações Elétricas de baixa tensão do Inmetro. Desta forma, cabe ao administrador da instalação estar ciente de que, caso seja feita alguma mudança que possa afetar a segurança dos usuários imediatamente, é preciso contatar um OCP. A certificação não possui prazo de validade, portanto, na hipótese de serem feitas alterações, é necessária uma nova avaliação, e, consequentemente, um novo certificado deverá ser emitido. EM BUSCA DE QUALIDADE E SEGURANÇA Em março de 2002, a Fundação Vanzolini emitiu o primeiro certificado de instalações elétricas do Brasil. Na época, a Instituição já era acreditada junto ao Inmetro, contudo, ainda não havia o escopo de certificação de instalações elétricas. Logo, a Fundação apresentou como seria o seu modelo de avaliação, e o Inmetro, por sua vez, acompanhou o trabalho e vinculou a acreditação do escopo de instalações elétricas de baixa tensão à realização da primeira certificação modelo Inmetro. A busca pela conformidade é uma solicitação de longa data. Tenho como referência 1994, pois neste ano houve um evento, cuja meta foi apresentar ao poder público e à sociedade uma maneira de obtermos instalações mais seguras. Nossa ideia, minha e de outros profissionais do segmento, era de que para a obtenção do Habite-se, o empreendimento deveria fornecer o documento da conformidade

54 da instalação no âmbito do Inmetro, explica Paulo Barreto, engenheiro eletricista e sócio-diretor da empresa Barreto Engenharia. Ainda de acordo com Barreto, foram quebradas as barreiras iniciais do processo de certificação de instalações; no entanto, naquela época, a procura pelo processo de conformidade foi pequena. Inclusive, foram discutidos alguns benefícios financeiros, mas nada apresentou bons resultados. Vale lembrar que o custo para certificar as instalações elétricas de um empreendimento é relativamente baixo, quando comparado aos riscos de acidentes aos quais construções estão sujeitas. A certificação em si demanda menos investimento do que a própria instalação (mão de obra e materiais). Posteriormente à primeira certificação, no ano de 2009, foi fundada a Associação Brasileira de Certificação de Instalações Elétricas (Certiel Brasil), entidade criada com o propósito de contribuir para a segurança dos usuários por meio da avaliação da conformidade das instalações. A grande maioria dos materiais utilizados nas instalações elétricas precisa da certificação compulsória. Assim sendo, um projeto elétrico bem dimensionado envolve desde um profissional legalmente habilitado pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) até os ensaios previstos nos materiais pela norma NBR 5410, comenta Eduardo Daniel. A partir da publicação da Portaria, o que muda efetivamente no mercado é o fato de o setor poder contar com um Requisito de Avaliação da Conformidade (RAC). À vista disso, todos os organismos que optarem pelo padrão de certificação do Instituto deverão acompanhar as condições da publicação, e, assim, destacarem a logomarca do Instituto no certificado. O problema é que foram desenvolvidos métodos diferentes de certificação, algo considerado ruim para o mercado. Em virtude desses processos distintos, uma determinada associação pode julgar uma instalação correta dentro de seus padrões técnicos; todavia, tais critérios podem ser reprovados por outra entidade. Nesse caso, haverá um conflito de informações e o solicitante pode desistir de certificar sua instalação, detalha Paulo Barreto. É importante salientar que, caso o organismo tenha interesse em certificar instalações, primeiramente, ele deve se acreditar junto ao Inmetro no escopo de instalações elétricas. Nesse processo, o Instituto verifica se tal empresa/organismo dispõe da capacidade e mão de obra técnica para realizar os processos conforme a Portaria sinaliza. Caso o organismo já esteja acreditado junto ao Instituto, somente será necessária a extensão do escopo. Com a finalidade de oferecer segurança e qualidade para a sociedade paulista, o Estado de São Paulo implantou a Instrução Técnica nº 41, publicada em 2011, que visa a inspeção visual obrigatória das instalações elétricas de baixa tensão em edificações prediais, comerciais e industriais que precisam do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). Vale lembrar que o Corpo de Bombeiros avalia outras instruções técnicas e não somente o projeto elétrico feito pelo engenheiro eletricista. Recentemente, o mercado conheceu a IT-41, Instrução que contribui de forma positiva com o setor. No entanto, mesmo sem números oficiais, arrisco dizer que esse documento entrou no hall da canetada. De acordo com algumas conversas que ouço por aí, existem profissionais emitindo o atestado de maneira incorreta, uma vez que o responsável assina o documento, porém não realiza a devida inspeção da instalação, salienta Paulo Barreto. VELHOS HÁBITOS QUE PRECISAM SER MUDADOS No quesito instalações elétricas, a sociedade brasileira tem o costume de investir apenas em ações corretivas, deixando de lado todas as soluções preventivas. Com a eletricidade, o famoso deixar para depois pode ser perigoso, e algumas vezes, trágico. Acredito que a certificação obrigatória somente seja necessária pelo fato de termos uma cultura que não leva em consideração

55 Divulgação/Certiel Brasil O Programa Casa Segura executou, em 2011, uma pesquisa sobre as condições das instalações elétricas nos edifícios residenciais de três capitais brasileiras. Os resultados não foram tranquilizadores. A análise mostrou que esses prédios, em geral, apresentaram uma série de falhas. No total foram verificados 11 casos em Belém (PA), 18 em Recife (PE) e 24 em Salvador (BA), a maioria com mais de dez anos de construídos. Os dados apontam para um cenário em que não há o cumprimento dos requisitos mínimos de segurança nas montagens de circuitos, quadros, materiais e dispositivos, além da ineficácia dos sistemas de aterramento e condutores de proteção, algo que resulta num maior risco de incêndios. Fonte: Programa Casa Segura os possíveis riscos da instalação, como os incêndios. Penso que se nós brasileiros tivéssemos princípios de segurança, não precisaríamos de certificação compulsória, enfatiza Edson Martinho, diretor executivo da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel). É sabido que atualmente existe uma quantidade muito maior de aparelhos elétricos e eletrônicos do que antigamente, incluindo tablets, smartphones, notebooks, ipads, entre outros dispositivos. Entretanto, será que a rede elétrica brasileira está tecnicamente apta para abrigar grande número de aparelhos? Na grande maioria das vezes, não, pois muitas instalações elétricas são antigas e nunca passaram por nenhum tipo de retrofit, principalmente quando falamos do setor informal. As pesquisas do Programa Casa Segura apontam que cerca de 80% das casas e edifícios do mercado informal foram construídos sem nenhum projeto elétrico. E nesse setor, observamos que o profissional responsável pela parte elétrica é o mesmo do sistema de canalização, acabamento, hidráulico etc., relata Antonio Maschietto Jr., diretor executivo do International Copper Association, Latin America. Acidentes podem ser evitados. Basta haver uma maior preocupação com a conformidade das instalações. O desconhecimento do processo ainda é generalizado. Além disso, existe um baixo comprometimento da sociedade com a qualidade e exigência de padrões mínimos de segurança das instalações elétricas, comenta Alberto José Fossa, diretor executivo da Associação Brasileira pela Conformidade e Eficiência das Instalações (Abrinstal). CENÁRIO MUNDIAL Os especialistas do segmento afirmam em unanimidade que o Brasil está atrasado em relação à certificação de instalações elétricas. Países vizinhos, como a Argentina (província de Buenos Aires) já possuem um modelo compulsório há cerca de 10 anos. Outros, como o Chile, Colômbia, México e Peru, também já possuem métodos de avaliação de âmbito obrigatório. A França debate um modelo de certificação desde 1960. Já Portugal país detentor de uma lei compulsória há 15 anos, possui três organismos de inspeção, cada um responsável por uma região. Todos os processos de avaliação da conformidade são gerenciados pela Certiel Portugal. É somente após a emissão do certificado da instalação que o proprietário pode solicitar a ligação de energia elétrica algo equivalente ao nosso Habite-se, para o governo local, comenta Eduardo Daniel. Segundo Damasceno, hoje, não existe nenhum planejamento de tornar a certificação de instalações compulsória. O porta-voz ressalta que tal medida envolveria diversos outros setores, como a construção civil e o próprio governo. Desse modo, os critérios e intenções precisam estar todos alinhados, caso contrário, não há a possibilidade de implantar uma lei com tal dimensão que seja realmente eficaz. Nada impede que de uma maneira descentralizada, as prefeituras e/ou governos adotem um modelo obrigatório da conformidade das instalações, isso é plenamente factível. O que não podemos é tomar uma decisão sem antes consultar outras partes, visto que uma resolução compulsória impactaria diversas outras áreas, detalha Damasceno. No panorama internacional também existem associações que lutam pela conformidade das instalações elétricas, por exemplo, a Federação Internacional para a Segurança dos Usuários de Energia Elétrica (Fisuel) e o Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), responsável pelo Electrical Safety Workshop (ESW) evento exclusivamente voltado à segurança com eletricidade. Atualmente, a Fisuel possui aproximadamente 30 países membros, como Marrocos, Cingapura, Camarões, Costa do Marfim, Indonésia, dentre outros. Essas nações dispõem de processos de avaliação da conformidade das instalações de baixa tensão, cada um com

56 Registro de óbitos por exposição à corrente elétrica Exposição à corrente elétrica - nível Brasil 1395 1461 2010 2011 um modelo de certificação; no entanto, todos eles usufruem de uma legislação de apoio à obrigatoriedade do certificado. Diferentemente do que ocorre em outros países, acredito que a obrigatoriedade seja o caminho mais fácil, porque a conscientização depende do poder socioeconômico da sociedade, ou seja, se a população brasileira tivesse a consciência de que segurança elétrica é indispensável, não seria necessário estabelecermos uma medida compulsória, considera Antonio Maschietto Jr. Quando o Brasil é comparado com outros países no quesito certificação de instalações, nota-se que a preocupação da sociedade é quase nula; no entanto, o País possui uma área territorial muito extensa, algo que dificulta uma possível fiscalização. Por outro lado, os outros países apresentam resultados mais eficientes pelo fato de serem nações menores, tanto pelo número de habitantes quanto pela extensão territorial. A sociedade brasileira precisa decidir se está disposta a arcar com o preço da conformidade. Em muitos países, esse debate já é maduro o suficiente para que a obrigatoriedade seja estabelecida de forma consensual. Mas, em outros cenários, deve ser função do governo proteger o consumidor, opina Alberto Fossa. E O BRASIL... De acordo com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, no ano de 2011, foram registrados 337 óbitos em residências brasileiras por exposição à corrente elétrica; já em escolas, esse número foi de 24 mortes. Ao todo, no País inteiro, foram computados 1.461 óbitos. Posso afirmar que a precariedade das instalações elétricas não apresentou uma melhora significativa nos últimos anos, pois a situação ainda é ruim. Existe um problema principal das instalações: a idade é um fator determinante para as más condições. Com o passar dos anos, os produtos e a própria instalação ficam obsoletos; por isso, recomendamos que em um período de cinco anos o administrador da instalação faça um retrofit ou uma manutenção mais detalhada, observa Edson Martinho. O Instituto Brasileiro do Cobre (Procobre), por meio do Programa Casa Segura, realizou uma pesquisa na cidade de São Paulo (SP), que revelou a real situação das instalações elétricas. Foi obtido o seguinte resultado: 50% dos imóveis com mais de 20 anos de uso nunca passaram por retrofit; apenas 32% das residências tinham o fio-terra instalado; 25% já sofreram com choque elétrico; e apenas 2% dispunham do dispositivo diferencial residual (DR). Ainda conforme a pesquisa do Programa Casa Segura, se mudarmos de região um pouco mais ao Norte na cidade de Belém (PA), o panorama também é desanimador. Foi feita uma inspeção visual em 11 edifícios, onde 36% dos ambientes avaliados utilizam constantemente os benjamins (tês) e 64% das instalações apresentaram mais de 10 anos de uso. O próximo passo após a publicação da Portaria será observar o mercado e analisar como os envolvidos se adaptarão ao novo requisito. Mesmo voluntária, a certificação, modelo Inmetro, foi considerada um passo à frente pelo segmento. Agora, é necessário que haja uma adesão e procura dos interessados, visto que existe uma enorme carência dos investimentos em segurança elétrica. Em um primeiro momento, precisaremos considerar como a sociedade receberá a Portaria. Posteriormente, analisaremos o seu feedback, com o objetivo de aprimorar a técnica, porque embora a publicação tenha sido baseada na NBR 5410, nem tudo o que está na Portaria está na norma. Há elementos diferentes e, consequentemente, será importante observar esse retorno da sociedade, explica Damasceno. Uma das maneiras de impulsionar a procura pela certificação poderá partir das próprias empresas estatais, visto que podem determinar a solicitação em seus editais. Por exemplo, a Com-

57 Exposição à corrente elétrica - residências Exposição à corrente elétrica - escolas 353 337 33 24 2010 2011 2010 2011 Fonte: Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde panhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) de São Paulo, capital, pode exigir que as empreiteiras apresentem o certificado das instalações elétricas. Essa é uma das formas de incentivarmos o mercado, detalha Eduardo Daniel. No que diz respeito à qualidade técnica, o Brasil não deixa a desejar. Diante de outros países, no quesito certificação, estamos atrasados, sim. A publicação da RAC movimenta o mercado e isso mostra que estamos no caminho certo; entretanto, edifícios, construtoras, sociedade, empresas públicas ou privadas, profissionais da área, instaladoras etc., precisam aderir à ideia. Observamos melhorias nas instalações e as mudanças são visíveis, mas ainda são insuficientes. Na parte técnica, não devemos nada a ninguém, explica Paulo Barreto. De acordo com Antonio Maschietto Jr, o mercado de instalações deve ser separado em alguns quadrantes: mercado formal, informal e edifícios. No setor formal, houve uma evolução significativa nos últimos anos; no âmbito informal, inúmeros são os problemas, além de ser difícil acompanhá-los, pois não há levantamentos oficiais; já o mercado de edifícios residenciais ou comerciais corresponde a um setor que está adequado às normas ou muito próximo da adequação. PROJETOS E LEIS É importante mencionar que as associações, empresas e profissionais que atuam no mercado de instalações elétricas a cada dia buscam a conformidade técnica do setor por meio de ações, projetos e leis. Pode ser citado como um dos exemplos, o novo padrão de plugues e tomadas, cujo objetivo foi diminuir o risco de choques elétricos, incêndios e óbitos. O Sindicato da Indústria da Instalação (Sindinstalação-SP) e a Abrinstal trabalham em defesa de ações de divulgação e fomento dos programas que objetivem a garantia da conformidade de projetos, mão de obra, materiais, empresas instaladoras e das instalações em si, explica Alberto Fossa. Em 2006, foi publicada a Lei nº 11.337, que obriga a instalação do fio-terra em edificações; contudo, a NBR 5410 já prevê a necessidade do condutor de proteção. De acordo com Eduardo Daniel, não há sentido algum publicar uma lei que exige a instalação de um determinado material, uma vez que tal condição já está prevista em uma norma técnica. Atualmente, um dos assuntos que estão em processo de discussão é o projeto de Lei nº 3.370, publicado em 2012. O projeto prevê, entre outras finalidades, a inspeção obrigatória e a manutenção periódica de edificações em todo o território nacional a instalação elétrica está entre as possíveis vistorias. A Lei permanece em tramitação no Congresso Nacional, porém, sem previsão de ser sancionada. A certificação pelo padrão Inmetro foi vista com bons olhos pelo setor desde o momento da consulta pública, no final do mês de junho de 2013. Todavia, ainda há muito que ser feito, como desenvolver incentivos para que a sociedade comece a questionar sobre a correta adequação das instalações elétricas e as construtoras passem a se preocupar de maneira mais intensa com a segurança e bem-estar dos usuários. A Portaria, com certeza, foi importante para o setor; entretanto, em meu ponto de vista, há algumas incorreções e impropriedades técnicas. Posso citar, por exemplo, que foram inseridos assuntos da NR-10 e também há um item que, em minha opinião, não poderá ser atendido, no caso, o Prontuário. Esse item não é de entrega de instalação elétrica, pois ele é um sistema complexo que envolve, inclusive, certificados de participação de cursos da NR-10. Ora, certificado de quem se a instalação ainda nem foi entregue, portanto, sem profissionais trabalhando?, questiona Paulo Barreto. Ainda de acordo com ele, é de extrema importância que tais

58 Nada impede que de um modo descentralizado, as prefeituras e/ou governos adotem um modelo obrigatório da conformidade das instalações, o que é plenamente factível Marcio Damasceno, responsável pelo Programa de Avaliação da Conformidade para Instalações Elétricas de Baixa Tensão do Inmetro equívocos sejam revistos, pois, caso contrário, haverá no mercado um documento que poderá contaminar o processo de certificação das instalações de baixa tensão. No que tange à fiscalização, é importante citar o projeto de fiscalização do Instituto de Pesos e Medidas (Ipem) órgão delegado ao Inmetro. Constantemente, os Ipem s atuam no comércio para verificar se os produtos estão dentro das normas e se apresentam o certificado do Inmetro. Dentre alguns dos materiais utilizados em instalações elétricas, estão disjuntores, tomadas, fios e cabos, adaptadores etc. O objetivo dos Ipem s é verificar se existem no comércio materiais elétricos que coloquem em risco a segurança das pessoas. O Instituto igualmente verifica se nas embalagens estão contidas as informações técnicas necessárias, como identificação do fabricante, corrente, tensão etc., e assim, zerar as irregularidades do setor elétrico. O mercado está bem regulado do ponto de vista de produtos. No entanto, abordagens isoladas são consideradas insuficientes. É preciso pensar no conjunto de elementos que possam garantir a conformidade para o consumidor final, comenta Alberto Fossa. PORTARIA 51: NOVA ETAPA NA BUSCA PELA CON- FORMIDADE DAS INSTALAÇÕES ELÉTRICAS Apesar de o Brasil não apresentar leis que exijam a certificação das instalações elétricas, dispomos de Instituições que trabalham em prol da conscientização sobre os perigos da eletricidade quando mal utilizada, como o Programa Casa Segura e a Abracopel. Além disso, há entidades que buscam a qualidade dos produtos utilizados em instalações, como a Associação Brasileira pela Qualidade dos Fios e Cabos Elétricos (Qualifio) e o Sindicato da Indústria de Condutores Elétricos, Trefilação e Laminação de Metais Não-Ferrosos do Estado de São Paulo (Sindicel). Todas essas instituições procuram conscientizar as pessoas, visto que a falta de informação é uma barreira a ser superada. Os processos são recentes e pairam diversas dúvidas sobre o desenvolvimento prático das atividades. O desconhecimento dos agentes responsáveis e os custos são as principais dificuldades a serem sanadas. Assim, a publicação, aliada com ações complementares pode representar uma nova etapa na busca pela conformidade das instalações elétricas, detalha Alberto Fossa. Para que o Brasil atinja resultados positivos e deixe de lado esse cenário de não conformidades, o método mais eficaz seria a mudança de cultura da sociedade brasileira. Então, hoje, conscientizar as pessoas de que para sua própria segurança, é imprescindível o investimento em ações preventivas através da atualização do sistema elétrico de sua residência ou apartamento é a maneira mais coerente a se traçar. Atualmente, há um grande número de edifícios em processo de construção. Porém, a preocupação com a segurança não é um critério adotado por todas as construtoras, mas é claro que há as honrosas exceções. Espero realmente que essa Portaria siga adiante, contudo, acredito que os resultados apenas mudarão quando houver a obrigatoriedade, elucida Edson Martinho. Impor a certificação é um processo progressivo e delicado, em que não é possível se exigir de um dia para o outro que as construções apresentem a correta adequação das instalações elétricas, pois essa condição causaria um grande mal-estar no mercado. >> Para a produção desta matéria, foram utilizadas informações do site: www.programacasasegura.org.