O livro Apocalipse 14 A visão das duas testemunhas ( ) JörgGarbers Ms.deTeologia

Transcrição

1 O livro Apocalipse 14 A visão das duas testemunhas ( ) JörgGarbers Ms.deTeologia

2 Introdução As cartas (2 e 3) enviadas às sete igrejas mostraram que Deus conhece a situação de cada uma e sabe consolar, reconhecer e admoestar. Os capítulos 4 e 5 entram em oposição ao império romano, essencialmente do culto ao imperador e da autocompreensão do imperador. Assim as cartas e os capítulos 4 e 5 afirmam que Deus é o dono da história humana que entregou o poder ao cordeiro. O selos (6) e as (8 e 9) trombetas descreveram o mesmo trecho da história, de ângulos diferentes, mas com ênfase na história mundial e das pessoas que não vivem na presença de Deus. Essa história é dramática, cruel e assustadora. Nomeiosempredenovohápequenostextos(7 e10) queconsolamo povodedeus,aigrejaenquantocorpodecristo.

3 Introdução O capitulo 10 fortaleceu João na sua tarefa e motivou ele novamente para o testemunho. Antes da sétima trombeta encontramos um outro texto, que de primeira vista é muito enigmático. Por isso existem referente a esse texto muitas interpretações diversas. Para a compreensão é importante se lembrar: A narrativa está indo para a sétima trombeta. Os textos querem motivar, consolar, evangelizar e nortear. Os textos até agora não queriam saciar a sede de curiosidade sobre o futuro, detalhando e revelando fatos, acontecimentos ou personagens do futuro. A linguagem até agora era metafórica e figurativa usando associações do AT para falardomundosemedaigrejacom Deus.

4 Estrutura Amediçãodotemplo 3 6 As duas testemunhas 7 10 Amortedasduastestemunhas A ressurreição das duas testemunhas

5 Amediçãodotemplo 1 Deram-me um caniço semelhante a uma vara de medir, e me disseram: "Vá e meça o templo de Deus e o altar, e conte os adoradores que lá estiverem. Um caniço como instrumento de medida é usual nessa época. O plural na tradução não é certo. Literalmente: foi me dito. Medir o templo, uma cidade, pessoas etc. pode ter no AT a conotação de juízo ou de salvamente. No caso dessetexto refere se a preservação e proteção. Otextoémetafóricoeaquestãoéoquesignificaotemplo? O prédio físico(existem dificuldades históricas para apoiar essa ideia) OpovodeIsrael (Israel normalmente nãoédesignadootemplodedeus) A igreja como povo de Deus, composto de judeus e gentios (a igreja como corpo de Cristoévárias vezes designado como templo de Deus no NT, porisso parece a solução mais viável) Os adoradores seriam então cristãos na presença de Deus

6 Amediçãodotemplo 2 Exclua, porém, o pátio exterior; não o meça, pois ele foi dado aos gentios. Eles pisarão a cidade santa durante quarenta e dois meses. O grande pátio do templo sempre era destinado a todas as pessoas e aos gentios. Ele simboliza nesse textos a população mundial que não vivecomdeusenãopertenceacristo. A profecia menciona a cidade santa, provavelmente uma alusão a Jerusalém, que agora se torna figura da igreja cristã ou do próprio Cristo nesse momento. O número de 42 meses é muito debatido na literatura. Será que refere-se a um período real ou simbólico ou o número qualifica um período sem mencionar a duração?

7 Amediçãodotemplo 2 Exclua, porém, o pátio exterior; não o meça, pois ele foi dado aos gentios. Eles pisarão a cidade santa durante quarenta e dois meses. Umas observações: O número se repete em Apc 13.5: Foi-lhe (a besta) dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias e autoridade para agir quarenta e dois meses; Em v. 3 é mencionado o número Se calculamos um mês com 30 dias chegamos com 42 meses a esse número de Dias. O número dos dias se associa com algo positivo: as testemunhas de Deus. O númerodos diasserepeteemapc12.6: A mulher, porém, fugiu paraodeserto, onde lhe havia Deus preparado lugar para que nele a sustentem durante mil duzentos e sessenta dias. Também nesse contexto o número descreve um período de proteção. 42 meses correspondem 3 anos e meio. Esse número aparece em Dn e também em Apc e na tradição judaica: Daniel parece se referir ao número como algo contábil e calculável e não está contribuindo muito para a discussão. Mas em Apc e na tradição judaica esse número se refere ao tempo de conflito, um conflito entre forças de Deus e contra Deus.

8 Amediçãodotemplo 2 Exclua, porém, o pátio exterior; não o meça, pois ele foi dado aos gentios. Eles pisarão a cidade santa durante quarenta e dois meses. Umas observações: O número 3 ½ já é um número quebrado, a metade de 7, que é o número de descreve algo completo e ligado ao mundo divino. O número 3 ½ expressa então o contrário. Ou seja os números 1260 dias, 42 meses e 3 anos e meio referem se quantitativamente sempre ao muito período. Conforme 11.2 podemos supor que o período começa com a crucificação de Cristo. E conforme esse período termina na volta de Cristo. Ao tudo que parece João está se referindo ao período entre a morte de Cristo e a suasegundavolta. Eleusaosdiasquandodescreveoladocristãdessetempoeele usa os meses quando se refere ao lado anticristã desse período. Resultado: partimos do pressuposto que o tempo descrito novamente é a história do mundo entre a morte e volta de Cristo, o mesmo período que já foi descrito pelos selos e trombetas.

9 Asduastestemunhas 3 Darei poder às minhas duas testemunhas, e elas profetizarão durante mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de saco. As duas testemunhas anunciam a palavra de Deus. Esse anúncio da vontadeepalavradedeuséumofícioprofético comojáexplicamos nas aulas anteriores. Vestir-se de pano de saco é um sinal de luto ou de arrependimento e caracteriza nesse texto a sua mensagem. Mensagem e tarefa então são compreensíveis e os 1260 dias já explicamos. João está falando agora do história mundial desde a mortedecristoatéofinalsoboângulodapreservaçãoecristão. A explicação das duas testemunhas gerou muitas especulações: Pedro e Paulo; Moisés e Elias; Serubabel e Josué; Messias e Sumo sacerdote; Arão e Moisés; Elias e Jeremias; Josué e Caleb; Elia e Henoque; Lutero e Melanchton; At e NT; Sacerdotes e Profetas; Lei e Profetas; Judá e Israel; Cristãos judeus e Cristãos gentios; etc. etc.

10 Asduastestemunhas 3 Darei poder às minhas duas testemunhas, e elas profetizarão durante mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de saco. Já que definimos os dias e meses como metáforas que descrevem o período até a volta de Cristo, podemos descartar as interpretações que explicam as testemunhas como pessoas concretas. Restam: AteNT(nãoexistiramdessejeitonesseépoca) Sacerdotes e Profetas (a palavra sacerdotes é usada raramente para descrever cristãos) LeieProfetas(comopartedoATforamempartesuperadasporCristo) JudáeIsrael (otextofalaconformev. 2docorpotododeCristo) Cristãos judeus e Cristãos gentios(é uma boa possibilidade) então o número dois iria descrever o testemunho completa da igreja, composta de judeus e gentios. Outra possibilidade é pensar no costume de que diante do tribunal precisa-se pelo menos duas testemunhas para afirmar uma verdade e Cristo mandou os discípulos de dois em dois. João então usa o número dois para caracterizar esse testemunho como verdadeiro e firme, em conformidade com Cristo. Novamente o número então expressa qualidade.

11 Asduastestemunhas 4 Estas são as duas oliveiras e os dois candelabros que permanecem diante do Senhor da terra. O versículo está se baseando em Zc e está descrevendo e caracterizando a igreja como testemunha durante os tempos: Na presença de Deus, Senhor da terra ComaenaforçadeDeus Somente pelo Espírito e não por força própria Valioso Trazendo muita luz Um serviço messiânico Deus remova obstáculos Trazendo esperança(oliveiras) De forma sucinta João mudou a imagem para que ela se aplica as duas testemunhas do seu texto.

12 Asduastestemunhas 5 Se alguém quiser causar-lhes dano, da boca deles sairá fogo que devorará os seus inimigos. É assim que deve morrer qualquer pessoa que quiser causar-lhes dano. 6 Estes homens têm poder para fechar o céu, de modo que não chova durante o tempo em que estiverem profetizando, e têm poder para transformar a água em sangue e ferir a terra com toda sorte de pragas, quantas vezes desejarem. João continua pintando a imagem agora usando elementos das narrativas sobre Elias e Moisés. O tempo é um tempo de conflito, mas a força do evangelho nesse períodoémaiordoqueosoponentes. Moisés e Elias representam grandezas proféticas que aguentaram e suportaram lutas durante seu ministério e permaneceram vitoriosos.

13 Amortedastestemunhas 7 Quando eles tiverem terminado o seu testemunho, a besta que vemdoabismoosatacará. E irávencê-losematá-los. Antes do fim do testemunho os oponentes no podem calar as testemunhas. Mesmo o anuncio dessa virada angustiante é visto com olhosdeconsolo:oseventosestãonamãodedeus. A figura da besta vai aparecer de forma mais clara e detalhada mais na frente. Umas palavras porém já agora descrevem a: Vindo do abismo: isso é o local do caos. Em Gn 1 é uma das principais característica do mundo sem ordem antes da ação de Deus. Mas no mesmo tempo um lugar que foi vencido pelas forças de Deus. Atacar: a besta é descrita como sendo extremamente anticristã. Enquanto não tratamos o termo o Anticristo gostaria evitar o ainda.

14 Amortedastestemunhas 7 Quando eles tiverem terminado o seu testemunho, a besta que vemdoabismoosatacará. E irávencê-losematá-los. Que a besta vence e mata as testemunhas surpreende o leitor primeiramente. Os comentaristas estão dando ênfase na realidade dequeelasprimeirocumpremasuatarefaenãoexplicamoqueessa visão queria expressar com a morte delas. Fica claro que isso acontece no fim do período e está em concordância com outro texto bíblico que fala que primeiro a evangelho deve ser anunciada para o mundo inteiro e depois virá o fim 2 Ts 2.6e7: Com efeito, o mistério da iniquidade já opera e aguarda somente que seja afastado aquele que agora o detém; 8 então, será, de fato, revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação de sua vinda.

15 Amortedastestemunhas 7 Quando eles tiverem terminado o seu testemunho, a besta que vemdoabismoosatacará. E irávencê-losematá-los. A morte pode referir se simplesmente ao fim de tudo ou a um período em que a igreja não tem mais influencia nenhuma. Muitos autores interligam a situação com 1 Ts e o arrebatamento. Umas breves observações para esse textos: O textos trata da pergunta dos mortos em Cristo. O arrebatamento tem um claro propósito: Ir ao encontro significa conforme Werner de Boor: Ir para acompanhar alguém de volta. PaulodescrevenotextocomoJoãoofimdomundo. Calcular aqui com um tempo prolongado ou mesmo breve da história do mundo semapresençadaigrejacristãnãofazsentido.

16 Amortedastestemunhas 8 Os seus cadáveres ficarão expostos na rua principal da grande cidade, que figuradamente é chamada Sodoma e Egito, onde também foi crucificado o seu Senhor. O ato de deixar os cadáveres na rua é radicalmente pejorativo. A grande cidade é obviamente Jerusalém e os nomes Sodoma (os habitantes estão descritas em Gn 19 como pessoas sem nenhuma ética e sem limites morais) e Egito (lugar da opressão total) descrevem ela como moralmente e politicamente corrupta, porém na história de Israel são dois locais vencidos e castigados por Deus. Já que o texto todo trata de uma situação mundial, Jerusalém representa o mundo sem Deus. A cidade santa como metáfora para isso é um crítica aos judeus nessa época, que infelizmente mais tarde na história, com muitos outros textos bíblicos, é a base de um antissemitismo viral, violente e continuo na cristandade.

17 Amortedastestemunhas 9 Durantetrês dias emeio, gente detodos os povos, tribos, línguas e nações contemplarão os seus cadáveres e não permitirão que sejam sepultados. 10 Os habitantes da terra se alegrarão por causa deles e festejarão, enviando presentes uns aos outros, pois esses dois profetas haviam atormentado os que habitam na terra. O número 3 ½ já explicamos anteriormente. É um número que está sendousadoaquiparadescreverasituação,oato, nãoumperíodode forma quantitativa. Os números descrevem qualidades não quantidades! Todos os detalhes do texto são escolhidos para caracterizar a população como imoral e sem ética nenhuma. A IGREJA (corpo de Cristo, não instituição) era e é e será um incomodo para o mundo. Enquanto o evangelho está anunciado ele não se conforme com este mundo (Rm ) pois a Comunhão e sociedade se revelam como um egoísmo organizado coletivamente.

18 Aressurreiçãodastestemunhas 11 Mas, depoisdostrêsdiasemeio, entrounelesumsoprodevidada partededeus, eelesficaramempé, eumgrandeterrortomouconta daqueles que os viram. A associação à ressurreição de Cristo e ao texto de Ez 37 fica evidente. A mortenãotem a últimapalavra. Essabarreiranão existe nos olhos dedeus. Ondehumanamenteéofimcomeçaalgonovonarealidade divina através do seu Espírito. O fato visível que o Espírito de Deus transforma a situação causa temoretremor.aquiloquefoi negadoagoraépúblicoerevelado.

19 Aressurreiçãodastestemunhas 12 Entãoelesouviram umafortevoz doscéus quelhesdisse: "Subam paracá". E elessubiramparaoscéusnumanuvem, enquantoosseus inimigos olhavam. Aqui se encaixa muito bem o que explicamos anteriormente referente ao arrebatamento. Joãoestáemsuaspalavrasemetáforasnarrandoofimdotempoedo mundo. Esse fim não é uma vitória das forças contra o evangelho, mas a vitoria completa de Deus. A nuvem novamente é simples um meio de transporte, conforme a cosmovisão do João. Interpretar a aqui através de segredos ou mistérios não cabe.

20 Aressurreiçãodastestemunhas 13 Naquela mesma hora houve um forte terremoto, e um décimo da cidade ruiu. Sete mil pessoas foram mortas no terremoto; os sobreviventes ficaram aterrorizados e deram glória ao Deus dos céus. O terremotoétantoumsinal dapresençadedeuscomoumsinaldo julgamento e fim. O décimo lembra dos textos do AT. Deus pega o que pelo direito sempre era seu. O número 7000 novamente é usado para descrever que ninguém escapará. Porém é uma surpresa que existem sobreviventes e que eles aparentemente reconhecem Deus. Os comentaristas interpretam de forma divergente o texto: É um arrependimento sincero que leva a salvação É um arrependimento falso que não ajuda mais Iria simplesmente dizer: também no julgamento do último dia aparece no horizonte a graça de Deus.

21 Resumoelição O segundo texto antes da sétima trombeta traz um consolo para a IGREJA que é representada através das duas testemunhas. O textonofundocaracterizadeformabem claraaessênciadocorpo decristo aigreja: Ela é missionária Ela recebe as forças de Deus e vive pelo seu Espírito e tem a sua origem nos acontecimentos da morte e ressurreição de Cristo. Elaéluznomundo. Ela incomoda o mundo. Elaéumpontodeesperança. As instituições ou grupos fora das igrejas institucionais, que cada vez estão mais numerosos, precisa ser medido aqui. O corpo de Cristo vai sobreviver graças a ação de Deus. Igrejas e grupos nem sempre sobrevivem, mas o evangelho vai percorrer o mundo.

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