A PRESENÇA DA BRINCADEIRA DE FAZ DE CONTA EM UMA TURMA DE EDUCAÇÃO INFANTIL DE UMA ESCOLA RIBEIRINHA DA AMAZÔNIA



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Transcrição:

A PRESENÇA DA BRINCADEIRA DE FAZ DE CONTA EM UMA TURMA DE EDUCAÇÃO INFANTIL DE UMA ESCOLA RIBEIRINHA DA AMAZÔNIA Julian Karla Diniz NERIS (bolsista PIBIC/FAPESPA) Curso de Pedagogia, Faculdade de Educação, Instituto de Ciências da Educação da Universidade Federal do Pará ICED/UFPA; Grupo de Estudos e Pesquisas em Infância e Educação Infantil na Perspectiva Histórico-Cultural - GEPEHC - juliadinizneris@yahoo.com.br Sônia Regina dos Santos Teixeira (Orientadora) Instituto de Ciências da Educação da Universidade Federal do Pará ICED/UFPA; Grupo de Estudos e Pesquisas em Infância e Educação Infantil na Perspectiva Histórico-Cultural - GEPEHC sregina@ufpa.br RESUMO Tendo como referência a teoria histórico-cultural, esse estudo teve por objetivo investigar a presença da brincadeira de faz de conta em uma turma de educação infantil e as ações pedagógicas da professora em relação a essa atividade infantil. De acordo com essa perspectiva teórica, uma criança aprende a ser humano com os outros humanos, que a colocam em contato com a cultura. A brincadeira de faz de conta é uma importante atividade da infância que contribui para esse processo. Por meio dela, a criança internaliza cultura e constrói sua subjetividade. O estudo é parte do trabalho de iniciação científica realizado pela primeira autora sob a orientação da segunda, durante o ano de 2013. A pesquisa teve como participantes dezessete crianças, com idades, entre quatro a seis anos, que frequentaram no ano de 2013 a turma de educação infantil da Unidade Pedagógica Santo Antônio, localizada na Ilha do Combu, no município Belém-Pará e a professora da turma. As informações foram coletadas por meio de registros em áudio e vídeo, registros fotográficos e anotações no caderno de campo. Os resultados apontam que a brincadeira de faz de conta ainda ocupa um lugar secundário no trabalho pedagógico desenvolvido pela professora da turma. Ela demonstra conhecer a importância da brincadeira para o desenvolvimento na infância e concorda que ela deva ser um dos eixos norteadores do trabalho pedagógico na educação infantil, conforme propõem as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, porém, desconhece o papel específico que a brincadeira de faz de conta desempenha no processo de humanização das crianças e por isso, deixa de promover e incentivar essa atividade em seu trabalho pedagógico. Apesar disso, as crianças brincam de faz de conta e interagem entre si, recriando práticas culturais vivenciadas dentro e fora da comunidade. De um modo geral, o estudo mostrou que apesar da professora ser formada em pedagogia e ser especialista em educação, necessita de uma 1

formação específica que forneça ideias e conceitos necessários à sua atuação como professora de educação infantil e que, de um modo especial, evidencie o papel imprescindível da brincadeira de faz de conta no processo de humanização na infância. Palavras-chave: brincadeira de faz de conta; criança ribeirinha, Educação Infantil 1. Introdução A discussão acerca da importância das brincadeiras no cotidiano pedagógico de creches e pré-escolas tem se tornado frequente no campo epistemológico da Educação Infantil. É consenso que ao brincar, a criança aprende e se desenvolve. Além disso, a brincadeira tem sido compreendida como uma das atividades fundamentais para a criança participar da cultura e se constituir enquanto sujeito. Uma fundamentação importante para a afirmação dessas ideias foi dada pelo psicólogo russo, Lev Semionovitch Vigotski, nas primeiras décadas do século XX. Vigotski (1933/2008) estudou a gênese da brincadeira e o papel que essa atividade desempenha no processo de desenvolvimento infantil e concluiu que sua importância não é dada por seu caráter lúdico ou de recreação, mas pelo fato de ser a atividade guia da infância, aquela que contribui de forma decisiva para o processo de constituição do ser humano nessa fase da vida. A teoria histórico-cultural explica a constituição do homem enquanto sujeito por meio do processo de apropriação da cultura, que ocorre na relação com outros humanos. Nesse processo, ele reproduz e se apropria de qualidades tipicamente humanas, tais como, a linguagem, o raciocínio, as emoções entre outras que estão inseridas dentro do contexto histórico-cultural da criança. Nesse sentido modo, como observou Mello (2004), cada nova criança que nasce, nasce num mundo pleno de cultura e aptidões, habilidades e capacidades que foram sendo criadas ao longo da história e que são modificadas a cada nova geração. Apoiado nas teses centrais do materialismo histórico e dialético, de Marx e Engels, Vigotski enfatizou o papel da história e da cultura no processo de constituição do sujeito. Teixeira (2013) afirma que Vigotski não chegou a formular propriamente um conceito de cultura, mas o estudo de sua obra e de seus comentadores acerca desse tema (Ex. LA MATA, CUBERO, 2003; PINO, 2000,2005; VALSINER, 1997,2000; VAN DER VEER, 1996; WUETSCH, TULVISTE,1992), permite depreender que ele 2

considerava cultura tudo o que os seres humanos criaram ao longo da história, incluindo elementos materiais, tais como, máquinas, instrumentos, objetos variados, e elementos simbólicos, tais como, a linguagem e os demais signos criados pelo homem, Para Vigotski (1929/2000), o ser humano ao nascer é um candidato à humanidade. Para tornar-se humano precisará constituir-se culturalmente, a partir da aprendizagem do uso social dos objetos e da internalização dos significados de sua cultura. Outro termo fundante da teoria histórico-cultural é o conceito de história. A cultura é fruto da vida social, que é construída historicamente de geração em geração. O sujeito, por vez, é produtor de cultura e ao mesmo tempo produto de suas próprias internalizações, construindo assim a sua subjetividade. Nesse processo, o papel do outro é fundamental, pois é através das interações que as qualidades humanas são apropriadas e o sujeito é humanizado. A humanização é, portanto, um processo de educação/formação. De acordo com a teoria histórico-cultural, é durante a infância que a criança inicia o processo de apropriação do mundo objetivo pela atividade no meio em que vive, constituindo-se como um sujeito cultural, que vai, ao longo de sua história de vida, formar suas funções psíquicas superiores como a personalidade, conduta, atenção e memória voluntárias, imaginação, linguagem verbal e escrita, cálculo. Todos esses aspectos se desenvolvem nas relações históricas e culturais. Humanizar na perspectiva da teoria histórico-cultural consiste na criança se constituir enquanto sujeito humano por meio das relações e interações sociais com parceiros mais experientes. Dessa forma, o processo de humanização envolve processo de trocas e comunicação com outros seres humanos. Nesse processo, o papel do outro, seja de um parceiro mais experiente ou não, é de extrema relevância, pois é por meio das interações que os outros intencionalmente ou espontaneamente mostrarão à criança, os objetos e os signos da cultura na qual ela está inserida. Nesse sentido, o principal objetivo da educação infantil, será possibilitar as crianças, a apropriação das qualidades tipicamente humanas, por meio de uma educação que as humanize. O papel do professor passa a ser a de um parceiro mais experiente que propicia atividades intencionais que impulsionem o desenvolvimento da criança. De acordo com Mello (2004) a teoria histórico-cultural nos permite compreender o processo educativo em sua complexidade, além de reservar à educação e ao ensino um papel essencial no processo de humanização. Ao declarar que as características tipicamente humanas são construídas nas relações sociais, assinala que os indivíduos 3

somente se humanizam, mediante a apropriação da cultura no processo de sua atividade. Todas as habilidades e aptidões humanas são constituídas nas relações entre o homem e o mundo da cultura, constituindo-se produtos e produtoras da história humana. É nessa perspectiva que a brincadeira de faz de conta é compreendida na teoria histórico-cultural. Ela é uma atividade cultural e histórica, portanto, constitutiva da criança. Por meio dela, que a criança internaliza cultura e constrói sua subjetividade. No texto A brincadeira e o seu papel no desenvolvimento psíquico da criança Vigotski (1933/2008), o autor ressalta a relevância da brincadeira para o processo de humanização. Ao brincar, a criança recria o que ela vivencia em suas relações com os outros e representa situações extraídas da realidade utilizando regras de comportamento socialmente construídas. Na perspectiva da teoria histórico-cultural, as crianças aprendem por meio de atividades e ações que mais significam para elas a atividade principal ou atividade guia. Na idade pré-escolar, compreendida entre três a seis anos de idade, a brincadeira é a atividade guia, ou seja, é a principal atividade pela qual a criança se apropria do mundo concreto dos objetos humanos, por meio da reprodução das ações realizadas pelos adultos com esses objetos e pela internalização dos signos. Segundo Teixeira (2013), a brincadeira de faz de conta compõe um dentre vários sistemas de relações da criança, que contribui para constantes reconfigurações de sua subjetividade, particularmente, no que se refere à possibilidade de pensar e agir diante de sua realidade. Nesse sentido, quando uma criança brinca de faz de conta ela está ela desenvolve todas as suas qualidades humanas - linguagem oral, memória voluntária, atenção, pensamento, convivência em grupo, emoção, imaginação entre outras. A criança que frequenta os ambientes coletivos da educação da infância está em pleno desenvolvimento de suas funções psicológicas superiores. Para contribuir com esse processo, o trabalho educativo precisa ser intencional e planejado para que assim ela se aproprie das qualidades humanas e se humanize. Dessa forma, tendo como referência a teoria histórico-cultural, o objetivo do presente artigo é investigar a presença das brincadeiras de faz de conta em uma turma de educação infantil de uma escola ribeirinha da Amazônia e quais são as ações da professora com relação à presença dessa atividade no cotidiano pedagógico da turma de educação infantil. 2. Método 4

2.1. Participantes Participaram deste estudo dezessete crianças com idades entre três e cinco anos que no período de maio e junho de 2013 frequentavam a turma de Educação Infantil, da Unidade Pedagógica Santo Antônio. Participou também a professora da turma, graduada em Pedagogia e especialista em educação. 2.2. Procedimentos da coleta de informações A coleta de informações foi realizada semanalmente, entre os meses de maio e junho. Durante esse período, íamos uma vez por semana acompanhar a rotina de uma manhã de atividades da turma. Os registros foram feitos por meio de gravação de vídeo, de fotografias e anotações no caderno de campo, perfazendo um total de oito registros. Além disso, entrevistamos a professora da turma para obter informações sobre as suas concepções acerca da presença da brincadeira de conta nas turmas de educação infantil e sobre o contexto histórico-cultural das crianças. O procedimento de análise do material coletado seguiu a orientação da análise microgenética, vinculada à teoria histórico-cultural. Em cada visita, registrávamos em nosso caderno de campo as atividades que faziam parte do cotidiano da turma. Nos dias que estivemos presente, a professora iniciava as atividades com uma roda de conversa na qual as crianças cantavam diversas cantigas de roda, ora escolhidas por elas, ora escolhidas pela professora. Em seguida, fazia a chamada das crianças, mostrando uma tira de papel com o nome de cada uma, solicitando que todos dissessem de quem se tratava então, colocava cada nome num quadro de pregas. 3. Resultados A Unidade Pedagógica Santo Antônio localiza-se na Ilha do Combu, no município de Belém Pará e está vinculada à Secretaria municipal de Educação do Município- SEMEC. A escola fica às margens do Igarapé do Combu e é toda construída em madeira, possuindo duas salas de aula, uma sala da coordenação pedagógica, uma cozinha, quatro banheiros masculinos e femininos, para as crianças e para os funcionários, refeitório e 5

uma área externa (terreiro). Além disso, possui, um barracão com piso de cimento, localizado em uma área externa, que é raramente para as atividades da escola. Ao lado da escola fica a capela de Santo Antônio e o centro comunitário, onde são realizadas as festividades e reuniões da comunidade. No período em que realizamos a pesquisa, a turma de Educação Infantil funcionava no horário matutino. A sala de referência da turma era grande e arejada. Possuía um quadro branco, quatro mesas pequenas com quatro cadeiras pequenas cada, todas de cores diferentes, nas quais se podia ler os nomes das crianças, além de uma mesa com cadeira para a professora. Nas paredes havia um quadro de chamada com duas colunas, uma com os nomes das meninas e o outra com os nomes dos meninos. Na mesma sala, funcionava no horário vespertino, uma turma multisseriada do ensino fundamental. Por esse motivo, juntamente com o mobiliário da educação infantil, na sala havia cadeiras e mesas encostadas na parede e uma estante de livros do ensino fundamental. Na sala havia também um espelho, duas caixas de papelão contendo brinquedos industrializados, tais como, carrinhos, bonecas, ursos de pelúcia, panelinhas, entre outros, jogos de encaixes e uma estante de ferro com prateleiras, onde eram acondicionados materiais de pinturas, jogos educativos e massinha de modelar, entre outros recursos didáticos. As caixas contendo os brinquedos ficavam sempre abertas com os brinquedos visíveis às crianças. Além dos brinquedos, as crianças brincavam com jogos de encaixe, que geralmente eram resignificados nos momento de brincadeiras. Peculiaridades do processo de constituição cultural das crianças da comunidade da Ilha do Combu já foram descritas e analisadas por Teixeira e Alves (2008) e Teixeira (2003a e 2013b). As crianças da turma investigada não diferiam tanto do que foi evidenciado nos estudos desses autores. Seus saberes e fazeres estavam bastante relacionados com o rio e a floresta, apesar de todas conhecerem a cidade de Belém e terem contato com elementos típicos da cultura urbana. Seus pais viviam do extrativismo e venda do açaí, fruto da Euterpe oleracea martius, pertencente à família das palmáceas, conhecido popularmente, que se constitui na principal fonte de renda das famílias ribeirinhas da região. A comunidade não conta com espaços nem equipamentos destinados à infância e, por conta de viverem em uma ilha, as crianças têm dificuldades de interagir com outras crianças da vizinhança. No entanto, apesar de muitas semelhanças entre os estudos, algo merece ser destacado. Quando os autores citados realizaram suas pesquisas ainda não havia energia elétrica na Ilha, talvez por isso o significados construídos nas brincadeiras estivessem mais relacionados com a realidade ribeirinha. 6

Neste estudo, apesar desses conteúdos ainda predominarem, já observarmos forte presença de elementos da cultura urbana. A professora da turma era formada em pedagogia e tinha concluído um curso em especialização em educação. Um ponto importante sobre a professora que deve ser evidenciado é a relação que ela mantinha com os familiares das crianças e com a comunidade em geral. Ela conhecia todas as famílias das crianças e o contexto históricocultural ribeirinho mais amplo, vivido pelas crianças. Por fazer parte da rede pública do município de Belém, a Unidade Pedagógica Santo Antônio desenvolve a proposta de Educação Infantil da Secretária Municipal de Educação, que estabelece que o currículo da educação infantil deva ser organizado com base nas diversas linguagens infantis. Desse modo, a rotina da turma, geralmente constava do momento da acolhida, do desenvolvimento de uma situação de aprendizagem (assim denominada as atividades acadêmicas), da hora do lanche e saída. Fundamentadas nas proposições da teoria histórico-cultural de que a brincadeira de faz de conta é essencial no processo de constituição cultural da criança e que por isso, deve estar presente nas turmas de educação infantil, detivemo-nos a observar a presença dessa atividade no cotidiano da turma de educação infantil, incluindo a frequência com que essa atividade era propiciada às crianças e as posturas da professora diante da mesma. No que se refere à presença da brincadeira, constatamos que essa atividade infantil ocupava um lugar secundário no trabalho pedagógico desenvolvido pela professora. O tempo que ela destinava a essa atividade era muito pequeno, ocorrendo, geralmente, após o lanche, quando já se aproximava o horário de saída. Apesar disso, as crianças encontravam um jeito e um tempo para brincar de faz e conta e brincavam bastante. Como os brinquedos ficavam sempre disponíveis em duas caixas acessíveis a elas, aproveitavam quaisquer intervalos entre as atividades propostas pela professora para brincar. Os horários em que mais brincavam eram no intervalo entre a hora do lanche e a hora da saída e na hora do recreio. Nesses momentos, a professora permitia que elas retirassem os brinquedos das caixas e que formassem grupos para brincar. Conforme escolhiam os brinquedos, formavam os grupos, geralmente, de 4 a 5 crianças e iniciavam as brincadeiras. Na maioria das vezes, os meninos só brincavam com meninos e as meninas apenas com meninas. Verificamos que, geralmente, eram as crianças mais velhas que iniciavam as brincadeiras. As mais novas observavam e, em seguida, começavam a participar. As 7

interações geralmente eram breves e pouco apoiadas na linguagem para combinar cenários ou papéis. Como o objetivo da pesquisa era identificar, mais do que a presença das brincadeiras, mas também o que a professora fazia em relação às mesmas, realizamos uma entrevista com a professora, na qual perguntamos sobre as suas concepções sobre a brincadeira, além de observarmos suas posturas diante dessas atividades no cotidiano pedagógico da turma. Contatamos que a professora sabia que as brincadeiras são atividades importantes na infância e demonstrava estar ciente da existência dos marcos legais brasileiros que sugerem a presença da brincadeira no trabalho pedagógico desenvolvido na Educação Infantil, sobretudo, das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2009), que propõem as brincadeiras como um dos eixos norteadores do currículo da educação infantil. No entanto, ao que parece, ela compreendia que as únicas brincadeiras a serem planejadas e incentivadas na escola, são aquelas dirigidas por ela, que tenham relação com determinado projeto desenvolvido na escola e que visem o ensino de conteúdos disciplinares. Por isso, ela organizava brincadeiras com regras, jogos de encaixe ou construção, brincadeiras populares, cantigas de roda, entre outros, sempre relacionadas com o projeto desenvolvido e com o ensino de determinado conteúdo. Durante o período da pesquisa, vivenciamos dois momentos em que a professora planejou e realizou brincadeiras dirigidas ou com como ela dizia, com fins pedagógicos, como por exemplo. Tais brincadeiras estavam relacionadas ao projeto que estava desenvolvendo naquele mês e ocorriam no momento denominado de situações de aprendizagem. Por exemplo, em um mês em que o projeto desenvolvido era sobre a diversidade de cores, a professora trouxe bambolês de diferentes cores e realizou jogos e brincadeiras, como circuitos de corridas, cujo objetivo era que as crianças identificassem os nomes das cores. Por outro lado, ela não dedicava tempo nem espaço no seu trabalho pedagógico para as brincadeiras de faz de conta, por considerá-las como manifestações espontâneas das crianças, que não tinham relação com as atividades realizadas na escola. Ela disponibilizava brinquedos e não os proibia de brincar. Entretanto, não fazia nada para que as crianças brincassem por mais tempo e não acompanhava as brincadeiras. De acordo com nossas observações, ficou evidente o desconhecimento da professora acerca da relevância das brincadeiras de faz de conta para o processo de humanização na infância e, consequentemente, a necessidade de incluí-las em seu 8

trabalho pedagógico. Em vários momentos, presenciamos que os conteúdos culturais derivados das vivências das crianças pulsavam em suas falas e gestos. Algumas vezes, elas brincavam às escondidas e falando muito baixo, quase inaudível. Quando nos aproximávamos, percebíamos que os conteúdos de suas falas e gestos estavam carregados de elementos culturais da cultura ribeirinha, como por exemplo, andar de barco, pescar e vender açaí, atividades próprias do contexto ribeirinho. No entanto, esses saberes não eram considerados pela professora. 4. Considerações Finais A partir do acompanhamento do trabalho pedagógico da turma de Educação Infantil da Unidade Pedagógica de Santo Antônio, realizado durante dois meses, com registro semanal de um dia de trabalho, é possível tecer algumas considerações sobre a presença da brincadeira de faz de conta na turma de educação infantil e das posturas da professora com relação a essa atividade. No que tange à presença da brincadeira de faz e conta na turma de educação infantil, podemos dizer que ela era frequente. As crianças brincavam, mas por suas próprias iniciativas e insistências. Elas sempre davam um jeito de brincar, nos intervalos entre as atividades organizadas pela professora, principalmente, no intervalo entre o horário do lanche e a saída e na hora do recreio. Apesar da professora não destinar tempo e espaço para essa atividade em seu trabalho pedagógico e, praticamente, ignorar sua presença no contexto da turma, nas brincadeiras que tivemos oportunidade de observar, ficou evidente que as crianças construíam significados culturais resultantes de suas relações sociais e esses significados estavam sendo internalizados, passando a fazer parte de suas subjetividades. Os resultados apontaram também que a professora sabia da importância da brincadeira para o desenvolvimento na infância e concordava que ela deva ser um dos eixos norteadores do trabalho pedagógico na educação infantil, conforme propõem as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, porém, desconhecia o papel fundamental e específico que a brincadeira de faz de conta desempenha no processo de humanização das crianças e por isso, deixava de promover e incentivar essa atividade em seu trabalho pedagógico. De um modo geral, o estudo mostrou que apesar da professora ser formada em pedagogia e ser especialista em educação, necessita de uma formação específica que 9

forneça ideias e conceitos necessários à sua atuação como professora de educação infantil e que evidencie o papel imprescindível da brincadeira de faz de conta no processo de humanização na infância. A partir de nossas análises, podemos inferir que a professora da turma em que foi realizada a pesquisa não entendia o que propõem as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil, quando em seu Artigo 9º, afirmam que as brincadeiras e as interações devem ser os eixos norteadores das propostas pedagógicas de Educação Infantil, por isso, não incluía a brincadeira de faz e conta no seu trabalho pedagógico. Na compreensão da professora, isso era algo menor, uma atitude espontânea da própria criança, com a qual ela não tinha responsabilidade. Ela acreditava que a única brincadeira que tinha valor em seu trabalho pedagógico era a que organizava e que tinha um conteúdo acadêmico a ser ensinado. Isso sinaliza para os órgãos responsáveis pela gestão e formação dos professores dessa etapa da educação básica que essa questão não se resolve com o conhecimento dos 13 artigos que compõem o textos das Diretrizes, nem com a participação do professor de educação infantil em qualquer curso de formação inicial ou continuada. A professora era pedagoga e especialista em educação, ainda assim apresentava tais posturas diante da presença da brincadeira de faz de conta no cotidiano da turma de educação infantil. É urgente a implementação de políticas de formação continuada a nível federal e municipal, fundamentadas em uma sólida formação teórica sobre o caráter fundante dessa atividade para o processo de humanização na infância. 5. Referências Bibliográficas BRASIL. Ministério Nacional de Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução N 5, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília, DF,2009. DELARI. A. Vigotski: consciência, linguagem e subjetividade. Campinas, Alínea, 2013. FACCI, M. G. D. Os estágios do desenvolvimento psicológico segundo a teoria sociohistórica. In. ARCER. A. DUARTE. N. Brincadeiras de papéis sociais na educação infantil: contribuições de Vigotski, Leontiev e Elkonin. São Paulo: Xamã, 2006. FREITAS, Maria Teresa. Cadernos de Pesquisa (Fundação Carlos Chagas), São Paulo, v.1, n.116, p.21-40.2002. MARTINS, Lígia M. A brincadeira de papéis sociais e a formação da personalidade. In ARCE. A. DUARTE. N. Brincadeiras de papéis sociais na educação infantil: contribuições de Vigotski, Leontiev e Elkonin. São Paulo: Xamã, 2006. 10

MELLO, S. A. A escola de Vygotski. In: CARRARA, Kester (org). Introdução à Psicologia da Educação: seis abordagens. São Paulo: Avercamp, 2004, p. 135-154. MELLO, S. A. Infância e humanização: algumas considerações na perspectiva histórico-cultural. Perspectiva, Florianópolis, v.25, n1, 2007 TEIXEIRA, S. R. S. A relação cultura e subjetividade nas brincadeiras de faz de conta de crianças ribeirinhas da Amazônia. Texto aprovado pelo Grupo de Trabalho 07-GT 07- Educação de crianças de zero a seis anos da Associação Nacional de Pesquisa e Pós Graduação em Educação- ANPED, para ser apresentado e publicado nos Anais da 36ª Reunião da ANPED- Goiânia- GO,2013. VIGOTSKI. L. S. A brincadeira e o desenvolvimento psíquico da criança. Trad. Zoia Prestes. Rio de Janeiro: UFRJ, Revista GIS nº11,2008, pp.23-36,1933/2008. 11