PLANEJAMENTO FINANCEIRO PESSOAL: UMA ANÁLISE DOS TRABALHADORES DO CENTRO HISTÓRICO DE CUIABÁ-MT



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Transcrição:

3 ISSN 1984-9354 PLANEJAMENTO FINANCEIRO PESSOAL: UMA ANÁLISE DOS TRABALHADORES DO CENTRO HISTÓRICO DE CUIABÁ-MT Olivan da Silva Rabêlo (UFMT) Renato Neder (UFMT) Lisiane Ferreira dos Santos (UFMT) Resumo Devido ao grande número de pessoas que estão endividadas e as crescentes pesquisas e publicações, eventos e sites específicos sobre finanças pessoais e investimentos, este estudo teve como objetivo verificar a análise e as perspectivas dos trabalhadores do Centro Histórico de Cuiabá-MT em relação ao planejamento financeiro pessoal e o grau de endividamento de cada entrevistado. Para tanto foi determinada uma amostra representativa para a qual foram levantados e classificados os perfis de endividamento, averiguando os principais motivos ou dificuldades do planejamento financeiro de sua realização em cada perfil, bem como verificado o conhecimento e a prática dos principais pontos do planejamento financeiro pessoal pelos entrevistados. A hipótese de que os indivíduos, em sua maioria não realizavam o planejamento financeiro pessoal incorrendo assim em descontrole entre as receitas e as despesas, não foi confirmada, pois os dados demostraram que a maioria das pessoas, mantém um controle do que ganha e gasta todos os meses. Em uma concepção geral, os trabalhadores do Centro Histórico de Cuiabá-MT se mostraram cientes ao tema e estão abertos e interessados a aprender novos conceitos e assim aprimorar os seus conhecimentos Palavras-chaves: Planejamento, Finanças Pessoais, Orçamento Doméstico. Endividamento

INTRODUÇÃO A sociedade capitalista contemporânea é caracterizada pelo seu consumismo que foi intensificado após a Segunda Guerra Mundial, que instituiu um padrão de vida pelo seu consumo exagerado, como medida de bem estar. Esse modo de vida se disseminou e ainda hoje tem levado muitas pessoas a buscá-lo fielmente, até mesmo aquelas que não têm como seguir, mas que de alguma maneira tentam se inserir nessa coletividade, possuir a sua aceitação e assim impetrar um status para se sentirem melhor com a sociedade e com si mesmos. É nesses casos que grande parte da população perde o controle entre suas entradas e os seus gastos, optando por escolhas mais fáceis ao invés de se programar e criar uma reserva de dinheiro para adquirir bens, como por exemplo, usando os cartões de crédito, cheques especiais e crediários, só para satisfazer o desejo de ter determinados bens. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, que realiza a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência, no mês de outubro de 2011, 61,22% das famílias se encontravam com algum tipo de dívida no Brasil, esse número reduziu sensivelmente em comparação ao mesmo período do ano de 2012, em que 59,2% das famílias possuíam alguma dívida. Dessas pessoas, 8,2% e 7,0% em 2011 e 2012 respectivamente, não tinham condições de pagá-las, se encontravam em um ponto de endividamento extremo. Mais da metade das famílias hoje possuem algum tipo de dívida, percebe-se isso com os números que se mantêm ainda acima de 50% da população. Esse tema vem a cada dia influenciando publicações e sendo discutido em revistas, eventos e sites específicos em todo o país, como por exemplo, a Expomoney, a maior feira brasileira que discute especificamente sobre finanças pessoais e investimentos. Além disso, a realização de pesquisas sobre o assunto é importante para a saúde econômica do país, pois, em muitos casos o não pagamento das dívidas deixa de ser no nível das instituições privadas que concederam o crédito e passam a ser um problema público, necessitando da intervenção do Estado, pois uma generalização poderia levar a uma instabilidade econômica ou até mesmo 4

uma crise financeira. O ponto focal de análise deste estudo se reveste pela importância de estudo da sustentabilidade financeira dos indivíduos. Com base nestas considerações, este estudo tem como objetivo verificar a análise e as perspectivas dos trabalhadores do Centro Histórico de Cuiabá-MT em relação ao planejamento e o grau de endividamento de cada entrevistado. A hipótese definida conduz que os indivíduos, em sua maioria, não realizam o planejamento financeiro pessoal, incorrendo em descontrole entre as receitas e as despesas, levantando-se assim o interesse de mostrar a seriedade e a necessidade de uma pesquisa local, pois os seus resultados demonstrariam como parte da população cuiabana estaria se comportando nesse sentido, podendo futuramente ser elaboradas soluções para amenizar o endividamento. O problema da pesquisa foi delimitado através da seguinte questão: por que os indivíduos não possuem o hábito de realizar o Planejamento Financeiro Pessoal, ou em caso de elaborarem são descontínuos? Para tanto foi determinada uma amostra representativa para a qual foram levantados e classificados os perfis de endividamento, averiguando os principais motivos ou dificuldades do planejamento financeiro em cada perfil, bem como verificado o conhecimento e a prática dos principais pontos do planejamento financeiro pessoal pelos entrevistados, com perspectivas de apontar para a sustentabilidade financeira. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para realização deste trabalho, definiu-se como método a pesquisa qualitativa, recorrendo-se também a pesquisa quantitativa, que se adaptaram melhor a realização dos objetivos propostos para o presente estudo. As associações entre as variáveis de caráter quantitativo com as de caráter qualitativo evidenciaram as principais vertentes conduzidas no trabalho. Para elaboração da fundamentação teórica foi usada a pesquisa bibliográfica que serviu como base para a solidez dos conceitos que dizem respeito ao planejamento financeiro, dívida e endividamento, orçamento e a classificação quanto aos perfis que foram utilizados na classificação dos entrevistados. Foram consultados registros bibliográficos de fontes secundárias: dados estatísticos publicados por instituições públicas e privadas, bem como artigos científicos e obras literárias de autores de renome no assunto estudado. 5

Para investigar a atuação das pessoas quanto ao planejamento financeiro do próprio dinheiro foi escolhido o Centro Histórico da cidade de Cuiabá-MT. Esse local tem grande importância histórica para a cidade e foi selecionado por ser onde se encontram em grande quantidade os trabalhadores das mais variadas classes sociais, faixas salariais, grau de instrução, estrutura familiar e bairros da capital. Definiu-se como universo os trabalhadores dos comércios do centro de Cuiabá e como amostra os trabalhadores do comércio do Centro Histórico. A amostra foi elaborada por estratificação conforme Lakatos e Markoni (1999). Para ter uma representatividade mais exata, realizou-se uma primeira pesquisa de campo para levantar quantos trabalhadores há atualmente na região escolhida, esses dados foram fornecidos pelos proprietários, gerentes e trabalhadores dos estabelecimentos da região. Chegou-se a existência de aproximadamente 399 (trezentos e noventa e nove) pessoas trabalhando em comércios em que se poderia realizar a pesquisa com a aplicação de questionários. Empregou-se deste modo, a técnica de amostragem simples indicada por Barbetta (2002), que consiste em primeiramente definir um erro amostral tolerável, neste caso 10% (dez por cento), fazer uma divisão onde o divisor é 1 (um) e o dividendo o erro amostral elevado ao quadrado 0,10² - chegando ao resultado da divisão de 100 (cem), que é chamado de primeira aproximação do tamanho da amostra. A seguir fez-se outra divisão, onde o dividendo é o tamanho do universo, 399 (quinhentos e trinta e três) multiplicado por 100 (cem), e o divisor, o total da população, 399 (quinhentos e trinta e três) somado a 100 (cem). Chegou-se ao final a um total de aproximadamente 80 (oitenta) trabalhadores que foram pesquisados na região do Calçadão Central, para se conseguir uma amostra que representasse os demais estratos para a verificação do problema e da hipótese. Assim, as fontes primárias foram delimitadas através dos dados coletados junto à amostra de trabalhadores do Calçadão Central da cidade de Cuiabá-MT, através do instrumento para a coleta de dados entrevista semiestruturada que objetivou estudar mais amplamente a problemática levantada, sendo esta definida como pesquisa de campo, que é o levantamento de dados no próprio local onde os fatos acontecem e o apontamento de variáveis que se julgam importantes, para analisá-los. (LAKATOS E MARKONI, 1999). A entrevista foi formada por um questionário para guiá-la e criar uma padronização em sua execução. Ele teve tanto questões fechadas, com uma seleção prévia dos pontos a serem indagados, como uma questão aberta para se perceber e captar o ponto de vista dos 6

participantes. As perguntas foram desenvolvidas e escritas em um aplicativo de dados do Google, o Google Docs. Para tanto foi criado um formulário online e com o auxílio de um dispositivo portátil (Tablet), que por meio do qual os dados foram coletados. Enquanto os questionários eram respondidos pelos entrevistados, as respostas eram imediatamente registradas, enviadas para o arquivo do formulário e assim, posteriormente exportadas e tabuladas para o aplicativo Excel. As perguntas de caráter fechado tiveram em sua análise a verificação da frequência em que apresentaram- se, calculadas a sua percentagem com o total da amostra pesquisada e comparadas questões entre si, gerando estratificação da amostra. Com esse processo se descreveu os resultados obtidos e se fez o confronto com os dados esperados. Quanto às perguntas de caráter aberto foi realizada a análise das respostas, e como se encontrou uma variedade nas respostas dos entrevistados, foi realizada uma análise de conteúdo que possibilitou sua interpretação. Conforme Weber (1990 apud ROESCH, 2005, p. 170), neste tipo de análise utiliza-se de alguns métodos para levantar inferências válidas a partir do texto. O método busca classificar as palavras, frases, e até mesmo parágrafos em categorias de conteúdo. Isso gera frequências de respostas do mesmo modo que as de caráter fechado, sendo assim interpretadas e explicadas. Dessa forma a partir das respostas colhidas, foram organizadas tabelas, visando a melhor exposição e interpretação das mesmas. Todo esse trabalho e forma de organização facilitou o processo da entrevista, pois se desejava obter informações mais concisas sobre o comportamento do entrevistado e ter uma maior cooperatividade dos mesmos por se tratar de um assunto que causa certo receio em se participar, já que aborda um tema complexo e que acende com o emocional das pessoas. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA PLANEJAMENTO FINANCEIRO O planejamento pode ser desenvolvido em um sentido amplo, não abrangendo um assunto específico apenas, podem ser trabalhados no mesmo processo, por exemplo, planejamento da carreira e de vida. Porém, o enfoque é um dos ramos do planejamento, o planejamento financeiro. 7

Teló (2001, p. 21) menciona que o planejamento financeiro estabelece o modo pelo qual os objetivos financeiros podem ser alcançados. Com o acompanhamento e revisão periódica, o indivíduo estará ciente da sua situação financeira. Caso se perceba que em algum momento irá faltar recursos para saldar as dívidas, isso será antecipado e as atitudes a serem tomadas serão melhores pensadas e argumentadas na hora de se buscar o dinheiro restante. Quadro 1 - Etapas da elaboração de um planejamento financeiro Etapas Básicas da Elaboração de um Planejamento Financeiro 1 2 3 4 5 6 7 8 Avaliação da situação financeira atual: verificar como está a situação no momento, as receitas, gastos, dívidas e investimentos. Quais os objetivos a serem buscados e quanto custam para a sua realização: definição dos objetivos desejados, o prazo para a realização e qual o valor é necessário para atingi-los. Estabelecer objetivos alcançáveis: na escolha dos objetivos, um ponto muito importante é a viabilidade do mesmo. Escolher um objetivo que pareça quase inalcançável pode desanimar e levar ao abandono do planejamento devido a sua falta de resultados. Estimar os riscos financeiros que a família pode sofrer e quais as estratégias para se defender dessa situação: há situações que podem desestabilizar as finanças da família como a perda, por exemplo, do emprego. Precisa-se criar meios de se manter equilibrado nesses casos. Conhecer o perfil individual de investimento: ele pode ser conservador, moderado ou agressivo e dependerá das características comportamentais de cada um. Existem vários simuladores disponíveis na internet. Ter um plano de investimento: após definido o perfil, verificar quais são os recursos realmente disponíveis para investir e avaliar as várias opções oferecidas que irão colaborar para o alcance dos objetivos estabelecidos. Planejar a Aposentadoria: por ser uma etapa da vida em que os recursos diminuem, mas os gastos não, uma boa alternativa seria planejar esta fase, tendo reservas que possam complementar os valores recebidos da aposentadoria e manter o padrão de vida atual da família. Reavaliação do planejamento financeiro periodicamente: O planejamento deve ser revisto de tempos em tempos, pois os objetivos podem mudar, novas 8

prioridades podem surgir, os valores para alcançar determinados objetivos podem ser alterados. Após essa avaliação é feito um ajuste do planejamento financeiro à situação atual. Fonte: Adaptado BML Serviços Financeiros Ltda. Com o planejamento financeiro passa-se a gastar de acordo com os recursos monetários disponíveis, além de auxiliar no desenvolvimento de uma poupança. Para o portal Como Investir?, uma iniciativa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, o planejamento financeiro é um processo contínuo e somente assim se conseguirá avaliar o progresso financeiro. Ele é importante porque vai ajudar na antecipação das dificuldades futuras e a retirar os obstáculos que possam surgir. O planejamento financeiro deve ser visto como um guia que irá nortear as decisões, a fim de se chegar a uma vida financeira controlada e mais estável. 3.1.1 PLANEJAMENTO FINANCEIRO PESSOAL A melhor forma para ter uma vida financeira equilibrada é possuir o conhecimento detalhado dos gastos mensais praticados e trabalhar com essas informações. Para tanto, verificam-se quais são os gastos fixos e os gastos variáveis, com isso consegue-se examinar onde os valores são maiores e podem ser reduzidos ou mesmo, melhor investidos. (CERBASI, 2009) O modo mais simples de se conseguir isso é anotar os gastos em um caderno ou em uma planilha eletrônica, comparar esses gastos com os dos demais meses e refletir sobre as prioridades de consumo que se tem hoje e as quais são necessárias para manter o equilíbrio financeiro. Tomando esta inciativa é possível viabilizar uma poupança regular, economizar algum dinheiro, para aquelas situações de emergência, o que irá dar mais qualidade ao consumo e viabilizar as pequenas compras de algum supérfluo que irá deixar todos da família contentes, mas isso desde que sejam planejados e não venham a prejudicar o orçamento da família. Dessa forma Cerbasi (2009, p. 25) argumenta: É preciso ser taxativo: seu planejamento familiar não será eficiente se você não tiver equilíbrio orçamentário, o que se traduz em gastar menos do que ganha e investir a diferença com regularidade. Alcançar e manter o equilíbrio orçamentário mês a mês é fundamental para viabilizar a realização de seus sonhos, já que os sonhos tem custo. Assim o indivíduo pode se satisfazer em termo de consumo qualificando o planejamento financeiro pessoal com perspectivas de alcançar a sustentabilidade e bem estar. 9

CLASSIFICAÇÕES QUANTO AOS PERFIS PESQUISADOS A seguir são apresentados os possíveis perfis de endividamento das pessoas que apresentam dificuldades relacionadas à gestão financeira dos próprios recursos. Esses perfis são baseados no trabalho de Tolloti (2007, p. 66-71) que aponta os principais perfis dos quais se pode enquadrar a maioria das pessoas. A autora ainda ressalta que a intenção não é se limitar apenas a eles, restringindo a outros que se possam apresentar, mas sim demonstrar quais são os que mais se mostram entre as pessoas. São eles: pagador de contas; o endividado passivo, o endividado ativo e o sobreendividado. PAGADORES DE CONTAS Para que uma pessoa tenha uma vida honesta é preciso que ela possa cumprir seus compromissos financeiros e conseguindo isso, estar apta para começar a investir o excedente e aumentar o seu patrimônio financeiro. Mas existe aquele indivíduo que classifica como conta todos os gastos feitos, mesmo aqueles que não são necessários e nem rotineiros, ainda que não possam ser avaliados formalmente como endividados, já que as suas dívidas não estão em atraso, eles não conseguem ter liberdade para tirar férias, trabalhar menos ou investir algum dinheiro. Comumente são profissionais que trabalham muito e possuem bons rendimentos. Mesmo assim, dificilmente conseguem ter uma vida com qualidade, sem contas para se preocupar e pensamentos de como utilizar o dinheiro ganho com o trabalho árduo. Com um pouco de esforço e dedicação podem organizar a vida financeira e assim se tornar possíveis investidores. ENDIVIDADO PASSIVO Esta situação é aquela de quem se encontra em uma condição de endividamento alheia à sua vontade, ou seja, por alguma circunstância adversa, que não pode ser controlada pela pessoa. As principais causas que levam ao endividamento passivo são: desemprego, acidente, morte, doença ou separação. O período em que uma pessoa é considerada devedora oscila de um a três meses, dependendo da situação ocorrida. 10

Nessas ocasiões o indivíduo busca uma forma de compensação pelo mal sofrido, o que muitas vezes o leva ao endividamento. Porém, tão logo consiga se restabelecer do verdadeiro imprevisto, o endividamento é sanado. Como em geral as dívidas foram contraídas em função de situações esporádicas, repentinas, a tendência é o rompimento com o mal estar da situação e a busca pelas possibilidades de conseguir sanar o ciclo das dívidas. O endividado passivo tem a seu favor o tempo, com o passar da situação, a vida emocional e financeira volta-se ao estado inicial, sem dívidas. ENDIVIDADO ATIVO É considerado endividado ativo aquele indivíduo que constantemente contrai dívidas, ou seja, age deliberadamente, conscientemente para se colocar em situação de devedor. Diferente do endividado passivo que está numa situação devedora contrária à sua vontade, o endividado ativo, por uma razão ou por outra, não fica muito tempo afastado de alguma dívida. Porém em algumas situações, muito comuns de serem vista no Brasil e em países em desenvolvimento, é preciso olhar por outra ótica, o perfil do consumidor revela uma população com um rendimento financeiro baixo. Muitos endividados ativos contraem dívidas para manter as necessidades básicas, primeiro dos filhos, depois deles mesmos. Mais do que a dificuldade matemática ou a de se refletir sobre a situação em que se encontra, o endividado ativo se nega a cuidar das finanças, cria empecilhos para tal, como também se recusa a analisar o que o motiva para endividamento constante. Por outro lado, tem a seu favor a persistência e o dinamismo que parece estar usando em prol do endividamento. Caso consiga se deslocar das dívidas e transferir essas qualidades para os investimentos, os benefícios serão imensos. Mas não podemos esquecer que a carreira de devedor poderá prosseguir, porque o endividado ativo é um forte candidato a se transformar em um sobreendividado. SOBREENDIVIDADO É avaliado como sobreendividado aquele devedor, que por mais que queria e tente pagar suas contas em atraso, não tem mais condições para isso, está impossibilitado de pagar suas dívidas de forma constante e estável, ou seja, é o momento em que o indivíduo entra em 11

falência. Geralmente, contraiu uma dívida para quitar outra e possui várias fontes de endividamento. Um sobreendividado arrisca cada vez mais até chegar à falência; essa é a evolução natural do endividado ativo. Não significa que toda pessoa que contraia dívidas irá falir. A atenção deve recair sobre a frequência, ou seja, sobre aquela pessoa que começa a fazer uma dívida para pagar outra. Quando o endividamento se transforma em meio de financiar a sobrevivência dos lares, a consequência geralmente inevitável é o sobreendividamento. O sobreendividamento deixa de ser um problema social para se transformar em um problema jurídico, porque é o momento em que ocorre a autofalência. Instalada a falência pessoal, será inevitável o contato com o meio jurídico, com as cobranças e as ações judiciais, ou seja, os credores utilizarão todos os meios disponíveis para reaver o dinheiro emprestado. No Brasil existem poucas, mas importantes entidades que apoiam o sobreendividado. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com o objetivo de expor as distinções situacionais e comportamentais da população da amostra estudada, realizou-se primeiramente o levantamento e a classificação dos perfis de endividamento encontrados. Por conseguinte procurou-se avaliar o conhecimento e a aplicabilidade dos principais pontos do planejamento financeiro pessoal, pelos trabalhadores do Centro Histórico de Cuiabá-MT, segundo a pesquisa bibliográfica realizada. PERFIS DE ENDIVIDAMENTO DOS TRABALHADORES DO CENTRO HISTÓRICO DE CUIABÁ MT Para o cumprimento do primeiro objetivo específico foram entrevistados 80 trabalhadores no local escolhido para a pesquisa. Essa entrevista teve como base um questionário previamente elaborado. Com isso, conseguiu-se às informações necessárias para se realizar os próximos objetivos. 12

De acordo com os resultados obtidos, foram classificados em quatro categorias de perfis conforme Tolloti (2007). Gráfico 1 - Classificação em perfis de endividamento Fonte: Dados da Pesquisa Os resultados demonstraram que cerca de 77% dos trabalhadores ficaram classificados como Pagadores de Contas, ou seja, possuem algum tipo de dívida, seja de compras ou empréstimos, porém conseguem quitá-las em dia e não há atrasos, mas para isso tem de trabalhar arduamente e se preocupar constantemente com o pagamento, sem assim conseguir aproveitar com mais qualidade o dinheiro que ganham, como por exemplo em férias ou investimentos. Já 18% da amostra foi classificada como Endividados Passivos, estão em uma situação de endividamento não porque buscaram estar nesta classificação e sim por algum imprevisto ou situação de força maior (desemprego, acidente, etc.). Esse período, porém, dura somente até o endividado se restabelecer o que pode ser de um até três meses, onde as dívidas ao final são sanadas por completo. De outro lado, encontram-se os Endividados Ativos, que são aqueles que agem conscientemente ao contrair uma dívida, gastam sem analisar se poderão quitar as compras feitas. Esse perfil foi representado por cerca de 4% dos entrevistados, ou seja, possuem muitas contas a pagar, pagam somente as mais importantes e adiam as demais, o que causa consequentemente o atraso e o aumento progressivamente do valor devido. Uma característica determinante é o problema em controlar os rendimentos e se organizar financeiramente, porém com um pouco de esforço podem se tornar bons investidores devido a sua persistência e dinamismo, ou podem ser tornar sobreendividados. O último perfil, dos sobreendividados, foi localizado em 1% dos entrevistados, a particularidade encontrada foi a de dívidas com atraso superior a três meses, não conseguirem quitar a maioria dos gastos por falta de recursos e não possuírem também a perspectiva de quitá-las, a não ser que vendam algo para levantar fundos. Essa situação é considerada como 13

falência e geralmente acontece porque a pessoa contraiu uma dívida para pagar outra e assim possui várias fontes de endividamento. (TOLLOTI, 2007) CONHECIMENTO E APLICABILIDADE DOS PRINCIPAIS PONTOS DO PLANEJAMENTO FINANCEIRO PESSOAL. Um dos pontos principais inicialmente questionados aos entrevistados foi quanto ao conhecimento do que é o planejamento financeiro pessoal. As respostas encontradas revelaram que cerca de 23% dos entrevistados nunca ouviram falar em planejamento financeiro pessoal ou não sabem o que o termo significa. Por outro lado, 77% já ouviram falar, seja superficialmente ou com algum aprofundamento sobre o assunto. Destes, 40% disseram que já ouviram, porém, não entenderam claramente o que significava ou mesmo após escutarem não procuraram saber mais sobre o assunto. Pode-se inferir que muitos não deram uma importância maior ao tema e que não viram como uma forma de auxiliar o seu crescimento financeiro e pessoal. Uma forma de reverter essa situação seria mostrar os benefícios que o planejamento pode trazer para si, assim como a criação de programas de educação financeira, em âmbito local, distribuição de cartilhas e incentivando pessoalmente esse processo, fomentando o conceito e a prática de planejamento entre os trabalhadores. Essa inciativa pode partir tanto do âmbito público quanto do privado, pois ambos são afetados quando as pessoas estão em desequilíbrio financeiro. O processo de planejamento financeiro pessoal pode ainda, com o tempo, ser estendido para o próprio comércio e evitar também situações de desequilíbrio financeiro nas empresas do Centro Histórico. Essa iniciativa pode ter muitos adeptos já que 21% dos entrevistados disseram que além de terem ouvido, gostariam de obter mais informações e conhecimento sobre o assunto. Outro grupo que também aderiria ao projeto é o formado por 16% dos entrevistados, que apesar de terem um conhecimento mais completo com relação ao planejamento financeiro pessoal, tem a consciência de sempre estar se atualizando no assunto e buscando novas fontes de informação. Uma segunda questão abordada na entrevista foi se as pessoas mantinham algum tipo de controle mensal da renda e dos gastos. Gráfico 2 - Controle mensal da renda e gastos 14

Fonte: Dados da Pesquisa As respostas auferidas mostraram que a maior porcentagem, 44% foi com as pessoas que disserem que anotam o quanto de dinheiro que entra e o quanto é gasto todos os meses, mas sem avaliar a qualidade dos gastos. Dessa forma, percebe-se que o planejamento financeiro é realizado parcialmente, o primeiro passo é cumprido, mas é preciso avançar e verificar em que se esta gastando mais e pode ser reduzido para economizar ou em que o dinheiro possa ser mais bem gasto, trazendo maior benefício. Essa atitude por outro lado já é cumprida pela segunda maior porcentagem encontrada, cerca de 29% dos entrevistados disse que faz um controle bem detalhado dos gastos, além de procurar analisar em que se esta gastando e onde pode ser melhorado. As pessoas que disseram não ter um controle, somente verificam quais as contas a serem pagas no mês sem anotar nada, ficaram em 10% e as que responderam que não possuem nenhum tipo de controle, vão comprando e pagando as contas que chegarem com o passar do mês, foram 17%. Podemos ainda fazer uma interpretação entre a questão exposta e a anterior, possuindo mais uma apreciação. Das pessoas que disseram que nunca ouviram falar em planejamento financeiro pessoal ou não sabem o que o termo significa, sete não realizam nenhum tipo de controle, três apenas conferem antecipadamente as contas a serem pagas no mês e oito anotam o que ganham e o que gastam, mas sem avaliar os gastos. Desse último resultado infere-se que as pessoas realizam o planejamento financeiro pessoal, mesmo que seja parcialmente, sem conhecer a teoria. Esse processo poderia ser mais bem executado se conceitos e métodos lhes fossem apresentado, melhorando a qualidade do controle que realizam. Já para os trabalhadores que disseram que ouviram alguma vez falar sobre o tema, porém, não entenderam muito bem o que ele significa ou não buscaram maiores informações, cinco responderam que não realizam nenhum tipo de controle, quatro só verificam antes o que tem de pagar naquele mês, treze dizem que anotam, mas não avaliam os gastos e dez anotam e fazem essa avaliação. Para quem já ouviu e está interessado em se aprofundar mais no assunto, três apenas disseram que não fazem nenhum controle ou verificam antecipadamente o que há para pagar, nove responderam que controlam as entradas e saídas, mas não avaliam o orçamento e cinco fazem esse tipo de avaliação. 15

Quanto aos trabalhadores que responderam que já ouviram falar e conhecem algumas expressões e técnicas de como realizar o planejamento e sempre estão buscando novas informações, foram encontradas treze respostas e não houve nenhuma que não realizasse um controle mensal das receitas e gastos. Dessas, cinco disseram que controlam, mas não avaliam e oito responderam que analisam os gastos. Esse resultado é convergente, pois é de se esperar que quem já tenha um conhecimento mais completo no assunto, ponha em prática aquilo que apendeu e se aprimore ainda mais com o tempo. A terceira abordagem quanto ao planejamento financeiro pessoal na entrevista, foi se em situações em que ao findar do mês ainda sobrou algum dinheiro ou quando há o recebimento de um rendimento extra (13º salário, bonificação, comissão, divisão de lucros, prêmios, etc.), o que o entrevistado faria com esse dinheiro. Nesta questão, duas foram as respostas que mais apareceram ambas com 36% de representatividade: guarda o dinheiro excedente e analisa qual será o melhor investimento a ser feito com ele de acordo com os objetivos; faz a separação de uma parte para pagar algumas contas e guarda a outra parte. Pode-se concluir dessa maneira que a maioria dos entrevistados vê o dinheiro extra como uma oportunidade de pagar uma dívida, que quitada ou antecipada, trará mais benefícios visto os juros altos geralmente aplicados. Esse dinheiro é visto com consciência e usado comedidamente, gastando somente o necessário, ou como encontrado em 36% dos casos, guardado em sua totalidade, com a visão da importância de ter uma reserva financeira ou um pouco de dinheiro guardado. A segunda resposta que mais se destacou foi daquelas pessoas que quando recebem um dinheiro a mais acabam gastando todo o valor, a porcentagem ficou em 25%, ou seja, vinte das pessoas no total recebem o dinheiro e usam tudo o que ganharam em compras ou pagamentos. Ao contrário das respostas acima, eles não veem a necessidade ou não conseguem montar uma reserva, o que pode ser prejudicial em uma situação de emergência. Por último apenas 3% dos entrevistados disseram que não planejam o que irão fazer com o dinheiro recebido. Realizando uma comparação entre as respostas da pergunta em questão com os perfis de endividamento encontrados, verificou-se que 97% dos entrevistados que responderam que guardam o total recebido e avaliam qual seria o melhor investimento, possuem o perfil de Pagadores de Contas e apenas 3% estão classificados como Endividados Passivos, isso demonstra que pessoas que não possuam dívidas ou que as mesmas não estão em atraso, conseguem usar o dinheiro extra para uma poupança ou investimento com mais folga e 16

facilidade. Para os entrevistados que disseram que uma parte é usada para pagamentos e a outra é guardada, 83% foram classificados como Pagadores de Contas, 14% como Endividados Passivos e 3% como Endividados Ativos, pode-se dizer que o uso de parte do dinheiro é corretamente usado para se pagar à dívida devida, mesmo que a parte guardada seja pequena ela no longo prazo ajudará na formação da reserva financeira da família. Já para as pessoas que responderam que gastam todo o dinheiro recebido, 50% delas foram qualificadas como Pagadoras de Contas, 35% em Endividados Passivos, 10% como Endividados Ativos e 5% em Sobreendividados. Nota-se que quanto menos há a preocupação com o planejamento e em realizar uma reserva, mais as pessoas se encontram em situações de endividamento, principalmente o endividamento passivo, que ocorre por imprevistos e situações de força maior. A existência de uma reserva financeira poderia reduzir a possibilidade de endividamento por imprevistos. Para as pessoas que não pensam o que será feito com o dinheiro a mais, 100% ficaram classificadas como Endividas Passivas. O último ponto verificado quanto ao planejamento financeiro pessoal, é se caso o entrevistado possua ou possuísse uma reserva de dinheiro, qual seria o seu objetivo com relação a ela. De acordo com as respostas auferidas, 30% dos entrevistados falaram que usariam o dinheiro guardado apenas para emergências, o que demonstra a preocupação em estar prevenido para situações inesperadas e assim não entrar em uma situação de endividamento. Nesse mesmo sentido, 50% das respostas dos trabalhadores foram que eles usariam a reserva de dinheiro tanto para algum imprevisto como para a realização de um sonho, além de mostrar que estão preocupados com alguma emergência que possa surgir, se programam, planejam e reservam dinheiro antecipadamente para realizar algum desejo, sem acabar com dívidas por isso. Enquanto isso, para 6% dos entrevistados a reserva financeira seria apenas para a realização de um sonho pessoal ou da família. Percebe-se que há a intenção em se planejar e buscar acumular antecipadamente o valor necessário para realizar o que se deseja, porém se algo acontecer nesse meio tempo pode ser que se tenha de prorrogar o sonho, por não ter sido reservado uma parcela para emergências. O ideal seria dividir a reserva de dinheiro em emergências e realização de um sonho. Por outro lado, 14% dos entrevistados disseram que ainda não tem ou teriam um objetivo para esse dinheiro, o que pode levar ao consumo da reserva em qualquer fim, quando aparecer algo para comprar ou pagar por exemplo. 17

Tais observações podem ser complementadas com a comparação entre: as atitudes que o entrevistado teria em uma situação em que houvesse a sobra de dinheiro ao final do mês ou o recebimento de um valor extra, com os objetivos de uma reserva financeira. Para quem respondeu que guarda o dinheiro e analisa qual será o melhor investimento de acordo com os objetivos pessoais, 35% disseram que usariam a reserva somente para emergências, 48% tanto para um imprevisto como para realizar um sonho, 14% seriam somente para a realização de um sonho e 3% não tem um objetivo definido. Infere-se dessa comparação que as respostas convergem, pois a maioria (97%) forma uma reserva com o valor recebido e tem objetivos claros para ela, porém 3% tiveram respostas discordantes ao dizerem que analisam o que será melhor a fazer com o dinheiro a mais de acordo com os objetivos e ao mesmo tempo não tem objetivos definidos para a reserva que estão fazendo. Situação parecida é vista para quem respondeu que separa uma parcela para emergências e outra para a realização de um sonho. O que se diferenciou foi que 3% seriam somente para a realização de um sonho e 13% não teriam um objetivo definido. Já para quem disse que gasta todo o dinheiro excedente, caso tivessem uma reserva de dinheiro 60% a usariam tanto para algum imprevisto como para a realização de um sonho, 15% para emergência e 25% não teriam um objetivo definido. Dessa ultima porcentagem percebe-se ainda uma dúvida, já que não conseguem economizar, visualizar uma situação em há um dinheiro guardado é um pouco difícil e impensável qual objetivo se teria a não ser gastar livremente o valor. Na última alternativa sobre o que procura fazer em situações que sobram ou recebem um dinheiro a mais procura não pensar o que será feito, somente na hora que o tiver em mão - somente duas pessoas a assinalaram e as respostas encontradas na questão sobre a reserva foram respectivamente, somente para emergências e não tem um objetivo definido. Finalmente uma última análise a ser feita quanto aos pontos do planejamento financeiro pessoal, é com relação às respostas da questão de qual seria o objetivo caso tenha ou tivesse uma reserva financeira e os seus perfis de endividamento correspondentes, demonstrando que se houvesse a preocupação em se ter um valor guardado, uma situação de endividamento poderia ser evitada. Do total de pessoas entrevistadas 80 trabalhadores do centro histórico vinte e quatro pessoas responderam que usariam a reserva financeira somente para emergências. Desses, dezenove foram classificados como Pagadores de Contas, quatro como Endividados Passivos e um como Endividado Ativo, percebe-se que os perfis foram correspondentes, pois se encontrou mais Pagadores de Contas que tem como uma 18

característica não possuir dividas em atraso e o uso das economias em emergências se origina com a consciência de não acabar endividado por não estar prevenido. Outra observação é que cinco pessoas estão em situação de endividamento, o uso do dinheiro guardado seria uma alternativa para retirar-se desse estado. Semelhante situação pode ser verificada com quem respondeu que usaria o dinheiro economizado para imprevistos e emergências, quarenta entrevistados escolheram essa opção, sendo que trinta e três se classificaram como Pagadores de Contas, seis como Endividados Passivos e um como Endividado Ativo. Para quem respondeu que usaria a reserva financeira para a realização de um sonho pessoal ou da família, no caso cinco pessoas, os perfis encontrados foram somente Pagadores de Contas. Agora, para quem não tem ou teria objetivo definido, a situação de endividamento se torna mais evidente, das onze respostas nessa alternativa, sete se encontram endividados (5 endividados passivos, 1 endividado ativo e 1 sobreendividado). PRINCIPAIS DIFICULDADES E MOTIVOS QUE LEVAM AS PESSOAS A REALIZAREM O PLANEJAMENTO FINANCEIRO PESSOAL DENTRO DE CADA PERFIL. Para averiguar quais são as principais dificuldades na realização do planejamento e os motivos que levavam as pessoas a fazê-lo, foi escolhida uma pergunta com a resposta de maneira aberta, onde o entrevistado poderia expressar melhor a sua opinião. A questão possuía o seguinte texto: Para você quais são os motivos que te levam a se organizar financeiramente ou se planejar com relação ao dinheiro (caso faça). E quais são as dificuldades de realizar o orçamento e o planejamento (caso não faça)?. Entre as pessoas que se organizam, a resposta buscada foi quanto aos motivos e para quem respondeu anteriormente que não fazia algum controle, as dificuldades desse processo. Assim, para aqueles que tiveram sua categorização como perfil Pagador de Contas, os motivos foram os seguintes: Tabela 1 - Motivos de realização do planejamento para o perfil Pagador de Contas 19

Motivos - Pagador de Contas % Com a profissão descobriu a importância para a saúde financeira 1,14% Ter controle do que recebe e do que gasta 5,68% Saber o total de dividas, contas a serem pagas 5,68% Ter controle dos gastos 39,77% Reeducação financeira 1,14% Para não ter o nome inscrito em órgãos de proteção ao crédito 1,14% Saber o total que se pode gastar no mês para não gastar a mais do que ganha 20,45% Saber onde se esta gastando e se o valor esta elevado 5,68% Ter segurança financeira 1,14% Não ter imprevistos 9,09% Para se programar e ter dinheiro para pagar as contas todos os meses 1,14% Conseguir guardar dinheiro 6,82% Se planejar para os meses que tem mais gastos 1,14% Fonte: Dados da Pesquisa Dentre os motivos auferidos, podem-se destacar os quais as pessoas disseram que realizam o planejamento financeiro pessoal para Ter controle dos gastos, com 39,77%, o que se interpreta como uma forma limitada de ver a ferramenta de planejamento, além do controle outros dados podem ser obtidos. Outro motivo que se ressaltou foi por Saber o total que se pode gastar no mês para não gastar a mais do que se ganha, 20,45%, esse motivo demonstra uma utilização mais profunda do planejamento financeiro pessoal. Um motivo interessante e que também foi citado, ficando com a terceira maior dentre as respostas, 9,09%, foi a de que a prática do planejamento auxilia a não ter imprevistos, já que a pessoa está ciente do que ocorre com o seu dinheiro e pode se programar para emergências. Já as dificuldades encontradas nesse mesmo perfil foram as demonstradas na Tabela 2: Tabela 2 - Dificuldades de realização do planejamento para o perfil Pagador de Contas Dificuldades - Pagador de Contas % Não vê a necessidade de um controle mais elaborado, o que faz é satisfatório. 20,00% Dificuldade é não anotar no momento da compra e depois esquecer quanto gastou. 13,33% Falta de tempo 33,33% Desorganização 26,67% Não ter problemas com contas a pagar 6,67% Fonte: Dados da Pesquisa Tendo em vista as dificuldades que mais foram citadas e tiveram as maiores porcentagens, 33,33% dizem que não possuem tempo, desorganização própria (26,67%) e 20% não veem a necessidade de elaborar um controle mais formal, pois a maneira que já o faz hoje satisfaz até o momento. Infere-se dessas três opiniões que esses trabalhadores não perceberam ainda a importância que a organização e o planejamento podem trazer a sua saúde 20

financeira, isso talvez porque ainda não passaram por uma situação desfavorável em que haja o endividamento e, assim, julgam não precisar controlar detalhadamente o orçamento. Foram encontrados entre os perfis de Endividados Passivos alguns motivos que se destacaram ao afirmarem a razão de realizarem o orçamento e o planejamento, sendo os seguintes: Tabela 3 - Motivos de realização do planejamento para o perfil Endividado Passivo Motivos - Endividado Passivo % Por dificuldades financeiras passadas anteriormente e a necessidade de ter um controle para não se repetir esse situação. 14% Ter controle dos gastos 29% Saber o total que se pode gastar no mês para não gastar a mais do que se ganha 29% Não ter dificuldade financeira 7% Analisar os gastos 7% Saber o total de dividas, contas a serem pagas 7% Ter controle do que entra e sai 7% Fonte: Dados da Pesquisa Salienta-se os três motivos que tiveram as maiores porcentagens de aparecimento, sendo com 29% respectivamente, Ter um controle dos gastos e Saber o total que se pode gastar no mês para não gastar mais do que se ganha. Com 14% de representatividade entre as respostas esta o motivo em que se já passou por dificuldades financeiras antes e com isso ver a necessidade de controle para não viver esta situação novamente. As respostas se mostraram assertivas, pois demostram a visão de importância de ter um controle para não se endividar por desconhecimento, um dos objetivos principais desse tipo de ação. Tabela 4 - Dificuldades de realização do planejamento para o perfil Endividado Passivo Dificuldades - Endividado Passivo % Desorganização 43% Falta de tempo 43% Não se lembrar de tudo o que gastou 14% Fonte: Dados da Pesquisa Verificou-se na Tabela 4 que as dificuldades foram bem parecidas com as do perfil Pagador de Contas. A falta de tempo e a desorganização pessoal ficaram com 43% cada, entre as dificuldades declaradas. Conclui-se que como no caso acima, essas pessoas também não perceberam a real importância da ferramenta de orçamento e planejamento, ou mesmo que saibam, não estão dispostos ainda a despender um pouco do seu tempo e manter certa organização e disciplina, não vem isso como um auxilio a sua saúde financeira. Outro motivo citado, que teve 14% de representatividade, foi que não anota os gastos porque acaba não se 21

lembrando de tudo o que gastou, esse tipo de comportamento é possível de ser associado a questão de desorganização. Ainda nessa mesma linha de considerações, encontrou-se entre o perfil de Endividado Ativo e Sobreendividado apenas dificuldades, que são expostas nas Tabelas 5 e 6. Tabela 5 - Dificuldades de realização do planejamento para o perfil Endividado Ativo Dificuldades - Endividado Ativo Não saber como realizar esse controle 33,33% Desorganização 33,33% Não ter interesse em organizar as contas 33,33% Fonte: Dados da Pesquisa Tabela 6 - Dificuldades de realização do planejamento para o perfil Sobreendividado Dificuldades Sobreendividado Por desinteresse e não saber como começar a se organizar. 100% Fonte: Dados da Pesquisa Diante do exposto, destaca-se a desorganização e o não interesse em organizar as contas, ambos com 33,33% das respostas. Este último com 100% de apresentação no perfil Sobreendividado. Isso demostra que é uma atitude recorrente entre os entrevistados, a não percepção da utilidade do orçamento e do planejamento. Algumas atitudes poderiam ser tomadas como a exposição direta por meio de palestras e cursos aos trabalhadores do Centro Histórico de Cuiabá MT, demostrando como o sua prática tornaria mais efetivo o uso do dinheiro. Outra dificuldade é a de não saber como realizar um controle do orçamento, com 33,33% de repostas no perfil Endividado Ativo, questão também citada no perfil Sobreendividado. Havendo o interesse por meio da pessoa, essa é uma dificuldade que pode ser facilmente contornada. Existem muitos sites e livros que explicam e sugerem várias ferramentas de controle, cada um pode utilizar a que mais se identificar. % % CONSIDERAÇÕES FINAIS O planejamento financeiro pessoal é uma matéria atual e em plena ascendência, devido à instabilidade na economia e flutuação das taxas de juros e outras variáveis. Já que racionalmente os indivíduos não desejam perder dinheiro ou de se deparar com uma situação 22