Aula 23 CONCURSO DE PESSOAS
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- Bruno Caiado Barreiro
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1 Turma e Ano: 2015 (Master A) Matéria / Aula: Direito Penal Aula 23 Professor: Marcelo Uzeda Monitor: Paula Ferreira dos Santos Aula 23 CONCURSO DE PESSOAS TEORIAS A teoria adotada pelo direito brasileiro é a teoria monista, desdobramento da teoria dos equivalentes dos antecedentes causais. Porém, nossa teoria é temperada ou matizada, já que estabelece a punibilidade diferenciada para cada concorrente na medida de sua culpabilidade. Art. 29, CP - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. - Exceções à Teoria Monista Há também a teoria dualista, a qual distingue o crime praticado pelo autor do crime praticado pelo partícipe. O partícipe não realiza o tipo penal, ele induz, instiga e/ou auxilia. Esta teoria separa o crime do partícipe do crime do autor. Ex.: Art. 124, CP - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque: Pena - detenção, de um a três anos. Art. 126, CP - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos. Esses artigos trazem uma exceção à teoria monista ao adotar a teoria dualista, pois o aborto é um só, e, caso adotássemos, neste caso, a teoria monista, ambos responderiam pelo mesmo crime, com mesma pena, apenas variando na medida da culpabilidade, porém, a pena do artigo 126 é de reclusão de 1 a 4 anos, e a pena do art. 124, detenção, 1 a 3 anos. A gestante procura alguém e pede que esta pessoa realize o aborto, ela está consentindo, instigando, induzindo. Este comportamento que, numa visão monista seria de partícipe é elevado a crime autônomo. Quem provoca o aborto, com consentimento da gestante, realiza o tipificado no artigo 126, enquanto a gestante responde pelo artigo 124. Art. 318, CP - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334): Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
2 Art. 334, CP. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria. Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. Art. 334-A, CP. Importar ou exportar mercadoria proibida: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos. Outro exemplo está no artigo 318 (facilitação de contrabando ou descaminho) e 334 (descaminho)/334-a (contrabando). Quem facilita é o funcionário, por violação do dever. Facilitar é auxiliar, portanto, é uma conduta de partícipe elevada a crime autônomo. Quem pratica o descaminho, pratica crime autônomo, assim como quem facilita. Teoria pluralista pulveriza diversos crimes, isto é, haverá tantas infrações penais quantos forem os autores e participes. A teoria pluralista considera que cada concorrente responde pelo crime, per si. Se são 5 concorrentes, haverá 5 crimes. Ex.: Art. 317, CP - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Art. 333, CP - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. O art. 317 refere-se à corrupção passiva e art. 333, corrupção ativa. Os núcleos do art. 317 são solicitar, receber ou aceitar promessa. Há apenas uma corrupção, porém, o legislador separou as figuras típicas, adotando a teoria pluralista. Nenhum dessas condutas é conduta de participe (oferecer, receber, prometer, aceitar). Alguns consideram como teoria dualista, mas a prova do CESPE classificou como pluralista. Atenção! É possível ter uma corrupção ativa com vários autores. Ex. os diretores de uma empresa concordam em oferecer vantagem para liberar determinada obra. Esses diretores estão na corrupção ativa, em concurso; vários funcionários receberam, daquele grupo, tipificando a corrupção passiva. REQUISITOS DO CONCURSO DE PESSOAS 1 1. Pluralidade de Pessoas e de Conduta (diversas condutas praticadas por pessoas diferentes). 2. Relevância causal de cada conduta: deve haver um nexo causal eficaz para o resultado. Ex. possuo uma arma, legalmente registrada e com posse de arma regular. Um amigo a pede emprestada para matar alguém, e eu a empresto. Não induzi, nem instiguei, 1 Esses requisitos são da teoria monista.
3 apenas emprestei a arma, auxiliado meu amigo a cometer um crime (portanto, sou partícipe). Porém, ao invés de utilizar a arma, meu amigo mata a mulher a facadas. Assim, no momento em que ele não usou a arma, rompeu-se o nexo causal. Posso responder pelo fato de ter emprestar uma arma, mas não por homicídio. 3. Liame subjetivo ou psicológico entre as pessoas, que se traduz na comum resolução para o fato típico. A relevância causal e a pluralidade de pessoas e condutas é objetivo, assim, chama-se a soma desses dois requisitos de convergência objetiva. A convergência subjetiva significa que há um liame ou vínculo psicológico para a resolução deste fato. Convergência objetiva sem a subjetiva é autoria colateral. A convergência subjetiva exige que a consciência seja idêntica ou juridicamente uma unidade para todos a contribuir para uma obra comum. Não há necessidade de ajuste prévio, por exemplo, a coautoria sucessiva (ex. um ladrão, ao entrar em um imóvel, furta uma televisão, mas, antes de sair do prédio, chega um entregador de pizza. Este, percebendo a presença do ladrão, o ajuda a levar a televisão. Não houve prévio ajuste, o ladrão já estava com a execução em curso, e o entregador aderiu ao seu comportamento). Só se admite coautoria sucessiva se ela ocorrer antes da consumação. Neste exemplo, se ele presta auxilio após a consumação, pode ser receptação ou favorecimento real, dependendo do caso. 4. Identidade do ilícito penal: o delito deve ser idêntico ou juridicamente uma unidade para todos. Os agentes, unidos pelo liame subjetivo, desejam praticar a mesma infração penal. A convergência objetiva e a subjetiva levam para a identidade do crime. No exemplo da corrupção, o crime é um só, mas o legislador quebrou a identidade de ilícito penal. Assim, quando o legislador adota uma das exceções à teoria monista (aplicação da teoria dualista ou pluralista), o legislador rompe com a identidade do ilícito penal. CONCEITO DE AUTORIA/COATORIA 2 Diversas teorias disputam a definição de autoria: a) Teoria Objetivo-Formal (adotada pelo nosso Código Penal) O autor é quem realiza a figura típica. O partícipe é aquele que comete ações fora do tipo (instiga, induz, auxilia), havendo a necessidade da norma e extensão para tipificar sua conduta (art. 29, CP). 2 Autoria e coautoria é a mesma coisa, a diferença é que na segunda, há a reunião de várias pessoas na qualidade de autores.
4 Esta teoria tem alguns problemas. Imagine um filtro de barro (aqueles para armazenar agua). No primeiro filtro ficam os autores, os quais praticaram a conduta típica. Tendo passado deste filtro, são todos partícipes, pela teoria objetiva. Quando a conduta é vinculada, é fácil perceber quem praticou o fato típico, porém, matar alguém pode ocorrer de várias formas (crime livre). Quem executou praticou o fato típico, porém, e o mandante do crime? Pela teoria objetiva, o mandante do crime seria partícipe, pois não realizou o tipo penal. Outro problema é o crime de mão própria. Doutrina diz que não cabe concurso em crime de mão própria, pois a realização é personalíssima. Ao adotar este raciocínio, tem-se em mente a teoria objetiva, porém, é possível dividir tarefa mesmo nestes casos. b) Teoria subjetiva Autor é quem atua com vontade de autor (animus auctoris) e deseja a ação como própria. Partícipe atua com vontade de partícipe (animus socci) e deseja a ação como alheia. Esta teoria tenta resolver os problemas da teoria objetiva, porém, é muito subjetiva, existe uma zona cinzenta, de difícil classificação. c) Teoria Normativa (finalista) O autor é quem possui o domínio final do fato (regra: delito comissivo doloso); É aquele que toma nas mãos o decorrer do acontecimento típico compreendido pelo dolo. O autor determina o se e o como da prática do crime, pois tem a disponibilidade da decisão sobre a consumação ou a desistência do delito. A ideia de domínio do fato só se aplica a crimes dolosos. O autor é quem domina a ação, é quem tem o poder de decisão. Partícipe, a princípio, não pode desistir, pois a desistência implica em romper o vínculo (partícipe não inicia a execução, então não há o que falar em desistência), mas pode se arrepender de forma eficaz, desde que consiga evitar o crime. No exemplo do empréstimo da arma para a prática de um homicídio, se eu desisto de emprestar a arma, nada acontece, então não chega a ser desistência, porém, se eu empresto a arma, me arrependo e vou à polícia, conseguindo evitar o crime, ocorre o arrependimento eficaz. A desistência do autor irá influenciar na punibilidade do participe, dependendo da situação. Mas, se o autor iniciar a execução, já existe respaldo para punir o partícipe. Domínio do fato é apenas o elemento geral do autor, ao qual deverá ser agregado os elementos especiais da autoria, que se relacionam com: - Elementos especiais do tipo subjetivo (intenções, tendências, motivações. Ex. Prevaricação art. 319, CP).
5 Art Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Exemplo: Oficial de justiça possui uma pilha de mandados a cumprir, porém, fica em casa, pois está com preguiça. Isto não é prevaricação, ele será responsável administrativamente, porém, não está satisfazendo nenhum sentimento pessoal. Já no caso do oficial de justiça ir cumprir o mandado de citação e o citando é alguém que ele não gosta, assim, ele cumpri o mandado de forma vexatória. Neste caso há prevaricação. Outra pessoa, que não tem nada a ver com a história pode prevaricar? A princípio apenas pode ser partícipe, e não coautor, primeiro porque o ato funcional é do oficial de justiça, segundo, o interesse e sentimento também é dele. O sentimento ou interesse até pode ser de outro, e não do oficial de justiça, porém, se ele comprar a briga, ele irá prevaricar. Oficial de justiça se comove com pedido do citando para dar lhe mais um tempo antes de haver a citação, pois ele precisa elaborar a defesa melhor, apesar do interesse não ser do oficial de justiça, este acatou o pedido, pois se comoveu, e, portanto, praticou prevaricação. - Requisitos objetivo-pessoais do autor ligado a especiais posições de dever, por exemplo, delitos funcionais funcionário público (ex. art ), médico (art. 269), advogado (ex. art. 355). d) Teoria do domínio funcional do fato Segundo Roxin, autor é aquele que detém o domínio funcional do fato (dentro de um critério de divisão de tarefas) e não apenas aquele que realiza a conduta típica (delito doloso). Como visto, na teoria finalista, quem possui o domínio do fato é o autor, sendo partícipe aquele que auxilia de alguma forma, sem possuir o domínio do fato. Na teoria do domínio funcional do fato, parte-se da ideia da teoria finalista, porém, amplia-se a ideia de autor. Imagine três ladrões que irão roubar uma lotérica, dois entram; o primeiro, com a arma, rende o segurança e o segundo pega o dinheiro, enquanto o terceiro está fora do banco com o carro ligado. - Pela teoria objetiva, autores são apenas aqueles que entraram no banco, enquanto o terceiro que ficou no carro é partícipe (ele não realizou a subtração). - Pela teoria subjetiva há dúvidas quanto ao terceiro que ficou no carro, é necessário descobrir se ele queria participar do crime também (neste caso, será autor) ou não (partícipe). - Pela teoria finalista, há dúvidas também sobre o terceiro que está no carro, sendo necessário descobrir se este possuía domínio do fato.
6 - Pela teoria funcional, no critério de divisão de tarefa (um ameaça, o outro pega o dinheiro e o terceiro é o motorista), se a pessoa domina a sua parte, no todo, ela será coautora; não é necessário que ela domine tudo, apenas sua tarefa, sendo que esta tarefa tem que ser essencial (apenas emprestar um carro não é uma tarefa essencial, porém, ficar esperando no carro para dar partida assim que os outros chegarem com o fruto do roubo é). Atenção! Se a questão nada falar, ir pela teoria objetiva, que é a adotada pelo nosso Código penal. Nos delitos omissivos próprios e impróprios, culposos e funcionais, o autor é aquele a quem se endereça o respectivo dever. Nos delitos de mão própria, autor é aquele que realiza pessoalmente a ação típica. Art. 304, CTB. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública: Art. 302, CTB. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: 1º No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se o agente: III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente; Art. 303, CTB. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do 1o do art Art. 135, CP - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Ex. O omitente do artigo 304 é o condutor, porém, não o condutor que causou o acidente, isto porque, no art. 302, há uma causa de aumento de pena do condutor que causou o acidente e não prestou socorro. O motorista que é culpado do acidente precisa prestar socorro, caso contrário, há uma majorante para ele nos artigos 302 e 303. O artigo 304 referese ao motorista envolvido no acidente que não é o culpado do acidente. Não confundir esses casos com o art. 135, CP de omissão de socorro.
CONCURSO DE PESSOAS. pág. 2
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