XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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Transcrição:

LETRAS NO BARRO: DIÁLOGOS SOBRE A FORMAÇÃO DO LEITOR Lucielton Tavares de Almeida Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN eltonluci@hotmail.com Resumo: O trabalho em tela versa sobre as práticas de ensino que envolvem a formação do leitor nas escolas do campo. Cuja temática possibilita uma reflexão sobre o trabalho inicial do letramento literário neste espaço que, por vezes, é subjacente às políticas da escola urbana ou prejudica-se pela descontextualização didática. O reflexo dessa observação é a pesquisa aqui apresentada que possibilitou discussões entre os pressupostos teóricos concernentes a escolarização da literatura e a prática como consequência no espaço rural. Partindo desta realidade, o presente artigo objetiva-se, de modo geral, a analisar o processo de formação dos leitores campesinos quanto à prática da leitura no ensino fundamental (Anos Iniciais) da Escola Municipal Sebastião Alves Martins. Especificamente, investigar as propostas para a formação dos leitores que integram o ensino fundamental, bem como observaros recursos didáticos (livros, recursos teatrais, fantoches) da literatura utilizados pelos docentes no letramento literário em sala de aula e constatara presença de textos diversos trabalhados nas atividades escolares desta ambiência. Dispusemo-nos a deferir uma pesquisa de campo de caráter qualitativo, partindo de uma pesquisa bibliográfica, precedida por uma entrevista com os docentes atuantes no ensino fundamental (Anos Iniciais) através de questionário semiestruturado e visita ao lócus da pesquisa. A partir da qual, compreende-se que o letramento literário na escola do campo é composto por conflitos e desafios que requerem dedicação, clareza e objetividade, sobretudo, estima pelos textos literários por parte dos docentes. Os dados foram correlacionados com os diálogos de Arroyo, Cosson, Costa e Paiva que, entre outros autores, contribuíram para a constituição do alicerce teórico da pesquisa em tela. A qual permitiu-nos observar que embora as condições sejam precárias, é possível fomentar práticas educativas com vistas à progressão da formação de leitores do campo. PALAVRAS-CHAVE: Educação do campo, Leitura, Letramento literário, Literatura, Práticas. INTRODUÇÃO A Escola do Campo configura-se num espaço educacional que, muitas vezes, em detrimento da organização das instituições urbanas, é relegada ao ostracismo. Entretanto, analisar sua importância se dá em virtudeda peculiar realidade das populações rurais atendidas pela Educação do Campo.Com base no documento que rege as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo (2002), podemos distinguir, entre esses povos, diferentes grupos sociais formadores, tais como: agricultores familiares, extrativistas, pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e acampados da Reforma agrária, quilombolas, caiçaras, indígenas, dentre outros povos. 12652

2 No interior desses grupos, o trabalho pedagógico e a organização escolar nem sempre seguem o que prega a teoria. É sabido que no processo de se tornar indivíduoscidadãos, os estudantes do Ensino Fundamental (Anos Iniciais)perpassam pelo período de desenvolvimento integral. Nesta etapa da escolarização, a prática pedagógica da escola deve optar por uma proposta de educação, reconhecendoo trabalho literário como pertinente ao estímulo das habilidades de leitura e produção de escrita. Neste aspecto da formação educacional, a literatura surge como liame entre a necessidade de formar o educando campesino, não só do ponto de vista do objeto-da-educação como também formar o educando sujeito-leitor. A proposta de titulo do presente artigo elucida o trabalho para a inserção do universo literário e toda sua atmosfera textual de letras e escritos no cenário rural, plano de fundo, no qual, ele fora desenvolvido. A partir dessas discussões, o trabalho em tela parte do seguinte problema: Como se dá o processo de formação dos leitores campesinos no ensino fundamental (Anos Iniciais) da Escola Municipal Sebastião Alves Martins? Como objetivo geral, analisaremos o processo de formação dos leitores campesinos quanto à prática da leiturano Ensino Fundamental (Anos Iniciais) da Escola Municipal Sebastião Alves Martins. Propomo-nos, como objetivos específicos, a investigar as propostas literárias para a formação dos leitores; Observaros recursos didáticos (livros, textos, recursos teatrais) da literatura utilizados pelos docentes no letramento literário em sala de aula; econstatara presença de textos diversos trabalhados nas atividades escolares. Os procedimentos metodológicos tiveram como base uma pesquisa de campo de cunho qualitativo. A princípio, partimos de uma pesquisa bibliográfica sob a finalidade de solidificar a base teórica do presente trabalho. Posto isso, mediados por questionário semiestruturado, foram entrevistados todos os docentes atuantes na escola em questão sob a perspectiva de conhecer as propostas para o letramento literário das crianças e adolescentes de tais turmas. Os instrumentos de pesquisa foram escolhidos por permitir que opiniões, sentimentos e anseios fluíssem no discurso de resposta, por parte dos entrevistados, a fim de atrelar as informações colhidas desses materiais e o estudo posto em tela. Os dados coletados foram discutidos e relacionados à luz dos referenciais teóricos obedecendo à sequência cronológica da pesquisa. O reflexo dessa observação é uma práxis do educador alijada da realidade na qual irá trabalhar. O educador urbano dificilmente adequa suas práticas pedagógicas aos 12653

3 diferentes contextos nos quais vivem os pequenos campesinos. Talvez, em virtude disso, a formação do leitor do campo ainda seja incipiente. Mesmo sabendo que, em tais instituições, a heterogeneidade de conhecimentos das crianças pode ser mais abrangente do que as que existem na cidade, e devem, portanto, superar o caráter homogêneo nelas constituído. Não obstante, são proeminentes as políticas urbanas que permeiam o lócus da escolarização rural. O letramento literário é, pois, uma aprendizagem semelhanteaos demais conhecimentos que devem ser ofertados às crianças e adolescentes pertencentes ao espaço rural que, por sua vez, possui cenários naturais que concebem um arsenal de possibilidades entre os contos literários e as necessidades reais dos estudantes. Refletir sobre a presença de uma literatura que, nos fazeres educativos, dialogue por meio dos textos trabalhados em sala de aula e traga para ela os escritos que refletem a imagem, o jeito, a pedagogia do campo é assegurar que a cultura, os saberes, valores e conquistas desses povos serão mantidos e respeitados. Não apenas em sua formação literária, mas também no tocante ao seu desenvolvimento social, político e integral. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Face à pesquisa em tela, algumas discussões podem ser suscitadas na formação literária do ensino fundamental (Anos Iniciais) do campo. Como resultado do trabalho em curso, compreendemos que a própria concepção de letramento literário, por parte dos docentes, ainda é defasada. Embora atuem com propostas para promover a escolarização da literatura, não há intencionalidades nítidas que possibilitem a articulação do universo literário na sistematização da aprendizagem dos educandos. Acreditamos que este conhecimento tênue seja decorrente da demanda escassa de cursos literários em formações continuadas direcionadas para estes professores. Não obstante, algumas lacunas prejudicam a formação acadêmica do profissional do magistério que não atribui à formação literária o tratamento adequado. No tocante ao trabalho com diversos gêneros textuais nas salas multisseriadas, observamos que este procedimento ocorre mediante a organização de grupos considerando a seriação ou o desenvolvimento dos alunos. É uma estratégia frutífera, uma vez que, além de descentralizar o ensino da figura do professor, enfatiza a relação criança/criança na aprendizagem. Onde os mais experientes auxiliam aqueles com menor experiência. 12654

4 No que tange aos recursos literários utilizados pelos docentes nas salas de aulas, averiguamos que, embora a escola disponha de outras opções para edificação desta prática, os instrumentos de maior uso nas atividades literárias são os livros de histórias infantis. É certo que, na escola contemporânea, a literatura obteve avanços embrionários através de políticas educacionais que passaram a considerar o tratamento literário com mais estima. Contudo, algumas dificuldades ainda permeiam a escolarização literária no espaço do campo. Realçamos aqui aspectos estruturais, como a inexistência de bibliotecas de alto padrão, com diversidade adequada para atender aos critérios de predileção da sua clientela tal qual a escola pesquisada. Outro aspecto fulcral está relacionado ao apreço pelos textos literários por parte do docente. Se entendermos a literatura como instrumento pedagógico que contribui para o desenvolvimento da aprendizagem, ela tem de ser tratada com devida adequação, imbricada em diversos métodos, momentos, situações e acompanhar, sobretudo, todo o processo de escolarização do sujeito. Para tanto, é dependente do valor que o professor agrega à fruição de qualquer tipo de leitura. Para estabelecer uma relação significativa entre o universo literário e os alunos, esta relação deve se fazer presente no caráter pessoal do educador. Deve, pois, o professor ser o incentivador precípuo do desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita por meio da literatura no Ensino Fundamental (Anos Iniciais). Partindo dos textos presentes no panorama cultural de seus educandos, atribuindo à literatura sua função social na formação de seus estudantes, cultivando os saberes e respeitando as vivências e experiências das lutas enfrentadas pelos povos do campo. REFERÊNCIAS ARROYO, M. G; CALDART, R. S. MOLINA, M. C. (Orgs.) Por uma educação do campo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa/ Secretaria de Educação Fundamental Brasília, 1997. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Conselho Nacional da Educação. Câmara Nacional de Educação Básica. Diretrizes Curiculares Nacionais 12655

5 Gerais da Educação Básica / Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394, 20 de dezembro de 1996. COSSON, Rildo; Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: contexto, 2006. COSTA, Marta Morais da; Metodologia do Ensino da literatura infantil.curitiba: Ibpex, 2007. LIMA, M. A. S.; SILVA, L. N; O gênero discursivo seminário: habilidades a serem desenvolvidas e o papel da mediação docente In: LEAL, T. F.; GOIS, S. (orgs). O oral na escola: A investigação do trabalho docente como foco de reflexão. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. PAIVA, Aparecida de. Alfabetização e Leitura Literária. A leitura literária no processo de alfabetização: a mediação do professor. In: BRASIL, Ministério da Educação. Alfabetização e Letramento na infância. Boletim 09/ Secretaria de Educação Básica Brasília: MEC/ SEB, 2005. PAULINO, Graça; COSSSON, Rildo; Letramento literário: viver a literatura dentro e fora da escola. In: ZILBERMAN, Regina; ROSING, Tânia M. K. (Orgs.). Escola e leitura: velha crise, novas alternativas. São Paulo: Global, 2009. SOARES, Magda; Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. 12656