RESUMO Direito Civil Responsabilidade Civil 1. Tutela Preventiva da Responsabilidade Civil: Reparação de danos com o intuito preventivo. Art. 12, CC. Art. 461, CPC. Art. 84 CDC: conformam uma nova perspectiva para a Responsabilidade Civil. Tem medidas reparatórias, mas o principal objetivo é a prevenção (art. 461 CPC Tutela específica). Na Tutela dos direitos da personalidade, art. 12, CC, a tutela é iminentemente preventiva e reparadora a danos eventualmente causados. 2. Arts. 186 c/c 187, CC: A responsabilidade civil decorrente do ato ilícito tem uma compreensão subjetiva, sendo que a responsabilidade neste caso é, em regra, subjetiva. No entanto, pode haver casos de responsabilidade objetiva, pois o art. 187 não exige o elemento subjetivo do agente. É possível Responsabilidade Civil sem ato ilícito. Condutas lícitas podem gerar responsabilidade nos casos previstos em lei. O Estado de Necessidade para o Direito Civil exclui a ilicitude, mas pode gerar a responsabilidade civil (art. 188, CC). 3. Abuso de Direito: exercício irregular e anormal de direito. Postura lícita que se transforma em ilícita. É de ordem pública, podendo o Juiz conhecê-lo de ofício. Se presente em relação contratual gera nulidade, não anulabilidade. O abuso de direito pode decorrer de conduta comissiva, por se exercitar mal o direito, ou omissiva, ao se deixar de exercer direito, criando em alguém a expectativa de que não será exercido, e, ao fazê-lo, lesar direito alheio. O Abuso de Direito Omissivo gera responsabilidade objetiva e pode ocorrer das seguintes maneiras: Venire Contra Factum Proprium: proteção da confiança gerada em uma determinada relação. Proibição de comportamento contraditório. Supressio e Surrectio: desdobramentos do Venire Contra Factum Proprium, o titular não exerce o direito, delegando o exercício do direito a um terceiro, havendo uma supressão da possibilidade de exercê-lo, pois uma expectativa foi gerada (art. 330, CC). Tu Quoque: desdobramento do Venire Contra Factum Proprium, é especifico de uma determinada situação contratual, faz com que dentro de um contrato uma parte não possa exigir o cumprimento de obrigação da outra parte enquanto não cumprir a sua, em qualquer espécie contratual. Exceção: a cláusula solve et repet permite que cada contratante exija do outro cumprimento de obrigação mesmo não tendo cumprido a sua parte. Deve estar expressa. 4. Espécies de Responsabilidade Civil: 4.1. Civil e Penal: A regra fundamental é da independência da instância, não se correlacionando. As responsabilidades civil e penal são julgadas independentemente (art. 935, CC). Exceções: pode a sentença penal influir no juízo civil, desde que cumpridos dois requisitos: anterioridade da sentença penal transitada em julgado e que tenha abordado o mérito penal. A sentença penal condenatória vai gerar o dever de condenar na esfera cível. Já a sentença penal absolutória, poderá influir na Responsabilidade Civil quando se der por negativa de autoria ou inexistência do fato, ou não influir quando a absolvição se der por falta de prova ou prescrição. Assim sendo, o Juiz tem a prerrogativa de suspender pelo prazo máximo de 01 ano o processo cível no intuito de aguardar a sentença penal. Prescrição: 03 anos para prescrição da indenização por dano material ou moral, contados a partir da prática do ato. (vide Art. 200, CC). Revisão Criminal: guarda similitude com a ação rescisória. Se há revisão criminal deferida, revendo-se a condenação, isso não enseja a revisão de condenação civil, pois a regra é a independência entre as instâncias. O eventual conflito de sentenças não necessariamente implicará na responsabilização civil do Estado por erro judiciário. - 1
Uma vez fixada a responsabilidade penal, bastará a liquidação e execução do dano sofrido. O Ministério Público tem legitimidade para promover a ação civil ex deliti. 4.2. Contratual e Extracontratual: Depende da origem do dever jurídico violado. Se estava previsto em lei, a responsabilidade será extracontratual ou aquiliana, devendo a vítima comprovar a culpa do agente. Se previsto em negocio jurídico, ocorre a responsabilidade contratual aqui, o compromisso foi assumido voluntariamente, gerando presunção relativa de culpa (389, 395, CC). Responsabilidade Civil dos Incapazes (art. 928, CC): é subsidiária e condicionada. Art. 116, ECA ato infracional correlato ao crime de dano, por exemplo. Único: o incapaz responde tanto contratual quanto extracontratualmente. 4.3. Objetiva e Subjetiva: A responsabilidade civil nasceu subjetiva e o Código Civil assim a mantém, via de regra. A regra, no entanto, em determinados casos é injusta, não atendendo a todos os casos que surgem, por isso foi criada a responsabilidade subjetiva com culpa presumida (ex: responsabilidade contratual), apenas em casos previstos em lei. A responsabilidade é objetiva quando fundada no risco, no exercício de uma atividade de risco, independentemente de culpa. a) Casos previstos em lei: - responsabilidade ambiental (Risco Integral); - responsabilidade por dano nuclear (Risco Integral); - responsabilidade por dano processual por tutela de urgência; - responsabilidade do possuidor de má-fé (art. 1218, CC); - responsabilidade civil decorrente de direito de vizinhança; Risco integral: absorve o caso fortuito e força maior. Mesmo que o dano provenha dessas hipóteses, o dever de indenizar persiste. Nos demais riscos, o caso fortuito e força maior excluem a responsabilidade civil, exceto quando se tratar de transportador aéreo (risco integral). 5. Lineamentos da Responsabilidade do Estado (art. 37, 6º, CF): a) Responsabilidade Objetiva do Estado: Teoria do Risco Administrativo. Admite a exclusão da responsabilidade do Estado por caso fortuito, força maior, culpa exclusiva da vítima. Alcança Pessoa Jurídica de direito público e de direito privado prestadoras de serviços públicos. Gera para o Estado o direito de regresso contra o servidor que causou dano (em relação ao servidor, deve-se comprovar a culpa ou dolo). b) Denunciação da lide: não há a possibilidade, por estar introduzindo fato estranho à lide. No entanto, o STJ admite denunciação da lide nos casos em que a própria vitima na petição faça menção à conduta culposa do agente (art. 70 do CPC não veda a denunciação). No caso de não fazê-la, o Estado não perde o direito de regresso que neste caso é imprescritível. Já o direito do particular ofendido prescreve em 03 anos. c) Nas condutas omissivas, o Estado responde subjetivamente. Já nas condutas comissivas, a responsabilidade é objetiva. STF: o Estado só responde por conduta omissiva se provada a sua culpa. 6. Responsabilidade Objetiva por Decisão Judicial (art. 927, Único): o juiz pode transformar em objetiva uma responsabilidade que nasceu subjetiva quando a atividade do agente for habitual e de risco. O risco deve ser criado, excluível por caso fortuito e forca maior, e o Juiz pode declarar de ofício. Ex: esportes radicais, racha no trânsito e acidente de trabalho (INSS responde objetivamente - art. 7º, XXVIII, e o empregador responde subjetivamente). Pode o Juiz do Trabalho tornar objetiva a responsabilidade subjetiva do empregador? Sim, o art. 7º tem rol exemplificativo, sendo plenamente possível incorporar novas garantias ao empregado, transformando em objetiva a responsabilidade subjetiva do empregador. A regra geral (responsabilidade subjetiva), portanto, acabou tornando-se de caráter residual, aplicando-se quando não cabem as demais espécies de responsabilidade. Seguro obrigatório: Acidente de trabalho e acidente de trânsito. Sofrido o acidente, a vitima tem direito de receber indenização, a responsabilidade do segurador é objetiva. O valor pago pelo segurador deve ser deduzido do valor da indenização paga pelo causador do sinistro. - 2
7. Hipóteses de responsabilidade civil por fato de Terceiro: a) Gera direito de regresso, exceto quando o terceiro for incapaz; b) Provada a culpa do terceiro, o garantidor responde objetivamente. Não é responsabilidade objetiva para o agente, mas sim para o terceiro. c) O Rol é taxativo (art. 932): pai pelos seus filhos menores que estejam sob sua autoridade e companhia; tutor e curador pelo tutelado e curatelado; empregador pelo empregado; hoteleiro pelo hospede; educandário pelo educando menor. As 03 últimas hipóteses devem ser interpretadas à luz do CDC. Se por ventura o dano for causado no âmbito da relação de consumo, o Código Civil deve ser afastado, aplicando-se o CDC. d) Responsabilidade do participante de crime. 8. Responsabilidade pelo Fato da Coisa: A responsabilidade pelo fato da coisa distingue-se da hipótese de responsabilidade pelo fato de terceiro, pois seu rol é exemplificativo. O titular responde por todos os objetos de sua propriedade. O dono da coisa é aquele que detém a guarda e tem o poder de comando. Há presunção de responsabilidade do proprietário da coisa. A responsabilidade se dá desde que provada a culpa do agente. Exceções (arts. 936, 937 e 938, CC): a) Responsabilidade pelo fato de animal (art. 936): responsabilidade objetiva, o artigo não permite a discussão da culpa do agente, embora permita a exclusão da responsabilidade por culpa da vítima. Não é baseado em risco integral. Serve para animais domésticos e selvagens. b) Responsabilidade civil por ruína de prédio (art. 937): o dono do edifício em construção responde por danos resultantes de defeitos no prédio ou em algo que foi acoplado a ele em caráter definitivo (escada, elevador, etc.). É a responsabilidade por um defeito na estrutura física. A doutrina majoritária entende que é hipótese de responsabilidade subjetiva com culpa presumida. c) Responsabilidade por objeto lançado (art. 938): responsabilidade objetiva de risco integral (entendimento da doutrina e jurisprudência). O proprietário responderá mesmo em caso fortuito e força maior. Aplica-se também essa regra a objetos caídos do espaço. Causalidade alternativa: quem responde pela coisa caída é a unidade de onde ela proveio. Caso não possa ser identificada a origem, responde o condomínio, que terá ação regressiva contra quem causou ou quem a possa ter causado. Locação de automóveis e empréstimo do bem: a responsabilidade é solidária (Súmula 492, STF). Alienação fiduciária e leasing: não há solidariedade, a responsabilidade é do devedor. Bem subtraído: o proprietário perdeu o poder de comando, não responde por danos, salvo se ele contribuiu para o roubo ou furto. 9. Pressupostos da responsabilidade Civil: 9.1. Culpa: a) Culpa Lato Sensu: abrange o dolo e a culpa scticto sensu. Amplia a possibilidade indenizatória. Não há a distinção de dolo e culpa. Para existir culpa, exige-se a imputabilidade (possibilidade de autodeterminação e compreensão do fato). b) Classificações de Culpa: - Gradação de culpa (art. 944): O Juiz pode reduzir equitativamente a indenização se houver desequilíbrio entre grau de culpa e dano. O aumento já não pode ocorrer. A redução eqüitativa pode ser aplicada de oficio e não se aplica as hipóteses de responsabilidade objetiva. - Nos casos de responsabilidade com culpa concorrente da vítima, cada um responde pela sua parcela. Nos casos de culpa exclusiva, exclui-se a responsabilidade. Na responsabilidade objetiva é possível alegar culpa exclusiva da vítima e culpa concorrente, já que não se fala em culpa do agente, mas sim da vítima. - Culpa contra a legalidade: presunção de culpa criada pela jurisprudência. Quando a conduta do agente consiste em violação a texto expresso de lei. Gera presunção relativa de culpa. 9.2. Dano: - 3
a) Dano material (art. 402, CC): Prejuízo ao patrimônio; perda de um bem jurídico patrimonialmente apreciável, que já foi incorporado ou iria ser incorporado (dano emergente) ao patrimônio. Dano emergente: Restituição integral. Deve ser igual ao valor do prejuízo causado. Lucro cessante: lucro que se teria no patrimônio, mas não terá mais. O juiz define o alcance do lucro cessante pelo princípio da razoabilidade. O dano material pressupõe ainda juros, correção monetária e verba honorária. Tem-se entendido no Brasil que o Juiz pode conceder de oficio estes valores, não precisam ser requeridas pela parte. Os juros serão devidos desde a data do evento danoso quando extracontratual (Súmula 54 STJ), ou desde a citação inicial (art. 405, CPC). Vem prevalecendo que os juros serão de acordo com a Taxa SELIC (art. 406). Correção Monetária (Súmula 43 STJ): desde a data do efetivo prejuízo. Arts. 389, 395, 398. Súmula 14 STJ: honorários advocatícios sobre o valor da causa serão corrigidos desde a data do ajuizamento. Se a condenação for fixada em prestações periódicas (art. 475-Q, CPC), o juiz poderá determinar, a pedido da parte, ao devedor q constitua capital para garantir o pagamento da pensão. É possível substituir a constituição de garantia por pela inclusão do beneficiário da prestação em folha de pagamento de entidade de direito público ou de empresa de direito privado (art. 475-Q, 2º, CPC). b) Dano moral: efetiva violação dos direitos da personalidade e da dignidade humana; Tem sede constitucional: art. 5º, V e X. Não compõe rol taxativo. É tudo o que gera violação à dignidade humana. Súmula 37, STJ: quando decorrentes do mesmo fato, acumula-se dano moral e material. A prova do resultado do dano moral está sendo dispensada. Basta provar o ato lesivo e não o resultado dele decorrente. Cumulabilidade de dano moral e dano moral: é possível, pois dano moral é gênero, e suas espécies são várias: dano estético, dano à imagem, dano moral (à honra), etc., desde que decorrentes à conduta. Serão devidas tantas indenizações quantas forem as lesões causadas. Pessoa Jurídica pode sofrer dano moral (Súmula 227 STJ e art. 52, CC). Arbitramento do dano moral: por arbitramento judicial. O STJ não admite o punitive damage, ou dano punitivo. Pois o dano moral não tem escopo punitivo. Transmissibilidade do dano moral: foi considerado durante muito tempo induto personae os arts. 943 e 12, Único acabaram com isso. O direito de exigir indenização por dano moral transmite-se a herdeiros. Não se aplicam os limites de sucessão, todos têm co-legitimação. Perda de uma chance: não é dano moral nem material, mas sim categoria autônoma de dano. Não viola a personalidade nem patrimônio. É a subtração da possibilidade de disputa de algo. 9.3. Nexo de Causalidade: une a conduta culposa ao dano. O agente só responde pelos danos que causou de forma direta e imediata. O agente não responde pelo dano remoto, embora responda pelo dano em ricochete. Concausa Simultânea: há um só dano ocasionado por várias causas, podendo um só dano ser atribuído a várias pessoas. Concausa Concomitante: se estabelece uma cadeia de causas e efeitos, dificultando o aferimento de qual delas é responsável pelo dano. Gera responsabilidade solidária. Excludentes de nexo de causalidade: - culpa exclusiva da vitima; - caso fortuito e força maior (salvo risco integral); - fato de terceiro; - cláusula de não indenizar (desde que não seja contrato de adesão); - exercício regular de direito, legitima defesa, estado de necessidade. JURISPRUDÊNCIA Súmula 492 STF: A EMPRESA LOCADORA DE VEÍCULOS RESPONDE, CIVIL E SOLIDARIAMENTE COM O LOCATÁRIO, PELOS DANOS POR ESTE CAUSADOS A TERCEIRO, NO USO DO CARRO LOCADO. ADF - 4
Súmula 54 STJ: OS JUROS MORATORIOS FLUEM A PARTIR DO EVENTO DANOSO, EM CASO DE RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL. Súmula 43 STJ: INCIDE CORREÇÃO MONETARIA SOBRE DIVIDA POR ATO ILICITO A PARTIR DA DATA DO EFETIVO PREJUIZO. Súmula 14 STJ: ARBITRADOS OS HONORARIOS ADVOCATICIOS EM PERCENTUAL SOBRE O VALOR DA CAUSA, A CORREÇÃO MONETARIA INCIDE A PARTIR DO RESPECTIVO AJUIZAMENTO. Súmula 37 STJ: SÃO CUMULAVEIS AS INDENIZAÇÕES POR DANO MATERIAL E DANO MORAL ORIUNDOS DO MESMO FATO. Súmula: 227 STJ: A PESSOA JURÍDICA PODE SOFRER DANO MORAL. - 5