Um palpite inteligente: incentivando a estimativa em sala de aula
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- Wilson Pinhal Molinari
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1 VII CONGRESSO INTERNACIONAL DE ENSINO DA MATEMÁTICA ULBRA Canoas Rio Grande do Sul Brasil. 04, 05, 06 e 07 de outubro de 2017 Relato de Experiência Um palpite inteligente: incentivando a estimativa em sala de aula Karina França Bragança 1 Ramon Chagas Santos 2 Jonas Miranda Vilamar de Sousa 3 Ana Paula Rangel de Andrade 4 Educação Matemática nos Anos Finais do Ensino Fundamental Resumo: A estimativa é um ato praticado com frequência pelas pessoas. Aproximações de tempo, de valor e de quantidade exigem raciocínio rápido e habilidades com o cálculo mental. Em sala de aula essa prática é pouco percebida, valorizando-se os resultados exatos. Nessa perspectiva, este artigo pretende apresentar os resultados de uma aplicação que teve como objetivo estimular nos alunos a capacidade de estimar por meio de atividades que envolvam a aritmética e a geometria, explorando os sentidos visual e auditivo. A sequência didática elaborada contou com as seguintes atividades: Imagens na tela, Jogo da antecipação, Objetos no pote, Desafio das bolinhas, Poema e Momento da medição. Também foram apresentados diversos slides com situações em que a estimativa é utilizada, por exemplo, na contagem de pessoas em grandes eventos. A aplicação foi feita com trinta e nove alunos de uma turma de nono ano do Ensino Fundamental. Utilizou-se a metodologia de pesquisa qualitativa e os instrumentos de coleta de dados foram a observação, as anotações no caderno de campo e as respostas dos alunos em uma avaliação sobre o trabalho apresentado. Os resultados mostraram que na gincana os alunos melhoraram suas estimativas e que o trabalho foi altamente motivador. Necessita porém de grande comprometimento do professor na seleção e preparação de materiais. Palavras Chaves: Estimativa. Contagem. Medição. Introdução Estimar é uma ação praticada com frequência pelas pessoas. Em diversas situações do dia a dia o cálculo exato não é necessário. A estimativa é tema que deve ser abordado desde os primeiros anos do Ensino Fundamental. 1 Licencianda em Matemática. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense. karinabraganca14@gmail.com. 2 Licenciando em Matemática. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense. ramonchagassantos@hotmail.com. 3 Licenciando em Matemática. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense. jonasvilamar@hotmail.com. 4 Doutoranda em Planejamento Regional e Gestão da Cidade. Mestre em Planejamento Regional e Gestão da Cidade. Especialista em Educação Matemática e em Matemática. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense. anapaulara@iff.edu.br.
2 A estimativa constrói-se juntamente com o sentido numérico e com o significado das operações e muito auxilia no desenvolvimento da capacidade de tomar decisões. O trabalho com estimativas supõe a sistematização de estratégias. Seu desenvolvimento e aperfeiçoamento depende de um trabalho contínuo de aplicações, construções, interpretações, análises, justificativas e verificações a partir de resultados exatos. Desde as primeiras experiências com quantidades e medidas, as estimativas devem estar presentes em diversas estratégias que levem os alunos a perceber o significado de um valor aproximado, decidir quando é conveniente usá-lo e que aproximação é pertinente a uma determinada situação, como, identificar unidades de medida adequadas às grandezas (BRASIL, 1997, p.77). Observa-se porém que na sala de aula essa abordagem não é valorizada. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, a estimativa é uma das formas de enfrentamento de uma situação problema e por meio dela é possível avaliar erros nas soluções encontradas (BRASIL, 2002). Assim, além de evidenciar procedimentos que conduzem a respostas exatas e únicas, é importante, nas aulas de Matemática, desenvolver estratégias para estimar valores, ou seja, formar uma opinião com base num julgamento de valor aproximado (GONZATTI, 2013, p.72). Segundo Miguel (2011) o incentivo ao cálculo mental e ao desenvolvimento da capacidade de estimativa promove uma situação de aprendizagem matemática instigante e prazerosa além de diminuir a presença de resultados absurdos em alguns cálculos. Para que isso ocorra, é preciso uma mudança de postura frente à concepção da Matemática como algo pronto, o que demanda tempo e formação contínua dos professores. Smoothey relaciona as ideias de estimativa e aproximação e defende que estimar não é chutar um resultado mas palpitar usando um raciocínio coerente. Uma estimativa é um palpite inteligente. Não é um número qualquer, escolhido a esmo, mas um número baseado na observação e no raciocínio. Também não se trata de um erro ou de uma mentira. Algumas vezes você só precisa de uma boa estimativa, não de uma resposta exata. Uma boa palavra para estimativa é aproximação. Quando você topa expressões como cerca de, aproximadamente, mais do que, quase, ou o clássico mais ou menos, está sendo feita uma estimativa (SMOOTHEY, 1998, p. 7). Dessa forma, elaborou-se uma sequência didática com o objetivo de estimular nos alunos a capacidade de estimar por meio de atividades que envolvam a aritmética e a geometria, explorando os sentidos visual e auditivo.
3 Este trabalho foi desenvolvido no âmbito da disciplina Laboratório de Ensino e Aprendizagem de Matemática (LEAMAT) do curso de Licenciatura em Matemática. LEAMAT possui quatro linhas de pesquisa, dentre elas, a aritmética na qual foi desenvolvida esta sequência. A pesquisa, de caráter qualitativo, foi aplicada a uma turma de nono ano do Ensino Fundamental. Teve como instrumentos de coleta de dados: a observação, as anotações no caderno de campo e as respostas dos alunos a uma avaliação sobre o trabalho realizado. Descrição da sequência didática A sequência didática divide-se em três partes. As duas primeiras contam com as seguintes atividades: Imagens na tela, Jogo da antecipação, Objetos no pote, Desafio das bolinhas, Poema e Momento da medição. Na primeira parte os alunos resolvem as atividades individualmente e na segunda se agrupam, para a realização de uma gincana. Para o registro das respostas nas duas partes, são distribuídas fichas, não sendo permitidas rasuras, pois logo após todos marcarem a alternativa desejada é dada a resposta para que os alunos possam avaliar as suas estimativas (Figura 1). Figura 1 Fichas utilizadas em duas atividades Fonte: Elaboração própria.
4 Na Gincana, os grupos pontuam a cada resposta correta e ao final tem-se um grupo vencedor. Na terceira parte são apresentados slides que tratam da importância da estimativa no dia a dia. A seguir, são descritas as atividades. A atividade Imagens na Tela consta de quatro slides. Em cada um são apresentadas imagens representando pessoas (Figura 2). O objetivo é estimar a quantidade de pessoas presentes em cada imagem. O grau de dificuldade aumenta a cada slide, ou pelo aumento do número de pessoas ou pela disposição das mesmas na figura. Figura 2 Um dos slides da atividade Imagens na Tela Fonte: Como o objetivo da atividade não é que o aluno faça o cálculo exato, é usado no slide um recurso em que, após alguns segundos, a imagem sai da tela automaticamente. Tal recurso também é utilizado nas duas atividades que seguem. No Jogo da antecipação são apresentados dez slides, cada um indicando uma operação de soma ou de subtração (Figura 3). O objetivo da atividade é que os alunos estimem um resultado aproximado para a operação apresentada em cada slide.
5 Figura 3 Um dos slides da atividade Jogo da Antecipação Fonte: Na atividade Objetos no pote são mostrados dois potes, com tamanhos diferentes, cheios de balas, para que os alunos estimem a quantidade aproximada de balas em cada pote (Figura 4). Figura 4- Potes utilizados na atividade Objetos no pote Fonte: Elaboração própria Na atividade Desafio das bolinhas espera-se que o aluno estime a quantidade de pontos em um dado tempo utilizando a comparação, no primeiro caso (Figura 5a) e um parâmetro (Figura 5b), no segundo caso.
6 Figura 5 Dois slides da atividade Desafio das bolinhas a b Fonte: Na próxima atividade, Poema, os alunos devem estimar a quantidade de vezes que se repete determina palavra ou expressão em um determinado poema. Na primeira parte, as palavras escolhidas foram caminho e pedra do poema No meio do caminho de Carlos Drummond de Andrade (Figura 6a) e na segunda parte, as expressões foram De repente e fez-se do Soneto da Separação de Vinícius de Moraes (Figura 6b). A contagem é feita durante a leitura dos poemas. Figura 6 Poemas da atividade Poema (a) (b) Fonte: Elaboração própria.
7 Na atividade Momento da medição, são mostrados três sólidos geométricos vazios (Figura 7) e três garrafas cheias de água, em diferentes níveis. O objetivo é que o aluno consiga adivinhar, por meio de uma estimativa, qual o volume de cada sólido, associando cada um à uma das garrafas apresentadas. Figura 7 Sólidos utilizados na atividade Momento da medição Fonte: Elaboração própria. Logo após a Gincana, são mostrados alguns slides que trazem manchetes em que o uso da estimativa está presente (Figura 8). Figura 8 Duas manchetes utilizadas na terceira parte da aula (a) Fonte: (a) (b) (b)
8 Relato de experiência Para a aplicação desta sequência didática, o professor precisa preparar com antecedência todos os materiais e fichas. O ideal é que tenha um ajudante para auxiliá-lo na contagem dos pontos e na arrumação das atividades. Na primeira atividade, os alunos tiveram um estranhamento inicial no momento em que as figuras sumiam da tela. Perceberam então, que deveriam ficar atentos ou então perderiam a oportunidade de fazer uma estimativa razoável em cada imagem. Passada essa primeira impressão, tiveram facilidade para estimar já demonstrando empolgação com seus acertos e criando estratégias como agrupamentos e multiplicações. Na segunda atividade, o Jogo da antecipação, os alunos se mostraram preocupados em chegar a um resultado exato. Com o tempo, perceberam que a soma ou a subtração de alguns números já era suficiente para uma boa estimativa. Na atividade Objetos no pote, os alunos fizeram uma boa estimativa no primeiro caso, pois o formato do pote era parecido com o que servia de referência. O mesmo não ocorreu no segundo caso, pois o pote possuía um formato diferente do pote utilizado como referência. Não houve dificuldade na atividade do Desafio das bolinhas. Na atividade Poema, os alunos desenvolveram algumas técnicas para a estimativa como a utilização das mãos para a contagem das expressões e o uso de tracinhos no papel para o mesmo fim. No primeiro caso, os dedos levantados em uma mão representavam a quantidade de vezes que uma determinada expressão aparecia o mesmo acontecendo com a outra mão (Figura 9), e no segundo caso, os alunos marcaram duas colunas em um papel, de tal forma que cada coluna representasse uma expressão e cada tracinho a quantidade de vezes que essa expressão se repetiu.
9 Figura 9 Uma das alunas utilizando as mãos na atividade Poema Fonte: Elaboração própria. Na última atividade da primeira parte, Momento da medição, os alunos demostraram muito interesse e foram muito competitivos, porém não conseguiram boas estimativas. Tal fato pode ter sido gerado devido a distância entre os alunos e os objetos. Ao final desta atividade, foi feita a conferência da resposta correta, despejando no sólido indicado, a água que estava na garrafa correspondente. Na Gincana, as estimativas, em sua maioria, foram melhores em comparação às feitas na primeira parte da aula. Os alunos vibraram a cada conferência de resultado no final de cada atividade. Ao final, os alunos avaliaram o trabalho realizado. Seguem algumas dessas avaliações: Eu gostei muito da aula. Foi um jeito diferente de trabalhar a Matemática na sala de aula (Aluno A). Foi uma experiência incrível e tudo muito organizado. Adorei a forma como vocês fizeram a turma participar, opinar, etc (Aluno B). Considerações Finais O trabalho teve seu objetivo alcançado. Os alunos não ficaram experts em estimar, pois essa é uma habilidade que exige prática para seu aperfeiçoamento, mas a sequência elaborada despertou o olhar pelo palpite, pelas questões que não
10 necessitam de resultados exatos. Isso pôde ser verificado pelas fichas de avaliação dos alunos. Percebe-se que atividades de estimativa não são trabalhadas com frequência em sala de aula. Observou-se nos estudantes uma falta de prática com essa habilidade e ao mesmo tempo um prazer enorme em poder desenvolvê-la. Estimar é algo feito com frequência pelas pessoas, como um ato natural. Cabe ao professor desenvolver em seus alunos a prática consciente de estimar tendo em vista os ganhos que tal prática agrega em sua capacidade de raciocínio. Apesar de cansativo, o trabalho foi extremamente prazeroso para alunos e licenciandos. A interação, o comprometimento e a atenção dos alunos com as atividades compensaram todo o esforço. Referências BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. PCN + Ensino Médio: Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/Semtec, BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: 1ª. a 4ª séries. Brasília: MEC, GONZATTI, Sonia E.M. Temas de ciências exatas para os anos iniciais do Ensino Fundamental, Lajeado: Univates, MIGUEL, José Carlos. O ensino de matemática na perspectiva da formação de conceitos: implicações teórico-metodológicas. Disponível em: Acesso em: 10 maio SMOTHEY, Marion. Atividades e jogos com estimativas. São Paulo: Scipione, 1998.
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