EVIDÊNCIAS CLÍNICAS EM TERAPÊUTICA NO CLIMATÉRIO: BENEFÍCIO CARDIOPROTETOR

Documentos relacionados
Terapêutica de Reposição Hormonal e Risco Cardiovascular

Terapia de Reposição Hormonal baseada em Evidências.: Otavio C. E Gebara 2016

TRATAMENTO PARA DISLIPIDEMIA DURANTE A MENOPAUSA: UM ESTUDO DE REVISÃO

Amanda Athayde DEFA-SBEM, PUC &UFRJ

HORMÔNIOS BIOIDÊNTICOS. Residente: Ramon Andrade Orientador: Prof. Dr. Décio Alves

Estado da arte da TH. César Eduardo Fernandes Faculdade de Medicina do ABC (Santo André/SP)

PECULIARIDADES DA HIPERTENSÃO NA MULHER CELSO AMODEO

SEMINÁRIO BRASILEIRO DE PREVENÇÃO QUATERNÁRIA EM APS

Terapêutica hormonal de substituição a controvérsia

TRH E CÂNCER DE MAMA FONTE:

Adriana Bertolami. Médica da Seção de Dislipidemias do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia

Lista de Tabelas. Tabela 1 Estrogênios: doses e vias de administração

Jacy Bruns. Declaração de conflito de interesse

A integridade do endotélio e a terapia de reposição hormonal

o estado da arte em 2015 Amália Martins Ana Fatela Ermelinda Pinguicha Tereza Paula

Sessão Televoter Diabetes

Abordagem intervencionista no IAM em diabéticos, Qual stent utilizar? È possível minimizar a reestenose?

DRC: um multiplicador do risco cardiovascular. Roberto Pecoits-Filho

INSUFICIÊNCIA DE VITAMINA D E RISCO CARDIOVASCULAR EM IDOSOS

AUSÊNCIA DE EFEITO DO ÔMEGA-3 NA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS CARDIOVASCULARES

ACARBOSE. Hipoglicemiante

Índice Abstract Keywords Resumo Palavras-Chave Abreviaturas Introdução Materiais e Métodos...

Uso do AAS na Prevenção Primária de Eventos Cardiovasculares

OVO UM ALIMENTO FUNCIONAL. Gabriel de Carvalho

Aspectos Demográficos

Conceito de evidência e Busca bibliográfica. 1º semestre de

O climatério e a menopausa PROF. DRA. BRUNA ONEDA 2018

TERAPIA HORMONAL NO CLIMATÉRIO. Rozana M.Simoneti CCMB - PUC - SP

Saúde da mulher no climatério. Jefferson Drezett

XXXV Congresso Português de Cardiologia Abril ú ç

Qualidade de Vida 02/03/2012

Isabel Manita HGO 26/10/15

Terapia Hormonal da Menopausa: Posicionamento do Departamento de Endocrinologia Feminina e Andrologia da SBEM em 2004.

Thiers R Chagas SOCEBA/2017

Epidemiologia Analítica. AULA 1 1º semestre de 2016

Avaliação do Risco Cardiovascular

Reposição hormonial na cardiopata: solução ou problema?

PRO MATRE Ant n icon o c n ep e ç p ão ã o e m e m situa u ç a õe õ s e e s e pe p c e iai a s Is I abel l L.A.. A C. orrêa

A parte das estatinas e aspirina, quais medicações melhoram prognóstico no paciente com DAC e

Dislipidemia é a alteração da concentração de lipoproteínas e/ou lipídios

Eficácia e Segurança dos Medicamentos Inibidores de Apetite

Cuidados de saúde à mulher no climatério e menopausa um desafio para a Medicina Familiar

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doença Cardiovascular Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

Diabetes e Hipogonadismo: estamos dando a devida importância?

O QUE É MAIS IMPORTANTE : A ADERÊNCIA À TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL OU O BEM ESTAR DA PACIENTE.

Direcção-Geral da Saúde Circular Informativa

Insuficiência Renal Crônica

PALAVRAS-CHAVE: Menopausa. Fitoestrógeno. Isoflavona. Estrógeno. Climatério.

Simpósio Coração da Mulher: Antigo Desafio, Novos Conhecimentos. Anticoncepção. Nilson Roberto de Melo

ANÁLISE DO ESTILO DE VIDA E DOS COMPONENTES METABÓLICOS DE MULHERES NO PERÍODO DO CLIMATÉRIO 1

Sistema muculoesquelético. Prof. Dra. Bruna Oneda

Cláudio Rebelo. Centro de Congressos de Lisboa 6 Fevereiro 2016

Declaração de possíveis conflitos de interesses

Há algum contraceptivo com maior risco cardiovascular??? XII CONGRESSO DE GINECOLOGIA ENDÓCRINA

CARACTERIZAÇÃO DO RISCO CARDÍACO EM ESTUDANTES DE ESCOLAS PÚBLICAS E PRIVADAS DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA

Vitamina D em Pacientes Diabéticos com Doença Arterial Coronariana

Terapia de substituição hormonal

Doutoramento em Actividade Física e Saúde

CLIMATÉRIO E AUMENTO DE PESO

ONTARGET - Telmisartan, Ramipril, or Both in Patients at High Risk for Vascular Events N Engl J Med 2008;358:

Medicina da mulher após os 50 anos

Nota Técnica sobre Eficácia e Segurança dos Medicamentos Inibidores de Apetite

Terapia hormonal de baixa dose. Elvira Maria Mafaldo Soares UFRN/SOGORN

TERAPIA HORMONAL DE SUBSTITUIÇÃO NA PÓS- MENOPAUSA QUAL O CONSENSO ATUAL QUANTO AOS RISCOS E BENEFÍCIOS? Constança Pereira Pinto de Carvalho Lage

Saúde da Mulher no Climatério Prof. Dr. Jefferson Drezett Faculdade de Saúde Pública da USP

COLESTEROL ALTO. Por isso que, mesmo pessoas que se alimentam bem, podem ter colesterol alto.

Os registos de doentes como instrumentos de suporte à prática clínica, à gestão/administração e às politicas de rede. Prof. Dr. António Vaz Carneiro

Artigo Original. Raul D. Santos, Raul C. Maranhão e pesquisadores. São Paulo, SP

CÂNCER EM HOMENS MANUTENÇÃO DA SAÚDE MASCULINA

DIABETES E DISLIPIDÉMIA

Faculdade Maurício de Nassau. Disciplina: Farmacologia

bapwv 80 bapwv 5 bapwv bapwv bapwv bapwv 1999 Framingham study mechanical stress

CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA. Cássia Maria Buchalla Maria Regina Alves Cardoso

O Projeto COMET Corpus Multilíngüe para Ensino e Tradução na Universidade de São Paulo

Epidemiologia. Tipos de Estudos Epidemiológicos. Curso de Verão 2012 Inquéritos de Saúde

Velhas doenças, terapêuticas atuais

Registro Brasileiros Cardiovasculares. REgistro do pacientes de Alto risco Cardiovascular na prática clínica

ATUALIZAÇÃO CLÍNICA CLIMATÉRIO CARMEN VERA GIACOBBO DAUDT MÉDICA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE GRAMADO, 03 DE ABRIL DE 2014.

SABADOR. Apresentadora: Renée Sarmento de Oliveira Membro da equipe de Cardiologia/Coronária HBD. Professora de Clínica Médica da UNIRIO

O objetivo primordial do tratamento da hipertensão arterial é a redução da morbidade e da mortalidade cardiovascular do paciente hipertenso

DAEM e Terapia de Reposição de Testosterona: mitos e verdades

TESTOSTERONA E DOENÇA CARDIOVASCULAR

Hipertensão Diabetes Dislipidemias

Medical Research Council (MRC) Study

Resultados preliminares do "HPS Heart Protection Study" confirmam as recomendações das III Diretrizes de Prevenção da Aterosclerose

ELSA-Brasil: conhecendo o povo brasileiro na perspectiva da epidemiologia

DETERMINAÇÃO DO RISCO DE INFARTO EM TRABALHADORES DE EMPRESAS PRIVADAS

Tratamento adjuvante sistêmico (como decidir)

Faculdade Ciências da Saúde (FCS) Laboratório de Reabilitação Cardiovascular

Terapêutica Hormonal de Substituição. Percepções e padrões de prescrição

DISLIPIDEMIAS: O QUE DIZEM AS DIRETRIZES SOBRE O TRATAMENTO COM MEDICAMENTOS?

Booster Termogênico Natural Rico em Bioativos e Fibras

NOVIDADES PARA O TRATAMENTO ENDÓCRINO DE PACIENTES COM CÂNCER DE MAMA RECEPTOR HORMONAL POSITIVO (DOENÇA INICIAL E AVANÇADA)

Evolução do prognóstico das síndromes coronárias agudas ao longo de 12 anos - a realidade de um centro.

SUPLEMENTOS DE CÁLCIO

Late onset hypogonadism e síndrome metabólico

Métodos estatísticos em epidemiologia: algumas observações sobre pesquisa cĺınica

ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO CARDIOVASCULAR

João Morais Cardiologista, Director do Serviço de Cardiologia do Hospital de Santo André, EPE, Leiria.

Transcrição:

EVIDÊNCIAS CLÍNICAS EM TERAPÊUTICA NO CLIMATÉRIO: BENEFÍCIO CARDIOPROTETOR E A JANELA DE OPORTUNIDADE Prof Dr Marco Aurélio Martins de Souza Doutor em GO UFMG- MG Prof. UNIMONTES / FUNORTE

A DOENÇA CARDIOVASCULAR É A PRINCIPAL CAUSA DE MORTE NA MULHER MENOPAUSADA É RESPONSÁVEL POR APROXIMADAMENTE 30% DE TODAS AS CAUSAS

Na década de 80 / 90 a tentativa da prevenção primária de eventos cardiovasculares foi responsável por um boom de prescrição como jamais visto Esse conceito se modificou após resultados de RCT QUAL A SITUAÇÃO ATUAL?

A doença cardiovascular inicia antes do nascimento PIG, CIUR SOP, diabetes, hipertensão, dislipidemias Tabagismo Sedentarismo História familiar Menopausa Stress excessivo Obesidade

Aumento da enzima óxido nítrico sintetase Aumento da síntese de prostaciclinas Diminuição da síntese de acetilcolina Efeito trombolítico PLASMINA (Redução da síntese do PAI 1- Inibidor do ativador do plasminogênio) Angiogênese da vasavasorum Redução da oxidação do LDL, diminuição da Lipoprot. A Aumento do HDL Diminui a resistência insulina Diminui mediadores inflamatórios Reduz conversão da angiotensina

Os eventos cardiovasculares dependem da via de administração bem como do tipo de estrogênio e da dose empregada Dependem do status de saúde inicial da usuária IDADE DEINÍCIODATH JANELADEOPORTUNIDADE 50a60anosébenéfico(A)

História da TH 1920 Dr Serge Samuel Voronoff (1866-1951) implante testículo/ovário Em 15 de julho de 1924 uma paulista rica com 48 anos perdeu o marido. Foi operada por Voronoff. A mulher perdeu 16 quilos durante os primeiros quatro meses, mas seus músculos ficaram fortes e sua pele ganhou mais elasticidade e brilho. O médico teve notícias da paciente dois anos depois. Estava graciosa, magra e rejuvenescida. Sua aparência era de uma jovem senhora de 35 anos, mas ela já passava dos 50. Quando perguntou se havia reatado com o marido, ela respondeu que não, pois ele não merecia sua juventude recém-adquirida (Voronoff, 1928, p.188).

TH é usada por mais de 62 anos 1970 Hiperplasia e câncer 1980 Ettinger e Whitehead AMP Proteção 1980 vários estudos observacionais Cardioproteção (redução de 30 a 50% IAM) Osteoporose redução fraturas Redução do câncer cólon-retal Fogachos, Síndrome urogenital, Cognição Qualidade de vida

Estudos observacionais ( + 40) Benefícios Estudos experimentais (+/- 4 ) Controversos

Redução da mortalidade cardiovascular em até 50% das usuárias.

A: Estudos experimentais e observacionais de melhor consistência. (VIESES) B: Estudos experimentais e observacionais de menor consistência. C: Relatos de casos (estudos não controlados). D: Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais

PEPI trial 1995 the Postmenopausal Estrogen/Progestin Interventions 875 mulheres saudáveis 45 to 64 anos E + P, cíclico e contínuo RESULTADO Após 3 anos melhora do perfil lipídico HERS - Heart and Estrogen-Progestin Replacement Study 1992 2001 ( E + AMP 2,5mg) 2340 mulheres 55 a 79 anos com DOENÇA coronariana prévia RESULTADO Não reduziu DCV aumentou eventos tromboembólicos e Colelitiase

2002 Women s Health Initiative (WHI) Colocou INICIALMENTE em dúvidas todos os estudos observacionais

Numero de eventos por 10 000 mulheres/ano de TH com EEC x placebo WHI / IDADE Estrogen dose: the cardiovascular impact. marcoams Panay - inomed N.Climacteric. 2009;12 Suppl 1:91-5. Review

Long term hormone therapy for perimenopausal and postmenopausal women. OBJECTIVES: To assess the effect of long-term HT on mortality, cardiovascular outcomes, cancer, gallbladder disease, cognition, fractures and quality of life TH use appears to be relatively safe for healthy younger women

2005 Furburg CD, Psaty BM. Review: hormone replacement therapy may reduce the risk for death in younger but not older postmenopausal women. American College of Physicians. 2005;142:1 Redução de 28% na mortalidade em mulheres usuárias até 6 anos da menopausa

Postmenopausal estrogen/ progestogen therapy may be beneficial in perimenopausal and early menopausal women prior to atherosclerotic plaque formation, but it may not prevent progression of atherosclerotic plaques and acute cardiovascular events in older women with cardiovascular risk factors or women with established atherosclerosis (B) Cardiovascular Effects of Endogenous Estrogen and Hormone Therapy. Bechlioulis, et al. Current Vascular Pharmacology, Volume 8, Number 2, March 2010, pp. 249-258(10)

Postmenopausal younger women taking HRT Mortalidade 6.1% Postmenopausal > 60 anos women taking HRT Mortalidade 12.7% mortality was substantially lower in younger patients (6.1% vs 12.7%, P <.001), Hormone replacement therapy among postmenopausal women presenting with acute myocardial infarction: insights from the GUSTO-III trial. (global use of strategies to open occluded coronary arteries) Tackett AHatal. Am Heart J. 2010 Oct;160(4):678-84.

Rossouw JE, Prentice RL, Manson JE, et al. Postmenopausal hormone therapy and risk of cardiovascular disease by age and years since menopause. JAMA. 2007;297:1465-1477. Redução 30% de mortalidade <60 anos

Não se traduz em risco absoluto Não existe correlação direta RR e evento MORTE Aumento em porcentagem (p.ex. 30%) pode corresponder a número ABSOLUTO muito pequeno por 1000, 10 000 ou 100 000 O que interfere nisso é a prevalência da doença e o evento morte a gravidade da moléstia

IAM, AVC evento JANELA Não se pode comparar mulheres relativamente jovens na menopausa (50 a 60) com mulheres > 60 anos. O evento principal a ser observado MORTE A TH reduz 25% a mortalidade nas usuárias <60 anos

As diferenças de resultados entre os estudos observacionais e RCT são em virtude dos desenhos, características da população e não em um ser melhor do que outro Mais de 40 estudos observacionais apontam benefícios cardiovasculares para a janela de oportunidade Mulheres jovens na menopausa que usam TH a longo prazo tem maior sobrevida global e menor chance de doenças cardiovasculares

Diminui fraturas fêmur e coluna (A) Redução mortalidade neoplasia Cólon-retal (A) Melhoria na qualidade de vida (A) Diminui eventos cardiovasculares 50 aos 60 (A) Diminui mortalidade global nas usuárias em 25 a 30% (A) Não se recomenda em prevenção primária para doenças cardiovasculares (B)

Kronos Early Estrogen Prevention Study (KEEPS) Participantes: 728 48 a 56 anos Finalização: Julho 2012 Uso EEC, progesterona micronizada, Patch dérmico estradiol