ANDRAGOGIA: SABERES DOCENTES NA EDUCAÇÃO DE ADULTOS

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Transcrição:

79 ANDRAGOGIA: SABERES DOCENTES NA EDUCAÇÃO DE ADULTOS ANDRAGGY: TEACHING KNOWLEDGE IN ADULT EDUCATION José Ricardo Carvalho Docente. Formado em Filosofia, Teologia, Pedagogia e Direito. Especialista em Metodologia do Ensino Fundamental e Médio, em Direito e Processo Constitucionais, em Docência do Ensino Superior e em Docência em Filosofia e Teologia. RESUMO Este artigo tem como objetivo apresentar a teoria andragógica e sua importância na prática docente universitária. A andragogia é a arte e a ciência de orientar adultos a aprender. Diferentemente da pedagogia, que é a arte e a ciência de ensinar crianças, a teoria andragógica está voltada para a aprendizagem dos adultos, percebendo e valorizando as peculiaridades desse processo na fase adulta. Conhecer o conceito, os princípios e a metodologia andragógica no espaço acadêmico é de fundamental importância para o incremento na prática docente universitária. Para a realização desse trabalho, utilizou-se a pesquisa bibliografia feita por meio da leitura e seleção de material bibliográfico, consultas a sites especializados, bem como a analise e síntese dos textos consultados de autores como Knowles (2011), Paulo Freire (1997), Lindeman (1926), Deaquino (2007), Litto (2009) dentre outros. A apropriação dos conhecimentos da teoria Andragógica possibilita ao professor universitário ter uma prática docente adaptada às necessidades de aprendizagem dos estudantes adultos, de acordo com suas experiências, aptidões e interesses. Palavras-chave: Andragogia. Prática docente. Universidade. ABSTRACT This article aims to present the andragógica theory and its importance in university teaching practice. Andragogy is the art and science of orienting adults to learning. Unlike pedagogy, which is the art and science of teaching children, the andragogic theory focuses on the learning of adults, perceiving and valuing the peculiarities of this process in adulthood. Knowing the concept, principles and methodology andragogy in the academic space is of fundamental importance for the increase in university teaching practice. In order to carry out this work, a bibliographical research was done by reading and selecting bibliographical material, consulting specialized websites, as well as analyzing and synthesizing texts consulted by authors such as Knowles (2011), Paulo Freire (1997), Lindeman (1926), Deaquino (2007), Litto (2009) among others. The appropriation of the knowledge of the Andragógica theory allows the university professor to have a teaching practice adapted to the learning needs of the adult students, according to their experiences, aptitudes and interests. Keywords: Andragogy. Teaching practice. University.

80 a r t i g o s 1 introdução A reflexão sobre a formação dos professores em nível acadêmico é uma tarefa urgente, exigente e necessária, posto que, é a partir da efetivação da formação inicial e continuada que se pode realmente vislumbrar um cenário de maior ajustes e concretização da práxis docente universitária em sua totalidade didática e epistemológica, pois o processo de constituição da identidade profissional é de desenvolvimento permanente, coletivo e individual, no confronto do velho com o novo, frente aos desafios de cada momento sociohistórico. (ROMANOWSKI, 2007, p.16). O Ensino Superior voltado às licenciaturas ou bacharelados, isto é, à formação e capacitação de profissionais da educação básica e universitária se apresenta como um processo sempre inacabado, no qual tempos, disciplinas, conteúdos e didáticas estão fundamentados, geralmente, em uma perspectiva tradicionalista, conteudista e enciclopedista. Os paradigmas educacionais mudaram e passaram por transformações nos últimos séculos. O surgimento de novas teorias da educação e das novas tecnologias da informação e comunicação, a ampliação dos debates nos centros universitários, o financiamento das pesquisas em todas as áreas, o aprimoramentos dos estudos nos diversos campos do conhecimento trouxeram uma verdadeira revolução no que se refere ao ensino e à aprendizagem. Diante das mudanças na vida social e na educação, provocadas pelo desenvolvimento da ciência, as universidades ainda não se alertaram para a necessidade urgente de oferecer processos contínuos de qualificação de professores para atuar na docência da educação superior (JUNGES; BEHRENS, 2015). Nesse sentido, os professores tentos e dedicados ao ofício permanente através de uma observação critica, a ação e a avaliação, a ética e política, singular e compartilhada, produz uma ação educativa para que as gerações transcendam a si mesmas, desafiando-se e reconstruindo-se. (ROMANOWSKI, 2007). A teoria andragógica traz novas perspectivas sobre a aprendizagem, lança desafios ao professor universitário e se apresenta como uma ciência que tem como objetivo facilitar a aprendizagem dos adultos e possibilitar que o professor promova a [...] educabilidade, ou seja, favorecer para que os sujeitos, eles próprios, tornem-se construtores e transformadores de sua individualidade, da subjetividade e da própria sociedade (ROMANOWSKI, 2007, p.115). 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 A metodologia A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem, porém, pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta (FONSECA, 2002, p. 32). A metodologia utilizada se enquadra na revisão bibliográfica ou de literatura que é o processo de busca, análise e descrição de um corpo do conhecimento em busca de resposta a uma pergunta específica 1. Literatura é todo o material relevante que é escrito sobre um determinado tema em livros, artigos de periódicos, artigos de jornais, registros históricos, relatórios governamentais, teses e dissertações e outros tipos 2. A revisão narrativa é um tipo de revisão de literatura. Nesse tipo de revisão não utiliza critérios explícitos e sistemáticos para a busca e análise crítica da literatura. A busca pelos 1 Cf. INSTITUTO DE PSICOLOGIA - USP BIBLIOTE- CA DANTE MOREIRA LEITE. Disponível em http:// www.ip.usp.br/portal/images/biblioteca/revisao.pdf Acesso em 20 de janeiro de 2017. 2 Ibid.

81 estudos não precisa esgotar as fontes de informações. Não aplica estratégias de busca sofisticadas e exaustivas. A seleção dos estudos e a interpretação das informações podem estar sujeitas à subjetividade dos autores. É adequada para a fundamentação teórica de artigos, dissertações, teses, trabalhos de conclusão de cursos 3. A revisão da literatura demonstra que o pesquisador está atualizado nas últimas discussões no campo de conhecimento em investigação. Além de artigos em periódicos nacionais e internacionais e livros já publicados, as monografias, dissertações e teses constituem excelentes fontes de consulta. Revisão de literatura difere-se de uma coletânea de resumos ou uma colcha de retalhos de citações. (PRODANOV, 2013, p.131). Após a revisão de literatura, foi realizada a leitura do material, fichamentos e resumos, bem como a realização de análises e sínteses dos textos estudados e por fim a redação final. 2.2 Discussões Por muito tempo, a práxis acadêmica utilizou conhecimentos, princípios e métodos pedagógicos na educação de adultos. Segundo a etimologia da palavra pedagogia, esta estaria voltada para o ensino de crianças e jovens. Essa concepção vigora ainda no século XXI. A pedagogia, portanto, seria a ciência da educação que estuda as práticas, métodos e princípios da educação. Esse conceito engloba o processo educativo, prática exclusivamente humana de construção e transmissão do conhecimento dentro de um contexto sociocultural. Seguindo a etimologia da palavra pedagogia, parece que a utilização da mesma estaria inadequada ao campo educacional em nível superior. Mais adequado seria que no universo acadêmico fosse utilizada a teoria da andragogia. Mas o que seria a andragogia? O termo Andragogia do grego andros adulto e agogus guiar, conduzir foi utilizado pela primeira vez em 1833 pelo professor alemão Alexander Kapp (LITTO, 2009) e se opõe 3 Ibid. à pedagogia, que significa literalmente a arte e ciência de ensinar crianças derivada da palavra grega paid, que significa criança, e agogus, líder de (KNOWLES, 2011, p.49). O ensinar não é mais só transmitir conhecimento e não envolve apenas o saber do professor, vai muito além. Hoje ensinar exigem inúmeras outras habilidades e competências pessoais e profissionais, tais como a empatia, a escuta ativa, a interação com a comunidade acadêmica (gestor-professor-aluno), a capacidade de trabalhar em equipe, de estabelecer parcerias, o diálogo, a humildade, a paciência, a generosidade, a justiça, o equilíbrio emocional e o domínio de si. Da mesma forma, a aprendizagem que antes era vista como assimilação, memorização mecânica dos conteúdos, tem agora um componente ativo, no qual o sujeito é protagonista de sua própria aprendizagem, através da mediação e facilitação exercida pelo professor em uma dialética epistemológica. Em suma, o educando é o próprio artífice de sua aprendizagem. Além dessa conotação subjetiva da aprendizagem não se pode esquecer de que ela é mediada pelo professor e sendo mediação sua efetivação se dá em parte pela ação do docente, pois se sabe que quem aprende é o estudante. Mas a aprendizagem, também, está vinculada ao modo como é apresentada, aplicada ao aluno e planejada pelo professor. Ou seja, o docente tem uma grande responsabilidade não só pelo ensino, mas também pela aprendizagem enquanto mediador e facilitador da mesma. O ensino como prática e ação docente compete ao professor. A aprendizagem compete ao estudante, pois é ele quem aprende, mas o docente tem corresponsabilidade, pois é ele que media, instrumentaliza, facilita por meio de métodos, estratégias e recursos à aprendizagem dos seus alunos (ROMANOWSKI, 2007). Ser professor, em qualquer nível, é uma responsabilidade imensa. Mas ser professor universitário traz uma carga de responsabilidade ainda maior, pois a ele compete realizar de forma mais fácil e mais prazerosa, a educa-

82 a r t i g o s ção de adultos. Os professores universitários geralmente atendem um público adulto. Mesmo que, nos dias atuais, cada vez mais adolescentes ingressem na universidade, ainda assim, o maior número de estudantes em nível superior é de pessoas adultas. De acordo com dados do IBGE, do total de alunos na faixa etária entre 18 e 24 anos, isto é, uma parcela de 32,9% frequentava o Ensino Superior em 2004. Já em 2014, dos estudantes dessa mesma faixa, 58,5% estavam na faculdade, um salto de mais de 30 pontos porcentuais (BRASIL, 2015). Ensinar é uma competência do professor. Por isso, faz-se necessário que tenha já em sua formação acadêmica os conceitos, os princípios, as metodologias e os recursos mais adequados ao seu ensino, visando sempre a facilitação da aprendizagem dos acadêmicos. Dentro dessa perspectiva de ensino e aprendizagem voltados para a formação de estudantes adultos, a andragogia se apresenta como uma ciência ou arte de facilitar a aprendizagem de adulto (KNOWLES, 1970). O ensino e a aprendizagem são processos que aparentemente estão separados pelo tempo, em um momento há o ensino e em outro há a aprendizagem. Mas observando com maior profundamente, percebe-se que os mesmos estão intimamente relacionados e interligados como que em um só ato, pois ao ensinar, o professor também aprende, e ao aprender, o aluno também ensina (FREIRE, 1997). A aprendizagem envolve mudança e se concretiza com a aquisição de hábitos, conhecimento e atitudes. Essas mudanças permitem que os indivíduos façam ajustes pessoais e sociais. Já que mudança é um fator inerente ao conceito de aprendizagem, qualquer mudança de comportamento implica que está havendo ou houve a aprendizagem. O que ocorre durante o processo de mudança é conhecida como processo de aprendizagem (CROW E CROW, 1963 apud KNOWLES, 2011). Diante dos desafios da educação superior na atualidade, com democratização do saber pela Educação à Distância, a inserção e utilização das novas tecnologias da informação e da comunicação no ambiente educacional, com a disseminação da internet em todos os âmbitos. Com o ingresso de pessoas mais jovens nas universidades, com o crescente número de pessoas adultas desejando cursar o nível superior, com as mudanças nos paradigmas do processo de ensino e aprendizagem, com as novas descobertas do universo da neurociência, etc, o professor universitário se encontra diante de uma realidade desafiadora, dinâmica, exigente, na qual antigas posturas, didáticas e metodologias, não são mais capazes de satisfazer ao novo estudante que agora é mais crítico, informado, questionador, pesquisador, leitor, consciente de seu papel e de seus direitos como cidadão. Tem-se uma geração nova para novos modos de conceber o nível superior, suas práticas e currículo, suas posturas, sua missão e estratégias. Esses desafios possibilitam uma maior reflexão sobre a formação dos docentes em nível superior e o papel da universidade na sociedade. A partir do século XX, surgem as primeiras investigações e contribuições sobre as características da aprendizagem de adultos. Contudo, a Andragogia ainda não terá recebido a atenção devida. Lindeman (1926) identificou cinco pressupostos básicos para a educação de adultos: 1. Adultos são motivados a aprender; 2. A orientação de aprendizagem do adulto está centrada na vida; 3. A experiência é a mais rica fonte para o adulto aprender; 4. Adultos têm uma profunda necessidade de serem autodirigidos; 5. As diferenças individuais entre pessoas crescem com a idade. Nessa perspectiva, Knowles, Holton & Swanson (1998) propõem seis princípios fundamentais da aprendizagem de adultos, de acordo com a teoria andragógica: 1. A necessidade do aprendiz de saber o porquê, o quê e o como;

83 2. O autoconceito do aprendiz: autonomia e autodirigido; 3. A experiência anterior do aprendiz: recursos e modelos mentais; 4. A prontidão para aprender: relacionado à vida e às tarefas de desenvolvimento; 5. Orientação para a aprendizagem: centrada no problema e contextualizada; 6. Motivação para aprender: valor intrínseco e recompensa pessoal. Para que esses princípios sejam efetivados no processo de ensino e aprendizagem, faz-se necessário que alguns requisitos se adequem à condição do adulto. Essas condições seriam as seguintes: 1. O clima da aprendizagem: a decoração, os equipamentos, a acústica e a iluminação adequados; 2. O diagnóstico de necessidades: perceber as reais necessidades do aprendiz adulto; 3. A formulação de programas, objetivos e conteúdos que irão satisfazer as necessidades dos educandos; 4. O processo de planejamento do aprender envolve os estudantes e o professor serve de guia do processo e na pesquisa do conteúdo; 5. A condução da experiência do ensino- -aprendizagem: relação de responsabilidade entre professor e aprendiz. 6. A avaliação da aprendizagem como um autorretrato do aprendiz. Nesse sentido, a avaliação deixa de ser um simples mecanismo somativo e passa a ter conotação formativa e autorreflexiva. (KNOWLES, 1980). De acordo com a teoria da andragogia, os adultos e as crianças aprendem de forma bem distinta um do outro. Essa distinção deve levar em consideração o modelo pedagógico e andragógico de aprendizagem, pois ao ensinar crianças, devem-se utilizar os conteúdos, as metodologias e os meios (recursos) em uma perspectiva didático-pedagógica de acordo com a faixa etária e a capacidade cognitiva dos estudantes. Por isso, não basta saber o que se vai aprender, mas é necessário avaliar se vale a pena aprender ou não o conteúdo, de acordo com a necessidade prática que o individuo tem em adquiri-lo. No modelo andragógico, o aprendiz é sujeito ativo do seu próprio aprendizado, pois é um ser consciente e reflexivo, que possui autonomia cognitiva, afetiva e volitiva, com motivação orientada para aquisição de conhecimentos voltados especificamente para aperfeiçoamento pessoal e o incremento laboral, aprendendo conteúdos que lhe sejam mais significantes, interessantes e relevantes. Na andragogia, o mais importante é que o estudante tenha uma aprendizagem ativa e significativa, seja por meio dos aspectos epistemológicos, interpessoais, afetivos, motivacionais e instrumentais, didáticos, avaliativos e metodológicos. O que se pode perceber do estudo dos princípios e dos requisitos relativos à aprendizagem dos adultos (andragogia) é que ela segue conceitos, metodologias e estratégias bem distintas daquela voltada para o ensino de crianças (pedagogia). Assim sendo, cabe fazer um breve paralelo entre o modelo pedagógico e o andragógico no tocante à relação professor e aluno, as razões da aprendizagem, a experiência do aluno e a orientação da aprendizagem. Na visão andragógica, a experiência é rica fonte de aprendizagem, através da discussão e da solução de problemas em grupo. Nesse sentido, deve-se promover sua motivação, seus interesses, contextualizando os conteúdos em uma perspectiva de resolução de problemas factuais ou reais. A experiência se torna fator primordial e decisivo para a aquisição de novos conhecimentos, pois é a partir delas que se constrói todo um sistema de relações e inter-relações entre prática-teoria-reflexão. [...] a fonte de maior valor na educação de adulto é a experiência do aprendiz. Se educação é vida, vida é educação. Aprendizagem consiste na substituição da experiência e conhecimento da pessoa. A psicologia nos ensina que, ainda que aprendemos o que fazemos, a genuína educação manterá o fazer e o pensar jun-

84 a r t i g o s tos[...] A experiência é o livro vivo do aprendiz adulto. (DEAQUINO, 2007, p.10). No modelo andragógico, o conteúdo não é o centro, tendo um viés muito mais prática do que teórico e mais adequado à resolução dos problemas que surgem no dia-a-dia do aprendiz adulto. Isto não quer dizer que não há a necessidade do conteúdo. Mas este assume papel acessório e não central na aprendizagem que deve ser baseada em problemas, exigindo ampla gama de conhecimentos para se chegar à solução (CAVALCANTI, 1999). [...] a educação de adulto será através de situações e não de disciplinas. Nosso sistema acadêmico cresce em ordem inversa: disciplinas e professores constituem o centro educacional. Na educação convencional é exigido do estudante ajustar-se ao currículo estabelecido; na educação de adulto o currículo é construído em função da necessidade do estudante. Todo adulto se vê envolvido com situações específicas de trabalho, de lazer, de família, da comunidade, etc. - situações essas que exigem ajustamentos. O adulto começa nesse ponto. As matérias (disciplinas) só devem ser introduzidas quando necessárias. Textos e professores têm um papel secundário nesse tipo de educação; eles devem dar a máxima importância ao aprendiz. (LINDMAN, 1926, p. 8-9). Nesse sentido, a aprendizagem se reveste de uma nova roupagem. Ela deixa de ser diretiva e passa a ser autônoma, dinâmica, relacional, contextualizada, significativa, movida por interesses e necessidades do próprio educando e não do currículo programático, geralmente estanque, mecânico e, muitas vezes, descontextualizado e não significativo. A aprendizagem significativa é aquela em que ideias interagem de maneira substantiva e não-arbitrária com o que o aprendiz traz consigo. Substantiva significa não-literal e não-arbitrária. Isso quer dizer que a interação não é com qualquer ideia anterior, mas sim com um conhecimento especifico e relevante que já existe na mente do sujeito que aprende. (MOREIRA, 2010) É importante que o profissional da educação perceba a aprendizagem como uma atividade contínua, que se estende por toda a vida, desde o nascimento até o seu término. E que a análise dos processos de aprendizagem nos diferentes períodos da nossa vida mostra que aprendizagem como construção de conhecimentos diversos acontece desde a infância até a idade adulta. Desconhecer ou não aplicar os conhecimentos, princípios e métodos andragógicos no ensino de pessoas adultas seria o mesmo que não aplicar os conhecimentos, princípios e metodologias pedagógicas no ensino de crianças. Isto é, seria uma verdadeira catástrofe educativa, uma verdadeira inadequação cognitiva. Compreender a teoria andragógica, ou seja, compreender como a aprendizagem acontece no aprendiz adulto é fator primordial na construção de uma prática docente acadêmica verdadeiramente em sintonia com o que se espera do ensino universitário em pleno século XXI. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A andragogia é uma ciência indispensável ao professor universitário. Pois as exigências atuais da universidade exigem docentes não só com competências, mas com habilidades voltadas para o ensino de pessoas adultas. Ensinar não é tarefa fácil. Exige competências e habilidades específicas, pois há excelentes professores que possuem domínio dos conhecimentos da disciplina que ministra, mas são carentes de princípios e metodologias próprias para efetivar o processo de ensino e aprendizagem de pessoas adultas. Na educação de adultos, o professor não é um transmissor de conhecimentos, é, antes de tudo, um facilitador, um mediador, um motivador da aprendizagem dos discentes. E, por sua vez, os estudantes não são uma folha em branco, seres passivos, meros receptores de conteúdos. Eles são auto diretivos, independentes, com autonomia cognitiva, com experiências anteriores e com vivencias significativas que colaboram na aquisição de novos conhecimentos, pois, para os educandos adultos, o conhecimento para chamar a atenção deve ser contextualizado, significativo e o mais possível aplicável na vida pessoal e profissional.

85 A avaliação deve ter como foco a resolução de problemas, pois é isso que se faz na vida, no dia-a-dia, e é nessa perspectiva que ocorre verdadeiramente a aprendizagem. Aprender a ser, aprender a fazer, aprender a conviver são, sem dúvidas, o alicerce da verdadeira educação do século XXI. REFERÊNCIAS BRASIL, Portal. Educação. Ensino Superior. Em 2014, 58,5% dos estudantes de 18 e 24 anos estavam na faculdade. [S.l.]: [2015?]. Disponível em: <http:// www.brasil.gov.br/educacao/2015/12/numero-deestudantes-universitarios-cresce-25-em-10-anos>. Acesso em: 02 fev. 2017. CAVALCANTI, R. A. Andragogia: a aprendizagem nos adultos. Revista de Clínica Cirúrgica da Paraíba, [S.l.], n. 6, ano 4, jul. 1999. DEAQUINO, T. E. Como aprender: andragogia e as habilidades de aprendizagem. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa. 9 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1997. JUNGES, K S.; BEHRENS, M. A. Prática docente no Ensino Superior: a formação pedagógica como mobilizadora de mudança. Perspectiva, Florianópolis, v. 33, n. 1, 285-317, jan./abr. 2015. KNOWLES, M. S.; HOLTON, E. F.; SWANSON, R. A. The adult learner. Houston: Gulf, 1998. KNOWLES. M. S.; HOLTON III, E. F.; SWANSON. R. A. Aprendizagem de resultados: uma abordagem prática para aumentar a efetividade da educação corporativa. Rio de Janeiro: Campus, 2011. LINDMAN, E. C. The meaning of adult education. New Oork: 1926. LITTO, F. M.; FORMIGA, M. Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson, 2009. MOREIRA, M. A. O que é afinal aprendizagem significativa? [S.l.]: UFRGS; Campus, 2010. ROMANOWSKI, J. P. Formação e profissionalização docente. 3 ed..curitiba: Ibpex, 2007.