A INCLUSÃO EDUCACIONAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS RURAIS
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- Natan Mangueira Palma
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1 A INCLUSÃO EDUCACIONAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS RURAIS Patrícia Correia de Paula Marcocia - UTP Este trabalho apresenta resultados parciais e preliminares de uma pesquisa qualitativa sobre a inclusão escolar dos alunos com necessidades educacionais especiais (NEE) nas escolas públicas localizadas nas áreas rurais no Estado do Paraná. As técnicas utilizadas para coletas de dados são: análise documental e entrevistas. A pesquisa vem permitindo o confronto entre a legislação da Educação Especial e a realidade vivenciada pelos alunos com NEE. Relatos de diretores e professores das escolas rurais descrevem a inclusão escolar dos alunos com NEE. Constata-se que a inclusão nessas escolas é marcada pela precariedade de recursos físicos, materiais e pedagógicos. Palavras-chave: educação especial; inclusão escolar; escola pública. Este trabalho apresenta parte da pesquisa de Mestrado em Educação, desenvolvida nas escolas estaduais localizadas nas áreas rurais no Estado do Paraná. O objetivo da pesquisa é analisar e descrever a inclusão escolar dos alunos com necessidades educacionais especiais (NEE) nas escolas rurais do Estado. Por meio de entrevistas com diretores e professores dessas escolas, buscou-se compreender a inclusão escolar dos alunos com NEE. A proposta da educação inclusiva compreende uma escola que atenda todos os alunos independentemente das suas diferenças, fortalecida no findar dos anos 1990, com a propagação de documentos internacionais tendo como marco fundamental a Declaração de Salamanca, de A difusão da educação inclusiva trouxe um novo redimensionamento para a Educação Especial. A expressão necessidades educacionais especiais, no Brasil, foi utilizada no art. 58 da LDB nº /96, cap.v, em referência aos alunos da educação especial. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva considera os alunos com necessidades educacionais especiais todos os que apresentam deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. A Política de Educação Inclusiva considera a Educação Especial como modalidade de ensino e não mais como ensino diferenciado do ensino regular, se caracterizando por meio do Atendimento Educacional Especializado, ofertado como apoio e complemento específico segundo a necessidade de cada aluno, sem impedi-lo de frequentar, na idade própria, ambientes comuns de ensino em estabelecimentos oficiais.
2 Além da diretriz contemplar aspectos gerais para a educação escolar dos alunos com NEE, ela aborda, ainda a necessidade de se olhar a educação especial de modo particularizado para diferentes comunidades ou grupos sociais: A interface da educação especial na educação indígena, do campo e quilombola deve assegurar que os recursos, serviços e atendimento educacional especializado estejam presentes nos projetos pedagógicos construídos com base nas diferenças socioculturais desses grupos (BRASIL, 2008, p. 17). Desse modo, a inclusão educacional nas áreas rurais não pode estar alicerçada nos critérios urbanos, pois a Educação Especial no meio rural apresenta outros contextos socioculturais e econômicos que diferem do contexto urbanoindustrial. Como afirma Mendes (2006, p. 13), cada comunidade deve buscar a melhor forma de definir e fazer a sua própria política de inclusão escolar, respeitando as bases históricas, legais, filosóficas, políticas e também econômicas do contexto no qual ela irá efetivar-se. Entende-se que a inclusão dos alunos com NEE no meio rural passa a assumir um significado diferenciado, pois está inserido no seu próprio contexto histórico e voltado para ele. Assim, a inclusão escolar, preconizada por leis e documentos nacionais e internacionais, só será efetiva no Campo se os alunos com NEE forem educados onde vivem e for pensada com a sua participação. Então, serão levadas em conta a sua cultura e as relações sociais e econômicas desta comunidade. Apresenta-se a seguir dados preliminares sobre a inclusão escolar dos estudantes NEE nas escolas estaduais localizadas nas áreas rurais, nos municípios da Região Metropolitana de Curitiba (RMC), no Estado no Paraná. Por meio de uma investigação exploratória mediante uso de entrevistas com diretores e professores dessas escolas, procurou-se levantar dados referentes às seguintes questões: 1) o número de alunos com NEE matriculados nas referidas escolas; 2) identificar os tipos de necessidades especiais presentes nessas escolas; 3) verificar a oferta de atendimento educacional especializado; 4) constatar se os professores receberam alguma formação teóricoprática para atender estes alunos. Quanto ao número de alunos com NEE, bem como os tipos de necessidades especiais presentes nessas escolas, obtiveram-se as seguintes respostas: Professor A: Tem duas alunas surdas frequentando a escola, que são excelentes e acompanham com êxito todas as atividades propostas.
3 Diretor A: Não há alunos com NEE nesta escola, pois eles vão para as APAES Rurais e não para as escolas comuns. Diretor B: Tem três alunos com NEE: um com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, um com Deficiência Física e o outro com problemas que não sei explicar, este aluno não consegue ler. Diretor C: Tem um aluno com baixa visão que está aguardando o material ampliado para melhor atendê-lo. Diretor D: Tem uma aluna surda na 8ª série que acompanha bem as atividades e se comunica por Libras, entretanto os professores não se comunicam por Libras, mas pela oralidade e nenhum deles fez este curso. Eu não entendo quase nada do que ela fala me sinto envergonhada por não saber, já os outros alunos se comunicam muito bem com ela. Diretor E: Minha escola atende trinta e cinco destes alunos, mas não sei qual o tipo de necessidade destes alunos. Diretor F: Tem três alunos: um surdo-mudo na 8ª série que não acompanha as atividades, os professores não estão preparados para trabalhar com ele, é só para socializar mesmo, pois ele não tem um bom acompanhamento. A escola atende ainda dois alunos com baixa visão que sentam na frente na sala de aula e fazem atendimento educacional especializado pelo Município, eles acompanham bem as atividades acadêmicas. Diretor G: Suspeito de cinco casos de alunos com NEE. A gente precisa de mais apoio para estes alunos. No papel é bonito, na prática ocorre diferente, faltam profissionais para atender, pois professores e escola estão perdidos, não sabem o que fazer. Diretor H: Suspeito de dez alunos, mas nenhum tem o laudo formal da SEED-PR, comprovando que apresenta NEE. Eles estão com 15 anos e ainda permanecem na 5ª série, por isso, considero eles com NEE. Diretor I: Tem um aluno com deficiência visual que enxerga com lupa. No primeiro ano em que começou a frequentar a escola, recebeu material ampliado. Depois disso nunca mais recebeu o material, mas acompanha bem as atividades. Os professores procuram ampliar a letra da prova para que ele consiga fazer a leitura. Diretor J: Tem um aluno com Déficit de Atenção que faz atendimento de Psicologia pelo Município, que apresenta muita dificuldade de aprendizagem, mas a escola não tem dificuldades para trabalhar com ele. Diretor K: Nós imaginamos que tenha, mas não tem acompanhamento dos professores de área. Tinha uma professora que fazia trabalho com aluno especial, mas ele saiu.
4 Diretor L: Tem um aluno com Déficit de Atenção, ele tomou Ritalina por dois anos e parou, foi encaminhado para ser atendido na Psicologia, mas desistiu. Ele vai ser reencaminhado para o atendimento de Psicologia, pois é um caso grave. Tem outro caso complicado que é um menino que ninguém consegue segurar na cadeira, e que está em atendimento especializado pela Psicologia do Município. Diretor M: Tem um aluno com Deficiência Intelectual, vários alunos com Déficit de Atenção e um com Deficiência Física. Diretor N: Tem um aluno Hiperativo, outro com problema e um aluno inteligente pra caramba, mas ele se torce todo e seu desenho é bem agressivo. Aqui nós não damos conta desse tipo de aluno. Lá nas escolas especiais eles vão atender bem melhor. Diretor O: Este ano recebi um aluno com Deficiência Intelectual. Procurei todas as pessoas para ver o que fazer e fiquei a ver navios, esta é uma inclusão perversa, o menino veio do Município e ninguém fez nada, nós estamos sem ajuda. Agora os alunos vêm para nós, mas não temos espaço para sala de recurso. Só com os professores de 5ª a 8ª o menino não vai progredir, mesmo sendo um bom menino. Diretor P: Atendo um aluno hiperativo, diagnosticado pela pedagoga da escola que fez pós-graduação em Psicopedagogia. Ele já ficou retido duas vezes na 5ª série e atualmente está na 6ª. A escola já chamou a mãe para falar que o menino é hiperativo, mas ela não aceitou o diagnóstico. A terceira questão trata da oferta de atendimento educacional especializado nestas escolas. Nesta questão apenas o Diretor E, afirma ofertar algum atendimento educacional especializado na sua escola, dizendo que tem 8 alunos que frequentam a sala de recurso na própria escola em turno contrário e o restante aguarda abrir uma nova sala de recurso para ter o atendimento garantido. O restante dos diretores alega que sua escola não oferta atendimento educacional especializado por falta de recurso físico, material e pedagógico. A última questão busca identificar se os professores receberam alguma formação teórico-prática para atender os alunos com NEE. Os professores e os diretores são unânimes em afirmar que não receberam nenhuma formação por parte dos órgãos responsáveis. Nas entrevistas constata-se a existência de cinquenta e oito estudantes com NEE sendo: sete alunos com baixa-visão, dois com Condutas Típicas, três com Déficit de Atenção, dois alunos com Deficiência Auditiva, cinco com Deficiência Física, trinta e um alunos com
5 Deficiência Intelectual e oito com surdez, matriculados nas escolas regulares localizadas nas áreas rurais. A maior parte dos profissionais revelou não ter conhecimento de como atender os alunos, alegando não ter recebido nenhuma formação continuada, bem como suas escolas não ofertarem Atendimento Educacional Especializado por não terem recursos físicos, materiais, profissionais especializados e pedagógicos. Garantir esse atendimento no campo é um fator significativo, tendo em vista que os atendimentos ocorrem na parte central dos Municípios e não no local onde os alunos residem, implicando o uso do transporte escolar por longas distâncias. Além disso, alguns fatores da concretude do dia-a-dia revelam a invisibilidade dos sujeitos com NEE no campo paranaense, entre eles: lugares de difícil acesso, estradas precárias, utilização do transporte escolar por longas distâncias e sem adaptação. Essa invisibilidade dos sujeitos com NEE, no campo paranaense, aponta algumas hipóteses como: o desinteresse do governo estadual em identificar os sujeitos do campo com NEE, o esquecimento do seu dever em garantir o acesso dessa população à rede pública de ensino, garantindo condições de permanência, por meio de iniciativas dirigidas à formação teórico-prática do docente, à dotação de infraestrutura às escolas, à garantia de professor especializado, bem como, do atendimento educacional especializado. Apesar dos novos dispositivos legais a respeito da Educação Especial, a aplicação dos discursos políticos ainda não ocorre nas escolas públicas nas áreas rurais. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, Disponível em: Acesso: BRASIL. Ministério da Justiça/CORDE. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília, BRASIL. Senado Federal: Lei nº 9394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, MENDES, Enicéia Gonçalves. A radicalização do debate sobre inclusão escolar no Brasil. Rev Bras Educ, Rio de Janeiro, v.11 n.33, p , set/dez 2006.
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