MERCADO DE SOFTWARE PARA PECUÁRIA LEITEIRA EM MINAS GERAIS: CARACTERIZAÇÃO A PARTIR DOS TIPOS IDEAIS PROPOSTOS PELA TEORIA ECONÔMICA NEOCLÁSSICA Gustavo Quiroga Souki souki@ufla.br Médico Veterinário, Especialista em Informática na Agropecuária, Mestre em Administração Rural e Doutorando em Administração pela Universidade Federal de Lavras Rua Pedro Souza Freire, 140/103 Jardim das Acácias Lavras MG 37200-000 (35) 822-1735 Ivanir Maia da Silva maia@ufla.br Engenheiro Agrônomo e Mestre em Administração Rural pela Universidade Federal de Lavras Juliana Mafra Salgado jsalgado@navinet.com.br Administradora, Mestranda em Administração pela Universidade Federal de Lavras Rua Comendador José Bianchini, 21/102 Centro Lavras MG 37200-000 (35) 821-2435 Resumo O elevado nível de competitividade imposto pela globalização da economia tem exigido das organizações uma busca constante por inovações tecnológicas que favoreçam o controle de suas atividades e a velocidade e qualidade das decisões. Este contexto de rápidas transformações tem tornado evidente a necessidade de utilização da informática para auxiliar na gestão das organizações, particularmente as que atuam no agronegócio. Em função da crescente demanda e da grande importância da informática no setor rural, diversos softwares para gerenciamento da pecuária leiteira surgiram no mercado nos últimos anos. No entanto, poucos são os estudos referentes a tal tipo de mercado. A maior parte dos estudos já realizados trata do mercado da informática aplicado à agropecuária de forma ampla, englobando desde softwares para colheita de café, passando por gerenciamento de granjas de suínos e aves, controle de laticínios e frigoríficos até os destinados ao gerenciamento das explorações leiteiras. Tornam-se necessários, portanto, estudos que tratem de mercados de software específicos, como por exemplo o mercado de software para gerenciamento da atividade leiteira. Desta forma buscou-se, no presente trabalho, verificar as características deste mercado, classificando-o de acordo com os tipos ideais de estrutura de mercado propostos pela Teoria Econômica Neoclássica. Abstract The high level of competitiveness imposed by the globalization of the economy it has been demanding a constant search from the organizations for technological innovations that can increase the control of the activities, the speed and quality of the decisions. This context of fast transformations has shown the necessity of the use of the computers to aid the administration of the organizations, particularly the ones that
act in the agribusiness. In function of the crescent it disputes and of the great importance of the computer science in the rural sector, several softwares for dairy cattle appeared at the market in the last years. However, few are the studies the such market type. It is necessary, studies that treat of specific software markets, as for instance the software market for administration for dairy explorations. The purpose of thisarticle is to verify the characteristics of this market, classifying it in agreement with the ideal types of market structure proposed by the Neoclassical Economical Theory. Palavras Chaves Informática, software, pecuária leiteira, mercado, teoria neoclássica 1. INTRODUÇÃO O elevado nível de competitividade imposto pela globalização da economia têm exigido das organizações uma busca constante por inovações tecnológicas que favoreçam a velocidade e a qualidade das decisões. Este contexto de rápidas mutações têm mostrado uma crescente necessidade da utilização de ferramentas informatizadas de auxílio a gestão das organizações, particularmente as que atuam no agronegócio. Em função da crescente demanda e da grande importância da informática no setor rural, diversos softwares têm surgido no mercado nos últimos anos, conforme levantamento feito pela Revista Agrosoft (1997). Tal estudo mostra que, entre 1995 e 1997, o número de softwares específicos para o gerenciamento da pecuária, cresceu 56,52%. No entanto, tal estudo não distingue quantos são destinados exclusivamente à pecuária leiteira. A Tabela 1 mostra os dados obtidos neste levantamento. Tabela 1 Oferta de softwares para controle da pecuária. Fonte: Revista Agrosoft (1997). Para que as empresas que desenvolvem sistemas de computador para o setor rural, particularmente para as explorações leiteiras, obtenham sucesso em seu empreendimento, contribuindo para o desenvolvimento sócio-econômico do país, a observação de uma série de premissas mercadológicas torna-se necessária. No entanto, nenhum estudo contempla especificamente a classificação do mercado de software para gerenciamento da pecuária leiteira, baseado nos tipos ideais propostos pela Teoria Econômica Neoclássica. Neste contexto, o presente trabalho se propôs a fazer uma revisão sobre os principais sistemas de mercado, de acordo com os tipos ideais propostos por tal Teoria, e classificar o mercado de software para pecuária leiteira baseado nos referidos tipos.
2. PRINCIPAIS SISTEMAS DE MERCADOS CONGRESSO E MOSTRA DE AGROINFORMÁTICA As estruturas de mercado são modelos que captam aspectos inerentes de como os mercados estão organizados. Cada estrutura de mercado destaca alguns aspectos essenciais da interação da oferta e da demanda, baseando-se em algumas hipóteses e no realce de características observadas em mercados existentes, tais como o tamanho das empresas, a diferenciação dos produtos, a transparência do mercado, os objetivos dos empresários, o acesso de novas empresas, entre outros (Montoro Filho et al., 1998). A oferta e a demanda interagem de modo a apresentar resultados muito distintos em cada mercado, pois cada um tem características específicas de produtos, condições tecnológicas, acesso, informação, distribuição, regulamentação, participantes, localização no espaço e no tempo que o torna único. Entretanto existem características comuns que permitem classificar as diferentes estruturas de mercado. De acordo com Ramos (1983:55), os mercados são usualmente classificados nas seguintes estruturas clássicas: Concorrência perfeita Monopólio Oligopólio Concorrência monopolística Sabe-se que, no mundo real, os mercados não são necessariamente estes tipos ideais, mas freqüentemente, uma mistura de duas ou mais destas quatro formas. 2.1 Concorrência Perfeita Para um mercado do tipo concorrência perfeita, as hipóteses básicas são de que existe um grande número de compradores e vendedores; os produtos são homogêneos e substitutos perfeitos entre si; não existem relações interpessoais entre compradores e vendedores; existe completa informação e conhecimento sobre o preço do produto; a entrada e saída de empresas no mercado são livres; as compras e vendas individuais são incapazes de alterar o preço do produto (Montoro Filho et al., 1988). Tal conceito é compartilhado por Ramos (1983:56) que, acredita que para a ocorrência de uma concorrência perfeita, é necessária a homogeneidade dos produtos, tamanho pequeno de vendedor ou cada comprador em relação ao mercado de forma que não possam exercer influência sobre os preços, ausência de interferências artificiais, mobilidade de entrada e saídas de empresas e recursos da economia e conhecimento completo da economia. As mudanças nos preços devem ser livres e de acordo com as condições de mudanças na procura e na oferta, não devendo haver fixação de preços pelo governo ou por associações de produtores, sindicatos ou instituições privadas. A entrada das novas empresas no mercado e em qualquer indústria deve ser livre, e os recursos devem fluir livremente para os diversos usos. Os bens e serviços devem ser vendidos onde eles obtenham os mais altos preços possíveis e os recursos devem ser empregados onde eles recebam os melhores retornos.
2.2 Monopólio Segundo Reis (1991:10), o monopólio é caracterizado quando em um mercado, apenas uma única firma vende um produto para o qual não existem bons substitutos. Montoro Filho et al. (1998), destacam que o setor é a própria firma, onde existe um único produtor que realiza toda a produção. Dessa forma, a oferta da firma é a oferta do setor, e a demanda da firma é a demanda do setor. O monopolista vende um bem, ou conjunto de bens, de maneira a concorrer com outros bens perante a renda disponível do consumidor. Em muitas circunstâncias, é a estrutura mais apropriada para a produção de certos bens e serviços (Montoro Filho et al., 1998). O modelo do monopólio baseia-se nas hipóteses de que a firma produz um produto para o qual não existe substituto próximo, há concorrência entre os consumidores e a curva de receita média é a curva de demanda do mercado. 2.3 Oligopólio Reis (1991:11), afirma que oligopólio é um tipo de mercado no qual o número de vendedores é bastante pequeno, de forma que as atividades de um deles seja capaz de afetar as demais firmas e as atividades destas também possam afetá-la. Mudanças no nível de produção e no preço de uma firma afetarão as quantidades que outros vendedores podem vender e os preços que podem cobrar. Portanto, outras firmas reagirão, de algum modo, às mudanças de preços e produção por parte de uma das empresas que atuam num determinado setor. No caso do oligopólio torna-se fácil a formação de cartéis. Montoro Filho et al. (1998), Ramos (1983) e Reis (1991), destacam que existe uma grande interdependência econômica entre as organizações envolvidas no mesmo setor, ou seja, as decisões sobre preço e a produção são interdependentes. Isto porque a decisão de um vendedor influi no comportamento econômico dos outros vendedores. Assim, as mudanças na produção e no preço de uma empresa, afetam as quantidades que as outras empresas possam vender e os preços que elas possam cobrar. Os produtos destas empresas são diferenciados e muitos deles são bons substitutos entre si. Porém o produto de cada empresa tem características distintas, podendo ser elas reais ou superficiais. 2.4 Concorrência Monopolística Este tipo ideal caracteriza-se pelo fato de que as empresas produzem produtos diferenciados, o que faz com que tenham certo poder sobre a fixação de preços. No entanto, tais produtos são substitutos próximos, permitindo que o consumidor tenha alternativas para fugir dos preços altos. Neste contexto, o poder de fixação de preços torna-se limitado (Montoro Filho et al., 1998). Ramos (1993) considera que a competição monopolística é um tipo de mercado onde existem muitos vendedores de um determinado produto, porém cada um é
diferenciado pelas marcas do produto, qualidade, conveniências e serviços oferecidos aos consumidores. Quanto mais a empresa aumentar seu preço, maior será o número de consumidores que ela perderá, mas não será necessário reduzir muito o preço para ganhar todos os clientes, pois existem tantas empresas na competição que estas não sentirão a perda, mas para a que reduziu o preço o aumento da quantidade de clientes será substancial (Ramos 1993). Dorfman (1972), afirma que as empresas poderão cobrar preços diferentes, mas o volume de vendas de cada firma será muito sensível à relação entre o seu preço e os preços das empresas e marcas competitivas. Wonnacott et al. (1982), conceitua a concorrência monopolística como sendo a situação onde existem muitos vendedores de produtos diferenciados. Dorfman (1972), destaca que esse tipo de mercado é denominado concorrência monopolística porque cada firma monopoliza sua própria marca ou variante do produto. No caso de concorrência monopolística, Montoro Filho et al. (1988:168), afirmam que a diferenciação de produtos pode se dar por características físicas, pela embalagem ou pelo esquema de promoção de vendas. No entanto, a diferenciação de um produto não envolve necessariamente uma diferenciação física. Pode se dar pela localização da empresa, pelo tipo de marketing realizado, pela marca, pelas promoções efetuadas, entre outros meios. Wonnacott et al. (1982), afirma que um bom exemplo deste tipo de mercado é o de vendas no varejo. Quando as firmas existentes estiverem realizando um lucro acima do normal, novas firmas entrarão no mercado, resultando em eliminação de tais lucros. Com isso, a livre entrada tende a eliminar o lucro extraordinário das firmas na concorrência monopolística, a exceção da existência de alguma vantagem específica. Da mesma forma que o modelo de concorrência perfeita, prevalece a suposição de que não existem barreiras para a entrada de firmas, o que significa que, a longo prazo, haveria uma tendência para a existência de lucros normais, não surgindo lucros extraordinários (Montoro Filho et al., 1988:168). Wonnacott et al. (1982:531), destaca que como cada firma está vendendo um produto que apresenta diferenças dos demais, ela terá algum controle sobre o preço, pois se aumentar ligeiramente seu preço, não perderá todos os seus clientes. Ela não enfrenta, portanto, uma curva de demanda perfeitamente horizontal, como no caso da concorrência perfeita. 3. METODOLOGIA Foram selecionadas cinco empresas que desenvolvem softwares para gerenciamento de rebanhos leiteiros e que atuam no mercado de Minas Gerais, objetivando-se conhecer os diferenciais entre os produtos e serviços disponíveis. Para se efetuar a pesquisa, foi enviado um questionário estruturado via Internet e Correios. Além disso, foram consultados cinco clientes de cada uma das empresas consultadas, visando conhecer o seu perfil e os motivos pelos quais fizeram a aquisição do produto, além de cruzar informações prestadas pelas empresas com o ângulo de visão do usuário. A forma de consulta aos clientes se procedeu via telefone.
4. PERFIL DO MERCADO DE SOFTWARE PARA PECUÁRIA LEITEIRA Todos os softwares analisados nesta pesquisa se propõem, segundo seus fornecedores, a gerenciar tanto a pecuária de leite quanto a pecuária de corte, mostrando que não há uma especificidade dos produtos disponíveis no mercado para o controle exclusivo da atividade leiteira. Tal situação ocorre, provavelmente, devido às inúmeras semelhanças de necessidades de controle entre as duas atividades, a grande quantidade de criadores que desenvolvem atividades mistas (pecuária de leite e de corte) e a inexistência de um volume de demanda que justifique a elaboração de um programa específico e exclusivo para a atividade leiteira. Uma característica marcante no mercado de software para controle gerencial das atividades leiteiras estudados, se refere ao fato de que todas as empresas são produtoras e vendedoras de seus próprios produtos. Não existe, portanto, diferenciação entre os setores de produção e comercialização entre as empresas estudadas, que atuam neste mercado. Outro fato interessante observado é que as empresas monopolizam a marca dos seus próprios produtos. Os produtos e serviços são diferenciados, embora sejam substitutos próximos, o que permite que os consumidores optem por outros produtos em função de qualidade e/ou preço. No entanto, devido a sua diferenciação, as empresas têm certo poder sobre a fixação de preços. A curva de demanda é elástica, embora não seja perfeitamente elástica. Tal elasticidade é reforçada pelo fato de tais produtos não serem de primeira necessidade e possuírem alto valor agregado. Desta forma, as empresas poderão cobrar preços diferentes, mas o volume de vendas de cada firma será muito sensível à relação entre o seu preço e os preços das empresas e marcas concorrentes. Assim, quanto mais a empresa aumentar seu preço, maior será o número de consumidores que ela perderá, mas não será necessário reduzir muito o preço para ganhar parte dos clientes de outras empresas. No entanto, caso uma empresa consiga estabelecer um grande diferencial de seus produtos e serviços em relação aos seus concorrentes, ela conseguirá aumentar seu preço, sem sofrer grandes perdas em termos de vendas. Desta forma, as diferenças entre os produtos e serviços é que irão definir a variação máxima de preços permitida para uma determinada categoria de produtos no mercado. Não existem barreiras para a entrada de firmas, o que significa que, a longo prazo, existe uma tendência para a queda rápida dos preços e a ocorrência de lucros normais, não surgindo lucros extraordinários. Tal fato confirma os dados apresentados na revisão de literatura, que mostra um crescimento de 56,52% de empresas em tal mercado entre 1995 e 1997. A forte tendência de queda nos preços dos produtos favorece os consumidores, o que deve gerar um aumento substancial na demanda nos próximos anos. 5. CONCLUSÕES O ambiente turbulento e competitivo que as organizações que exploram a pecuária leiteira estão inseridos têm exigido mudanças tanto em nível estrtural quanto operacional e estratégico. As inovações tecnológicas, particularmente as relacionadas às tecnologias de informação, têm se apresentado como poderosos precursores de diferenciais competitivos.
Em função da crescente demanda e da grande importância da informática no setor rural, diversos softwares para gerenciamento da pecuária leiteira surgiram no mercado nos últimos anos. No entanto, poucos são os estudos referentes a tal tipo de mercado. O presente estudo buscou caracterizar o mercado de software para pecuária leiteira sob o prisma da Teoria Econômica Neoclássica. Concluiu-se que embora tal mercado apresente algumas características de oligopólio, a classificação mais adequada é a de concorrência monopolística. A partir desta classificação, os empresários que atuam neste setor terão mais subsídios para a formulação de suas estratégias. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Dorfman, R. Preços e Mercados. 2ª ed., Nova Jersey: Prentice-Hall, 1972. Trad. OITICICA, C. M. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977, 356 p. Montoro Filho, A. F. et al.; Manual de Economia. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 1988, 443 p. Ramos, E.L. Economia rural: princípios de administração. Salvador: Centro Editorial e Didático da UFBA, 2ª ed. 1983. 168p. Reis, R.P.; Introdução à Teoria Econômica. Lavras: ESAL/FAEPE, 1991. 86 p. Revista Agrosoft. Juiz de Fora. n.2, Abril/Maio, 1997. Wonnacott, P. et al. Economia. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1982, 716 p.