30/08/2018. Mobilidade Urbana VASCONCELOS, Eduardo Alcântara de. Mobilidade urbana e cidadania. Rio de Janeiro: SENAC NACIONAL, 2012.

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Transcrição:

Mobilidade Urbana VASCONCELOS, Eduardo Alcântara de. Mobilidade urbana e cidadania. Rio de Janeiro: SENAC NACIONAL, 2012. Planejamento Urbano e Regional UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DEPARTAMENTO DE PROJETO, HISTÓRIA E TEORIA DA ARQUITETURA E URBANISMO Turma A (AUR051) Prof.: LUCIANE TASCA COMO SE FORMAM AS CIDADES? Como um organismo vivo, as metrópoles são concebidas em uma dinâmica de construção coletiva em constante mutação. A forma como uma cidade se desenvolve é determinada por um conjunto de forças e interesses dos indivíduos, do governo e das organizações privadas que se entrelaçam de forma complexa. Dentro dessa dinâmica é importante perceber o conceito de cidade enquanto produção coletiva. 1

A interação entre as diferentes forças e interesses dos indivíduos e das organizações privadas e públicas forma uma complexa rede na qual estão em foco não só o indivíduo, mas todo o sistema político e econômico, o Estado, o capital, a indústria e o comércio, os sistemas de transporte e trânsito, os processos migratórios e o valor da terra. Esta é a rede que vai influenciar diretamente na forma de ocupação do território e na organização do fluxo de mobilidade. Agentes e fatores envolvidos no desenvolvimento urbano e suas relações com transporte e trânsito As formas específicas do desenvolvimento urbano_relativo ao uso e a ocupação do solo, e suas características físicas e sociais_ têm impacto direto no sistema de transporte e de trânsito, e são por eles afetadas também, num processo de interação. O SISTEMA POLÍTICO E ECONÔMICO Sendo o Brasil uma república federativa, dentro de um Estado de direito democrático e de economia capitalista, algumas implicações devem ser consideradas: A convivência entre as 3 esferas de poder (executivo, legislativo e judiciário) tem capacidade de intervenção ou de arbitragem nas questões de transporte. A renovação dos governantes por eleições podem confirmar ou alterar as políticas de transporte existentes. A predominância da propriedade privada da terra urbana, possui grande impacto na forma de ocupação e uso da cidade, pois na intenção de aumentar os preços dos terrenos, impactam o sistema de transporte. A existência de empresas privadas em áreas urbanas, promove o interesse de localização física de suas atividades, o que está ligado à disponibilidade de vias e meios de transporte. O ESTADO Ele é essencial no tocante às políticas públicas, ou seja, pelo conjunto de decisões e ações que são tomadas em cada área de atuação, como na educação, na justiça, na saúde no desenvolvimento urbano e no transporte público e no trânsito. A INDÚSTRIA AUTOMOTIVA Tem interesse em vender veículos e atua junto ao governo para facilitar a venda e o uso dos veículos. OS CAPITAIS FINANCEIRO, INDUSTRIAL E COMERCIAL Têm interesse em vender ou fazer edificações na cidade, interferindo na produção do espaço urbano. OS INDIVÍDUOS Atuam de forma independente ou associados, promovendo ações diretas sobre a configuração do espaço urbano. OS SISTEMAS DE TRANSPORTE E TRÂNSITO Com suas características físicas e de oferta de serviços, condicionam as decisões das pessoas no modo como usar a cidade. OS PROCESSOS MIGRATÓRIOS Podem aumentar a população da cidade ou diminuí-la, com impactos de toda ordem no desenvolvimento urbano. Estes impactos são de grande relevância, especialmente quando se considera as enormes diferenças sociais, políticas e econômicas no Brasil. 2

O VALOR DA TERRA Condiciona a localização das atividades e da população. O sistema de transporte influencia este valor de acordo com o nível de acessibilidade que confere ao espaço. DINÂMICA DA ECONOMIA Diz respeito ao nível de emprego, à renda média das pessoas e à abertura de novos negócios na cidade. Todos estes agentes e processos interagem de forma complexa, produzindo o espaço urbano no qual vivemos e influenciando as formas como o sistema de transporte e trânsito são organizados e utilizados. Assim podemos analisar as cidades por meio de 2 características relacionadas entre si: a forma de ocupação do território e a organização do sistema de mobilidade. Países Desenvolvidos No caso dos países desenvolvidos, temos 2 modelos de ocupação: 1 - Cidades densas como as europeias e japonesas: Uso misto com pessoas morando próximas do trabalho, da escola, serviços, etc. Participação do transporte público e da mobilidade feita a pé ou de bicicleta. 2 - Cidades espalhadas como as norte-americanas e australianas A distância entre residência, trabalho, escola e serviços são maiores. O uso do automóvel é muito mais intenso. Países em Desenvolvimento Acontece a mesma separação entre cidades densas (Ásia) e cidades mais espalhadas (América Latina e África). Há uma variedade de situações no que cabe ao sistema de mobilidade: Países muito pobres (Bangladesh, na Ásia; Zâmbia na África; Bolívia na América Latina) dependem quase que inteiramente de meios não motorizados de transporte (caminhada ou bicicleta) ou do ônibus. Países mais avançados no processo de industrialização (Brasil, México e Coréia do Sul) já organizaram um conjunto diversificado de meios de transporte, dentro do qual o motorizado desempenha um papel importante. Formas de Deslocamento e Transporte Uso direto, individual ou coletivo. Natureza legal: privado ou pública. Modos Individuais ANDAR é a forma mais natural do deslocamento. A maior parte das pessoas faz viagens a pé, com ou sem a utilização de um modo complementar. Mesmo em cidades grandes, como São Paulo, grande parte dos deslocamentos diários, cerca de 34% são feitos exclusivamente a pé. Há ainda os percursos feitos a pé para dar acesso aos veículos ou outros meios de transporte. 3

Modos Individuais A BICICLETA é, de longe, o veículo mais utilizado pelas pessoas no mundo. A sua presença é maciça na Ásia. Só na China há 300 milhões de bicicletas. Copenhagen. 4

Em países de alta renda, como Japão, Alemanha e Holanda, há mais bicicletas que automóveis. Modos Públicos Em países em desenvolvimento como Ásia, a proporção de bicicletas por habitante pode ser igual a 1. No Brasil a produção anual de bicicletas registradas vem sendo de 5 milhões, desde 2001. Ela é também o veículo mais numeroso, estimando-se que havia em 2011, 52 milhões de unidades no país. A grande vantagem das bicicletas são seu baixo custo de aquisição e manutenção, além da facilidade de utilização e estacionamento. Pode-se também citar sua vantagem para a saúde. Sua desvantagem está no campo da segurança, dada a falta de infraestrutura viária e de sinalização adequada. Dentre as diferentes formas de deslocamento público, os ônibus são os mais utilizados em todo o planeta. No Brasil e demais países em desenvolvimento, costumam ser o mais importante meio de transporte. Podem transportar entre 22 e 45 pessoas sentadas. A partir da década de 80 foram desenvolvidos os veículos articulados (com 2 partes) e biarticulados (2 partes), transportando um número muito maior de pessoas. A indústria de ônibus no Brasil é uma das maiores do mundo. Em 2011 ela produziu mais de 35 mil ônibus de vários tipos, sendo a maioria para uso urbano. Como as pessoas organizam seus deslocamentos? Para chegar a um determinado lugar numa hora específica as pessoas precisam organizar seus deslocamentos. Existem 3 tipos de fatores que interferem na decisão dos indivíduos quanto a sua forma de deslocamento: fatores pessoais (condição física e financeira); fatores familiares (cultura, vida pessoal); fatores externos (oferta de meios de transporte). FATORES PESSOAIS: Referem-se ao indivíduo, seu grau de maturidade e liberdade, e suas condições físicas de gênero e renda. A maturidade e liberdade estão ligados à idade. Indivíduos muito novos até os 7 anos de idade têm muitas limitações, saindo somente acompanhadas. Entre os 7 e 14 anos começam a ir para escola ou até mesmo trabalhar (em especial em países pobres). O deslocamento predominante é o feito pelas pessoas entre 18 e 50, faixa de idade com grande envolvimento em funções fora de casa. PESSOAS EM IDADE PRODUTIVA. A renda também interfere nos deslocamentos em função dos custos de usar determinados meios de transporte. Conforme a renda cresce, a mobilidade aumenta e também o uso motorizado particular. Em deslocamentos a pé para a escola, são os jovens que mais se movimentam. Cerca de 60% das pessoas chegam à escola por meio da caminhada, o que está ligado à distribuição física das redes públicas de ensino. Pessoas mais idosas tendem a sair menos, por dificuldades de locomoção. Apesar do crescimento do lazer e turismo para a terceira idade, ainda não houve alteração significativa no nível de mobilidade para os idosos. Também é importante verificar os grau de imobilidade, ou seja, qual é a parcela de indivíduos que não se desloca. As pessoas com deficiência têm dificuldade de locomoção agravada por calçadas mal conservadas e pelo transporte público inadequado. 5

FATORES FAMILIARES Em países em desenvolvimento, andar a pé ou de bicicleta pode significar sinal de pobreza, fator ligado aos padrões sociais e culturais. Pode existir também, de forma menos evidente, o preconceito ligado ao uso do transporte público, surgindo da diferença de renda e das percepções sobre o tipo de transporte correto para determinado grupo social. Neste caso se enquadram as novas classes médias com acesso ao automóvel no Brasil. A visão negativa do transporte coletivo, pode ser reforçada pela propaganda de venda de carros e motos, incentivando o consumo desses produtos. Além disso, os problemas frequentemente veiculados na mídia sobre o transporte público, reforça a vontade deter seu veículo próprio. Assim, a posse de um veículo (carro ou moto) aumenta a mobilidade, sendo um reflexo do aumento da renda. Este fator é determinante para as mudanças no deslocamento e na mobilidade. FATORES EXTERNOS A mobilidade também é influenciada por outros aspectos como a quantidade e qualidade do transporte público, a localização e horários de funcionamento e também a segurança do lugar. Quando as pessoas pensam em como se movimentar pela cidade consideram a oferta disponível para seu deslocamento. Para os que desejam caminhar o dado mais importante é a disponibilidade de calçadas e sua qualidade, além das condições de travessia das vias. Para os ciclistas, o que interessa é a possibilidade de usar as vias com segurança. Já que pretende usar o transporte público terá preocupação com quais linhas estão disponíveis e o valor da tarifa. Quem quer usar o automóvel ou moto vai pensar nas vias que estão disponíveis. No caso do transporte público, quanto maior a qualidade e mais baixo o custo, maior será a atratividade e, portanto, sua utilização. Se ocorrer o contrário, o uso cai. Quanto menor o custo de usar o automóvel, mais atraente seu uso será. Ao contrário, quanto maior o custo de sua utilização, menos pessoas vão procurá-lo. Este é o exemplo das épocas em que o preço do combustível se torna caro ou das cidades com pouca oferta de vagas para estacionar na via pública. As Desigualdades no Uso da Cidade Em relação à motocicleta, quanto maior for a facilidade de uso das vias, maior será a sua atratividade. A liberdade de ir e vir nas metrópoles é diretamente proporcional ao acesso que cada indivíduo tem aos meios de transporte e circulação na cidade. Essas diferenças de acesso podem ser classificadas de acordo com as categorias de pobreza, idade, gênero e condição física. Em muitos países em desenvolvimento as pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza correspondem a até 80% da população. São muitos os problemas de mobilidade enfrentados pelos menos favorecidos, incluindo: 1) a necessidade de viver em áreas periféricas, longe do trabalho dos serviços; 2) a falta de infraestrutura adequada para pedestres e ciclistas; 3) a oferta insuficiente de transporte público ou as altas tarifas. 6

Consumos Da Mobilidade ESPAÇO. TEMPO. RECURSOS NATURAIS. Estes são os principais itens utilizados para a mobilidade. O sistema de mobilidade envolve um grande consumo de recursos naturais, sendo o primeiro deles o espaço territorial, na forma de vias, calçadas e locais de estacionamento de veículos. Como as residências e todas as atividades da cidade precisam ser conectadas é preciso construir um sistema de vias e calçadas que tenham distâncias não muito longas a serem percorridas. Em geral o conjunto de redes é construído de 100 em 100 metros por quadras, fazendo com que 20% do território seja ocupado pelos dois elementos citados. Nesse sentido o CONSUMO DE TERRA é umdado importante. Espalhar as cidades significa aumento de distâncias a serem percorridas e, logo, dos tempos de percurso, consumo de energia e emissão de poluentes. Além disso, este fato onera os cofres públicos, pois os custos da urbanização espraiada, gera enormes gastos. As Calçadas Andar a pé é o ato mais humano de deslocamento. Todos somos pedestres em algum momento. Assim as calçadas são o elemento mais essencial para a circulação das pessoas e o principal consumo da mobilidades urbana. Umas das principais limitações para que tenhamos boas calçadas é que a sua construção é de responsabilidade do proprietário do terreno em frente a ela. O resultado disso são calçadas executadas de qualquer forma, sem especificações técnicas. As Vias As pessoas com deficiência ou aquelas que precisam empurrar carrinhos de feira ou de bebês têm grande dificuldade de usar as calçadas, tendo em vista sua péssimas execução. As características físicas das calçadas são importantes do ponto de vista da segurança, do conforto e das barreiras físicas que impõem. A largura mínima para a circulação confortável nos dois sentidos é de 2 metros, sendo que nos locais de trânsito intenso de pessoas esta medida deve ser aumentada. As vias são caminhos físicos preparados para a circulação de pessoas e veículos. São formadas de 2 elementos: calçadas e leito carroçável. Podem ser classificadas como: VIAS LOCAIS (cobrem áreas residenciais), VIAS COLETORAS (coletam o tráfego das vias locais e leva até uma via maior- vias comerciais de bairros) E VIAS ARTERIAIS (percorrem grandes distâncias, têm maior largura e volume). 7

O Tempo Recursos Naturais Um outro consumo da mobilidade é sem dúvida o tempo. A quantidade de horas e minutos a ser consumido dependerá da distância a ser percorrida e da velocidade do modo de transporte utilizado. O modo mais lento é a caminhada que se modo confortável se faz com 4 Km/h. Ao usar outro modo de locomoção as pessoas gastam mais tempo. As viagens de transporte coletivo duram em média o dobro das viagens a pé ou de bicicleta. Há que se levar em consideração que as pessoas percorrem distâncias maiores de ônibus por exemplo. O consumo começa com os materiais necessários na construção das vias e calçadas e continua com os meios necessários para a sinalização do trânsito, como os metais, plásticos, tintas. Há ainda o consumo de energia gasta pelos meios de transporte. Pode ser de origem fóssil (petróleo e gás) ou de origem vegetal (álcool) ou hídrica (energia elétrica). O Uso Do Automóvel Precisamos apontar também outra forma de consumo da mobilidade, embora de caráter individual, que é o uso do automóvel. O custo individual de ter um veículo 1.0 novo, cujo valor é de cerca de R$ 30.000,00 é de cerca de R$ 965,00 por mês. Levando em consideração que o veículo rodaria 15.000 Km por ano, o pagamento do seguro, taxas, impostos, combustível, manutenção. Referências Imagem 01: Mobilize Brasil. Imagem 04: Exame: Construindo as cidades do futuro. 8