PROJETO RODA DE CORDÉIS Justificativa Os alunos do Centro Cultural Capoeira Cidadã buscam a Capoeira e as outras atividade da ONG por já terem uma forte afinidade com o ritmo, a música e a rima presentes na própria capoeira. Tais características também estão presentes na literatura de cordel, que conta, de uma maneira ritmada e rimada, histórias, vivências e conhecimentos que remontam as tradições orais do nosso povo. Considerando a harmonia desses fatores e tendo identificado que a realidade da maioria das crianças e adolescentes beneficiários do projeto (moradores da Cidade de Deus, Pechincha e Freguesia) é de profunda exclusão social e restrito acesso às opções de cultura, especialmente as voltadas para a leitura, criamos o projeto RODA DE CORDÉIS. Objetivos A proposta principal do projeto foi despertar e desenvolver o gosto pela leitura promovendo a literatura de cordel e fomentar o protagonismo social dos alunos através do processo da escrita e da autoria. Os objetivos específicos foram reconhecer a diversidade literária do Brasil; promover e divulgar a Capoeira e a Cultura Popular; e ensinar todas as etapas de produção da literatura de cordel, reconhecendo a sua composição de rima, ritmo, estrutura e demais características. O resultado esperado com o projeto era de promover a leitura e a criação literária nas 80 crianças matriculadas no Centro Cultural Capoeira Cidadã e aumentar o acervo de obras relacionadas a cultura popular da Biblioteca Mestre Peixinho, dentro do Centro Cultural.
Metodologia (em forma de relato de experência): A proposta do projeto foi apresentada aos alunos e eles demonstraram muita curiosidade e interesse em conhecer o Cordel. A rima e o ritmo foram os principais fatores de motivação por parte das crianças. O projeto foi executado em seis meses (segundo semestre de 2013) e aconteceu durante as atividades das oficinas de artesanato, aulas de apoio educacional e vídeo-aulas do Centro Cultural Capoeira Cidadã, sob a coordenação do Mestre Curumim. Primeiramente, nós entramos em contato com o cordelista Victor Alvim Garcia (Lobisomen), um capoeirista que se dedica a escrever folhetos de literatura de cordel. Adiquirimos com ele alguns exemplares de cordel e fizemos com os alunos algumas Rodas de Leitura de Cordéis. Eles tiveram o primeiro contato com os cordéis e nessa ocasião discutimos sobre o conteúdo das histórias e as características desse gênero literário. Em seguida, orientamos os alunos numa pesquisa na internet sobre Cordel. Eles conheceram um pouco da sua história e aprenderam mais sobre as rimas e as características dos folhetos. Eles assistiram a um vídeo de animação de cordéis através do youtube com a professora de aulas de apoio educacional e vídeo-aulas. A etapa seguinte foi a escolha dos temas por cada aluno. Eles definiram os títulos e passaram a criar histórias em prosa, sem necessariamente conter rimas ou estrofes. O objetivo era dar a base do roteiro da história para depois trabalhar os recursos de rima e estruturação. Essa etapa foi a mais demorada e para a nossa surpresa, os alunos com mais dificuldades na Escola foram os que apresentaram o melhor desenvolvimento durante o projeto. Durante essa fase de produção dos cordéis, os alunos faziam as atividades quase sempre em dupla. O processo de produção era intercalado com momentos de conversa sobre as histórias criadas. Os alunos ouviam o cordel do colega, davam sugestões e tiravam ideias para as suas próprias produções. Em seguida, com o texto dos cordéis praticamente prontos pela maioria dos alunos, foi a hora de apresentar a xilogravura (ilustrações populares obtidas por gravuras talhadas em
madeira). O professor de Artesanato falou sobre a sua origem e as técnicas de criação, para que em seguida eles confeccionassem as suas próprias ilustrações. Mas, devido ao fato de a madeira ser uma materia-prima mais cara e mais dura para o entalhe pelos alunos, foi preciso encontrar um tipo de material que pemitisse ser talhado com mais facilidade. Foi então que o isopor foi utilizado como alternativa para a criação das ilustrações. O professor mostrou alguns exemplos no isopor, apresentou a técnica e a cada aluno criou sua ilustração através da isoporgravura (mesmas técnicas da xilogravuras, mas aplicadas ao isopor). Com os cordéis criados, precisávamos digitar e reproduzir. Levamos os trabalhos dos alunos para a Merck, empresa patrocinadora do Capoeira Cidadã, que fez a reprodução de 30 cópias de cada cordel. O trabalho desenvolvido pelos 60 alunos ao longo de 6 meses foi preparado para ser apresentado no XIX Festival de Capoeira, evento de 4 dias promovido anualmente pelo Mestre Curumim dentro do Centro Cultural e da Universidade Estácio de Sá. Fizemos alguns dias de ensaio, com uma Roda de Leitura de Cordéis criados pelos próprios alunos e produzimos uma peça teatral com base na Literatura de Cordel. A programação do evento, além de contar com a exposição dos cordéis pendurados em barbantes, contou com um recital no momento da abertura e a peça teatral Cordéis da Cultura, finalizando o evento. Avaliação Os resultados alcançados com o projeto extrapolaram os objetivos iniciais do projeto. Ele promoveu uma aproximação da literatura de cordel ao cotidiano dos alunos envolvidos no projeto, mas também dos seus responsáveis e da comunidade como um todo. Para os alunos envolvidos diretamente no projeto, a experiência de criação do cordel promoveu muito mais do que o gosto pela leitura e conhecimento sobre essa gereno literário. Gerou também um reconhecimento de que eles também podem produzir cultura. O impacto social do projeto foi tanto qualitativo quanto quantitativo. Ao mesmo tempo que promoveu a cultura popular e a preservação do patrimônio cultural imaterial, ele teve um
alcance significativo no número de pessoas que tiveram contato com a literatura de cordel. Os alunos participantes diretamente do projeto foram 60. Durante o os quatro dias do XIX Festival de Capoeira, tivemos um total de 300 pessoas de dentro e de fora comunidade, inclusive com convidados internacionais. Com o número de exemplares impressos, o projeto deve ter feito chegar o Cordel na mão de, pelo menos, 600 pessoas na comunidade, através dos alunos (cada um recebeu 10 exemplares), e mais 1000 pessoas através da distribuição pelo próprio Centro Cultural Capoeira Cidadã nos eventos externos que realizou. Ou seja, no total, o projeto Roda de Cordéis alcançou aproximadamente 2.000 pessoas. Além disso, a disponibilização dos cordéis na Biblioteca Mestre Peixinho gera um acesso constante a todos os beneficiários e visitantes do Centro Cultural. Após a finalização do projeto, o Centro Cultural Capoeira Cidadã foi convidado a participar do evento Conexão Afro, realizado no Museu do Negro. Na ocasião, os nossos alunos fizeram uma reapresentação da peça teatral Cordéis da Cultura. Haviam aproximadamente 80 pessoas no evento. Sobre o Centro Cultural Capoeira Cidadã O CENTRO CULTURAL CAPOEIRA CIDADÃ, sede e principal projeto da Associação Civil Capoeira Cidadã, tem como missão incluir socialmente crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, através de capacitações nas diversas áreas relacionadas à Capoeira, sempre preservando e divulgando os seus fundamentos. A Capoeira Cidadã teve a primeira aprovação na Lei Rouanet no Ministério da Cultura em 2006, e oferece gratuitamente e de forma regular aulas de Capoeira e atividades educacionais e culturais para alunos de escolas públicas de 04 a 17 anos. Os alunos frequentam o projeto no contra turno escolar, três vezes por semana, duas horas por dia, sendo uma hora de aula de capoeira e outra de atividades educacionais e culturais, dentre elas Oficinas de Artesanato, Video-aulas, Rodas de Leitura de
obras da cultura popular, aulas de informática e apoio educacional. O CENTRO CULTURAL CAPOEIRA CIDADÃ já é reconhecido na/pela comunidade, contando, desde 2007, com a constante parceria do Programa de Qualidade de Vida da MERCK SA, situado no mesmo bairro. Com o apoio da Secretaria Municipal de Educação e das diretoras das escolas da região conseguimos captar novos alunos e manter as atividades do projeto sempre com um bom número de beneficiários. Além disso, o projeto recebe o patrocínio da Secretaria Estadual de Cultura do Rio de Janeiro, tornando-se um Ponto de Cultura. A Associação Civil Capoeira Cidadã tem como meta fundamental adquirir auto-sustentabilidade através de diversos outros editais dos quais participa e continuará trabalhando para dar manutenção ao projeto Centro Cultural Capoeira Cidadã, que representa a essência da instituição. Consequentemente, o projeto RODA DE CORDÉIS continuará sendo realizado anualmente através das atividades regulares da oficina de artesanato e das aulas de apoio educacional. Dos outros projetos já realizados no Centro Cultural podemos citar Retalhos do Brasil, difundindo manifestações culturais brasileiras como a Capoeira, o Maculelê, o Jongo, o Maracatu e o Samba de Roda; CineMais Cultura, contribuindo para a formação de platéias para as obras audiovisuais brasileiras; Roda de Leitura, incluindo, de forma lúdica, mais cultura na vida de crianças e adolescentes; e Quero Ver Pegar, divulgando a cultura imaterial brasileira como a Capoeira, o Jongo, o Samba de Roda, e difundindo o próprio conceito de Patrimônio Imaterial. Para mais informações sobre os projetos em andamento: www.capoeiracidada.org.br