CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Origem: PRT 12ª Região Interessado(s) 1: Rogério Ferreira Chaves Interessado(s) 2: ECT Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos Assuntos: Outros temas 08. Procuradora oficiante: Adriane Perini Artifon RESPONSABILIDADE CIVIL POR IRREGULARIDADES NA ADMINISTRAÇÃO DE PLANO DE SAÚDE ATUAÇÃO ILEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. Devidamente comprovado que o quanto investigado diz respeito a irregularidades na prestação de serviços por parte de administradora de plano de saúde, as quais evidenciam prováveis lesões de cunho eminentemente civil. Situação que escapa à atuação perante a Justiça do Trabalho, falecendo ao Ministério Público do Trabalho legitimidade para prosseguir na investigação e propor ações judiciais tendentes a corrigir tais irregularidades. Recurso conhecido e não-provido. Arquivamento homologado RELATÓRIO Trata-se de procedimento preparatório instaurado em razão de denúncia formulada por Rogério Ferreira Chaves em desfavor da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, dando conta de diversas irregularidades no âmbito da empresa BIOPLAST (mau atendimento dos trabalhadores da denunciada, 1
atraso na autorização para consultas e exames, etc.), contratada para o gerenciamento do plano de saúde da empresa representada. O ilustre Órgão ministerial oficiante indeferiu a instauração de inquérito civil sob os seguintes fundamentos (fls. 10/11), verbis: (...) As questões apresentadas pelo denunciante, referente à qualidade no atendimento do plano de saúde, por si só, não configuram lesões a direitos trabalhistas que possam ensejar a atuação deste Parquet por meio de Ação Civil Pública perante a Justiça do Trabalho. Intimadas as partes do indeferimento em questão (fls. 12/v e 13/v), o denunciante apresentou recurso à fl. 17, nos seguintes termos, ad litteram: O que ocorre é que a ECT não vem prestando o serviço adequado através da Empresa BIOPLAST, contratada para gerir o plano de saúde CORREIOS-SAÚDE, ferindo diretamente a relação de trabalho existente entre empresa-empregado, a partir do momento que o serviço deixa de ser prestado, quando a empresa se nega a autorizar guias de consultas e a exames pedidos. Peço que o Ministério Público investigue o que está acontecendo par que não se perpetue essa situação de descaso e omissão por parte da ECT, empresa que deveria ser a primeira a fiscalizar os serviços prestados pela BIOPLAST. 2
À fl. 19, o Exmo. Procurador do Trabalho, Dr. Guilherme Kirtschig, concorda com a decisão às fls. 10/11, asseverando seguinte: (...) A relação jurídica entre o autor da representação e o seu plano de saúde não é de trabalho, na forma do artigo 114 caput da CF/88, mas tem natureza civil. É verdade que a disponibilização do plano de saúde ocorreu por força do contrato de trabalho entre o representante e a EBCT; mas a denúncia não trata de eventual inadimplemento dessa obrigação contratual, ou de alterações jurídicas in pejus no formato e cobertura dos planos aderentes aos contratos de trabalho. Ela trata, ao revés, de alegados defeitos emergentes da prestação de serviços por parte da administradora do plano, em si, como mau atendimento e atraso na autorização de procedimentos; e, nesse caso, a meu ver não há competência da Justiça do Trabalho para exame de qualquer demanda, seja individual ou coletiva, e conseqüentemente não há atribuição do MPT para atuar na matéria, ex vi do artigo 83 caput da LC 75/93, interpretado a contrario sensu. Devidamente intimada para apresentação de contra-razões (fl. 20/v), a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos manifestou-se às fls. 21/24, aduzindo, em suma, a generalidade da denúncia e o fato de que a empresa BIOPLAST não tem gestão sobre o plano CORREIOS-SAÚDE. 3
vieram os autos a esta Relatora. Por distribuição deste feito na CCR/MPT, É o relatório. VOTO - FUNDAMENTAÇÃO Administrativo ora em análise (fls. 16/17). Apresenta-se hábil e tempestivo o Recurso Conforme se infere dos autos, a característica ou classificação do quanto denunciado diz respeito a irregularidades na prestação de serviços por parte da administradora do plano de saúde da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos EBCT (mau atendimento, atraso na autorização de procedimentos, etc.), as quais evidenciam prováveis lesões de cunho eminentemente civil, situação que escapa à atuação perante a Justiça do Trabalho, falecendo ao Ministério Público do Trabalho legitimidade para prosseguir na investigação e propor ações judiciais tendentes a corrigir tais irregularidades. Ademais, os possíveis lesados contam com meios ou instrumentos processuais próprios e específicos à defesa de seus interesses, inclusive pelas vias judiciais competentes. 4
Por fim, a judiciosa decisão indeferitória ora combatida, com a qual comungo e cujos fundamentos adoto como parte integrante deste voto, deve subsistir por seus próprios fundamentos. CONCLUSÃO Posto isso, VOTO pela IMPROCEDÊNCIA da DENÚNCIA e do RECURSO ora examinados, mantendo a DECISÃO de fls. 10/11. Cientifiquem-se os interessados e a Chefia da Procuradoria Regional do Trabalho de origem. Brasília, 28 de fevereiro de 2011. VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora Geral do Trabalho Membro da CCR - RELATORA 5