A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL NA ÓTICA DOS OPERÁRIOS: SURVEY EM SISTEMAS PRODUTIVOS DO SETOR VIDREIRO

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1 XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL NA ÓTICA DOS OPERÁRIOS: SURVEY EM SISTEMAS PRODUTIVOS DO SETOR VIDREIRO Henry Hideki Nakasone (UNESP) h.nakasone@hotmail.com Jorge Muniz Junior (UNESP) jorgemuniz@feg.unesp.br Sabrina dos Santos Aquino (UNESP) sabrina.s.aquino@gmail.com Esse artigo objetiva avaliar a importância da experiência profissional para os funcionários do ambiente operário. Este estudo é delimitado a uma empresa do ramo de vidros. É uma pesquisa com enfoque qualitativo tipo survey com 140 funcionárrios de quatro diferentes sistemas produtivos (produção de máquinas, (2) decoração de vidros e logística) realizada em Existe uma relação estreita entre conhecimento tácito e experiência e ambos são analisados pela Gestão do Conhecimento. Os resultados indicaram que os profissionais pesquisados consideram que a experiência dos membros de equipe é algo importante para as atividades diárias. Palavras-chaves: experiência, sistema produtivo, survey, vidro, gestão do conhecimento, conhecimento tácito

2 1. Introdução O governo federal estimula que estudantes adquiram suas primeiras experiências profissionais por meio do estágio. Esta iniciativa é amparada pela Lei 6.494/77 e regulamenta pelo Decreto /82 que define o estágio como instrumento no processo do ensino e da aprendizagem. O estágio, em si, constitui-se em uma etapa da formação do estudante, que permite, por meio de treinamento e educação, desenvolver habilidades variadas antes mesmo da sua conclusão escolar, demonstrando a existência de uma exigência de mercado, ou seja, experiência profissional. Milkovich e Boudreau (2000) definem que a aprendizagem é uma modificação relativamente constante nos conhecimentos, habilidades, crenças, atitudes ou comportamentos produzidos pela experiência. Atualmente a experiência profissional é algo importante nos sistemas produtivos, por exemplo, para se conseguir um emprego muitas vezes é solicitada uma experiência anterior. Muitas empresas utilizam esse critério para minimizar gastos com treinamento de novos funcionários. A maioria dos processos seletivos praticados no Brasil é baseado fundamentalmente no fator experiência profissional, além de abranger os demais fatores como: escolaridade, conhecimentos, entre outros. Entretanto, no processo decisório o fator que possui um maior peso é a experiência profissional (CAVALCANTI, 2009). O conhecimento é tido como fator competitivo nas organizações, mas não só a aquisição deste, como também sua criação e disseminação. A exploração formal e sistemática da informação e do conhecimento tem atraído à atenção das organizações e é tratada pela Gestão do Conhecimento. No passado as políticas de redução de custo e incorporação de novas tecnologias geraram a perda de um grande contingente de trabalhadores e da experiência que os mesmos detinham. Isso gerou resultados indesejáveis como perda de produtividade e qualidade em algumas organizações. Torna-se uma questão importante entender se a experiência dos operários nos novos sistemas produtivos é importante para os mesmos. Diante desse contexto esse artigo objetiva avaliar a importância da experiência profissional para os funcionários do ambiente operário. Este estudo é delimitado a uma empresa do ramo de vidros. O entendimento da importância dada a experiência permite a criação de retenção dos trabalhadores para contribuir no treinamento e capacitação de novos profissionais. A presente pesquisa tem enfoque qualitativo e analisa resultados obtidos numa survey com 140 entrevistados de diferentes sistemas produtivos da referida empresa. O artigo está estruturado em: Introdução, que apresenta o escopo e seu objetivo; Revisão Teórica com os principais fundamentos conceituais; Procedimento Metodológico com a classificação da pesquisa, descrição do objeto de pesquisa e perfil dos entrevistados; Análise de Resultados e Conclusões. 2

3 2. Revisão Teórica Esta seção apresenta conceitos referentes a Sistemas Produtivos para auxiliar no entendimento dos sistemas produtivos e caracterizar o objeto de pesquisa e Gestão do Conhecimento para fundamentar a discussão sobre experiência. 2.1 Sistemas Produtivos Os Sistemas produtivos buscam a fabricação de bens manufaturados, a prestação de serviços ou o fornecimento de informações (MARTINS; LAUGENI, 2005). Segundo Slack et al. (2002), o posicionamento de uma operação de acordo com suas características de volume-variedade determina a abordagem geral para gerenciamento dos processos. Na manufatura, os tipos de processo por ordem de volume crescente e variedade decrescente são: processos por projeto, processos de jobbing, processos por lotes ou bateladas, processos de produção em massa e processos contínuos. A Figura 1 apresenta a representação desses tipos de processo de acordo com os critérios volume e variedade. Figura 1 - Tipos de processos em operações de manufatura (MARTINS; LAUGENI, 2005) Estas classificações englobam a maior parte dos processos em manufatura e serviços, mas deve-se ter em mente que alto e baixo volume são conceitos relativos, visto que essas características estão relacionadas com o ramo de atividade considerado. Alto volume no ramo de eletrônicos é significativamente diferente ao do setor aeronáutico por exemplo. Os processos de projeto são caracterizados por baixo volume de produção e a alta variedade de produtos. Trata-se de produtos únicos, muitas vezes exclusivos e personalizados. O período de tempo para a fabricação do produto é normalmente longo e as atividades envolvidas na fabricação do produto podem ser incertas, modificando-se ao longo do processo produtivo. Resumidamente, nos processo do tipo projeto, cada trabalho possui início e fim bem definidos, sendo o intervalo entre seu início e conclusão longo, necessitando de recursos organizados de maneira especial para cada produto. Os processos do tipo Lote ou jobbing também apresentam características de alta variedade e baixos volumes. Porém, diferentemente dos processos do tipo projeto, nos quais cada produto possui recursos exclusivos, nos processos jobbing os produtos devem compartilhar os recursos produtivos (máquinas, dispositivos, ferramentas e pessoas) com outros. Estes recursos produtivos geram produtos variados, mas suas necessidades têm especificidades. Nesse tipo de processo o grau de repetição é baixo e grande parte dos trabalhos é realizada 3

4 uma única vez. De acordo com Moreira (2008), é também normal que os roteiros de produção em processos do tipo jobbing possam ser variados, assim como os tempos de processamento nas diversas fases do processo produtivo. Já os processos em lotes ou bateladas possuem menor variedade do que os de jobbing e os itens são produzidos mais de uma vez, geralmente em lotes com quantidades pré-definidas. Dessa maneira, as operações se repetem algumas vezes enquanto o lote está sendo produzido. Os lotes podem ser pequenos, aproximando as operações dos processos jobbing, mas quando são grandes podem se tornar repetitivos. Este tipo de processo apresenta uma ampla gama de níveis de variedade e volume em relação aos outros. A produção em massa apresenta características de altos volumes e variedade relativamente estreita, já que as variantes dos produtos não afetam o processo básico de produção. Nesse tipo de processo as atividades das operações são repetitivas e bastante previsíveis. Os processos contínuos caracterizam-se pela produção de itens contínuos, ou seja, produtos inseparáveis, em um fluxo ininterrupto. Produzem volumes maiores e variedade menor do que os processos de produção em massa, exigindo normalmente tecnologias inflexíveis e bastante investimento de capital. Diferente da classificação apresentada por Slack et al. (2002) que utiliza como critérios o volume produzido e a variedade dos produtos, Moreira (1998), apresenta uma classificação dos tipos de sistemas de produção em função do fluxo dos produtos. Dentro dessa classificação, os tipos de sistemas em manufatura são classificados em: sistemas de produção contínua, sistemas de produção intermitente e sistemas de produção para grandes projetos. Os sistemas de produção contínua apresentam fluxo em linha e possuem uma sequencia linear para a fabricação dos produtos, que são bastante padronizados e seguem de um posto de trabalho a outro em uma ordem prevista. Os sistemas de fluxo em linha podem ser subdivididos em: produção em massa e produção contínua. Nos sistemas de produção intermitente, o fluxo é cíclico. A produção é feita em lotes e os produtos após serem fabricados cedem seus lugares nas máquinas a outros diferentes. Os produtos são fabricados periodicamente, caracterizando assim o fluxo intermitente. Nesse tipo de sistema há um ganho de flexibilidade em relação à produção contínua apesar da perda em volume de produção. Em sistemas de produção para grandes projetos, cada projeto é único, não existindo um fluxo do produto. As tarefas são de longa duração e baixa repetição. 2.2 Gestão do Conhecimento O filosofo Michael Polanyi ( ) contribuiu para o aprofundamento a respeito do conhecimento tácito. Para Polanyi (1966), o conhecimento tácito é espontâneo, intuitivo, experimental e cotidiano, ou seja, para o autor muito do que se sabe não pode ser verbalizado ou escrito por meio de palavras. Ao estudar realidades organizacionais, Nonaka (1994) analisa a relação do conhecimento tácito com as habilidades técnicas, indicando um tipo de habilidade informal, difícil de determinar, traduzida como know-how. Existem também modelos mentais, crenças e perspectivas tão inseridas nos profissionais que são consideradas naturais, não podendo, portanto, serem articuladas ou explicitadas com facilidade. Por esse motivo, esses modelos implícitos moldam profundamente a percepção dos profissionais a respeito da realidade do 4

5 trabalho. Nonaka (1994) apresentam um processo de conversão (denominado SECI) entre o conhecimento tácito e o explícito, possibilitando que o primeiro seja compartilhado por meio da interação entre indivíduos. Nestes contatos, acontecem quatro padrões básicos de conversão do conhecimento: socialização (troca de experiências entre as pessoas), externalização (registro e disponibilização formal do conhecimento para as demais pessoas), combinação (junção de conteúdos explicitamente disponíveis que geram novos conhecimentos) e internalização (aquisição do conhecimento por meios já formalizados e registrados). As interações contínuas e dinâmicas entre os modos de conversão do conhecimento resultam em níveis crescentes de conhecimento, formando a denominada Espiral do Conhecimento (Figura 2). Figura 2: Processo SECI de conversão do conhecimento (Nonaka 1994 adaptado por Muniz, 2007) A espiral do conhecimento de Nonaka (1994) é um processo dinâmico de conversão entre os conhecimentos tácitos e explícitos. Primeiramente há o compartilhamento de conhecimento tácito entre indivíduos (socialização), envolvendo trocas de técnicas e habilidades. Segue-se a externalização que torna o conhecimento pessoal disponível para os outros, sendo esta a atividade central da empresa criadora do conhecimento. A combinação de partes distintas formalizadas gera um novo resultado, combinação esta que sintetiza informações de fontes diferentes. À medida que o novo conhecimento é compartilhado pela organização, ocorre uma internalização, ou seja, há uma reformulação e ampliação do próprio conhecimento tácito. A partir deste ponto, a espiral se repete, embora, dessa vez em um nível mais alto de conhecimento. E assim promove uma constante criação, aquisição e compartilhamento do conhecimento em toda a organização. Todas as etapas exigem o comprometimento pessoal dos envolvidos. Atualmente tem-se dado atenção à Gestão do conhecimento como área que discute a utilização de conhecimento tácito e explícito para obtenção de resultados pela organização. Gestão do Conhecimento é a atuação sistematizada, formal e deliberada no sentido de 5

6 capturar, preservar, compartilhar e (re)utilizar os conhecimentos tácitos e explícitos criados e empregados pelas pessoas durante as tarefas de rotina e de melhoria dos processos produtivos, de modo a gerar resultados mensuráveis para a organização e para as pessoas (MUNIZ; TRZESNIAK; BATISTA, 2009). Faucher, Everett e Lawson (2008) discutem aspectos relacionados a conhecimento tácito e explícito. Nesse estudo indicam o tema Sabedoria, que é o julgamento coerente e uso sobre o conhecimento. Para tanto a experência tem um papel importante. A sabedoria e experiência merecem mais aprofundamento teórico, no entanto, fica claro a relação íntima de conhecimento, experiência e tomada de decisão. A experiência é entendida neste trabalho como a utilização madura do conhecimento para tratar a realidade de trabalho, nesse sentido ela é acumulada no decorrer do tempo, como indicado na espiral do conhecimento. 3. Procedimento Metodológico A presente pesquisa tem enfoque qualitativo, pois se utiliza da percepção de entrevistados para melhor entender a realidade a respeito de dado fenômeno. Procurou-se nesta pesquisa entender se a importância dada pelos operários de sistemas produtivos à experiência profissional. A empresa pesquisa é do setor vidreiro, possui funcionários e está sediada na região da Grande São Paulo. A empresa foi selecionada por ter uma forte dependência do conhecimento tácito dos operários em seus sistemas produtivos, isto é, aquele que foi desenvolvido no decorrer do tempo. A empresa preocupa-se em reter profissionais experientes para preservar o know-how e compartilhá-lo entre os novos funcionários. Foram pesquisados três dos quatro sistemas produtivos da empresa (Figura 3): Fabricação de máquinas, Decoração de vidros e Logística, que são descritos a seguir (Quadro 1). Figura 3 Setores Produtivos da Empresa pesquisada A Decoração de vidros é constituída de várias áreas e foram estudadas a de Pintura Orgânica e a de Silk Screen por se tratarem de áreas dependentes entre si. A Logística é responsável pela gestão da cadeia de suprimentos interna e externa da empresa. Quadro 1: Características dos sistemas produtivos pesquisado Sistema produtivo Produção Volume Variedade Layout Fabricação de Bens (máquinas e moldes) Baixo Alta Processo máquinas Decoração de Vidros Bens (vidros decorados) Alto Alta Linha de Montagem 6

7 Logística Serviço de movimentação e armazenagem Alto X Processo Utilizou-se de uma avaliação tipo survey baseada em escala likert, isto é, mediu-se a importância que cada respondente dava a uma dada pergunta conforme ilustra a Figura 4: Figura 4: Modelo do Formulário de Pesquisa Os entrevistados são pessoas que trabalham diretamente no ambiente operário como, por exemplo: operadores, preparadores de máquina, operadores de empilhadeiras, entre outros. Vale ressaltar que a amostra de entrevistados é do tipo intencional. Na Decoração foram entrevistados 73 profissionais, sendo 47 da Pintura Orgânica e 26 do Silk Screen, sendo eles operadores, escolhedores, preparadores dos 3 turnos, com idade média de 31 anos, em sua maioria com ensino médio completo, com tempo de casa médio de 2 anos para a Pintura Orgânica e de 7 anos para o Silk Screen. Na fabricação de máquinas foram entrevistados 12 operadores de máquina de CNC dos 3 turnos, com idades entre 24 anos a 40 anos, formação mínima de ensino médio completo, com tempo de casa variando de no mínimo dois anos. 7

8 Na logística foram entrevistados 55 profissionais, conferentes e operadores dos 3 turnos, com idade média de 32 anos, em sua maioria ensino médio completo, com tempo de casa em torno de 3 anos. 4. Análise dos Resultados Os dados coletados entre os entrevistados foram consolidados na Figura 5. Os entrevistados dos quatro sistemas produtivos pesquisados indicaram que a experiência dos membros de equipe é importante ou muito importante. Houve uma tendência expressiva para muito importante entre todos os entrevistados. Ao observar o gráfico da importância de experiência profissional no ambiente operário evidencia-se que ela é reconhecida, onde mais de 90% (mínimo 90,9% - Logística 60% + 30,9%) dos respondentes de cada área, afirmam essa importância. No sistema produtivo Fabricação de Máquina todos os entrevistados (100%) consideraram a importância da experiência profissional. 5. Conclusões Figura 5 A importância da experiência profissional para cada sistema produtivo Profissionais diretamente ligados a atividade operacionais no ambiente operário em processos distintos de produção como o de bens e de serviços consideram importante ter pessoas experientes por perto, ou seja, consideram que a experiência profissional dos membros da equipe é importante ou muito impotante. Percebe-se, também, que em alguns sistemas produtivos a experiência tem tanta importância que a própria empresa incentiva a continuidade do trabalho para alguns funcionários (por exemplo os que já se aposentaram), como forma de manter o conhecimento e a experiência ainda na ambiente empresarial. Sugere-se como trabalho futuro replicar esse estudo em empresas de outros setores como por exemplo o automotivo, o aeronáutico, alimentício. Ou mesmo ampliar a amostra para um maior número de respondentes. 8

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