FINANCIAMENTO, GASTO E AVALIAÇÃO ECONÔMICA EM SAÚDE. Sérgio Francisco Piola IPEA/DISOc



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Transcrição:

FINANCIAMENTO, GASTO E AVALIAÇÃO ECONÔMICA EM SAÚDE Sérgio Francisco Piola IPEA/DISOc

Financiamento/Gasto/Aval.Econômica No Brasil, durante bom tempo, o interesse a respeito de questões relacionadas ao financiamento e ao gasto setorial prevaleceram e, de certa forma, ainda prevalecem, sobre as questões de avaliação econômica.

Financiamento/Gasto/Aval.Econômica Possíveis razões desse comportamento: Necessidade de garantir sustentabilidade financeira ao SUS como elemento indispensável à universalidade; Discussão sobre uso mais eficiente dos recursos era, seguidamente, vista como uma ameaça ao SUS; Pouco acúmulo de estudos e de informações disseminadas sobre a utilidade da análise econômica como subsídio às decisões na saúde;

Questões passíveis de serem abordadas nos estudos sobre o financiamento da saúde Qual é a origem, volume e fluxo dos recursos do setor? Como os recursos são mobilizados, organizados e geridos? São aplicados de forma eficiente, efetiva e eqüitativa? Como são pagos os provedores? Qual a distribuição dos recursos? (geográfica, tipo de serviço, segmento social, por tipo de provedor...).

Financiamento/Gasto/Aval. Econômica Muitos dos temas anteriormente citados não têm sido suficientemente explorados; as informações existentes são incompletas e defasadas; Uma parte destas deficiências poderiam ser supridas se tivéssemos um sistema de contas em saúde com componentes nacional e regionais

Financiamento/Gasto/Aval. Econômica Para que serve um sistema de contas em saúde? Para conhecer a dimensão econômica do setor; Para conhecer os fluxos e os volumes de recursos utilizados no setor. Em suma, como se dá o financiamento e o gasto.

Financiamento/Gasto/Aval.Econômica O que se espera de um sistema de contas? Que a informação provida seja regular; Que seja a mais integral possível; Que a informação seja quase em tempo real; Que permita comparabilidade entre estados (nacionalmente) e entre países (internacionalmente)

O que sabemos sobre o gasto total em saúde? Gasto nacional em saúde: % do PIB e per capita, estimativas para 2001 Em dólares/ppp País % PIB Per capita Índice Alemanha 10,8 2.820 492 Austrália 9,2 2.532 442 Brasil 7,6 573 100 Canadá 9,5 2.792 487 Espanha 7,5 1.607 280 Estados Unidos 13,9 4.887 853 Reino Unido 7,6 1.989 347 Fonte: OMS The World Helath Report Obs.: Em dólares internacionais.

Gastos Públicos As informações estão melhores, graças ao SIOPS e à EC 29.

Qual tem sido a evolução do Gasto Público Per capita? Evolução do gasto público per capita: Três Esferas e MS Líquido 1995-2002 350 300 289 307 Valor Per Capita 250 200 150 238 180 222 163 241 241 186 174 255 184 266 174 179 168 100 50 0 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Ano Fontes: MS/SCT/DES e IPEA/DISOC Três Esferas MS Líquido

Despesas do SUS por nível de governo Brasil: Despesas do SUS por Nível de Governo, 2000 a 2003 R$ bilhões de 2004 (IGP médio) 2000 2001 2002 2003 União 34,2 34,3 33,2 29,7 Estados 10,6 12,6 13,8 13,4 Municípios 12,5 14,1 15,8 15,6 Total 57,3 61,0 62,8 58,7 Fonte: SIOPS - Elaboração DISOC/IPEA

Evolução dos gastos do SUS Brasil: Despesas do SUS por Nível de Governo, com base em índices 2000 a 2003 R$ bilhões de 2004 (IGP médio) 2000 2001 2002 2003 União 100,0 100,1 97,0 86,8 Estados 100,0 118,7 130,3 125,9 Municípios 100,0 113,4 126,8 124,9 Total 100,0 106,4 109,7 102,3 Fonte: SIOPS - Elaboração DISOC/IPEA

Despesas do SUS em % do PIB Brasil: Despesas do SUS por Nível de Governo, em % do PIB 2000 a 2003 % PIB 2000 2001 2002 2003 União 1,85 1,87 1,84 1,75 Estados 0,57 0,69 0,77 0,79 Municípios 0,67 0,77 0,87 0,91 Total 3,09 3,33 3,48 3,45 Fonte: SIOPS - Elaboração DISOC/IPEA

Resultados da EC 29 2000-2003 Governo Federal decréscimo de 13,2% - 50,7% do total em 2003 Estados: a despesa com saúde cresceu 25,9% entre 2000 e 2003; (22,7% do total) Municípios: a despesa municipal elevou-se em 24,9% no mesmo período; (26,5% do total)

Gasto Privado Famílias POF; E as empresas?

Gasto das Famílias com saúde: % do gasto por decil de renda Brasil: Gasto das famílias com saúde - % do gasto total, por decil de renda, POF 2003 % 40,00 36,96 35,00 30,00 25,00 20,00 17,28 15,00 10,00 5,00 2,08 2,82 3,61 4,41 5,93 6,93 8,90 11,08 0,00 Decil de Renda

Distribuição % dos Gastos Brasil: Distribuição % dos gastos das famílias com saúde, por decil de renda e itens de gasto, POF 2003. Item 1º Decil 10º Decil Geral Medicamentos 79,40 26,73 40,57 Plano/Seguro saúde 4,46 39,04 28,21 Consulta e tratamento dentário 1,72 10,94 10,08 Consulta médica 5,05 4,17 5,36 Hospitalização, cirurgia e ambulatório 1,16 10,72 6,65 Exames diversos 3,11 2,07 3,03 Material de tratamento 2,88 5,55 5,20 Outras 2,23 0,77 0,90 Total 100 100 100 Fonte: POF 2003 Elaboração dos Autores.

Principais problemas do financiamento da saúde Volume insuficiente; Gastos das famílias são muito altos; Distribuição não eqüitativa dos recursos públicos; Necessidade de melhorar a eficiência na utilização dos recursos;