CRIMES CONTRA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (PARTE II).

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Valentina Klettenberg
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1 Curso/Disciplina: Noções de Direito Penal Aula: Noções de Direito Penal - 27 Professor : Leonardo Galardo Monitor : Virgilio Frederich Aula 27 CRIMES CONTRA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (PARTE II). 1. Crimes de corrupção ativa e passiva. O crime de corrupção ativa se perfaz ao oferecer ou prometer uma vantagem indevida a um funcionário público, conforme artigo 333 do Código Penal 1 : Art Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. Oferecer diz respeito a entregar no momento presente (momento imediato), prometer é em um momento futuro. Vantagem indevida abrange não somente pecúnia, mas qualquer outro tipo de favorecimento de qualquer outra espécie. O verbo determinar tem sentido de convencer o funcionário público, não de forçá-lo. Na corrupção passiva, o funcionário público vai solicitar ou receber vantagem indevida ou promessa, conforme artigo 333 do Código Penal: Art Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Página1 Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. 1 Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, disponível em:

Nesse caso há uma diferença em relação à corrupção ativa: é aplicada mesmo quando não se está na função pública (férias, folga, licença) ou antes de assumi-la, desde que em razão dessa.

Nesse caso basta ter sido nomeado e em razão dessa função para o qual foi nomeado o indivíduo solicite ou receba vantagem indevida.

2 Nesse caso há uma diferença em relação à corrupção ativa: é aplicada mesmo quando não se está na função pública (férias, folga, licença) ou antes de assumi-la, desde que em razão dessa. A assunção de uma função pública tem três etapas: nomeação, posse e exercício. Nesse caso basta ter sido nomeado e em razão dessa função para o qual foi nomeado o indivíduo solicite ou receba vantagem indevida. Ou seja, a nomeação já faz com que o nomeado que tenha praticado o verbo do tipo do artigo 317 do Código Penal seja classificado no crime de corrupção passiva. Exemplo de corrupção passiva: antes de assumir o cargo público municipal para o qual havia sido nomeado, Ticio solicita o ingresso para autorizar o evento. Não há necessidade de consumar o resultado para realizar o crime. O mero oferecimento ou promessa independente de aceitação resulta no crime consumado. Isso se evidencia ao analisar os parágrafos únicos dos artigos 317 e 333 do Código Penal, uma vez que, caso haja a aceitação do oferecimento ou da promessa indevida pelo funcionário público, a pena é aumentada de um terço. Página2

Os artigos que tratam de corrupção ativa e passiva possuem um espelhamento de tal forma que a prática da ação do tipo em um corresponde à prática da ação do tipo em outro quando correspondida,

3 Os artigos que tratam de corrupção ativa e passiva possuem um espelhamento de tal forma que a prática da ação do tipo em um corresponde à prática da ação do tipo em outro quando correspondida, contudo uma observação a ser feita diz respeito ao fato de não constituir crime de corrupção ativa pelo particular a mera entrega da vantagem solicitada pelo funcionário público. Nesse caso há a prática de corrupção passiva pelo funcionário público, mas não há prática de crime algum pelo particular Crime de concussão. Concussão é semelhante à corrupção passiva, entretanto o verbo do tipo no crime de concussão é exigir, conforme artigo 316 do Código Penal: Art Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. Deve-se verificar se o funcionário está impondo ou não a vantagem. A imposição diferencia a concussão da corrupção passiva. A concussão é consumada com a exigência independentemente da entrega ou não da vantagem indevida. Exemplo: Policial rodoviário federal para particular e verifica irregularidades e diz que se não for dado um valor ele efetuará a autuação. Na concussão não há aumento de terça parte. Página3 2 O princípio da legalidade estrita não permite atribuir o crime de corrupção ativa ao particular que faz a entrega da vantagem indevida ao funcionário público que a solicita. O verbo do tipo entregar ou ceder ou dar não está descrito no crime. Porém, quando há negociação do valor ou da vantagem indevida, já se tem a tipificação. Não cabe analogia in malam partem (artigo 5º, inciso XXXIX da CRFB e artigo 1º do Código Penal).

vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.

4 3. Crime de excesso de exação. Conforme parágrafos 1º e 2º do artigo 316 do Código Penal: 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. O verbo do tipo do excesso de exação é o mesmo que a concussão, assim para diferenciá-los deve-se ater ao fato de haver tributo ou contribuição social envolvidos no ato. Página4 Há de se verificar, também, se houve extorsão no lugar do excesso de exação. A violência ou grave ameaça configura a extorsão (peculiaridade da banca CESPE).

Porém, a diferença está em agir cedendo a pedido ou influência de outrem (corrupção passiva privilegiada) ou para satisfazer interesse ou sentimento pessoal (prevaricação 3 ).

5 4. Crime de corrupção passiva privilegiada e prevaricação. Coincidem os verbos do tipo dos crimes de corrupção passiva privilegiada e prevaricação, que são: praticar, omitir ou retardar, ou seja, fazer, não fazer ou atrasar um ato da esfera de atribuições. Porém, a diferença está em agir cedendo a pedido ou influência de outrem (corrupção passiva privilegiada) ou para satisfazer interesse ou sentimento pessoal (prevaricação 3 ). 3 Prevaricação, Código penal, Art Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticálo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Página5 Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo: Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

5. Peculato apropriação e peculato furto. Embora parecidos, no peculato apropriação primeiro o funcionário público tem a posse e depois há o dolo de se apropriar do objeto.

6 5. Peculato apropriação e peculato furto. Embora parecidos, no peculato apropriação primeiro o funcionário público tem a posse e depois há o dolo de se apropriar do objeto. No peculato furto, o dolo de apropriação antecede a posse, que efetiva o furto. Conforme artigo 312 do Código Penal: Art Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. É importante lembrar que não basta ser funcionário público, tem que se valer dessa qualidade para praticar a apropriação ou furto. Um exemplo é um funcionário entrar disfarçado na calada da noite para furtar um notebook. Nesse caso seria furto e não peculato furto. Se houver o auxílio de um particular, esse responde por peculato também, desde que tenha conhecimento que o parceiro de crime seja funcionário público. 6. Peculato culposo. Nessa modalidade de crime o funcionário incorre em omissão, imperícia ou negligência que seriam necessárias para evitar a apropriação ou furto de outrem, conforme parágrafos 2º e 3º do artigo 312 do Código Penal: Peculato culposo 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. Página6 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. No peculato é possível haver a extinção da punibilidade desde que haja reparação do dano antes da sentença irrecorrível. Após a sentença é reduzida pela metade a pena.

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