CRÍTICAS À TERCEIRIZAÇÃO Antônio Welton Alves Nogueira 1 Francisco Flavio De Jesus Martins 2 Jadson De Jesus Silva 3 Mateus Fernandes Noronha 4 Patrick Henrique Sousa Corvalho 5 RESUMO O artigo discute sobre da terceirização, considerando alguns pontos negativos e positivos levando a uma analise de aplicabilidade e efeitos na sociedade atual brasileira começando a partir do sistema capitalista que deu origem. Depois de uma analise conceitual da terceirização e breve apanhado histórico dos funcionamentos e métodos de produção do sistema capitalista, para que se possa fazer uma contextualização do o surgimento da terceirização, são debatidas algumas críticas à legislação e à jurisprudência brasileira que tratam do assunto. Ao final uma análise da inserção da terceirização no processo de flexibilização do Direito do Trabalho e do conflito entre princípios que a aplicação da terceirização pode provocar. Palavras-chave: terceirização, flexibilização, precarização, trabalho. 1. INTRODUÇÃO A terceirização, Era utilizado no Brasil em empresas privadas e órgãos da Administração Pública, é considerada muitas vezes como um uma ferramenta essencial na adaptação do país ao mercado mundial, pelo que se legitima sua aceitação pelo ordenamento jurídico pátrio através do princípio da livre iniciativa. Esse artigo tem a finalidade de verificar se a terceirização encontra respaldo na legislação trabalhista, sobretudo a partir de uma análise do instituto, começando com o sistema capitalista que lhe deu origem. 1 Contato: welton-nogueira@hotmail.com 2 Contato: flaviomartinsmf123@gmail.com 3 Contato: jadsonsilva004@gmail.com 4 Contato: mateusmgl_5@hotmail.com 5 Contato: patrick_ph10@hotmail.com
2. DESENVOLVIMENTO A terceirização teve inicio em empresas dos Estados Unidos que precisavam concentrar-se na produção de armamentos, de modo a atender a demanda existente. Com este intuito, passaram a focar na atividade principal e delegaram as atividades secundárias a empresas prestadoras de serviço, como parte de melhoria do processo e técnica de gestão administrativa e operacional das empresas. Neste sentido, os resultados ficam mais evidentes sendo conhecido como outsourcing, ou terceirização, traduzindo. Segundo Ciro Pereira da Silva, a terceirização deve ser entendida como:. (...) a transferência de atividades para fornecedores especializados, detentores de tecnologia própria e moderna, que tenham esta atividade terceirizada como atividade-fim, liberando a tomadora para concentrar seus esforços gerenciais em seu negócio principal, preservando e evoluindo em qualidade e produtividade, reduzindo custos e gerando competitividade. 1 Percebe-se, a partir dessa definição, que a terceirização é instituto da Administração de Empresas, cujos reflexos são sentidos pelo Direito de forma muito intensa, por ser esse instituto uma das formas de concretização da denominada flexibilização do Direito do Trabalho. Como preceitua Fernando Basto Ferraz, a expressão terceirização surgiu através da área de administração de empresas, objetivando dar ênfase à descentralização empresarial de atividades para outrem, um terceiro à empresa. 2.1. HISTÓRICO DAS FORMAS DE PRODUÇÃO DO SISTEMA CAPITALISTA Para uma análise histórica do instituto da terceirização, é preciso expor um breve apanhado do caminhar do sistema capitalista no que diz respeito às formas de produção utilizadas na relação entre capital e trabalho. Faz-se necessário, portanto, remontar à primeira DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 5. Ed. São Paulo: LTr, 2006, p. 428. CARELLI, Rodrigo de Lacerda. Terceirização e intermediação de mão-de-obra: ruptura do sistema trabalhista, precarização do trabalho e exclusão social. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 74.
metade do século XX, época em que o taylorismo e o fordismo eram os modelos de produção utilizados pelo sistema capitalista, chegando-se, posteriormente, à superação desses modelos pelo toyotismo. No início do século XX duas formas de organização de produção industrial provocaram mudanças significativas no ambiente fabril: o taylorismo e o fordismo. Esses dois sistemas visavam à racionalização extrema da produção e, consequentemente, à maximização da produção e do lucro. Frederick Winslow Taylor (1856 1915), engenheiro mecânico, desenvolveu um conjunto de métodos para a produção industrial que ficou conhecido como taylorismo. De acordo com Taylor, o funcionário deveria apenas exercer sua função/tarefa em um menor tempo possível durante o processo produtivo, não havendo necessidade de conhecimento da forma como se chegava ao resultado final. Em momento posterior, o empresário estadunidense Henry Ford, utilizando-se dos princípios de padronização e simplificação do taylorismo, incrementou esta forma de produção, através do aperfeiçoamento da linha de montagem, da mecanização e elevada especialização do trabalho. O modelo daí surgido, entitulado fordismo, incorporou a hierarquização do sistema produtivo, de modo a intensificar os laços de subordinação do trabalhador ao empregador. Aqui ficam bastante delimitados os conceitos de empregado e empregador, já que esse modelo verticalizado evidencia a subordinação, característica fundamental da relação empregatícia. 2.2. Histórico da legislação brasileira No bojo deste processo de flexibilização da legislação trabalhista, o Brasil incorporou a terceirização ao seu modo de produção, vinculado que estava à política neoliberal de redução de custos relativos à mão-de-obra com a finalidade de aumento dos lucros. De acordo com Sérgio Pinto Martins, No Brasil a noção da terceirização foi trazida por multinacionais na década de cinqüenta, pelo interesse que tinham em se preocupar apenas
com a essência do seu negócio. 2 Em verdade, o interesse na redução dos custos com a mãode-obra e a conseqüente precarização das relações de trabalho chega ao Brasil acobertado pela idéia de necessidade de dedicação à atividade-fim da empresa. O Direito brasileiro não se ocupou da terceirização em lei específica, e essa ausência de legislação demonstra o grau de liberdade que possui o empregador de utilizar esse instituto como e quando bem entender. De mão-de-obra por empresa interposta, permitindo que os bancos se utilizassem de empresas particulares prestadoras de serviço de segurança. O decreto-lei 200 de 1967 autorizou a contratação de serviços pela administração pública federal para repassar certas atividades à iniciativa privada. O decreto 62.756 de 1969 regulamentou a atuação das agências de colocação, assim entendidas como toda sociedade, instituição, escritório ou outra qualquer organização que sirva de intermediário para procurar um emprego para um trabalhador ou um trabalhador para um empregador (art. 1º, parágrafo único, a). A Lei 6.019 de 1974, ainda hoje em vigor, dispondo sobre o trabalho temporário nas empresas urbanas, acabou por regulamentar um tipo de terceirização cujo objetivo é específico: atender a necessidade transitória de substituição de seu pessoal regular e permanente ou a acréscimo extraordinário de serviços (art. 2º). Para Sérgio Pinto Martins, O objetivo da lei era regular o trabalho temporário e não fazer concorrência com o trabalho permanente principalmente porque certos trabalhadores não tinham interesse ou não podiam trabalhar permanentemente, como o estudante; o jovem em idade de prestação de serviço militar; as donas de casa, que não tinham tempo integral para se dedicarem ao trabalho, mas apenas a uma parte dele, em função de seus encargos domésticos; os aposentados, que não queriam ter emprego permanente, e até mesmo para aqueles que não se decidiram a qual profissão iriam se dedicar. Apesar da notoriedade do referido jurista, não concordo com seu posicionamento. Para se analisar a finalidade de uma lei, é necessário contextualizá-la. A Lei 6.019. A Súmula nº 256, posteriormente revisada e incorporada pela Súmula nº 331, preceitua: MARTINS, Sergio Pinto, op. cit., p. 15-16.
256 - Contrato de prestação de serviços. Salvo os casos de trabalho temporário e de serviço de vigilância, previstos nas Leis nºs 6.019, de 03.01.1974, e 7.102, de 20.06.1983, é ilegal a contratação de trabalhadores por empresa interposta, formando-se o vínculo empregatício diretamente com o tomador dos serviços. O citado enunciado, considerando ilícita qualquer intermediação de mão-de-obra não prevista pela lei, pretendeu acabar com as empresas prestadoras de serviços a outras empresas que não estivessem enquadradas nas hipóteses de trabalho temporário ou serviço de vigilância. Essa súmula foi editada pelo TST como medida de proteção aos trabalhadores, em face da rapidez com que a terceirização passou a ser utilizada por diversas empresas brasileiras, ocasionando a crescente precarização das relações trabalhistas. A Súmula nº 257 veio para esclarecer a hipótese de terceirização prevista na Lei 7.102/83, estabelecendo que: 257 - Vigilante O vigilante, contratado diretamente por banco ou por intermédio de empresas especializadas, não é bancário. Comentário 2.3. Críticas à Súmula nº 331 do TST Por fim, dando nova visão jurídica à terceirização, foi editada a polêmica Súmula nº 331, que, revendo a Súmula nº 256, preceitua: Contrato de prestação de serviços. Legalidade I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formandose o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974). II - A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vínculo de emprego com os órgãos da administração pública direta, indireta ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988). III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta.
IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços, quanto àquelas obrigações, inclusive quanto aos órgãos da administração direta, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista, desde que hajam participado da relação processual e constem também do título executivo judicial (art. 71 da Lei nº 8.666, de 21.06.1993). Conservou-se o texto da Súmula nº 256 quase em sua totalidade, para considerar ilícita a contratação de trabalhadores por empresa interposta. No entanto, o campo das hipóteses de terceirização lícita aumentou significativamente, já que o TST passou a presumir a licitude da terceirização não só nos casos previstos em lei (trabalho temporário e serviços de vigilância), mas também com relação a serviços de conservação e vigilância e quando a empresa interposta presta serviços especializados ligados à atividade-meio da tomadora. 2.4 A TERCEIRIZAÇÃO COMO FORMA DE FLEXIBILIZAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO Sérgio Pinto Martins, tratando a flexibilização do Direito do Trabalho como teoria que surge por volta d. E 1973 para adaptar a legislação trabalhista ao dinamismo da sociedade, conceitua-a: A flexibilização do Direito do Trabalho vem a ser um conjunto de regras que tem por objetivo instituir mecanismos tendentes a compatibilizar as mudanças de ordem econômica, tecnológica ou social existentes na relação entre o capital e o trabalho. Posteriormente, o mesmo doutrinador dá o seu conceito para flexibilização: adequação das normas trabalhistas às exigências econômicas do mundo globalizado, que culmina com a precarização da relação formal de emprego 3, chegando à conclusão inevitável de que o
processo de flexibilização trata-se de forma velada de precarização do trabalho, através da supressão das garantias conquistadas pela luta histórica dos trabalhadores. As idéias dominantes são, pois, nada mais que a expressão ideal das relações materiais dominantes, são essas as relações materiais dominantes compreendidas sob a forma de idéias; são, portanto, a manifestação das relações que transformam uma classe em classe dominante; são dessa forma as idéias de sua dominação. (...) cada nova classe que ocupa o lugar da que dominava anteriormente vê-se obrigada, para atingir seus fins, a apresentar seus interesses como sendo o interesse comum de todos os membros da sociedade. A terceirização surge como uma das formas de flexibilização do Direito do Trabalho, traduzida como parte de um processo inevitável de adaptação ao mercado mundial, no qual o Brasil precisa se inserir para tornar-se competitivo e atraente ao capital externo 4. O próprio conceito de terceirização, relacionado com a necessidade. A terceirização, como forma de flexibilização, é imensamente responsável por essa precarização das relações trabalhistas, na medida em que gera a ruptura do sistema trabalhista, por dar à relação de trabalho um caráter de simples locação de mão-de-obra; causa segregação e exclusão social, por causar um estado de discriminação no ambiente de trabalho 5 ; cria relações de trabalho instáveis, propensas à fraude; dentre outras práticas extremamente prejudiciais aos trabalhadores e à sociedade como um todo. Resta saber a quem deve servir o Direito: ao povo, na luta por igualdade material; ou à elite empresária, na busca incessante pelo lucro. Há que se ter em mente que o propósito primordial do direito do trabalho não é este [ modernização dos meios de produção] e sim o de preservar a dignidade humana, qualquer que seja o modelo produtivo da moda. 3. CONCLUSÃO
Diante do exposto, pode-se concluir que o fundamento da terceirização é a ideologia da classe dominante, que, pretendendo se utilizar do instituto para aprimorar sua busca incessante pelo lucro, o traduz como fenômeno inevitável dentro do processo de crescimento econômico a que o Brasil precisa estar inserido. No entanto, essas ideias disseminadas pela classe burguesa, que, em última análise, são os próprios fundamentos do neoliberalismo, não expressam as ideias de todo o povo, não são universais, não são premissas e não são inquestionáveis. Pelo contrário, são ideias que servem à burguesia, e que por isso mesmo devem ser questionadas em sua essência, para que se possa superar o sistema capitalista vigente. REFERENCIAS Terceirização e direitos trabalhistas no Brasil. In: DRUCK, Graça; FRANCO, Tânia (org.). A perda da razão social do trabalho: terceirização e precarização. São Paulo: Boi tempo, 2007. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 5. Ed. São Paulo: LTr, 2006. FRANCISCO, Wagner de Cerqueria e. "Taylorismo e Fordismo"; Brasil Escola. Disponível em brasilescola.uol.com.br/geografia/taylorismo-fordismo, 2017. DRUCK, Graça. Flexibilização e precarização: formas contemporâneas de dominação do trabalho introdução. Caderno CRH, n. 37, jul./dez. 2002 FERRAZ, Fernando Basto. Terceirização e demais formas de flexibilização do trabalho. São Paulo: LTr, 2006. MAIOR, Jorge Luiz Souto. Enunciado 331, do TST: ame-o, ou deixe-o! Revista trabalhista, v. 4, out./nov./dez. 2002. MARTINS, Sergio Pinto. A terceirização e o direito do trabalho. 3. Ed. São Paulo: Malheiros, 1997.