POLITICAS DE FINANCIAMENTO DO BANCO MUNDIAL NO SETOR EDUCACIONAL: UM ESTUDO DA PROPOSTA DO PROEM.



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Transcrição:

1 POLITICAS DE FINANCIAMENTO DO BANCO MUNDIAL NO SETOR EDUCACIONAL: UM ESTUDO DA PROPOSTA DO PROEM. INTRODUÇÃO Maria Eunice França Volsi - UEM Muitos são os estudos e pesquisas realizadas a respeito do Banco Mundial e suas influências no setor educacional, uma vez que os financiamentos deste órgão ao setor social, do qual faz parte a educações, têm crescido muitas nas últimas décadas. Convém salientar que é traçada toda uma proposta a ser seguida pelos países que recorrem aos empréstimos do Banco Mundial, uma vez feito o financiamento o País ou Estado que realiza o empréstimo está de certa forma subordinado a desenvolver uma política coerente com as políticas estabelecidas pelo Banco ao setor educacional. O Banco Mundial não apresenta idéias isoladas, mas uma proposta articulada, para melhorar o acesso, a eqüidade e a qualidade dos sistemas escolares. Embora se reconheça que cada país e cada situação concreta requer ações especificas, trata-se conforme Torres (1996, p.126) de um pacote de reforma proposto aos países em desenvolvimento que abrange um amplo conjunto de aspectos vinculados à educação das macropolíticas até a sala de aula. Com base nas políticas do Banco Mundial e seus financiamentos para a educação, é estabelecido como objetivo deste trabalho realizar um estudo sobre as propostas do Banco Mundial para a educação, em especial no Brasil, e verificar suas possíveis relações com a recente proposta Programa Expansão, Melhoria e Inovação no Ensino Médio do Paraná (PROEM), financiada por este órgão. Para realização do trabalho foram utilizados além da leitura de vários autores, o documento do Banco Mundial (Prioridades y Estrategias para la Educación - 1995) no qual se encontra as reformas propostas pelo Banco Mundial para a educação nos países em desenvolvimento. Utilizamos, ainda, documentos da Secretaria Estadual de Educação do Paraná que explicam a proposta do PROEM e documentos da APP Sindicato, que fazem a crítica a esta proposta. Com o intuito de alcançar tais objetivos o trabalho está estruturado em cinco partes e que se referem: 1. Financiamento do Banco Mundial no Setor Educacional; 2. As Reformas Educativas Propostas pelo Banco; 3. Descrição Geral do PROEM; 4. PROEM X BANCO MUNDIAL e 5. Uma visão crítica sobre o PROEM Procura-se demonstrar no transcorrer do trabalho as influências, a relação existente entre as propostas do Banco Mundial para a educação e a proposta de ensino no Paraná expressa no PROEM.

2 1. Financiamento do Banco Mundial no Setor Educacional O Banco Mundial tem uma forte influência nas políticas educacionais no Brasil, devido aos empréstimos realizados para a área social. Quando se fala em Banco Mundial, a primeira impressão, ou melhor, o primeiro pensamento é que se trata de um órgão financiador que empresta dinheiro para os países que o necessitam para alguma área organizacional da sociedade. Mas, a realidade observada através de estudos específicos da organização e desempenho do Banco desde a sua criação, nos permite enxergar outra realidade, que não coincide com as aparências. Para o entendimento dessa questão, necessário se torna fazer um breve histórico das origens e função do Banco Mundial e suas definições para empréstimos. Segundo Fonseca (1995), o Banco Mundial (BIRD Banco para Reconstrução do Desenvolvimento Internacional) foi criado em 1944, juntamente com o FMI (Fundo Monetário Internacional). São instituições criadas para reconstrução da Europa do pósguerra, em que, naquele momento, era preciso recuperar as economias dos países devastados pela guerra e também conter os avanços do comunismo. Terminada a fase de reconstrução da Europa por volta do ano de 1950, o BIRD e o FMI, voltaram-se para monitorar o desenvolvimento dos países subdesenvolvidos. E conforme Fonseca (1995) se denominaram os guardiões do bem estar dos países do Terceiro Mundo. Soares (1996) explica que de 1956 a 1968, [...] os recursos do Banco voltaram-se principalmente para o aspecto financeiro de infra-estrutura necessária para alavancar o processo de industrialização. Neste período os empréstimos destinaram-se aos setores de energia, telecomunicações e transporte, fundamentalmente. Até a década de 60, o projeto de desenvolvimento do Banco Mundial pautava-se pelas metas de crescimento econômico. A partir do final desta década, o Banco Mundial modifica seu conceito de desenvolvimento. O crescimento econômico será considerado como condição necessária, mas não suficiente para garantir distribuição mais justa da riqueza. Quanto a esta questão, Fonseca explica que as razões do BIRD são óbvias: Os benefícios do crescimento econômico concentram-se nos setores mais modernos da economia e, em conseqüência, não atingem as populações marginalizadas economicamente. Diante dessa evidência, o Banco define, como prioridade, atuar no centro do problema que pode representar uma ameaça à economia dos países centrais, o crescimento descontrolado da pobreza nos países periféricos. (1996, p.231). E é, através da educação que o Banco pretende fazer a contenção da pobreza que, segundo o BIRD, significa várias coisas inclusive diminuir o número de pobres pelo próprio controle da natalidade, controlando assim o crescimento demográfico. Em sua concepção, a

3 educação pode influenciar de forma positiva no controle da natalidade, impedindo assim, um aumento desordenado da população pobre. Na década de 70, é possível verificar em diversos estudos e pesquisas sobre os investimentos do Banco Mundial, um aumento considerável de empréstimos para o setor educacional. Priorizando-se num primeiro momento o ensino técnico em nível de 2 º grau e posteriormente no final da década de 70, o interesse direcionou-se para a educação primária que compreende as quatro primeiras séries do ensino fundamental. Conforme Soares (1996), nos anos 80 com a eclosão da crise de endividamento, abriu-se espaço para uma ampla transformação do papel até então desempenhado pelo Banco Mundial, que ganhou importância estratégica na reestruturação econômica dos países em desenvolvimento por meio de programas de ajuste estrutural. De um Banco de desenvolvimento, indutor de investimentos, o Banco Mundial tornou-se o guardião dos interesses dos grandes credores internacionais, responsável por assegurar o pagamento da dívida externa e por empreender a reestruturação e abertura dessas economias, adequando-as aos novos requisitos do capital globalizado (SOARES, 1996, p. 21). O Banco Mundial passa, então, a impor uma série de condicionalidades aos países em desenvolvimento na concessão de novos empréstimos. Essas condicionalidades são expressas através da intervenção do Banco Mundial nas políticas internas e na influência da própria legislação dos países. A partir de 1990, Torres (1996) explica que o Banco Mundial decidiu prestar maior atenção ao desenvolvimento infantil e à educação inicial. Conforme o documento Prioridades y Estrategias para la Educación (1995), os sistemas educativos dos países em desenvolvimento, na ótica do Banco Mundial, têm pela frente quatro desafios fundamentais: o acesso, a eqüidade, a qualidade e a redução da distância entre a reforma educativa e a reforma das estruturas econômicas. Diante dos fatos apresentados, é possível verificar que as políticas desenvolvidas pelo Banco Mundial para o setor educacional na forma de documentos, servem de diretrizes para os países em desenvolvimento que recorrem a seus empréstimos. Que a partir do momento que o país recorre ao empréstimo, ele recebe não só o recurso financeiro como também, ou até primeiramente, uma assessoria que determinará quais serão as prioridades e estratégias para o financiamento concedido. É preciso mencionar que é conforme o desenvolvimento de suas políticas que o Banco decide quais serão as novas prioridades com o passar dos anos. É importante lembrar que essas novas prioridades, são elaboradas na forma de documentos para manter a estrutura e poder do Banco. Tal afirmação ganha sustentação nas palavras de Saviani: [...]uma vez que os interesses dominantes procuram conservar a estrutura de que são beneficiários, busca-se evitar que as contradições de estrutura vigente venham à tona, interpretando-se a crise conjuntural como um acidente de percurso, um desvio que não só pode como deve ser corrigido (1997, p.238).

4 Assim, ao analisar o referido documento do Banco Mundial pode-se observar que o Banco deseja ajudar os países em crise, se apresentando como um órgão preocupado com a situação caótica das sociedades, embora, uma simples análise revela que esta preocupação está voltada aos seus interesses de permanecer no poder, determinando os rumos do desenvolvimento econômico mundial e mantendo a atual estrutura da sociedade que se apresenta, agora, com o corte neoliberal e com a globalização da economia. 2. As Reformas Educativas Propostas pelo Banco Mundial Conforme a visão do Banco Mundial, a reforma educativa, entendida como reforma do sistema escolar é não só inevitável como também urgente. Retardá-la trará sérios custos econômicos, sociais e políticos para os países. No documento do Banco já mencionado (1995), são destacados os elementos da atual reforma para os países em desenvolvimento: a) A prioridade depositada sobre a educação básica. A educação básica proporciona o conhecimento, as habilidades e as atitudes essenciais para funcionar de maneira efetiva na sociedade sendo, portanto, uma prioridade em todo lugar. [...] geralmente, esse nível básico inclui cerca de oito anos de escolaridade. De fato, em muito países, o primeiro ciclo da educação secundária está sendo combinado com a educação de primeiro grau para conformar uma etapa de educação obrigatória conhecida como educação básica (BANCO MUNDIAL, 1995, p.71). O Banco Mundial vem estimulando os países a concentrar os recursos públicos na educação básica, que é responsável pelos maiores benefícios sociais e econômicos e considerada elemento essencial para um desenvolvimento sustentável e de longo prazo assim como para aliviar a pobreza. Na opinião do Banco: [...] já que as taxas de retorno do investimento em educação básica são geralmente maiores que as da educação superior nos países de baixa e média renda, a educação básica (primária e secundária inferior) deveria ser obrigatória dentre as despesas públicas em educação naqueles países que ainda não conseguiram uma matrícula quase universal nestes níveis (BANCO MUNDIAL, 1995, p.xviii). Faz-se necessário ressaltar que o conceito de educação básica pode variar de um país para outro. Esta inovação se dá conforme o nível de escolaridade já alcançado pelo país. Este referencial é que determinará se a educação básica compreenderá apenas o primeiro grau, ou se envolverá também a primeira fase do segundo grau.

5 b) Melhoria da qualidade da Educação O terceiro e provavelmente o mais importante desafio (além do acesso e da equidade) é melhorar a qualidade da educação; esta é pobre em todas as esferas nos países de baixa e média renda. Os alunos dos países em desenvolvimento não conseguem adquirir as habilidades requeridas pelos currículos de seus próprios países nem se desempenhar no mesmo nível atingido pelos alunos dos países mais desenvolvidos [...] melhorar a qualidade é tão importante como melhorar o acesso, porém, ainda mais difícil de se conseguir (BANCO MUNDIAL, 1995, p.xvii). Considerada provavelmente o maior desafio e sem dúvida o mais difícil de ser alcançado. A qualidade educativa na concepção do Banco Mundial, seria o resultado da presença de determinados insumos que intervém na escolaridade. No caso da escola de primeiro grau, são colocados alguns fatores determinantes para o aprendizado efetivo. Que são: bibliotecas; tempo de instrução; tarefas de casa; livros didáticos; conhecimento do professor; experiência do professor; laboratório, salário do professor e tamanho da classe. O Banco Mundial deriva desses fatores suas conclusões e recomendações aos países em desenvolvimento sobre os insumos a priorizar em termos de políticas e concessão de recursos. Cabe ressaltar, porém, que na leitura do documento (1995, p.60) é percebível certo desestímulo quanto aos três últimos fatores laboratório, salários docente e tamanho da classe e uma maior priorização do tempo de instrução, livro didático, e conhecimento do professor. Quanto à infra-estrutura a fim de minimizar gastos recomenda-se compartilhar custos com as famílias e comunidade. c) Descentralização Junto com um importante e acelerado esforço de descentralização, o Banco Mundial aconselha os governos a manter centralizadas quatro funções para melhorar a qualidade da educação (BANCO MUNDIAL, 1995, p. XX): a) fixar padrões; b) facilitar os insumos que influenciam o rendimento escolar; c) adotar estratégias flexíveis para a aquisição e uso de tais insumos e d) monitorar o desempenho escolar. No plano administrativo, recomenda-se maior autonomia tanto para as direções escolares como para os professores. Destaca-se, porém, que a procura de tal autonomia escolar está centrada em fatores financeiros e administrativos, não sendo referenciadas medidas dirigidas especificamente à qualificação e profissionalização dos recursos humanos (docentes e diretores) dificultando assim, uma possível autonomia da instituição escolar. d) Maior participação dos pais e da sociedade

6 A participação dos pais e da sociedade é vista como uma condição que facilita o desempenho da escola como instituição, referindo-se a três âmbitos: a) a constituição econômica para a sustentação da infra-estrutura escolar; b) os critérios de seleção da escola; e c) um maior envolvimento na gestão escolar (BANCO MUNDIAL, 1995, p. XXVI). O Banco Mundial analisando os possíveis riscos devido a maior participação dos pais e da comunidade tais como: - maior dificuldade de alcançar objetivos nacionais amplos; segregação social; estímulo à desigualdade; limitações devido à falta de informação e educação dos pais adota medidas de intervenção estatal para diminuir estes riscos. e) Enfoque setorial Conforme a análise do Banco Mundial, um enfoque setorial é essencial para os países estabelecerem suas prioridades e também, para o Banco determinar seu financiamento. Isso significa para os países, obter o máximo de eficiência na distribuição e no uso de recursos objetivando assim, melhorar a qualidade. f) Definição de política e prioridades segundo a análise econômica O Banco Mundial recomenda que seja determinada às prioridades para a educação baseada na análise econômica, estabelecendo normas e medindo os resultados da evolução da aprendizagem (1995, p. XXIII). Os governos devem determinar as prioridades educacionais segundo a análise econômica da sociedade em geral e a análise das taxas de rentabilidade. Tal análise econômica, aplicada à educação, opera ocupando os benefícios dos custos tanto ao nível de cada indivíduo como da sociedade como um todo. Esta comparação é feita calculando a taxa de retorno. Conforme o Banco, os investimentos cujo objetivo é melhorar a qualidade e a eficiência da educação tem geralmente altas taxas de rentabilidade. É a partir desta visão econômica de rentabilidade que o Banco tem priorizado suas políticas e estratégias no setor educacional. Estas reformas para a educação propostas pelo Banco Mundial neste documento (Prioridades y Estratégias para la Educación, 1995), podem ser percebidas facilmente nos países que fazem empréstimos. Basta examinar as propostas do Banco Mundial para a educação dos países em desenvolvimento como o Brasil e em seguida, verificar as prioridades estabelecidas pelos programas educacionais quando realizam o empréstimo. Embora o Banco Mundial reconheça que as políticas devem ser diferentes em cada país, conforme seu grau de desenvolvimento educacional e econômico e seu contexto histórico e político (1995, p.xii), é possível perceber que essas diferenças são estabelecidas conforme

7 os critérios do Banco baseados no setor econômico, deixando à margem o contexto histórico, político e educacional do País e em particular os Estados que fazem os empréstimos. Torna-se necessário, nesse momento, analisar as linhas de ação do Banco Mundial no setor educacional brasileiro em especial o Projeto do Paraná. 3. Banco Mundial e as Propostas para a Educação no Brasil Conforme Tommasi (1996), nas estratégias de ação do Banco Mundial no Brasil, são enfatizadas melhorias na eficiência dos gastos públicos e, nos setores sociais, melhor escolha da população alvo e ampliação da prestação de serviço aos pobres. O objetivo do Banco é melhorar a qualidade e eficiência do ensino através de a)melhoria da capacidade de aprendizagem do aluno; b) redução das altas taxas de repetência; e c) aumento das despesas por aluno. E define ainda, conforme Tommasi, os fatores que mais contribuem para a baixa qualidade e ineficiência da educação pública no Brasil. Que são: falta de livro didático e outros materiais pedagógicos; prática pedagógica inapropriada; e baixa capacidade de gestão. Com base nestas constatações, o Banco estabelece como prioritária, para suas ações no Brasil, as seguintes medidas: a) providenciar livros didáticos e outros materiais de ensino; b) melhorar as habilidades dos professores (que poderá ser feita em sala de aula e à distância); c) elevar a capacidade de gerenciamento setorial (maior integração entre estados e municípios). Torres (1996) explica que os projetos que o Banco Mundial está financiando no Brasil refletem de forma fiel as orientações de ação estabelecida pelo Banco em nível mundial. É interessante notar que o Banco tendo em suas mãos o poder de determinar as políticas educacionais de vários países, através de condições propostas para o financiamento, lhe é conferido um caráter hegemônico que o possibilita determinar os rumos que a sociedade deve tomar. Dentre os projetos financiados pelo Banco Mundial no setor educacional do Brasil, destacamos os de Estado de São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais, Projeto Nordeste (MEC), e o do Paraná. Cada um destes Estados determinou suas prioridades para educação conforme manda os documentos do Banco, justificando a necessidade do empréstimo devido à baixa eficiência e qualidade dos sistemas de ensino local. Adequam assim, suas propostas de educação às propostas educacionais do Banco Mundial, na expectativa de que estas revertam os problemas apresentados pelos Estados nesse setor.

8 A seguir, será abordado, de forma um pouco mais detalhada, embora sob uma visão geral, um dos projetos financiados pelo Banco Mundial no Estado do Paraná o PROEM Programa Expansão, Melhoria e Inovação no Ensino Médio do Paraná. 4. Descrição Geral do PROEM O Governo do Estado do Paraná vem implementando, com financiamento do Banco Mundial, ações de melhoria da qualidade de Ensino Fundamental, as quais, além da universalização do atendimento, a correção do fluxo dos alunos, no que se refere à disfunção idade/série, a avaliação do rendimento e outras melhorias da gestão educacional. Esta atuação decisiva no ensino fundamental acarretará, entre outros efeitos, um incremento significativo na demanda de vagas de nível médio. Conforme a Secretaria de Estado da Educação do Paraná, o PROEM é o primeiro projeto de ensino médio apoiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID. E tem como objetivo aumentar a eficiência, a eficácia e a igualdade de oportunidade de acesso à educação média e profissionalizante (1996, p.2). Com previsão para ser implantado em cinco anos, [...] o programa envolve recursos de R$ 222 milhões, dos quais R$ 100 milhões financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o restante pelo Estado. A política educacional do ensino médio do Governo do Paraná estabeleceu como diretrizes um melhor atendimento às exigências das novas formas de organização social e do trabalho e aos requerimentos dos avanços tecnológicos, ao mesmo tempo em que se adianta em adaptar a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96). As estratégias mais importantes dessa política, no parecer da Secretaria de Educação, é a eliminação das habilitações profissionais isoladas dentro do Ensino Médio, o fortalecimento da educação geral e a criação de centros de educação técnica profissional, de nível Pós-médio, aproveitando a capacidade já instalada no Estado. Conforme os documentos do PROEM (1996), a educação média de formação geral visará o aproveitamento e consolidação das aprendizagens do Ensino Fundamental, proporcionando preparação básica para a cidadania e o mundo do trabalho, incluindo o desenvolvimento de autonomia intelectual, do pensamento crítico e da formação ética. Será orientada pelos princípios da eficiência, eficácia e equidade. A educação profissional pós-média estará voltada para as demandas do desenvolvimento econômico do Estado e do mercado de trabalho, sendo organizada segundo a empregabilidade de seus futuros egressos. São enfatizadas no PROEM, melhoria dos cursos de Educação Geral e oferta de cursos pósmédios. A melhoria dos cursos de educação abrangerá os seguintes aspectos: a) Haverá aumento da oferta de vagas; b) Os conteúdos curriculares serão revisados e adequados às exigências da modernidade;

9 c) A informática será utilizada como instrumento para o aprendizado; d) As escolas terão sua estrutura física ampliada e modernizada; e) As escolas receberão recursos para adquirir material bibliográfico e livro-texto para uso em sala de aula; f) Haverá um grande investimento na capacitação dos profissionais de educação; g) Os laboratórios de física, química e biologia serão equipados (Secretaria do Estado da Educação, 1996, p.3) Quanto à oferta dos cursos pós-médios : [...] serão realizados estudos sócio-econômicos para definir as demandas regionais; a seguir, será ouvida a comunidade para definir que habilitações serão ofertadas e, por fim, os estabelecimentos de ensino serão adequados para abrigar os cursos. Estes cursos terão duração de seis meses a dois anos, dependendo da natureza e da complexidade de cada um. (IDEM, p. 4) Nos cursos pós-médio o que determinará o número de vagas a serem ofertadas será a empregabilidade. O objetivo é não cometer os erros atuais de oferta de ensino profissionalizante sem levar em conta a demanda estabelecida pelo setor produtivo. Quanto à expansão do ensino técnico do Paraná, esta se realizará sob a coordenação da PARANATEC, que é uma instituição criada por meio de uma parceria entre SEED, o CEFET-PR, o SENAI, o SENAC, o SENAR e o SEBRAE instituições que ministram o ensino profissional no Estado do Paraná, conforme determinações do PROEM (1996): A PARANATEC vai coordenar a parceria entre as instituições de ensino, a comunidade e a iniciativa privada para a criação e o desenvolvimento de cursos de ensino profissionalizante em áreas que atendam a vocação regional e a demanda de mercado. (PROEM, 1996, p.5). O PROEM visa também estimular a melhoria e aperfeiçoamento do processo de gerenciamento do sistema educacional. Sendo implantado para tanto, sistemas permanentes de informações gerenciais, de atualização de currículos e de avaliação do desempenho dos alunos, dos professores e da escola. Estimula a gestão participativa e o envolvimento da comunidade nos problemas e soluções da escola, para alcançar uma gestão escolar mais descentralizada e compartilhada. As partir das questões apresentadas e, tendo em vista os princípios de equidade, eficiência e eficácia, o programa está organizado em três grandes subprogramas: Melhoria da Qualidade de Ensino Médio; Modernização da

10 Educação Técnica Profissional; e Fortalecimento da Gestão Sistema Educacional. Estes subprogramas do PROEM não serão detalhados, pois sua especificação pormenorizada fugiria aos objetivos deste trabalho, uma vez que foi proposto apresentar o PROEM na sua formulação mais geral. De acordo com a Secretaria de Estado da Educação Com o PROEM, o Paraná antecipa situações concretas, preparando-se para atender a demanda futura, que deverá crescer cumulativamente, em função das ações que estão sendo desenvolvidas em nível de primeiro grau, com o Projeto Qualidade no Ensino PQE; e qualitativamente, em função da necessidade de orientar os alunos para um mercado cada vez mais exigente e competitivo (1996, p. 4). Nota-se, então, que com o PROEM, o Paraná dá um salto rumo às novas exigências da atual conjuntura da sociedade. 6. PROEM X BANCO MUNDIAL Feita a descrição da proposta do PROEM, segundo a ótica da Secretaria Estadual de Educação, será feita uma análise desta proposta, verificando sua estreita relação com as propostas do Banco Mundial para a Educação. A Secretaria Estadual de Educação afirma, em um dos seus documentos sobre o PROEM que, o programa não é uma imposição de organismos internacionais de financiamento não há qualquer imposição ou diretriz da parte dos organismos financiadores. O PROEM foi concebido no Paraná e discutido por técnicos de renome nacional e internacional e está sendo considerado modelo para os países da América Latina (1996, p.4). Mas esta subordinação fica transparente quando se compara as Propostas do Banco Mundial para a Educação com os objetivos da Proposta do PROEM. Observemos algumas evidências: o Banco estabelece como prioritárias, para sua ação no Brasil, as seguintes medidas, já referenciadas: a) providenciar livros didáticos e outros

11 materiais de ensino; b) melhorar as habilidades dos professores; c) elevar a capacidade de gerenciamento. O PROEM ao estabelecer as diretrizes para melhoria as Educação Geral propõe que: [...] as escolas receberão recursos para adquirir material bibliográfico e livros-textos para uso em sala de aula; haverá um grande investimento na capacitação de profissionais de educação; será estimulada a melhoria e aperfeiçoamento do processo de gerenciamento do sistema educacional. (1996:3-4). Pode-se observar, então, que nestes itens referenciados a proposta do PROEM se adequou totalmente às propostas do Banco Mundial para a educação no Brasil. Mas, uma das determinações mais comprometedoras, é a subordinação do ensino ao sistema econômico, toda a base do ensino técnico do PROEM será determinada a partir da demanda do mercado, exatamente como manda o documento do Banco Mundial: determinar as prioridades da educação com base na análise econômica (1995, p.xxiii). Verifica-se que as determinações do Banco estão fortemente presentes na proposta do PROEM. Não somente nestes itens agora referenciados, mas de forma geral em toda a política educacional proposta pelo Governo do Paraná. Cabe nesse momento indagar se as medidas adotadas pelo Governo resolverão os problemas da educação no Paraná. Se desenvolver uma política voltada aos interesses de grupos internacionais resolverá os problemas locais, que nada mais são do que o próprio reflexo da política nefasta que vem dominando a sociedade nos últimos tempos. 7. O PROEM sob uma Visão Crítica Essa relação exposta anteriormente, sobre o vínculo da proposta do PROEM com as políticas educacionais do Banco Mundial, não tem sido aceita por toda a população, como solução para os problemas da educação no Paraná. Existe uma outra visão, um outro

12 entendimento sobre o PROEM, que não coincide praticamente em nada com aquele apresentado por seus organizadores, exceto que a educação no Paraná está enfrentando sérios problemas que precisam ser solucionados. A APP Sindicato, em seu discurso deixa clara sua posição contrária à política adotada pelo Governo do Paraná: [...] O PROEM é anacrônico em relação ao enfrentamento dos problemas existentes, agravando a maioria deles e não propondo soluções e encaminhamento ao ensino médio que reconheçam a sua problemática concreta e as necessidades de escolarização do mundo moderno. (1996, p. 1) Verifica-se que a APP Sindicato tem uma outra concepção do que seja melhoria do ensino, das necessidades do sistema de educação que estão tendo como solução e resposta para seus problemas, a proposta do PROEM, que como já foi explicado no presente trabalho, está mais voltada a atender interesses internacionais do que as reais problemáticas do ensino do Paraná. Conforme a APP-Sindicato, o PROEM integra os princípios da perspectiva produtivista, baseada numa concepção e prática de ensino dualista e fragmentária: [...] A profissionalização se resume ao processo de escolarização necessária ao trabalho, de qualificação para o emprego e o desenvolvimento de habilidades e competência, em função de resultados esperados pelo mercado (1996, p.3). O PROEM é visto então, como uma proposta que tem como perspectiva não a formação humana, mas a obtenção de lucro. Ao deixar que a educação técnica e profissional seja direcionada por órgãos privados e nãogovernamentais, mostra o seu descompromisso com os gastos desta modalidade do ensino. O governo tenta reverter esse comentário, quando explica que o Estado ofertará o ensino pós-médio (que corresponde ao ensino profissional) nos grandes centros. Mas, é preciso lembrar que sua oferta será limitada e não comportará o grande número de pessoas que precisam ter acesso a este ensino, ficando então em mãos da iniciativa privada, já que o próprio Governo tratou de organizá-la criando a Paranatec.

13 A proposta do PROEM se mostra anacrônica até mesmo com relação à formação exigida pela sociedade atual. As mudanças tecnológicas apontam cada vez mais para a estreita articulação entre a formação geral e a formação técnica. A proposição do PROEM aprofunda esta separação. A poucos se destinará uma formação profissional, a ser feita na forma de módulos, de duração variável, desconectada da formação científica que embasa e sustenta processos tecnológicos, e muitos serão os excluídos desse sistema. A partir da reflexão expressa na forma do presente trabalho, apresentamos algumas questões a serem pensadas como: Que tipo de educação realmente atenderia às necessidades da sociedade atual? Até que ponto é viável a influência de órgãos internacionais no setor educacional? Quais as medidas a serem tomadas para reverter ou contornar estas situações? Finalizando, enquanto essas questões não são resolvidas, se esta incentivando a formação de indivíduo estritamente para o trabalho, sem uma formação geral mais sólida, o que não coincide com os novos rumos que a sociedade está tomando que além de estarem limitando o próprio campo de trabalho com o avanço da tecnologia, fazendo da categoria emprego, algo escasso, ainda exige novas características do trabalhador, as quais essa forma de ensino dificilmente poderá atender. CONSIDERAÇÕES FINAIS As influências do Banco Mundial estão fortemente presentes em todos os seus investimentos para a educação. Como órgão financiador, ele faz todo um levantamento do País ou Estado que o procura, para posteriormente conceder o empréstimo e apontar as mudanças necessárias para melhoria e resolução dos problemas enfrentados. E não acontecem de forma diferente, como pudemos perceber no desenvolver do trabalho, com o Estado do Paraná, quando realizou o empréstimo do Banco Mundial para custear o Programa Expansão, Melhoria e Inovação no Ensino Médio do Paraná (PROEM). Ao fazer o financiamento, o Estado se submeteu à Política desenvolvida pelo Banco Mundial

14 aos países em desenvolvimento e está caminhando rumo aos interesses e expectativas dos governos e das elites do mundo industrializado. Apontada por seus organizadores como a melhor saída para os problemas educacionais do Paraná, não é aceito como viável pela APP Sindicato, que considera a proposta anacrônica em vista dos problemas apresentados no sistema de ensino. Finalmente cabe analisar se uma Política voltada aos interesses de uma minoria que determina os rumos da sociedade, seria solução para os problemas educacionais enfrentados pelo Estado do Paraná. Problemas estes que são conseqüência da própria forma que a sociedade tem assumido nos últimos tempos, que se mostra muito pouco preocupada com a educação das maiorias que se encontram excluídas, fora do sistema. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APP Sindicato. Porque o PROEM Programa Expansão, Melhoria e Inovação no Ensino Médio do Paraná não é solução para os problemas do ensino médio do Paraná. Curitiba, 1996.. PROEM A Visão da APP Sindicato, 1996. BANCO MUNDIAL (1995). Prioridades y Estrategias para la Educación: Estudio Setorial del Banco Mundial. Washington. BRASIL. (1995). Ministério da Educação e do Desporto. Planejamento Político Estratégico 1995/1998. FERNANDES, Florestan. Educação e Sociedade no Brasil. São Paulo: Dominus, 1966. FONSECA, Marília. Banco Mundial e a Educação: Reflexões sobre o Caso Brasileiro in: Pablo Gentili. Pedagogia da Exclusão. Petrópolis: Vozes, 1995. FORRESTER, Viviane. O Horror Econômico. São Paulo: Editora UNESP, 1997. KUENZER, Acácia Z. Ensino Médio no Contexto das Políticas Públicas de Educação no Brasil, in: Revista da Aduel (Sindiprol), n.º 02, ano 2, 1997, p. 19-32.

15 MARX, Karl. Friedrich Engels. Crítica da Educação e do Ensino. Lisboa. Portugal: Moraes, 1978 MEC (1993). Plano Decenal de Educação Para Todos, Brasília. MUNIZ, Hilda Lopes. Documentos Relativos ao Plano Nacional de Educação. Goioerê, 1997. PARANÁ (1996). Secretaria de Estado da Educação. Programa Expansão Melhoria e Inovação no Ensino Médio do Paraná. Curitiba.. Direção Jornal do Administrador Escolar Curitiba, n.º 3, Maio, 1998.. Gerência do Sub-Programa Melhoria da Qualidade do Ensino Médio, 1997.. PROEM. Perguntas e Respostas. Curitiba. PARANÁ. Conselho Estadual de Educação. Posição do Conselho estadual de Educação a Respeito do PROEM. Proposição n.º 004/96, Curitiba, Out., 1996. PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. A Proposta da Sociedade Brasileira (II Cong.Nac. de Ed.) Belo Horizonte, 1997 SAVIANI, Demerval. A Nova Lei da Educação. 3 ª Ed., Campinas: Autores Associados, 1997 Da Nova Lei ao Plano Nacional de Educação. Campinas, SP: Autores Associados, 1998. SOUZA, Paulo N. Pereira de. Como Entender e Aplicar a Nova LDB: Lei N.º 9.394/96. São Paulo: Pioneira, 1997. TOMMASI, Lívia de. e outros. O Banco Mundial e as Políticas Educacionais. São Paulo: Cortez, 1996. TORRES, Carlos Alberto. Estado, Privatização e Políticas Educacionais: elementos para uma crítica ao Neoliberalismo in: Pablo Gentili. Pedagogia da Exclusão. Petrópolis: Vozes, 1995