DIREITOS FUNDAMENTAIS. Gerações ou Dimensões? Beatriz Barbosa Claudino

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1 DIREITOS FUNDAMENTAIS Gerações ou Dimensões? Beatriz Barbosa Claudino Resumo. O presente trabalho busca fornecer conhecimentos sobre os Direitos Fundamentais. Utilizando a doutrina e a Constituição Federal brasileira como bases trata-se dos seguintes assuntos: definição e características dos direitos fundamentais, dicotomia apresentada na doutrina sobre a melhor terminologia "geração" ou "dimensão" e as dimensões dos direitos fundamentais pontuando-as historicamente. Os direitos fundamentais são direitos de todos os indivíduos garantidos pelo Estado, mas quais são exatamente os direitos fundamentais? Qual o papel dos direitos fundamentais na vida de cada indivíduo? Sobre a divisão de tais direitos, qual o melhor termo "geração" ou "dimensão" dos direitos fundamentais? E o que abrange cada dimensão? Essas perguntas serão facilmente resolvidas com as informações contidas ao longo do artigo. Palavras-chave: Direitos fundamentais. Dimensão ou geração. Estudos doutrinários. 1 Introdução A origem dos direitos fundamentais é atribuída ao povo, por suas lutas e reivindicações ao longo da história da humanidade. Os direitos fundamentais são as garantias previstas na Constituição que cada indivíduo tem de ter uma vida dotada de dignidade, liberdade, igualdade e tendo a possibilidade de realizar suas potencialidades, essas garantias estão asseguradas pelo Estado. Nos ensinamentos de Dimitri Dimoulis (2009): Direitos fundamentais são direitos público-subjetivos de pessoas (físicas ou jurídicas), contidos em dispositivos constitucionais e, portanto, que encerram caráter normativo supremo dentro do Estado, tendo como finalidade limitar o exercício do poder estatal em face da liberdade individual.

2 2 Na Constituição Federal brasileira de 1988, os direitos fundamentais estão descritos no Titulo II, como afirma Moraes (2008): A Constituição Federal de 1988 trouxe em seu Título II os direito e garantias fundamentais, subdividindo-os em cinco capítulos: direitos individuais e coletivos; direitos sociais; nacionalidade; direitos políticos e partidos políticos. Assim, a classificação adotada pelo legislador constituinte estabeleceu cinco espécies ao gênero direitos e garantias fundamentais: direitos e garantias individuais e coletivos; direitos sociais; direitos de nacionalidade; direitos políticos; e direitos relacionados à existência, organização e participação em partidos políticos. Ainda na Constituição em seu artigo 5º dispõe: as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata, porém a eficácia e aplicabilidade de algumas normas dependem de legislação posterior 2 Características dos direitos fundamentais tópicos: As principais características dos direitos fundamentais podem ser pontuadas em seis 2.1 Universalidade: protegidos e respeitados por todos 2.2 Historicidade: são históricos, assim podem nascer, se modificar e se extinguir ao longo do tempo 2.3 Inalienabilidade: não podem ser transferidos para outra pessoa ou objeto, nem serem usados para atos negociais. 2.4 Irrenunciabilidade: não se pode renunciar o direito. 2.5 Imprescritibilidade: não podem ser revogados. 2.6 Limitabilidade: não são absolutos entre si, ou seja, nenhum prevalece sobre os outros em caso de confronto de direitos fundamentais.

3 3 3 Dimensão ou gerações dos Direitos Fundamentais A terminologia dada à divisão dos direitos fundamentais gera um conflito entre os doutrinadores, sobre qual seria a nomenclatura mais correta geração ou dimensão. Alguns adotam ao termo geração, outros dimensões, também há aqueles que usam os dois termos como sinônimos. Em 1979, Karel Vasak, na aula inaugural dos Cursos do Instituto Internacional dos Direitos do Homem, em Estrasburgo, foi o primeiro a usar nomenclatura geração para mostrar a característica evolutiva dos direitos fundamentais, dividindo os direitos de acordo com a bandeira da França que significa a liberdade, a igualdade e a fraternidade, ou seja, a primeira geração trata-se dos direitos de liberdade civis e políticos, a segunda geração referese aos direitos de igualdade econômica, sociais e culturais, a terceira geração estende-se aos direitos de solidariedade, direito à paz e ao meio ambiente. Alguns doutrinadores seguiram essa teoria de Vasak, à exemplo de Paulo Bonavides (2008) fala sobre o termo geração : os direitos fundamentais passaram na ordem institucional a manifestar-se em três gerações sucessivas, que traduzem sem dúvida um processo cumulativo e quantitativo Entretanto, parte da doutrina levanta argumentos contra a terminologia geração preferindo empregar o termo dimensão. Para eles, a expressão geração remete à ideia de substituição e hierarquia, o que não pode acontecer tendo em vista que nenhum direito é mais importante que o outro, como explica Dimitri Dimoulis (2009); é inexato se referir a gerações dos direitos fundamentais, considerando que os direitos sociais sejam posteriores aos direitos de inspiração liberalindividualista ou que estes tenham substituído, ultrapassado os direitos fundamentais clássicos da dita primeira geração liberal-individualista. O uso da palavra dimensão seria o mais correto, pois trataria da ideia das circunstâncias que estão no objeto, ou seja, seriam as várias especificações dos direitos fundamentais. É importante frisar que a divisão das dimensões dos direitos fundamentais é feita para fins acadêmicos expressando a importância de cada direito em suas diferentes condições históricas, pois os direitos dos seres humanos não podem ser isolados em divisões. 4 Dimensões dos Direitos Fundamentais

4 4 4.1 Primeira dimensão dos direitos fundamentais Os primeiros direitos a serem positivados nasceram com as Revoluções Americana (1776), Francesa (1879) e Industrial (início do século XVIII). Estando na categoria status negativus, colocam-se como uma ordem para o Estado de não se opor a esses direitos, o que já era de se esperar com o cenário em que se apresentava mundialmente marcado pelo processo de descolonização, pelo capitalismo concorrencial e as ideias iluministas e jusnaturalista. Na primeira dimensão estão direitos civis e políticos caracterizados pela liberdade do individuo. Assim, podem ser citados: direito à vida, de locomoção, à liberdade de expressão, à intimidade, à propriedade, sendo o art. 5º da Constituição brasileira um exemplo dessa dimensão onde se afirma todos são iguais perante a lei é um direito civil e político. É válido lembrar-se das palavras de Paulo Bonavides (2008): a primeira geração direitos civis e políticos já se consolidaram em sua projeção de universalidade formal, não havendo Constituição digna desse nome que os não reconheça em toda sua extensão. 4.2 Segunda dimensão dos direitos fundamentais Entre os séculos XIX e XX, a intervenção estatal nos campos econômicos, o repercussão da industrialização e os problemas sociais e econômicos, fez surgir a segunda dimensão dos direitos fundamentais. Não sendo mais uma negatividade do Estado, mas a garantia de que o Estado irá proteger tais direitos. Como bem traduz Paulo Bonavides (2008): são os direitos sociais, culturais e econômicos bem como os direitos coletivos ou de coletividades, introduzidos no constitucionalismo das formas de Estados social, depois que germinaram por obra da ideologia e da reflexão antiliberal do século XX. Nasceram abraçados ao principio da igualdade, do qual não se podem separar, pois fazê-lo equivaleria a desmembrá-los em razão de ser que os ampara e estimula. Portanto, indica-se nessa dimensão: direito ao trabalho, à saúde, à moradia, à educação e à segurança. Na Constituição Federal, o capítulo II do Título II refere-se aos direitos sociais, que colocam as garantias que o Estado oferece aos indivíduos. 4.3 Terceira dimensão dos direitos fundamentais

5 5 Em meados do século XX, no contexto após a segunda guerra mundial havia a divisão dos países entre países desenvolvidos e países subdesenvolvidos. As modificações nas relações econômicas e sociais decorrentes da evolução da indústria e o neocapitalismo, fez com que o Direito passasse a se preocupar com a qualidade de vida dos indivíduos. Diferente dos anteriores, nos direitos classificados como de terceira dimensão o indivíduo, um grupo e o Estado já não são mais o centro do direito, focando-se agora nos interesses de toda a espécie humana. Os direitos fundamentais de terceira dimensão são os direitos derivados do princípio da fraternidade, para melhor exemplificação seguem os ensinamentos de Paulo Bonavides (2008): A teoria, com Vasak e outros, já identificou cinco direitos da fraternidade, ou seja, da terceira geração: o direito ao desenvolvimento, o direito à paz, o direito ao meio ambiente, o direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e o direito de comunicação. Na Constituição consegue visualizar essa dimensão no art. 3º abordando os objetivos fundamentais para garantir uma boa qualidade de vida a todos. 4.4 Quarta dimensão dos direitos fundamentais No final o século XX, emerge o Neoliberalismo e a globalização. Para a quarta dimensão dos direitos fundamentais pontua-se principalmente a globalização politica que abraça o neoliberalismo e o estabelece nos direitos fundamentais, citando os ensinamentos de Paulo Bonavides (2008): a globalização política na esfera da normatividade jurídica introduz os direitos de quarta geração, que, aliás, correspondem à derradeira fase de institucionalização do Estado Social (...) Deles dependem a concretização da sociedade aberta do futuro, em sua dimensão de máxima universalidade para qual parece o mundo inclinar-se no plano de todas as relações de convivência. Essa dimensão dos direitos caracteriza-se como os direitos da cidadania. Portanto, os direitos fundamentais de quarta dimensão são: direito ao pluralismo, à democracia e à informação. Um exemplo dessa dimensão na Constituição é no Capítulo IV do Título II em que versa sobre os direitos políticos e o Estado concede aos indivíduos as peculiaridades da cidadania.

6 6 4.5 Quinta dimensão dos direitos fundamentais Entre o fim do século XX e o começo do século XXI, o desenvolvimento tecnológico e da internet junto com o ciberespaço proporciona uma evolução social, a sociedade que antes era industrial passa agora a ser uma sociedade virtual. Dessa mutação social aparece a quinta dimensão dos direitos fundamentais ligada às tecnologias de informação. O direito à paz é entendido como parte dessa dimensão como pontua Paulo Bonavides (2008): Faz-se mister retirar o direito à paz da invisibilidade em que o colocou o edificador 19 da categoria dos direitos de terceira dimensão e promulgar o novo direito fundamental, ou seja, o direito à paz enquanto direito de quinta dimensão. A paz é consequência de todas as justificações em que a razão humana, sob a égide da lei e da justiça, fundamenta o ato de reger a sociedade, de modo a punir o terrorista, julgar o criminoso.. Porém, apesar de alguns autores defenderem a existência da quinta dimensão, a doutrina não é totalmente uniforme quanto à formação dessa dimensão. 5 Conclusão A exposição feita sobre a os direitos fundamentais fundou-se em primeiro lugar na explicação de que direitos fundamentais são direitos previstos pela Constituição que dá aos indivíduos o poder de ter uma vida digna, igual e livre. Após essa explanação, partiu para a melhor nomenclatura para as divisões dos direitos fundamentais, em que foi esclarecido que o termo dimensão é mais apropriado que o termo gerações, pois - sabendo que nenhum direito fundamental é substituído ou excluído por outro a expressão geração remete à ideia de substituição enquanto dimensão refere-se ao conceito de circunstâncias que estão nos direitos fundamentais. Por fim, se estabeleceu as definições, a história, os exemplos e a existência na Constituição Federal brasileira de cada uma das cinco dimensões dos direitos fundamentais. 6 Referências

7 BRASIL. Constituição (1988) Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: DF, Senado, BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 23. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, DIMOULIS, Dimitri; MARTINS, Leonardo. Teoria geral dos direitos fundamentais. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais ELIACI, José Nogueira Diógenes Junior. Gerações ou dimensões dos direitos fundamentais?. Disponível em: < tnref1>. Acesso em: 5 mar GIUSTI, Daiane. A evolução dos direitos fundamentais no Brasil. 51 f. Monografia Pósgraduação e Direito Público, Universidade Comunitária da Região de Chapecó, MASCARENHAS, Paulo. Manuek de Direito Constitucional. Disponível em: < Acesso em: 07 mar.2017 MORAES Alexandre de. Direito Constitucional. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2008.