ESCRAVIDÃO VERSUS LIBERDADE: UMA MÃO DUPLA DO SISTEMA ESCRAVISTA EM SANTO ESTEVÃO DO JACUÍPE1,
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- Roberto Antas Figueiredo
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1 ESCRAVIDÃO VERSUS LIBERDADE: UMA MÃO DUPLA DO SISTEMA ESCRAVISTA EM SANTO ESTEVÃO DO JACUÍPE1, Sandra da Silva Conceição Universidade Estadual de Feira de Santana Resumo Esta pesquisa propõe uma discussão sobre a escravidão e a liberdade no Arraial da Freguesia de Santo Estevão do Jacuípe. Trazendo duas vertentes, ou seja, de um lado o senhor de escravo que planeja a estratégia através da roça como um meio para manter o escravo preso ao sistema escravista, do outro o escravo ver esta estratégia como um meio para adquirir a carta de liberdade, mesmo diante da alta quantia estabelecida como pagamento, pelo senhor, o escravo consegue o pecúlio através da lavoura de Tabaco. O tabaco foi inserido no Arraial de Santo Estevão do Jacuípe em 1603, mas foi em 1792, ou seja, final do século XVIII e início do século XIX que o tabaco se destaca na economia do Arraial e os ex-escravos se torna grandes produtores de tabaco. O mesmo produto que fez este sujeito oriundo do continente africano se tornar um sujeito preso ao sistema escravista, o mesmo sistema deu possibilidade e condições deste se tornar livre e acender socialmente na sociedade de Santo Estevão do Jacuípe. Palavras Chave: Alforria, Santo Estevão do Jacuípe, escravidão. A carta de liberdade é um documento jurídico que liberta o escravo sobre o julgo da escravidão. Este documento traz em seu corpo textual algumas informações sobre o escravo: nome, cor, idade, nação, atividade que escravo desenvolve, a filiação do escravo. O documento de manumissão não aborda tão somente informações sobre o escravo, este por sua vez informa o nome do senhor, as testemunhas, o cartório onde foi lavrada a carta de liberdade e a condição que levou o senhor a dar ou doar a carta de liberdade, se a mesma foi comprada, gratuita ou condicional.
2 2 A carta de liberdade é um documento tão antigo quanto o próprio sistema escravista. Por onde o sistema escravista estruturou seus vínculos em cada território, ou nação, este documento foi enxergado como uma via de escape para poder manter a estabilidade social do sistema escravista mediante as constantes fugas da qual os escravos planejavam para tentar burlar o trabalho forçado e os castigos do cotidiano da escravidão. Durante o século XIX na província da Bahia foi constante a emissão do documento de carta de liberdade pelos senhores de escravos. De um lado Mattoso 2003, salienta para o escravo obter a carta de liberdade não era algo fácil, as vezes o escravo deveria contar com a boa relação de convivência que havia entre escravo e senhor. A autora afirma que o valor da carta de liberdade de um escravo era de acordo com a avaliação do preço do mercado estabelecido, ou seja, primeiramente o escravo era observado a condições de saúde, atividade que desenvolvia e o comportamento, caso esses critério fosse bem visto pelo senhor o escravo obteria a carta de liberdade por um preço razoável devido os bons serviços prestado. Caso o escravo tivesse uma avaliação contraria a esses critério como a saúde, atividade desenvolvida e o comportamento havia um preço muito alto da carta de liberdade e ainda a mesma poderia vir com clausulas de condições do tipo que o escravo só poderia deixar de se ausentar do trabalho escravo depois de três ou cinco anos, ou depois do falecimento do senhor, etc. No entanto, o senhor somente interfere em alforriar um escravo se o mercado de oferta lhe permitir substituir o cativo libertado. Nesse caso, ele pode livrar-se de um escravo envelhecido e ter outro, mais moço e não desgastado pelo trabalho. o preço da compra possibilita, assim, ao senhor uma verdadeira mais-valia, um lucro suplementar sobre o capital investido no escravo. No caso muito frequente em que o pagamento da alforria precede de 6,7,8 anos a outorgada efetiva da liberdade, o lucro ainda é maior. Ora muitos escravos compravam sua alforria a prazo, isto é, pelo sistema de pagamento parcelado. (MATTOSO, 2003.P.183,184)
3 3 A carta de liberdade comprada pelo escravo na mão do senhor se tornou um objeto caro, entretanto, a libertação era um objeto avaliado consoante o preço da venda de um escravo no mercado, ou seja, a carta de liberdade era apenas mais um negócio entre outros que se configura no sistema escravista. A liberdade de um escravo estava entre um jogo de um preço altamente solicitado pelo senhor de escravo, com o intuito de não obter nenhum prejuízo no que diz respeito a liberdade do escravo. E de um lado o jogo do qual se estabelece entre a escravidão e liberdade como uma forma de poder estruturar um sistema ágio e rápido das constantes estratégias que poderiam ser impetrada pelo escravo. E o senhor de escravo poder através das cartas de liberdade garantir um lucro satisfatória na venda da manumissão. Para manter o sistema equilibrado e sobre o controlo dos senhores de escravos mantinha altos preços da carta de liberdade devido os constantes fatores que se posicionavam contra ao sistema escravista que volta e meia surgiam novos movimento com o intuito por fim na escravidão. Os altos preços da manumissão eram em razão da fiscalização contra o tráfico de escravos e as leis criadas com o intuito de acelerar o fim da escravidão através dos movimentos abolicionistas. Estes fatores contribuíram para que houvesse um número significativo de carta de liberdade no final do século XVIII e inicio do XIX, fez com muitos senhores na província no nordeste baiano com medo de perder os seus investimentos optaram por fazer negócios na carta de liberdade. Devido a crise que se abateu sobre a indústria açucareira que empregava um numero elevado de escravo para que houvesse uma quantidade do produto. Além de tudo a Inglaterra a estava insatisfeita com os países que ainda prevalência com a economia sobre os cuidados do sistema escravista pela simples razão de querer expandir o mercado consumidor por causa dos seus produtos industrializados. O escravo sobre o regime do trabalho forçado este não era enxergado como consumidor, no entanto a Inglaterra queria mercados que desse lucros aos seus investimentos, em razão disso realizava uma fiscalização intensa para por fim na escravidão.
4 4 Por que uma mão dupla do sistema escravista em Santo Estevão do Jacuípe? Mesmo escravo realizando esforços para conseguir a tão sonhada carta de liberdade as condições expostas no documento de liberdade fazia com este ficava na intermediação entre a liberdade e o trabalho escravo. Para Rocha 2011, não havia nenhuma generosidade por parte do senhor em dar a carta de liberdade, no entanto havia um meio de manipular o escravo para deixar mais tempo sobre o sistema escravista, por meio da ideia de dar a libertação devido o bom comportamento,ou seja, era uma maneira estratégia de manter o escravo quieto compactuando com a ideia da tão sonhada liberdade para este não arrumar estratégia para fugir do cativeiro e manter estabilizado a convivência social nas fazendas. Já a autora Katia Mattoso 2003, afirma que as cartas de liberdade só eram dada a um escravo pela generosidade do senhor na justificativa pelo bom comportamento, lealdade e bons serviços. A própria autora ratifica que na maioria das vezes esses fatores contribuíam para que o valor da carta de liberdade não fosse um valor muito caro. As vezes a generosidade do senhor do escravo deixava uma interrogação muito grande sobre a justificativa de dar gratuitamente uma carta de liberdade, sendo este custa um valor muito alto. As afirmações que autora Katia Mattoso2003, trás coloca a pensar qual motivo um senhor daria uma carta de liberdade a um escravo? Percebe que a generosidade como afirma Aline Rocha estar além de uma simples prestação de bons serviços. Havia na verdade o intuito de enganar e manipular os sentimentos do escravo na espera de receber a tão sonhada liberdade, no entanto era mais um meio de manter o escravo sobre a submissão do sistema escravista através das clausulas condicionais que vinham em uma carta de liberdade. sendo este documento caro e valioso depender do sujeito que almeja. Há como disse Mattoso 2003 essas estratégias chamada generosidade iria além dos bons serviços, envolvia o mais corriqueiro relacionamento entre escrava e senhor, a exemplo disso foi a escrava Maria, além de ter uma filha com o seu senhor conseguiu que este libertasse do sistema escravista sua filha do relacionamento entre ela e o seu
5 5 senhor e outros filhos que não era dele conseguiu obter a tamanha generosidade do senhor Miguel Moreira da Costa. O senhor Miguel Moreira da Costa residente no Arraial da Freguesia de Santo Estevão Jacuípe, além de uma filha com sua escrava Maria, sendo que esta já tinha falecido, o mesmo ficou sendo procurador de seus filhos e de sua filha que o senhor Miguel obteve com a escrava. Por sua a escrava Maria não foi a única escrava a ter filhos com o senhor Miguel a exemplo disso foi sua escrava de nome Joana da qual teve duas filhas com seu senhor. O mesmo explica as razões de libertar seus filhos da escravidão: [...] todas estas minhas crias e por que as possuo livre e desembargadas de penhora e hipoteca e acertos, ou coisa que duvida faça, e pelos bons serviços que sua mãe tenho recebido e amor, as delas mulatinhas tenho, as forro hei por forras de hoje para todo sempre como assim nascesse do ventre materno de sua mãe[...] ( CONCEIÇÃO2016, p.48) Às vezes as generosidades que são mencionadas pelas autoras advém de um interesse de ambos sujeitos envolvidos no sistema escravista. De um lado tem o senhor com o intuito de ter um relacionamento com suas escravas com o objetivo ver estas como uma propriedade da qual lhe dava o direito de fazer o que bem entendesse. Do outro havia a escrava com o objetivo de se manter fora do sistema escravista e enxergando no relacionamento com um senhor uma maneira de poder garantir a liberdade e também poder usufruir de alguns privilégios por ter esse amor proibido. Dentro do sistema escravista havia duplicidade, ou seja, um momento o sujeito era escravo, do outro ele estava livre, essa duplicidade ser ou não escravo dava razões do próprio sujeito mantido nesse sistema de extrema violência agir conforme as armas que tinha, ou seja, por meio da compra da liberdade, ter um filho com o senhor, etc. [...] Falamos também do caráter dessa vida escrava de duas caras, dupla hierarquia, dupla moral e dupla regra de conduta,única solução
6 6, visto que a repulsa violenta que é a fuga ou a revolta quase sempre são frustradas.[...] ( Mattoso 2003,p.167) As condições que vinham no texto das cartas de liberdade possibilitava o escravo transitar em duas fases do sistema escravista, ou seja, saborear o gosto amargo da escravidão e sentir em poucos instantes a possibilidade de se torna livre, mas as condições da qual o senhor colocava deixava que o escravo volta e meia vivesse transitoriedade de ser escravo ou livro por causa das explicações que levara seu senhora lhe colocar diante da tamanha crueldade. Se pagasse o preço estipulado teria a liberdade plena sem que tivesse que vive na dupla mão do sistema escravista escravo e liberto. As vezes as condições poderia levar anos por causa que muitas vinham com o seguinte explicação só após a morte do senhor que poderia goza da liberdade. Na maioria das vezes essa condições expressas na carta de liberdade trazia uma certa desesperança por parte do escravo vendo sua carta liberdade ser lavrada, mas não tem como usufruir dessa tão sonha libertação. Será contada como ocorreu a libertação do escravo Jeronimo que pertence ao senhor Manoel Gonçalves Mascarenhas, em 7 de maio de 1844 foi lavrada a carta de liberdade do mulatinho Jeronimo de apenas 5 meses de idade na Freguesia de Santo Estevão do Jacuípe, porem a carta de liberdade só veio se reconhecida no cartório local na presente data 17 de junho de 1846 após de dois anos da carta ser escrita pelo senhor Manoel. Para Jeronimo ser liberto do sistema escravisto foi necessário sua mãe escrava do senhor Manoel pagar uma quantia no valor de 150 mil reis em dinheiro. Mesmo assim a carta vinha com a seguinte condição que o escravo tão novo deveria obedecer : [...] o mulatinho depois do meo falecimento forro por esmola no valor de cento cincoenta mil reis em minha terça, ficando antes disso sujeito as minhas representações, e na minha companhia durante minha existência e fim da ella, ficará então gosando da sua liberdade(conceição,2016p.56-57)[...]
7 7 Em e foram solicitadas um numero relevante de cartas de liberdade na Freguesia de Santo Estevão do Jacuípe, sendo o numero maior de cartas de liberdade solicitadas pelos escravos do sexo feminino e do sexo masculino um numero menor. O gráfico irá demonstrar a porcentagem das cartas de liberdade da qual os escravos solicitaram: Os tipos de cartas de liberdade variavam de acordo com a boa vontade do senhor de escravo e generosidade. Em razão disso as cartas de liberdade mais solicitada em santo Estevão do Jacuípe foi a denominada de carta onerosa, aquela que o escravo paga uma quantia solicitada pelo seu senhor para obter a liberdade. E o outro tipo de carta muito corriqueira foi a carta gratuita da qual muito senhores de escravo assumia perante toda a sociedade que aquela criança sobre o jugo da escravidão era sua filha com uma escrava.
8 8 Considerações finais Cada lugar que o sistema escravista estabelecia seus vínculos de convivência por sua vez este também estabelecia os diferentes tipos de relacionamento entre senhor e escravo. Este demonstrava o jogo e as regras como cada senhor agiria mediante o sistema em vigência. A escravidão era um sistema com regras como todo o sistema tem, cada qual age mediante as condições que possibilita manter o jogo estruturado para que os sujeitos mantidos sobre a submissão não possa ir em desencontro com as regras estabelecidas por aqueles que se reconhecem como do dominador do sistema. No entanto a carta de liberdade sendo uma generosidade ou não do senhor de escravo ambos sujeitos envolvidos nesse jogo duplo ser ou não escravo através de um documento que possibilitava alguns alcançar esse privilégios que muitos não era agraciados. Poderia até ser uma generosidade do senhor como o escravo pelo bons serviços prestados ou pelo escravo ser alguém obediente e estava cegamente a compactuar com esse jogo com o intuito de poder se privilegiar com a tão sonhada liberdade. Ou o escravo apenas queria demonstrar que por trás de um documento poderia existir tão somente o ambicioso objetivo se alguns senhores de escravos almejar
9 9 voluptuosos lucros dal a carta de liberdade poderia oferecer por ser um documento muito difícil. E isto poderia ser um jogo por trás da generosidade com o intuito do escravo se esforça e ter um bom comportamento para poder conseguir alcançar a liberdade, ou tudo não passava de um jogo duplo do qual o senhor forçava através da carta de liberdade manter por mais tempo a estabilidade do sistema escravista, mesmo este dando sinais que fim estava com os dias contados. A década de 1830 foi um surto no que diz respeito ao trafico negreiro em direção à província da Bahia, onde suas freguesias começaram a comprar escravos constantemente do continente africano por causa da lavoura de Tabaco, no então século. Santo Estevão do Jacuípe era um dos maiores plantadores de tabaco da região do nordeste baiano no século final do XVIII e o XIX como afirma Rocha2011 e Albuquerque Assim as autoras ratificam que a freguesia de Santo Estevão era um Arraial de grande importância econômica para a província da Bahia no século XIX devido o mesmo se destacar como grande produtor de tabaco na região. Isto possibilitava a Freguesia comprar e vender escravos para repor os libertos através das cartas de liberdade, sendo que muitos dos escravos que obtiverem suas cartas de liberdade no Arraial da Freguesia de santo Estevão do Jacuípe no final do século XVIII e inicio do século XIX foi fruto da plantação da lavoura de tabaco. Segundo Mattoso 2003, manter o escravo ocupado a partir do século XIX, diante das constantes fugas e os prejuízos que senhores de escravo estava obtendo, veio à ideia que gerou uma enorme discussão entre os senhores de escravos sobre a questão de dar ou não um pedaço de terra para poder plantar os gêneros alimentícios aos escravos e assim poderem tirar o seu próprio sustento. E caso a produção fosse grande o escravo poderia vender o excede para o senhor, do qual muitos escravos a partir disso conseguiram comprar a carta de liberdade entre a década de 1830 a 1850 em Santo Estevão do Jacuípe, através desse sistema. Por sua vez muitos escravos a partir desse sistema se tornaram grandes produtores de tabaco e senhor de escravo. Como Santo Estêvão do Jacuípe se tornou no final do século XVIII o maior produtor do sertão de tabaco da província da Bahia. E constantemente chegava a esse
10 10 território vários escravos advindos do continente Africano das mais diversas regiões, pra poder viver o amargo labor do sistema escravista, solidão, castigo e um pesado trabalho na lavoura de tabaco. Os escravos recebiam um pedaço de terra dentro da fazenda do senhor aquela não muito produtiva, para conseguir o êxito de produzir o escravo teria que adubar com esterco de gado. Muitos conseguiram a carta de liberdade através das pequenas lavouras que plantavam nessa pequena parte doada pelo senhor. Referencias Arquivo Público Municipal de Cachoeira-Ba. Livro de Notas de Escrituras de Santo Estevão do Jacuípe Carta de liberdade, Jeronimo. Senhor Manoel Gonçalves,p ano Arquivo Público Municipal de Cachoeira-Ba. Livro de Notas de Escrituras de Santo Estevão do Jacuípe Carta de liberdade, Jeronima e Antonia. Senhor Miguel Moreira da Costa,p.48.ano Arquivo Público Municipal de Cachoeira-Ba. Livro de Notas de Escrituras de Santo Estevão do Jacuípe Carta de liberdade, Verissimo. Senhor Manoel Joaquim Borges,p.48.ano Encontro Internacional de História Colonial Cidade da Bahia : mundos coloniais comparados : poder, fronteiras e identidades (6:2016:Salvador) Cadernos de resumos [do] 6. Encontro Internacional de História Colonial : mundos coloniais comparados : poder, fronteiras, e identidades,- Salvador: EDUNEB,2016.
11 11 MATTOSO, Katia M.de Queirós. Ser escravo no Brasil/Kátia M. de Queirós Mattoso: tradução James Amado São Paulo : Brasiliense, 2003 Rocha, Aline Santana dos Santos Escravidão e Liberdade no sertão das Umburanas (1850/1888). Disponivelhttp://www2.uefs.br/pgh/docs/Disserta%C3%A7%C3%B5es/dissertAlineSan tana.pdf acessado em 10 de junho de 2016.
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