Aspectos teóricos da integração entre hidrovias e ferrovias
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- Ana Júlia Cipriano Pinhal
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1 Aspectos teóricos da integração entre hidrovias e ferrovias Introdução Os portos têm importância para as operações de carga (transporte de mercadorias) e de passageiros. Porém, o transporte hidroviário tem limitações, o que implica na associação a outros modos. Mas, quais os atributos que a ferrovia oferece para esse processo de intermodalidade? Quais os atributos tornam-se atrativos na escolha do escoamento logístico de uma produção? Essas perguntas são o fio condutor do entendimento acerca da tomada de decisão de um operador logístico ao definir a melhor opção para enviar sua mercadoria. Lembre-se que determinados produtos necessitam de um modo que suporte quantidades maiores de carga na hora do transporte. Ao final desta aula, você será capaz de: identificar os princípios aplicados à integração ferroviária e hidroviária. Aspectos básicos de integração entre hidrovias e ferrovias A integração modal é vista como sinal de desenvolvimento entre as nações. O intuito é tornar o transporte mais eficiente e otimizar tempo e custo. Assim, hidrovia e ferrovia são modos que, ao serem integrados, possuem a característica de eficiência no transporte de carga. Um dos parâmetros de eficiência é feito a partir da matriz de transporte, conforme apresenta a figura a seguir
2 Figura 1 - Comparação de matrizes de transporte de carga Fonte: ANTF (2018). Na comparação com outros países, é possível perceber uma predominância nos modos de transporte de carga menos poluentes ou, no mínimo, uma distribuição equilibrada entre os modos. É também possível associar essa eficiência na matriz de transporte ao desenvolvimento econômico e na competitividade que os produtos desses países têm em relação aos demais. FIQUE ATENTO Apesar de eficientes, as ferrovias ainda não desfrutam de reconhecimento. Para implantação desta infraestrutura, é necessário um alto investimento em manutenção, aspecto que levou grande parte das ferrovias ao descaso, gerando uma perda de competitividade em relação ao modo rodoviário. Este aspecto, somado à política de governo do século passado, deu prioridade ao modo rodoviário em relação aos demais. O transporte ferroviário é um dos modos de transporte mais limpos, com aproximadamente 7 milhões de toneladas de CO emitidos, sendo bastante inferior ao rodoviário, que emite cerca de 93 milhões de toneladas de 2 CO (EPL, 2016). Em termos de carga, o transporte ferroviário interliga regiões produtoras aos principais portos 2 e/ou centros de distribuição. Quando o foco é transporte de passageiros, o modo sobre trilhos interliga centros urbanos a bairros distantes e /ou áreas habitacionais, operando paralelamente e integrando o sistema de transporte público sobre pneus. Neste caso, a intermodalidade com as hidrovias é feita junto ao transporte público
3 Panorama do transporte ferroviário Segundo dados da Associação Nacional do Transporte Ferroviário (ANTF, 2017), o Brasil tem uma malha ferroviária de aproximadamente 28 mil quilômetros. Essa malha atende grande parte do setor de mineração e dos polos agrícolas localizados no centro-sul do país, conforme ilustrado na figura a seguir. Figura 2 - Malha ferroviária nacional Fonte: ANTF (2017). Segundo informações da ANTF, um vagão graneleiro de 100 toneladas equivale a quase quatro caminhões. Essa comparação é ambientalmente sustentável, pois o meio de transporte férreo emite uma quantidade menor de poluente carregando uma proporção maior de carga, além da redução nos índices de acidentes e congestionamentos
4 FIQUE ATENTO Segundo a ANTF (2017); cerca de 90% dos minérios chegam aos portos por trilhos. Aproximadamente 35% da produção agrícola é transportada por trens de carga e, em 2015, foram transportados quase 450 mil TEU (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés). O principal grupo de produtos que utilizam a ferrovia são os granéis sólidos não agrícolas (minérios), representando 81% da quantidade total de cargas movimentadas pelo modo. O segundo tipo de carga são os granéis sólidos agrícolas com 14% (EPL, 2016). Infraestrutura ferroviária dos corredores logísticos estratégicos Para facilitar o escoamento produtivo regional, o Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil elabora ações de infraestrutura nos corredores logísticos estratégicos (SECRETARIA DE POLÍTICA E INTEGRAÇÃO, 2017), cuja primeira versão trata da produção de milho e soja. SAIBA MAIS O conceito de corredores logísticos estratégicos foi elaborado e definido pela extinta Empresa Brasileira de Planejamento de Transporte GEIPOT (2002) como lugares ou eixos de investimentos que dispõem de potencial produtivo, econômico e social, constituindo um corredor de desenvolvimento regional. Sobre a infraestrutura férrea, o relatório aponta que não há uma uniformidade na malha ferroviária, o que dificulta a integração com os principais portos do país para escoamento da produção (SECRETARIA DE POLÍTICA E INTEGRAÇÃO, 2017). A figura a seguir apresenta a distribuição percentual dos três modelos de bitolas aplicados nas ferrovias brasileiras
5 Figura 3 - Tipos de bitolas Fonte: Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil MTPA (2017, p. 60). A não uniformidade entre as bitolas (larga, métrica e mista) implica falta de integração do próprio modo de transporte, de forma que os vagões, ora dimensionados e projetados para uma certa medida, não conseguem operar em outra medida. Em alguns casos, segundo o MTPAC (2017), são feitas adaptações para utilizar a bitola mista entre os transbordos de carga. Benefícios da integração entre hidrovias e ferrovias De uma forma geral, o setor ferroviário de cargas tornou-se atrativo a partir de uma forte ampliação e modernização concomitante à crescente demanda de granéis para o escoamento logístico da produção até os principais portos (BARBERO, 2010). Essa possibilidade de integração entre ferrovias e hidrovias deu margem para atrair importantes investidores privados, tanto na gestão quanto na aplicação de recursos com foco no desenvolvimento de infraestrutura entre os dois segmentos de transporte
6 EXEMPLO Uma unidade importante de medida de eficiência é o TKU (Tonelada por Quilômetro Útil). Ela é obtida pela multiplicação da tonelada transportada pela distância percorrida. Quando associado ao item monetário é possível obter o valor estimado do frete, por exemplo, o valor ferroviário custa US$ 20,00/1000 tku, enquanto que o hidroviário US$ 10,00/1000 tku. Ainda assim, esses valores são inferiores ao modal rodoviária (US$ 30,00/1000 tku) (MTPAC, 2017 p. 67). Um importante avanço na integração entre os dois setores de transporte é a adaptação de contêineres no lugar dos vagões (Figura 4). Outra medida foi a criação de vagões cobertos, o que possibilitou o transporte de minérios específicos e granéis sólidos. Esses ajustes trouxeram agilidade nas operações portuárias. Figura 4 - Trem de carga com contêiner Fonte: Scanrail1/ Shutterstock O incentivo da intermodalidade entre hidrovia e ferrovia está na capacidade de carga entre os dois modos. Agrega-se também a esta interação o fato de ambos serem meios de transporte limpos, ou seja, menos poluentes. Outra grande vantagem é que ambos os modos não interferem na dinâmica dos centros urbanos, ou melhor, reduzem os impactos causados pelo transporte de cargas tanto nas rodovias como nos centros urbanos. Fechamento Agora você já sabe os principais benefícios da integração do modo ferroviário com o hidroviário. Lembre-se que os aspectos foram analisados pela ótica do transporte de carga, em que os aspectos econômicos e ambientais, de certa forma, falam mais alto na escolha dos modos de transporte. Nesta aula, você teve a oportunidade de: conhecer os benefícios da integração entre os modos de transporte ferroviário e hidroviário; analisar a eficiência a partir da matriz de transporte; entender quais os desafios dos dois setores para melhoria da intermodalidade
7 Referências ANTF. Informações gerais. ANTF Associação Nacional dos Transportes Ferroviários, Brasília, [2017?]. Disponível em: < >. Acesso em: 14/1/ Do campo ao porto. ANTF Associação Nacional dos Transportes Ferroviários, Brasília, 3 mar Disponível em: < >. Acesso em: 14/1/ Mapa ferroviário. ANTF Associação Nacional dos Transportes Ferroviários, Brasília, [2018]. Disponível em: < >. Acesso em: 14/1/ Comparação de Transporte de Carga. ANTF Associação Nacional dos Transportes Ferroviários, Brasília, Disponível em: < >. Acesso em: 4/3 /2018. BARBERO, J. A. A logística de cargas na América Latina e no Caribe: uma agenda para melhorar seu desempenho. Inter-American Development Bank, EMPRESA BRASILEIRA DE PLANEJAMENTO DE TRANSPORTES GEIPOT. Corredores estratégicos de desenvolvimento Relatório final. Brasília: IBGE, jan EPL, Empresa de Planejamento e Logística. nov Plano Nacional de Logística Integrada ( ). Brasília, MAGALHÃES, P. S. B. Transporte marítimo: cargas, navios, portos e terminais. São Paulo: Aduaneiras, SECRETARIA DE POLÍTICA E INTEGRAÇÃO. Corredores logísticos estratégicos Complexo de soja e milho. Brasília: Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil,
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