Leilão de Energia de Reserva e o papel da penalidade como fator determinante da eficiência.
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- Daniela Casado Silveira
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1 Leilão de Energia de Reserva e o papel da penalidade como fator determinante da eficiência. Nivalde José de Castro 1 André Luis Da Silva Leite 2 No dia 30 de abril de 2008, será realizado o 1º leilão de contratação de energia de reserva no setor elétrico brasileiro - SEB, regulamentado pelo Decreto n.º 6.353/2008. Cria-se assim, mais uma categoria de leilão dentro do processo de reestruturação iniciado em Desta forma, segundo Castro e Dantas (2008), o modelo do SEB ganha um novo instrumento para buscar e garantir o ajuste e equilíbrio dinâmico entre oferta e demanda de energia elétrica tanto no mercado cativo como no mercado livre. Do ponto de vista institucional, a energia de reserva será contratada mediante leilão a ser promovido pela Aneel. O Ministério das Minas e Energia MME - definirá o montante total de Energia de Reserva a ser contratada, com base em estudos da Empresa de Pesquisas Energéticas. 1 Professor da UFRJ e coordenador do GESEL - Grupo de Estudos do Setor Elétrico do Instituto de Economia. 2 Professor da UNISUL, Pós-Doutorando no Instituto de Economia da UFRJ e pesquisador associado sênior do GESEL- UFRJ
2 O Decreto define energia de reserva como a energia destinada a aumentar a segurança do fornecimento de energia elétrica no SIN - Sistema Interligado Nacional, proveniente de usinas especialmente contratadas para este fim, diferindo assim, das usinas que são contratadas via leilão de energia nova, quando o contrato está diretamente associado a uma estimativa de demanda futura de algumas distribuidoras com as quais a nova energia fica vinculada. As razões que levaram o MME a criar este novo tipo de leilão relacionam-se diretamente com o funcionamento do sistema elétrico: há necessidade de uma folga de capacidade, definida pela diferença entre a capacidade instalada e a capacidade requerida. Esta diferença, a favor da capacidade instalada, objetiva garantir e permitir maior confiabilidade no funcionamento do sistema elétrico. Com esta folga, o desempenho do sistema elétrico resulta em energia entregue aos consumidores dentro dos padrões esperados e na quantidade desejada. Uma interrupção no fornecimento provoca uma externalidade negativa. Esta externalidade se traduz em custos extras para os consumidores que ficariam sem energia por um determinado período de tempo. Por outro lado, a redução do risco de interrupções, ou o aumento da confiabilidade, é uma externalidade positiva. O que faz com que a confiabilidade possa ser conceituada e considerada como
3 bem público, e, portanto, é dever do ente regulador criar bases para maior confiança do sistema elétrico. Até o início dos anos de 1990, no modelo estruturado por monopólios verticalizados, esta capacidade extra era imposta às empresas estatais pelo MME no planejamento setorial e sua remuneração era, automaticamente, embutida nas tarifas pagas pelos consumidores. Porém, com as profundas reformas que ocorreram no setor elétrico brasileiro, uma das novas características do modelo é a configuração de estrutura híbrida em termos de origem do capital (empresas públicas e privadas), e a expansão da capacidade passa a ser dada por leilões e contratos no mercado cativo. Para o mercado livre, vigora o livre jogo das forças de mercado. Esta nova dinâmica resultava em um ajuste muito próximo entre a oferta e demanda, sem nenhum atrativo para que os agentes formassem energia de reserva. Desta forma, as características do atual modelo mostram a necessidade e pertinência da criação de instrumentos que estimulem e viabilizem investimentos em reserva de geração ou capacidade. O leilão de energia de reserva busca cumprir esta função. Por outro lado, há outras razões mais específicas para se ter um mercado de capacidade, entre elas, destacam-se:
4 i) a redução da dependência hidrológica, buscando mitigar o risco hidrológico; ii) reduzir o risco em relação aos problemas causados por eventuais atrasos em obras de geradoras; iii) aumentar a segurança energética em casos de desvios na previsão da carga; iv) a redução da volatilidade do preço spot, no caso brasileiro, o PLD; v) a manutenção da margem de segurança do sistema elétrico; Em termos mais conceituais, tipicamente onde há mercados de capacidade ou de reserva de geração (quer sejam leilões, contratos futuros, etc.), as empresas geradoras são remuneradas por disponibilidade. E, ao declararem disponibilidade, elas devem - se chamadas pelo Operador do Sistema - estar aptas a gerar no momento requerido. Logo, para que este tipo de mercado seja eficiente, e, de fato, haja um aumento na capacidade do sistema, é necessário um mecanismo de penalidade.
5 Nestes termos, o conceito de mercado de capacidade envolve, por parte do regulador, a imposição de uma penalidade. Caso um agente gerador não tenha reservas à disposição em um determinado mês, ainda há a possibilidade de adquirir a quantidade contratada no mercado spot, mesmo que com isso tenha prejuízo. Caso contrário, o agente com deficiência de capacidade recebe uma penalidade do órgão regulador. O valor desta penalidade poderia ser distribuído entre os demais agentes do mercado que supriram com capacidade extra a demanda do mercado. Teoricamente, Leite e Santana (2006) modelam a penalidade (Y) como função da quantidade de capacidade requerida e da capacidade instalada. Desta forma, sendo q r a capacidade requerida e q o a capacidade instalada, mostram os autores que sempre que a capacidade requerida (q r ) se aproximar da capacidade instalada (q 0 ), maior será o preço no mercado spot. Neste sentido, haveria um valor ótimo para a relação entre q r e q 0. É, pois, prudente que se defina a penalidade (Y) em função desta relação. Assim, γ * = q qr 0
6 Portanto, Y = f ( γ * ) Na prática, a penalidade seria um incentivo à expansão da capacidade e, por conseqüência, ao aumento da confiabilidade. Como conseqüência pode-se determinar que se γ * 1, então: Y = CF K Onde, CF K é o custo fixo da capacidade, ou seja, se a capacidade requerida pelo sistema for menor que a capacidade instalada, a penalidade (Y) seria igual ao custo fixo do agente gerador que declara disponibilidade. Por outro lado, se γ * > 1, indicando que a capacidade requerida (qr) é maior do que a capacidade instalada (q o ), então: Y = γ * CFK Assim, se a capacidade requerida for maior do que a capacidade instalada, a penalidade seria proporcional a esta diferença. Ou seja, quanto maior for a diferença entre a capacidade requerida e a instalada, maior será a penalidade. O uso combinado das duas equações anteriores mostra que sempre haverá o incentivo à expansão e, para evitar custos maiores, as
7 empresas dificilmente permitirão que capacidade requerida (q r ) seja maior do que capacidade instalada (q 0 ). O benefício do aumento da capacidade instalada resulta na redução dos custos sociais da interrupção. Quando aumenta a diferença entre capacidade instalada (q 0 ) e capacidade requerida (q r ), a probabilidade de interrupção diminui. No entanto, há uma relação ótima entre as duas capacidades (q 0 ) e (q r ), e na prática, isso dificulta o planejamento dos geradores. Joskow (2002) acrescenta que as penalidades para os geradores não disponíveis devem ser as mais elevadas possíveis e aumentar conforme o grau de emergência que se encontra o sistema elétrico. Ou seja, em situações onde há a necessidade de aumento da expansão do parque gerador, mecanismos de penalidade são essenciais ao correto funcionamento de mercado de energia de reserva. A penalidade exerce um papel significativo, pois as geradoras são severamente multadas caso não disponham de capacidade nos momentos requeridos. A penalidade impõe um limite máximo ao preço da capacidade, pois os consumidores não vão pagar mais pela capacidade do que o valor da penalidade. O Decreto n.º 6.353/2008 mencionado anteriormente incorpora a questão da penalidade, porém, não especifica a forma de penalidade, mas deixa clara a importância do tema e a necessidade de atuação do
8 regulador para que, de fato, os objetivos do referido leilão sejam cumpridos. Desta forma, e a título de conclusão, a introdução do leilão de energia de reserva tem como objetivo contribuir para o ajuste e equilíbrio do SIN, tanto do mercado cativo como do mercado livre. Dada a exposição crescente ao risco hidrológico do sistema elétrico brasileiro, derivado da expansão com base em UHE do tipo fio d água, e ao acelerado ritmo de crescimento do consumo de energia elétrica, este novo instrumento de ajuste e equilíbrio entre oferta e demanda terá um importante e estratégico papel a cumprir. Para o primeiro leilão de energia de reserva há outro objetivo, que vêm sendo perseguido há algum tempo. Trata-se da incorporação na matriz de energia de biomassa, em especial de bagaço de cana. Como a energia de reserva terá um papel estratégico e como o leilão para este tipo de energia busca atrair novos empreendedores, boa parte sem experiência no setor elétrico, o uso do instrumento legal da penalidade é uma forma de garantir a eficiência deste novo instrumento de ajuste entre oferta e demanda: o leilão de energia de reserva.
9 Referências CASTRO, Nivalde José de; DANTAS, Guilherme de A. A Importância da Inserção da Bioeletricidade na Matriz Brasileira e o Leilão de Energia de Reserva. Rio de Janeiro, GESEL-UFRJ, ( mimeo.) JOSKOW, P. Resource adequacy obligations. Mimeo: MIT/department of Economics (available at acessado em 05/01/2003), 6 th of December LEITE, A.L.; SANTANA. E. Mercado de capacidade: uma alternativa para o setor elétrico brasileiro. Revista de Desenvolvimento Econômico. n. 14, 2006, p
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