Na hora clinica da turma do segundo ciclo do curso de Psicanálise. levantou-se a seguinte questão: Como o analista deve trabalhar a decisão de
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- Sílvia Marreiro Sampaio
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1 2º Semestre de 2013 Ciclo II Quarta-feira Manhã Aluno: Christian Mathias Fernandez Tema: O FIM DE UMA ANÁLISE: Prólogo: Na hora clinica da turma do segundo ciclo do curso de Psicanálise levantou-se a seguinte questão: Como o analista deve trabalhar a decisão de alta de um paciente. Caso esse paciente resolva voltar, deve/pode o analista retomar o trabalho? E no caso dos pais não terem condições de custear a análise de dois filhos. Deve-se colocar um por algum tempo (até um ano de tratamento) e depois retirá-lo a fim de que o outro possa ter a mesma oportunidade. Levantada esta questão passamos a comentar nossa visão sobre o assunto. A primeira colega disse que acredita que o trabalho analítico, uma vez iniciado, reverbera por toda a vida. Assim, mesmo que a pessoa encerre o tratamento seu interlocutor interno, que foi desenvolvido na análise, o acompanhará. O assunto prosseguiu de maneira bem instigante. Achei que foi uma hora clínica bastante rica, talvez por que tenha suscitado em mim tantas emoções e a possibilidade de ouvir diversas visões Aluno: Christian Mathias Fernandez 1
2 do assunto e ver como aquelas visões e percepções a posteriori reverberavam em mim. Após essa breve introdução procuraremos abordar o tema do fim da análise em Freud em com base no que aprendemos até o presente momento e em alguns textos que não tivemos em nossa bibliografia, mas que fazem menção ao assunto tratado em nossa hora clinica. A análise terminável e interminável: Em 1937 Freud publicou Análise terminável e interminável, juntamente com o texto Construções em analise. Vale ressaltar que esses textos foram um dos últimos escritos do grande fundador desta nova forma de conhecimento que ele nomeou de Psicanalise. O editor da edição standard chamou a atenção para mudança de percepção de Freud em relação ao poder profilático ou a cura completa da neurose tratada neste texto. Em sua nova visão, Freud mudou sua percepção a esse respeito neste último texto e acreditava que não há garantias de que o paciente que teve alta, que conseguiu passar pelo tratamento terapêutico, apesar do fortalecimento do ego no processo, não corra o risco de ter alguma recaída, dada a condições novas da realidade. Quando Freud iniciou seu trabalho, por meio da clínica com casos de histeria, o médico neurologista buscou uma maneira mais eficaz que as praticadas pelos seus contemporâneos de curar a histeria e, depois, a neurose. Este era, portanto, o objetivo inicial da psicanalise. Na época da publicação deste texto, Freud o inicia com o seguinte trecho: Aluno: Christian Mathias Fernandez 2
3 A experiência nos ensinou que a terapia psicanalítica a libertação de alguém de seus sintomas, inibições e anormalidades de caráter neuróticas é um assunto que consome muito tempo. O leitor perceber qual o escopo da terapia analítica para Freud Libertação de alguém de seus sintomas, inibições e anormalidades de caráter neuróticas - bem como sua percepção de que este tratamento consome muito tempo. Sabendo que a psicanalise fora criada por um médico e tinha como escopo a cura e, ademais, quando buscou um reconhecimento internacional teve uma boa repercussão nos Estados Unidos, país conhecido pelo pragmatismo e pela busca de resultados sempre rápidos; percebemos que ainda hoje há um enorme resquício desta origem e da influencia americana, não só na psicanalise como também na nossa cultura. A cultura do fast-food, dos tratamentos breves e de um sentimento de pressa, de urgência desmedida tem influenciado a discussão sobre o lento processo da analise e maneiras de acelera-lo. Hoje já podemos afirmar com mais convicção que não há uma cura neste processo. Até por que não mais vemos as manifestações, inibições e sintomas como doença. Há casos de doença, sem dúvida, que hoje são Aluno: Christian Mathias Fernandez 3
4 descritos pelo DSM e são trabalhados com a psicanálise, mas há também assuntos abordados na análise que não se configuram como doença no sentido técnico do termo. Há pessoas que não estão enfermas com algum sintoma postulado no DSM e que ainda assim buscam análise e tem nela um caminho de autoconhecimento e descobertas que muito contribuem para uma significativa melhora na qualidade de vida. Isto posto, não há que se falar em um neurótico curado. E podemos dizer que a psicanalise, antes usada para curar neuróticos, tem sido uma ferramenta muito útil e aceita no tratamento de diversas estruturas, tais como psicóticos, perversos, etc. Ainda em relação ao texto, Freud, talvez seduzido pela busca de agilidade no tratamento, de um modelo mais curto, empregou uma nova técnica a fim de acelerar o tratamento de seus pacientes. Sua justificativa para a nova técnica foi a de que um sucesso parcial de tratamento deixava o analisando em uma zona de conforto que o impedia de avançar. Assim, buscando agilidade e quebra de resistências fixou um limite de tempo para o fim da análise e comunicou ao analisando. Fez isso mais de uma vez e conclui que ele tem uma eficácia no sentido de acelerar e quebrar algumas resistências, mas não se pode garantir a realização completa da tarefa. Percebeu também que uma parte do material ficou acessível frente à chantagem enquanto que outra ficará sepultada. Um erro de calculo não pode ser retificado. Sua conclusão não foi favorável ao emprego da nova técnica. Aluno: Christian Mathias Fernandez 4
5 O que é de fato o término da análise? No segundo capítulo do texto Freud inicia da seguinte maneira: A discussão do problema técnico de saber como acelerar o lento progresso de uma análise nos conduz a outra questão, mais profundamente interessante: existe algo que se possa chamar de término de uma análise Há alguma possibilidade de levar uma análise a tal término? Por meio desta colocação, se amplia um pouco o horizonte da questão inicial e busca-se determinar o que se poderia chamar de fim de análise. Freud coloca que uma resposta inicial, prática e objetiva seria de que o fim da análise se dá com o fim das sessões entre analista e analisando. Isso pode ocorrer de duas formas; A primeira, para chegar a este fim, o paciente deve ter superado suas ansiedades, inibições e não apresentar seus antigos sintomas. Mais que isso, é necessário que o analista acredite que tenha vencido diversas resistências, tornado muito material consciente ao analisando que o risco de uma repetição do processo patológico é pequeno. Num segundo fim de análise, sem que este quadro acima tenha sido preenchido, pode ocorrer em função de dificuldades externas (financeira, de mobilidade, de agenda...) tornando o processo de analise "incompleto ou "inacabado, frente um fim desta natureza. Em seguida Freud coloca um sentido mais ambicioso no termo fim da analise, qual seja: chegar a uma normalidade psíquica absoluta. Ele coloca Aluno: Christian Mathias Fernandez 5
6 esta ideia para refletirmos, contudo acha que isso seria o ideal, mas não alcançável. Neste ponto há uma alteração de percurso. Freud coloca que a busca não deveria se dar na cura pela análise, mas sim nos obstáculos que se colocam no caminho da cura. Apresenta dois casos clínicos de alta de pacientes que teve ao longo de sua carreira e que anos mais tarde tiveram recaídas. Coloca-se que há quem defenda que a analise da época dos exemplos avançou muito e que hoje pode curar completamente as pessoas e há aqueles que acreditam que não há garantias. Contudo, Freud diz que independente da corrente otimista ou cética não há espaço para buscar um abreviamento do tratamento, em especial para aqueles que buscam um término de análise do primeiro tipo Sem sofrimentos de sintomas, superação de ansiedades e inibições. A saúde e as possibilidades advindas de um tratamento analítico: No terceiro capítulo deste interessante ensaio Freud, em nota de rodapé, faz uma colocação em relação à saúde: É impossível definir saúde, exceto em termos metapsicológicos, isto é, por referência às relações dinâmicas entre as instâncias do aparelho psíquico que foram identificadas ou (se preferir) inferidas ou conjecturadas por nós. Em seguida coloca-se que o tratamento psicanalítico produz um estado no analisando que nunca surge espontaneamente, criando uma diferença Aluno: Christian Mathias Fernandez 6
7 essencial naqueles que tiveram a chance de passar por este processo. Em relação a isto, podemos retomar a colocação de nossa colega na hora clínica que afirmou que mesmo com uma interrupção na análise há, uma vez que o analisando tenha iniciado seu tratamento, um novo interlocutor interno que faz as vezes do analista por toda a vida. É claro que este interlocutor terá uma força frente os impulsos e as pulsões diretamente proporcional à eficácia do trabalho analítico pelo qual o analisando passou. Também se considera que este interlocutor permite um controle sobre o instinto melhor que antes deste ferramental. Contudo ele é imperfeito, pois é sempre incompleto. Na abertura do VII capítulo Freud, em citação à Ferenczi, coloca que a análise não é um processo sem fim, mas um processo que pode receber um fim natural, com perícia e paciência suficientes por parte do analista. E sua percepção é de um trabalho longo e não de uma chance de abreviação como no discutido no início. Ele coloca a importância da saúde mental do analista para a correta execução de sua função, contrapondo com a função de um médico que, mesmo sofrendo do coração pode atender um paciente sem causar danos a este em função de seu problema. Esta é uma introdução da importância da análise para aqueles que buscam ser analistas. Sabe-se que o tripé de um bom analista é analise pessoal, conhecimento acadêmico e supervisão. O texto diz da importância da manutenção da analise enquanto este estiver na prática. Assim, já se percebe que a resposta objetiva de um término de análise para aqueles que praticam é, ao ver de Freud, algo que não é saudável. Aluno: Christian Mathias Fernandez 7
8 Conclusão Com base no texto acima podemos perceber que a resposta à questão de nosso colega sobre o fim da análise é complexa e muito trabalhada ao longo de vários anos. Podemos inferir que se um analisando apresenta uma vontade de interromper ou finalizar a análise é fundamental tratar deste assunto de maneira analítica. Analisar se é uma questão de resistência ou se a demanda do analisando foi alcançada ao longo do tratamento e se, neste caso, há um possível fim de relação que deve ser tratada com muito respeito. Caso haja um fim nesta relação, acredito que isso não signifique que o analisando esteja curado e que não possa mais desfrutar das benesses de uma analise. Pode-se buscar um novo analista que poderá, com outro repertório, trabalhar pontos nunca antes analisados. De maneira objetiva, em resposta à primeira questão do presente trabalho, o fim de analise é material para a própria analise. O analista pode retomar um processo de analise interrompido e, por fim, o tema de interromper um tratamento infantil para que outra criança seja atendida é um tema extremamente delicado. Isto por que o momento da interrupção por vezes é dado pelos pais e com base em um calendário gregoriano (1 ano, seis meses etc) e não com base na realidade do atendimento do paciente/analista. Aluno: Christian Mathias Fernandez 8
9 É mister que os pais busquem conversar com o analista para saber como anda o tratamento de seu filho e estudar o momento desta interrupção, haja vista uma interrupção abrupta pode trazer grandes prejuízos ao analisando. Durante meus estudos para a produção do presente trabalho me veio à cabeça o poema de Vinicius de Moraes chamado O operário em construção. Penso que a análise é uma excelente ferramenta para fortalecer o ego e permitir que este não seja submetido e atravessado pelo ID ou Superego e por vontades alheias. Este poema trata do processo de tomada de consciência de um operário que partindo de uma completa alienação à conscientização individual. OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO Era ele que erguia casas Onde antes só havia chão. Como um pássaro sem asas Ele subia com as asas Que lhe brotavam da mão. Mas tudo desconhecia De sua grande missão: Não sabia por exemplo Que a casa de um homem é um templo Um templo sem religião Como tampouco sabia Que a casa que ele fazia Sendo a sua liberdade Era a sua escravidão.... Mas ele desconhecia Esse fato extraordinário: Que o operário faz a coisa E a coisa faz o operário. De forma que, certo dia À mesa, ao cortar o pão O operário foi tomado De uma súbita emoção Ao constatar assombrado Que tudo naquela mesa - Garrafa, prato, facão Aluno: Christian Mathias Fernandez 9
10 Era ele quem fazia Ele, um humilde operário Um operário em construção. Olhou em torno: a gamela Banco, enxerga, caldeirão Vidro, parede, janela Casa, cidade, nação! Tudo, tudo o que existia Era ele quem os fazia Ele, um humilde operário Um operário que sabia Exercer a profissão. Ah, homens de pensamento Não sabereis nunca o quanto Aquele humilde operário Soube naquele momento Naquela casa vazia Que ele mesmo levantara Um mundo novo nascia De que sequer suspeitava. O operário emocionado Olhou sua própria mão Sua rude mão de operário De operário em construção E olhando bem para ela Teve um segundo a impressão De que não havia no mundo Coisa que fosse mais bela. Foi dentro dessa compreensão Desse instante solitário Que, tal sua construção Cresceu também o operário Cresceu em alto e profundo Em largo e no coração E como tudo que cresce Ele não cresceu em vão Pois além do que sabia - Exercer a profissão - O operário adquiriu Uma nova dimensão: A dimensão da poesia. E um fato novo se viu Que a todos admirava: O que o operário dizia Outro operário escutava. E foi assim que o operário Do edifício em construção Que sempre dizia "sim Começou a dizer "não... Disse e fitou o operário Que olhava e refletia Mas o que via o operário O patrão nunca veria Aluno: Christian Mathias Fernandez 10
11 O operário via casas E dentro das estruturas Via coisas, objetos Produtos, manufaturas. Via tudo o que fazia O lucro do seu patrão E em cada coisa que via Misteriosamente havia A marca de sua mão. E o operário disse: Não! - Loucura! - gritou o patrão Não vês o que te dou eu? - Mentira! - disse o operário Não podes dar-me o que é meu. E um grande silêncio fez-se Dentro do seu coração Um silêncio de martírios Um silêncio de prisão. Um silêncio povoado De pedidos de perdão Um silêncio apavorado Com o medo em solidão Um silêncio de torturas E gritos de maldição Um silêncio de fraturas A se arrastarem no chão E o operário ouviu a voz De todos os seus irmãos Os seus irmãos que morreram Por outros que viverão Uma esperança sincera Cresceu no seu coração E dentro da tarde mansa Agigantou-se a razão De um homem pobre e esquecido Razão porém que fizera Em operário construído O operário em construção Retirei alguns pequenos trechos deste longo poema. Vejo nele muitas ligações da construção em psicanalise, que por acaso (ou não) foi o tema do outro texto de Freud (construção em analise) do qual mencionamos no início do trabalho. E também desta possibilidade de sair de uma alienação que o processo de analise permite. Deixarei o poema aberto aos leitores para fazerem dele sua melhor tradução. Assim, termino minha breve apresentação deste importante tema, que é o fim da análise. Aluno: Christian Mathias Fernandez 11
12 BIBLIOGRAFIA FREUD S. [1939], Analise Terminável e Interminável, in Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XXIII, Rio de Janeiro, Imago, 1996 FREUD S. [1939], Construções em Analise, in Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XXIII, Rio de Janeiro, Imago, 1996 MORAES V. [1956], Operário em Construção (Poema) Aluno: Christian Mathias Fernandez 12
13 2º Semestre de 2013 Ciclo II Quarta-feira Manhã Aluno: Christian Mathias Fernandez Tema: O FIM DE UMA ANÁLISE: Prólogo: Na hora clinica da turma do segundo ciclo do curso de Psicanálise levantou-se a seguinte questão: Como o analista deve trabalhar a decisão de alta de um paciente. Caso esse paciente resolva voltar, deve/pode o analista retomar o trabalho? E no caso dos pais não terem condições de custear a análise de dois filhos. Deve-se colocar um por algum tempo (até um ano de tratamento) e depois retirá-lo a fim de que o outro possa ter a mesma oportunidade. Levantada esta questão passamos a comentar nossa visão sobre o assunto. A primeira colega disse que acredita que o trabalho analítico, uma vez iniciado, reverbera por toda a vida. Assim, mesmo que a pessoa encerre o tratamento seu interlocutor interno, que foi desenvolvido na análise, o acompanhará. O assunto prosseguiu de maneira bem instigante. Achei que foi uma hora clínica bastante rica, talvez por que tenha suscitado em mim tantas emoções e a possibilidade de ouvir diversas visões Aluno: Christian Mathias Fernandez 1
14 do assunto e ver como aquelas visões e percepções a posteriori reverberavam em mim. Após essa breve introdução procuraremos abordar o tema do fim da análise em Freud em com base no que aprendemos até o presente momento e em alguns textos que não tivemos em nossa bibliografia, mas que fazem menção ao assunto tratado em nossa hora clinica. A análise terminável e interminável: Em 1937 Freud publicou Análise terminável e interminável, juntamente com o texto Construções em analise. Vale ressaltar que esses textos foram um dos últimos escritos do grande fundador desta nova forma de conhecimento que ele nomeou de Psicanalise. O editor da edição standard chamou a atenção para mudança de percepção de Freud em relação ao poder profilático ou a cura completa da neurose tratada neste texto. Em sua nova visão, Freud mudou sua percepção a esse respeito neste último texto e acreditava que não há garantias de que o paciente que teve alta, que conseguiu passar pelo tratamento terapêutico, apesar do fortalecimento do ego no processo, não corra o risco de ter alguma recaída, dada a condições novas da realidade. Quando Freud iniciou seu trabalho, por meio da clínica com casos de histeria, o médico neurologista buscou uma maneira mais eficaz que as praticadas pelos seus contemporâneos de curar a histeria e, depois, a neurose. Este era, portanto, o objetivo inicial da psicanalise. Na época da publicação deste texto, Freud o inicia com o seguinte trecho: Aluno: Christian Mathias Fernandez 2
15 A experiência nos ensinou que a terapia psicanalítica a libertação de alguém de seus sintomas, inibições e anormalidades de caráter neuróticas é um assunto que consome muito tempo. O leitor perceber qual o escopo da terapia analítica para Freud Libertação de alguém de seus sintomas, inibições e anormalidades de caráter neuróticas - bem como sua percepção de que este tratamento consome muito tempo. Sabendo que a psicanalise fora criada por um médico e tinha como escopo a cura e, ademais, quando buscou um reconhecimento internacional teve uma boa repercussão nos Estados Unidos, país conhecido pelo pragmatismo e pela busca de resultados sempre rápidos; percebemos que ainda hoje há um enorme resquício desta origem e da influencia americana, não só na psicanalise como também na nossa cultura. A cultura do fast-food, dos tratamentos breves e de um sentimento de pressa, de urgência desmedida tem influenciado a discussão sobre o lento processo da analise e maneiras de acelera-lo. Hoje já podemos afirmar com mais convicção que não há uma cura neste processo. Até por que não mais vemos as manifestações, inibições e sintomas como doença. Há casos de doença, sem dúvida, que hoje são Aluno: Christian Mathias Fernandez 3
16 descritos pelo DSM e são trabalhados com a psicanálise, mas há também assuntos abordados na análise que não se configuram como doença no sentido técnico do termo. Há pessoas que não estão enfermas com algum sintoma postulado no DSM e que ainda assim buscam análise e tem nela um caminho de autoconhecimento e descobertas que muito contribuem para uma significativa melhora na qualidade de vida. Isto posto, não há que se falar em um neurótico curado. E podemos dizer que a psicanalise, antes usada para curar neuróticos, tem sido uma ferramenta muito útil e aceita no tratamento de diversas estruturas, tais como psicóticos, perversos, etc. Ainda em relação ao texto, Freud, talvez seduzido pela busca de agilidade no tratamento, de um modelo mais curto, empregou uma nova técnica a fim de acelerar o tratamento de seus pacientes. Sua justificativa para a nova técnica foi a de que um sucesso parcial de tratamento deixava o analisando em uma zona de conforto que o impedia de avançar. Assim, buscando agilidade e quebra de resistências fixou um limite de tempo para o fim da análise e comunicou ao analisando. Fez isso mais de uma vez e conclui que ele tem uma eficácia no sentido de acelerar e quebrar algumas resistências, mas não se pode garantir a realização completa da tarefa. Percebeu também que uma parte do material ficou acessível frente à chantagem enquanto que outra ficará sepultada. Um erro de calculo não pode ser retificado. Sua conclusão não foi favorável ao emprego da nova técnica. Aluno: Christian Mathias Fernandez 4
17 O que é de fato o término da análise? No segundo capítulo do texto Freud inicia da seguinte maneira: A discussão do problema técnico de saber como acelerar o lento progresso de uma análise nos conduz a outra questão, mais profundamente interessante: existe algo que se possa chamar de término de uma análise Há alguma possibilidade de levar uma análise a tal término? Por meio desta colocação, se amplia um pouco o horizonte da questão inicial e busca-se determinar o que se poderia chamar de fim de análise. Freud coloca que uma resposta inicial, prática e objetiva seria de que o fim da análise se dá com o fim das sessões entre analista e analisando. Isso pode ocorrer de duas formas; A primeira, para chegar a este fim, o paciente deve ter superado suas ansiedades, inibições e não apresentar seus antigos sintomas. Mais que isso, é necessário que o analista acredite que tenha vencido diversas resistências, tornado muito material consciente ao analisando que o risco de uma repetição do processo patológico é pequeno. Num segundo fim de análise, sem que este quadro acima tenha sido preenchido, pode ocorrer em função de dificuldades externas (financeira, de mobilidade, de agenda...) tornando o processo de analise "incompleto ou "inacabado, frente um fim desta natureza. Em seguida Freud coloca um sentido mais ambicioso no termo fim da analise, qual seja: chegar a uma normalidade psíquica absoluta. Ele coloca Aluno: Christian Mathias Fernandez 5
18 esta ideia para refletirmos, contudo acha que isso seria o ideal, mas não alcançável. Neste ponto há uma alteração de percurso. Freud coloca que a busca não deveria se dar na cura pela análise, mas sim nos obstáculos que se colocam no caminho da cura. Apresenta dois casos clínicos de alta de pacientes que teve ao longo de sua carreira e que anos mais tarde tiveram recaídas. Coloca-se que há quem defenda que a analise da época dos exemplos avançou muito e que hoje pode curar completamente as pessoas e há aqueles que acreditam que não há garantias. Contudo, Freud diz que independente da corrente otimista ou cética não há espaço para buscar um abreviamento do tratamento, em especial para aqueles que buscam um término de análise do primeiro tipo Sem sofrimentos de sintomas, superação de ansiedades e inibições. A saúde e as possibilidades advindas de um tratamento analítico: No terceiro capítulo deste interessante ensaio Freud, em nota de rodapé, faz uma colocação em relação à saúde: É impossível definir saúde, exceto em termos metapsicológicos, isto é, por referência às relações dinâmicas entre as instâncias do aparelho psíquico que foram identificadas ou (se preferir) inferidas ou conjecturadas por nós. Em seguida coloca-se que o tratamento psicanalítico produz um estado no analisando que nunca surge espontaneamente, criando uma diferença Aluno: Christian Mathias Fernandez 6
19 essencial naqueles que tiveram a chance de passar por este processo. Em relação a isto, podemos retomar a colocação de nossa colega na hora clínica que afirmou que mesmo com uma interrupção na análise há, uma vez que o analisando tenha iniciado seu tratamento, um novo interlocutor interno que faz as vezes do analista por toda a vida. É claro que este interlocutor terá uma força frente os impulsos e as pulsões diretamente proporcional à eficácia do trabalho analítico pelo qual o analisando passou. Também se considera que este interlocutor permite um controle sobre o instinto melhor que antes deste ferramental. Contudo ele é imperfeito, pois é sempre incompleto. Na abertura do VII capítulo Freud, em citação à Ferenczi, coloca que a análise não é um processo sem fim, mas um processo que pode receber um fim natural, com perícia e paciência suficientes por parte do analista. E sua percepção é de um trabalho longo e não de uma chance de abreviação como no discutido no início. Ele coloca a importância da saúde mental do analista para a correta execução de sua função, contrapondo com a função de um médico que, mesmo sofrendo do coração pode atender um paciente sem causar danos a este em função de seu problema. Esta é uma introdução da importância da análise para aqueles que buscam ser analistas. Sabe-se que o tripé de um bom analista é analise pessoal, conhecimento acadêmico e supervisão. O texto diz da importância da manutenção da analise enquanto este estiver na prática. Assim, já se percebe que a resposta objetiva de um término de análise para aqueles que praticam é, ao ver de Freud, algo que não é saudável. Aluno: Christian Mathias Fernandez 7
20 Conclusão Com base no texto acima podemos perceber que a resposta à questão de nosso colega sobre o fim da análise é complexa e muito trabalhada ao longo de vários anos. Podemos inferir que se um analisando apresenta uma vontade de interromper ou finalizar a análise é fundamental tratar deste assunto de maneira analítica. Analisar se é uma questão de resistência ou se a demanda do analisando foi alcançada ao longo do tratamento e se, neste caso, há um possível fim de relação que deve ser tratada com muito respeito. Caso haja um fim nesta relação, acredito que isso não signifique que o analisando esteja curado e que não possa mais desfrutar das benesses de uma analise. Pode-se buscar um novo analista que poderá, com outro repertório, trabalhar pontos nunca antes analisados. De maneira objetiva, em resposta à primeira questão do presente trabalho, o fim de analise é material para a própria analise. O analista pode retomar um processo de analise interrompido e, por fim, o tema de interromper um tratamento infantil para que outra criança seja atendida é um tema extremamente delicado. Isto por que o momento da interrupção por vezes é dado pelos pais e com base em um calendário gregoriano (1 ano, seis meses etc) e não com base na realidade do atendimento do paciente/analista. Aluno: Christian Mathias Fernandez 8
21 É mister que os pais busquem conversar com o analista para saber como anda o tratamento de seu filho e estudar o momento desta interrupção, haja vista uma interrupção abrupta pode trazer grandes prejuízos ao analisando. Durante meus estudos para a produção do presente trabalho me veio à cabeça o poema de Vinicius de Moraes chamado O operário em construção. Penso que a análise é uma excelente ferramenta para fortalecer o ego e permitir que este não seja submetido e atravessado pelo ID ou Superego e por vontades alheias. Este poema trata do processo de tomada de consciência de um operário que partindo de uma completa alienação à conscientização individual. OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO Era ele que erguia casas Onde antes só havia chão. Como um pássaro sem asas Ele subia com as asas Que lhe brotavam da mão. Mas tudo desconhecia De sua grande missão: Não sabia por exemplo Que a casa de um homem é um templo Um templo sem religião Como tampouco sabia Que a casa que ele fazia Sendo a sua liberdade Era a sua escravidão.... Mas ele desconhecia Esse fato extraordinário: Que o operário faz a coisa E a coisa faz o operário. De forma que, certo dia À mesa, ao cortar o pão O operário foi tomado De uma súbita emoção Ao constatar assombrado Que tudo naquela mesa - Garrafa, prato, facão Aluno: Christian Mathias Fernandez 9
22 Era ele quem fazia Ele, um humilde operário Um operário em construção. Olhou em torno: a gamela Banco, enxerga, caldeirão Vidro, parede, janela Casa, cidade, nação! Tudo, tudo o que existia Era ele quem os fazia Ele, um humilde operário Um operário que sabia Exercer a profissão. Ah, homens de pensamento Não sabereis nunca o quanto Aquele humilde operário Soube naquele momento Naquela casa vazia Que ele mesmo levantara Um mundo novo nascia De que sequer suspeitava. O operário emocionado Olhou sua própria mão Sua rude mão de operário De operário em construção E olhando bem para ela Teve um segundo a impressão De que não havia no mundo Coisa que fosse mais bela. Foi dentro dessa compreensão Desse instante solitário Que, tal sua construção Cresceu também o operário Cresceu em alto e profundo Em largo e no coração E como tudo que cresce Ele não cresceu em vão Pois além do que sabia - Exercer a profissão - O operário adquiriu Uma nova dimensão: A dimensão da poesia. E um fato novo se viu Que a todos admirava: O que o operário dizia Outro operário escutava. E foi assim que o operário Do edifício em construção Que sempre dizia "sim Começou a dizer "não... Disse e fitou o operário Que olhava e refletia Mas o que via o operário O patrão nunca veria Aluno: Christian Mathias Fernandez 10
23 O operário via casas E dentro das estruturas Via coisas, objetos Produtos, manufaturas. Via tudo o que fazia O lucro do seu patrão E em cada coisa que via Misteriosamente havia A marca de sua mão. E o operário disse: Não! - Loucura! - gritou o patrão Não vês o que te dou eu? - Mentira! - disse o operário Não podes dar-me o que é meu. E um grande silêncio fez-se Dentro do seu coração Um silêncio de martírios Um silêncio de prisão. Um silêncio povoado De pedidos de perdão Um silêncio apavorado Com o medo em solidão Um silêncio de torturas E gritos de maldição Um silêncio de fraturas A se arrastarem no chão E o operário ouviu a voz De todos os seus irmãos Os seus irmãos que morreram Por outros que viverão Uma esperança sincera Cresceu no seu coração E dentro da tarde mansa Agigantou-se a razão De um homem pobre e esquecido Razão porém que fizera Em operário construído O operário em construção Retirei alguns pequenos trechos deste longo poema. Vejo nele muitas ligações da construção em psicanalise, que por acaso (ou não) foi o tema do outro texto de Freud (construção em analise) do qual mencionamos no início do trabalho. E também desta possibilidade de sair de uma alienação que o processo de analise permite. Deixarei o poema aberto aos leitores para fazerem dele sua melhor tradução. Assim, termino minha breve apresentação deste importante tema, que é o fim da análise. Aluno: Christian Mathias Fernandez 11
24 BIBLIOGRAFIA FREUD S. [1939], Analise Terminável e Interminável, in Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XXIII, Rio de Janeiro, Imago, 1996 FREUD S. [1939], Construções em Analise, in Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XXIII, Rio de Janeiro, Imago, 1996 MORAES V. [1956], Operário em Construção (Poema) Aluno: Christian Mathias Fernandez 12
ANEXO 03 O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO
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