A OPINIÃO DOS EMPRESÁRIOS SOBRE A MODERNIZAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRABALHISTA NO BRASIL

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1 A OPINIÃO DOS EMPRESÁRIOS SOBRE A MODERNIZAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRABALHISTA NO BRASIL Setembro 2016

2 INTRODUÇÃO Empresas pretendem formalizar e contratar com a modernização da legislação trabalhista Não é de hoje que a atividade de empreender encontra sérios obstáculos no Brasil. O peso da carga tributária torna o país menos competitivo; a insegurança jurídica limita o crédito e o investimento; a rigidez da legislação trabalhista reduz a oferta de trabalho; a escassez de mão-de-obra qualificada impede o avanço da produtividade. As barreiras para o desenvolvimento econômico do país são conhecidas. Há muito se discute a necessidade de o país realizar reformas estruturais que, no entanto, não prosperam. Num momento em que a volta do crescimento ocupa o centro da preocupação nacional, é oportuno retomar o debate sobre alguns pleitos que poderão dar mais dinamismo à economia brasileira. Um deles diz respeito às relações de trabalho, objeto do presente estudo. Conduzida pelo SPC Brasil e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), a pesquisa Modernização da Legislação Trabalhista procurou ouvir empresários que atuam no Varejo e no setor de Serviços sobre mais um dos entraves à economia, que é a rigidez da regulação da relação de trabalho no Brasil. Os entrevistados opinaram sobre a normatização do trabalho intermitente e a regularização da terceirização de mão-de-obra. Também destacaram sua percepção acerca dos benefícios e possíveis problemas da atualização na legislação para os negócios, a economia e os trabalhadores, além de indicar a disposição para novas contratações caso os novos regimes de trabalho sejam aprovados. A questão do emprego surge com frequência nas respostas dos entrevistados. Entre aqueles que esperam a regulamentação de diferentes modalidades de contrato de trabalho, a criação de novas vagas aparece como o principal impacto da medida. Esse resultado chama a atenção porque poucos problemas são tão urgentes quanto o drama do desemprego no país. A crise econômica levou milhões de brasileiros à desocupação. Dados do IBGE revelam que, no trimestre de maio a julho, o número de brasileiros desempregados chegou a 11,8 milhões, o maior registrado pela pesquisa. 2

3 62,5% dos empresários de varejo e serviços consideram que a regulamentação do trabalho intermitente ajudaria a melhorar a economia brasileira O chamado trabalho intermitente é definido como a modalidade de contrato de trabalho que adota o regime de hora móvel em lugar do regime de hora fixa. Nesse modelo, a empresa tem a possibilidade de contratar funcionários para trabalhar em dias ou horas alternadas, pagando pela efetiva contraprestação de serviços e os direitos trabalhistas proporcionais aos ganhos. Indagados sobre a regulamentação da modalidade, a maior parte dos empresários (53,8%) disse considerala ótima ou boa. Menos otimistas, um quinto (20,4%) considerou a proposta regular e 13,7% afirmaram ser ruim ou péssima. Entre aqueles que tiveram um juízo bom da medida, as principais justificativas estão relacionadas à questão do emprego: para 24,7% destes empresários, o trabalho intermitente fará aumentar a oferta de trabalho, diminuindo o desemprego no Brasil. Há ainda 19,0% que dizem que, com a modalidade regulada, poderão contratar mão de obra para situação específica como datas comemorativas e licenças de funcionários e 18,8% que alegam que poderão contratar funcionários para funções que não demandem horário integral. Também aparecem com destaque a redução dos gastos com folha de pagamento (18,6%) e a possibilidade de contratar funcionários que hoje trabalham na informalidade (14,5%). PORQUE ESSA INICIATIVA É ÓTIMA OU BOA? RESPOSTAS (RU) Porque haverá mais vagas de trabalho no mercado, diminuindo o desemprego no Brasil Poderei contratar mão-de-obra para situações específicas, como datas comemorativas ou em caso de funcionários de licença Poderei contratar pessoas para funções que não demandam horário integral Porque reduzirá minhas despesas com folha de pagamento de funcionários GERAL 24,7% 19,0% 18,8% 18,6% Poderei contratar pessoas que hoje trabalham na informalidade 14,5% Outros 0,7% Não sei/prefiro não responder 3,8% Já entre aqueles que consideram a medida ruim, a justificativa que prevalece é de ordem pessoal: 28,3% dizem não ver a necessidade de fazer esse tipo de contratação em sua empresa. Para 27,4%, isso poderá implicar em perda de direito por parte dos trabalhadores. Outros 22,1% alegam que os contratados neste regime não terão a mesma dedicação que aqueles dedicados em período integral. 3

4 PORQUE ACHA ESSA INICIATIVA RUIM OU PÉSSIMA? RESPOSTAS (RU) Porque não vejo necessidade desse tipo de contratação em minha empresa AGOSTO 28,3% Porque os trabalhadores terão perda de seus direitos atuais 27,4% Porque estes funcionários não terão a mesma dedicação de funcionários contratados para horário integral Porque vai ficar muito caro, melhor continuar com os informais ou contratar empresas terceirizadas 22,1% 12,4% Outros 4,4% Não sei/prefiro não responder 5,3% Mesmo não estando regulada, há um número relevante de empresas que admitem lançar mão dessa forma de contratação: 12,7% dizem que já a adotam de maneira informal. No setor de Serviços, a prática é mais frequente do que no Comércio. Enquanto no primeiro setor a proporção dos que admitem exercê-la é de 17,3%, neste último é de 8%. Destaque-se também as diferenças regionais: mais do que nas demais regiões, no Sudeste 17,3% dos entrevistados admitem contratar as chamadas horas móveis, ainda que de maneira informal. Caso o trabalho intermitente seja regulado, 33,2% dos empresários sondados contrataria funcionários sob o novo regime. 24,6% dizem não saber se o fariam. Outros 42,2% dizem que não. É evidente que essa não é uma necessidade de todas as empresas. A necessidade de contratar funcionários em regime diferenciado depende fundamentalmente da atividade exercida pela empresa. Nota-se, contudo, uma parcela importante de empresários que carecem de um modelo mais flexível em razão da natureza de seu negócio. É o caso, por exemplo, de serviços de Bares e Restaurante, cujo pico de movimentação se dá em horários específicos. É justamente esse tipo de serviço, além dos serviços gerais que os empresários julgam que mais se beneficiária da atualização da legislação. Em seguida, aparecem o Comércio, Shopping Center, Hotelaria, Supermercado, Eventos e Buffet. 4

5 SETORES QUE ACREDITA QUE ESSES FUNCIONÁRIOS SERIAM CONTRATADOS RESPOSTAS (RU) AGOSTO Serviços gerais 39,2% Bar/restaurante 28,2% Comércio 28,2% Shopping center 27,3% Hotelaria 24,9% Supermercados 24,7% Eventos (montagem, instalação de equipamentos, recepcionistas) 24,2% Buffet 21,4% Turismo 21,0% Salão de beleza/clínica de estética 17,3% Confecção 16,8% Clubes recreativos 15,8% Oficinas mecânicas 15,3% Postos de gasolina 13,7% Farmácias 13,4% Considerando o próprio negócio, 60,5% acredita que a medida traria algum benefício, por razões diversas. 18,9% diz que poderiam contratar para momento de maior demanda; 14,5% mencionam a possibilidade de economizar com a mudança no regime de contratação e 11,2% citam a contratação para tarefas que não exigem o período integral. No entanto, para 31,6% dizem que o regime de hora móvel não traria nenhum benefício. Do ponto de vista dos funcionários, os empresários consultados consideram que os benefícios do trabalho intermitente seriam: a possibilidade de conciliar o emprego com os estudos e outras atividades, trabalhando menos horas por semana (25,8%); a possibilidade de ganhar benefícios que não possuem trabalhando informalmente (20,1%); a possibilidade de ter salário equiparado aos profissionais que exercem a mesma função; e, por fim, a possibilidade de contratação futura para o horário integral. Para 20,2%, não haveria nenhum benefício para o trabalhador. 5

6 BENEFÍCIOS QUE FUNCIONÁRIOS CONTRATADOS TERIAM COM O TRABALHO INTERMITENTE RESPOSTAS (RU) AGOSTO COMÉRCIO SEGMENTO SERVIÇOS Possibilidade de conciliar trabalho, estudo ou outras atividades, trabalhando menos horas por semana Possibilidade de ganhar benefícios que não tinha no mercado informal Possibilidade de ter salário equiparado aos profissionais que exercem a mesma função 25,8% 25,9% 25,6% 20,1% 18,2% 22,1% 11,7% 11,7% 11,7% Possibilidade de contratação futura para o horário integral 11,1% 11,0% 11,2% Possibilidade de arrumar um emprego/um ganho 1,1% 0,5% 1,8% Outros 0,6% 0,9% 0,3% Nenhum benefício 20,2% 22,7% 17,5% Não sei/prefiro não responder 9,5% 9,1% 9,9% Haveria reflexos positivos, também, na sustentabilidade financeira das empresas, segundo 51,8% dos entrevistados. Isso porque, para 22,6%, seria possível contratar a um preço mais justo; para 17,3% seria possível contratar mais funcionários; e para 11,7%, o empresário correria menos riscos trabalhistas, regularizando a situação de trabalhadores informais. Outros 37,6% acreditam que em nada a medida beneficiaria a sustentabilidade financeira da empresa. A propósito da informalidade, 32,5% afirmam que a regulamentação do trabalho intermitente ajudaria a reduzir esse problema. Também merecem destaque os 54,6% que dizem que ela faria ampliar as oportunidades de trabalho no Brasil. Num nível mais abrangente, 62,5% afirmam que o trabalho intermitente ajudaria a melhorar a economia brasileira. As razões não diferem muito daquelas que fazem o empresariado acreditar que a proposta é boa: 25,4% acreditam que a medida traria a redução do desemprego e da informalidade e 17% acreditam na redução de custos e consequentemente a abertura de novas vagas. 6

7 Regulamentação da terceirização seria outra boa iniciativa para 61% dos empresários A terceirização de mão-de-obra é o processo que permite as empresas contratarem outras para realização de serviços específicos, sem que se configure vínculo empregatício entre a empresa contratante e os trabalhadores da empresa contratada. O trabalho terceirizado é uma realidade no dia-a-dia das empresas. De acordo com a pesquisa, 9,5% dos empresários contratam o trabalho de terceiros e 21,3% dos empresários dizem que teriam um funcionário terceirizado em sua empresa caso a modalidade fosse regulamentada. O modelo atual permite a contratação de mão-de-obra terceirizada desde que seja para a execução de atividades-meio, e não atividades-fim. Desse modo, à título de exemplo, uma escola pode terceirizar o serviço de limpeza, mas não pode contratar professores terceirizados. Se aprovado pelo Senado Federal, o PL 4330/2004, que regulamenta a terceirização, poderá estender o regime às atividades-fim também. O tema da terceirização remonta a um argumento econômico clássico, segundo o qual a especialização gera ganhos de eficiência. As conclusões teóricas desse problema encontram respaldo no senso prático dos empresários. Para a maioria deles (61,3%), a regulamentação da terceirização da mão-de-obra seria uma iniciativa boa. As razões variam, mas apontam todas para otimização de recursos. Para 25,4%, a medida aumentaria o número de empregos; para 24,7%, diminuiria os custos com funcionários, fazendo sobrar recursos para investimentos ou impedindo que empresas em dificuldades baixem as portas. Há também aqueles que veem a iniciativa com maus olhos (22,7%). As principais justificativas são que o funcionário terceirizado pode não se sentir parte da empresa, algo citado por 8,8% dos entrevistados, e que a qualidade do serviço prestado por um funcionário de outra empresa não seja boa (8,2%). 7

8 PERCEPÇÃO DA REGULAMENTAÇÃO DA TERCEIRIZAÇÃO TOTAL INICIATIVA BOA 61,3% TOTAL INICIATIVA RUIM 22,7% Boa, pois aumentaria o número de empregos 25,4% Ruim, pois o funcionário terceirizado pode não se sentir parte da empresa, o que impacta na sua produtividade 8,8% Boa, pois diminuiria os custos de funcionários e as empresas teriam mais dinheiro para fazer outros investimentos Boa, pois a diminuição dos custos poderia ajudar empresas que estão falindo a não fechar as portas Boa, pois não precisarei administrar mais alguns setores da empresa e poderei me dedicar mais a outras áreas 13,6% 11,1% 6,4% Ruim, pois tenho medo de terceirizar e a qualidade do serviço ser ruim Ruim, pois terceirizar é mais caro do que manter os funcionários que tenho 8,2% 4,0% Boa, pois poderei diminuir o tamanho do espaço que uso atualmente 3,5% Ruim, outros motivos 1,8% Boa, outros motivos 1,2% Outros 0,4% Na ótica dos varejistas e prestadores de serviços, entre as dificuldades do modelo vigente destacam-se a dificuldade de encontrar uma empresa que preste serviço com qualidade, mencionada por 20,2%; o medo de baixar a qualidade dos serviços prestados, citado por 19,8%; a não existência de empresa que preste o serviço necessário (14,7%). A proibição da terceirização para a atividade principal da empresa é mencionada por 12,8%. As empresas que, na opinião dos entrevistados, mais contratariam funcionários terceirizados seriam o de serviços gerais, shopping centers, eventos, comércio e restaurantes. 8

9 SETORES QUE ACREDITA QUE FUNCIONÁRIOS TERCEIRIZADOS SERIAM CONTRATADOS RESPOSTAS (RU) AGOSTO Serviços gerais 43,3% Shopping center 26,5% Eventos (montagem, instalação de equipamentos, recepcionistas) 24,2% Comércio 24,1% Bar/restaurante 21,9% Hotelaria 21,8% Supermercados 21,5% Buffet 20,2% Turismo 20,1% Confecção 16,2% Clubes recreativos 15,3% Salão de beleza/clínica de estética 13,4% Oficinas mecânicas 12,4% Farmácias 11,9% Postos de gasolina 11,6% Para a maior parte dos empresários ouvidos (58,3%), a regulamentação da terceirização ajudaria a melhorar o desempenho da economia brasileira. O que motiva esse entendimento é a percepção de que a mudança diminuiria o desemprego, citada por 35,3%, e a percepção de que diminuiria os custos de contratação, beneficiando empresas em dificuldade ou direcionando recursos para investimentos (22,9%). Com opinião diversa, 25,1% acredita que a regulamentação não ajudaria a economia brasileira, basicamente por duas razões: para 12,4%, de qualquer maneira a empresa terá de pagar impostos de contratação e demais benefícios para os funcionários; e para outros 12,0%, nestes tempos de crise as empresas não estão contratando de qualquer jeito. Considerando o próprio negócio, número expressivo (40,6%) dos empresários dizem que a contratação de funcionários terceirizados ajudaria na sustentabilidade financeira da empresa, pois diminuiria os custos atuais de contratação, com sobra de recursos para investimento (20,9%) e a diminuição de riscos com litígios trabalhistas (11,6%). Outros 48,7% afirmam que a contratação de terceirizados não ajudaria seu negócio no quesito da sustentabilidade financeira, o que depende, do tipo de atividade que a empresa exerce. 9

10 Uma agenda microeconômica para o crescimento do Brasil Os esforços da nova equipe econômica voltam-se, com razão, para os problemas fiscais do país, que são de fato prementes. Contudo, não se pode negligenciar a importância das medidas microeconômicas. Serão elas as responsáveis por dar ao setor privado o dinamismo e a eficiência necessários para o seu crescimento. A questão da relação de trabalho é um dos tópicos dessa agenda. Pelos resultados da pesquisa, fica clara a importância da modernização da legislação trabalhista, com a criação de contratos novos de trabalho que se adequem às necessidades do empregado e do empregador. A posição majoritária é de que a atualização traria benefícios para a economia, negócios e trabalhadores. 10

11 METODOLOGIA Público-alvo: empresas brasileiras de todos os portes dos ramos de comércios e serviços. Método de coleta: pesquisa realizada por telefone. Tamanho amostral da pesquisa: 822 casos, margem de erro geral de 3,4 p.p para um intervalo de confiança de 95%. Data de coleta dos dados: 01 a 12 de agosto de

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