A Constituição da República assim preceitua:

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1 O imposto sobre serviço de qualquer natureza - ISSQN e a Coisa Julgada Impossibilidade da Exação Tributária com base em Lei Municipal declarada inconstitucional anteriormente ao julgamento da ADI O Supremo Tribunal Federal manifestou-se pela constitucionalidade da tributação dos serviços de registros públicos, cartorários e notariais pelo imposto sobre serviços de qualquer natureza ISSQN, prevista pela Lei Complementar nº 116/2003, em julgamento da ADI 3.089, em sessão plenária de , DJE de 1º , sendo relator para o acórdão o Min. Joaquim Barbosa. Definida a constitucionalidade do tributo, passou-se a discussão se os titulares dos serviços de notas e de registro poderiam ser tributados na forma do 1º do art. 9º, do Decreto-Lei nº 406/68, prestação de serviços de forma e responsabilidade pessoal. Esta discussão ocorre no âmbito infraconstitucional, eis que a legislação de regência é lei federal. Neste sentido, o Superior Tribunal de Justiça STJ ao julgar em sede de Recurso Especial nº , em data de 04/02/2013, originário do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, afastou a tributação privilegiada do Decreto-Lei nº 406/68. O acórdão deste julgado, até a presente data, não foi publicado, podendo ser interposto eventual recurso embargos de declaração. Com isso, os municípios da federação, na busca de receitas para suas combalidas finanças, estão notificando os delegatários de notas e de registro, para o recolhimento do referido imposto, com a alíquota de 2 a 5%, conforme a legislação municipal. Ocorre que, ainda que se tenha reconhecida a constitucionalidade da cobrança do tributo e afastada incidência da tributação privilegiada, estas decisões não afastam ou não relativizam os inúmeros julgados até então proferidos, que acolheram a tese da intributabilidade dos serviços de notas e de registros, em face da imunidade tributária recíproca, estabelecida no artigo 150, VI, a, da Constituição Federal. Isto ocorre em razão da proteção constitucional do cidadão que tem em seu favor um ato jurisdicional, transitado em julgado e não mais atacável por ação autônoma, como veremos adiante. A Constituição da República assim preceitua: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança à propriedade, nos termos seguintes: XXXVI a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Em face deste preceito constitucional não se pode exigir ou compelir que alguém que tenha em seu favor decisão jurisdicional de mérito que lhe favoreça, seja compelido a fazer ou proceder de maneira diversa daquela constante do

2 mandamento judicial. É a coisa julgada material, é a decisão do mérito sob determinado fato ou ato levado ao conhecimento do Poder Judiciário, nos termos da Constituição Federal 1. À esta decisão judicial meritória irrecorrível lhe são atribuídas garantias de imutabilidade e inatacabilidade, quando já transcorridos o lapso temporal de dois (02) anos art. 495 do CPC - para a propositura de ação autônoma visando desconstituir a autoridade da coisa julgada material. Não se pode aceitar aqui a tese da relativização da coisa julgada, sob pena ofensa ao princípio da segurança jurídica ou de provocar um autismo jurídico. Neste sentido, citamos jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, em que foi Relator do Ministro CELSO DE MELLO, em julgamento do AG. REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO /RS, em data de 03 de abril de 2012, afastou a tese da relativização da coisa julgada material, em face de decisão posterior do mesmo Supremo Tribunal Federal, em sede de controle concentrado de constitucionalidade, antagônica à decisão exarada em controle difuso de constitucionalidade, assim ementada: E M E N T A: RECURSO EXTRAORDINÁRIO COISA JULGADA EM SENTIDO MATERIAL - INDISCUTIBILIDADE, IMUTABILIDADE E COERCIBILIDADE: ATRIBUTOS ESPECIAIS QUE QUALIFICAM OS EFEITOS RESULTANTES DO COMANDO SENTENCIAL - PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL QUE AMPARA E PRESERVA A AUTORIDADE DA COISA JULGADA - EXIGÊNCIA DE CERTEZA E DE SEGURANÇA JURÍDICAS - VALORES FUNDAMENTAIS INERENTES AO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO - EFICÁCIA PRECLUSIVA DA RES JUDICATA - TANTUM JUDICATUM QUANTUM DISPUTATUM VEL DISPUTARI DEBEBAT - CONSEQUENTE IMPOSSIBILIDADE DE REDISCUSSÃO DE CONTROVÉRSIA JÁ APRECIADA EM DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO, AINDA QUE PROFERIDA EM CONFRONTO COM A JURISPRUDÊNCIA PREDOMINANTE NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - A QUESTÃO DO ALCANCE DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 741 DO CPC - MAGISTÉRIO DA DOUTRINA RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. - A sentença de mérito transitada em julgado só pode ser desconstituída mediante ajuizamento de específica ação autônoma de impugnação (ação rescisória) que haja sido proposta na fluência do prazo decadencial previsto em lei, pois, com o exaurimento de referido lapso temporal, estar-se-á diante da coisa soberanamente julgada, insuscetível de ulterior modificação, ainda que o ato sentencial encontre fundamento em legislação que, em momento posterior, tenha sido declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, quer em sede de controle abstrato, quer no âmbito de fiscalização incidental de constitucionalidade. - A superveniência de decisão do Supremo Tribunal Federal, declaratória de inconstitucionalidade de diploma normativo utilizado como fundamento do título judicial questionado, ainda que impregnada de eficácia ex tunc - como sucede, ordinariamente, com os julgamentos proferidos em sede de fiscalização concentrada (RTJ 87/758 RTJ 164/ RTJ 201/765) -, não se revela apta, só por si, a desconstituir a autoridade da coisa julgada, que traduz, em nosso sistema 1 Art. 5º..., XXXV a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça à direito.

3 jurídico, limite insuperável à força retroativa resultante dos pronunciamentos que emanam, in abstracto, da Suprema Corte. Doutrina. Precedentes. - O significado do instituto da coisa julgada material como expressão da própria supremacia do ordenamento constitucional e como elemento inerente à existência do Estado Democrático de Direito. Igualmente, no âmbito infraconstitucional podemos arrolar a seguinte decisão do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, que confirmou entendimento a impossibilidade de cobrança de tributo em lei declarada inconstitucional, em controle difuso de constitucionalidade, ainda que posteriormente o Supremo Tribunal Federal tenha decidido pela constitucionalidade da exação tributária. Trata-se do julgamento do Recurso Especial nº MG, 23 de março de 2011, em que os Ministros da PRIMEIRA SEÇÃO, em julgamento unânime deram provimento ao referido recurso, sendo o processo de Relatoria do Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, assim ementado: E M E N T A: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. RITO DO ART. 543-C DO CPC. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO CSLL. COISA JULGADA. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI 7.689/88 E DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICO-TRIBUTÁRIA. SÚMULA 239/STF. ALCANCE. OFENSA AOS ARTS. 467 E 471, CAPUT, DO CPC CARACTERIZADA. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL CONFIGURADA. PRECEDENTES DA PRIMEIRA SEÇÃO DO STJ. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO. 1. Discute-se a possibilidade de cobrança da Contribuição Social sobre o Lucro CSLL do contribuinte que tem a seu favor decisão judicial transitada em julgado declarando a inconstitucionalidade formal e material da exação conforme concebida pela Lei 7.689/88, assim como a inexistência de relação jurídica material a seu recolhimento. 2. O Supremo Tribunal Federal, reafirmando entendimento já adotado em processo de controle difuso, e encerrando uma discussão conduzida ao Poder Judiciário há longa data, manifestou-se, ao julgar ação direta de inconstitucionalidade, pela adequação da Lei 7.689/88, que instituiu a CSLL, ao texto constitucional, à exceção do disposto no art 8º, por ofensa ao princípio da irretroatividade das leis, e no art. 9º, em razão da incompatibilidade com os arts. 195 da Constituição Federal e 56 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias ADCT (ADI 15/DF, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, DJ 31/8/07). 3. O fato de o Supremo Tribunal Federal posteriormente manifestar-se em sentido oposto à decisão judicial transitada em julgado em nada pode alterar a relação jurídica estabilizada pela coisa julgada, sob pena de negar validade ao próprio controle difuso de constitucionalidade. 4. Declarada a inexistência de relação jurídico-tributária entre o contribuinte e o fisco, mediante declaração de inconstitucionalidade da Lei 7.689/88, que instituiu a CSLL, afasta-se a possibilidade de sua cobrança com base nesse diploma legal, ainda não revogado ou modificado em sua essência.

4 5. "Afirmada a inconstitucionalidade material da cobrança da CSLL, não tem aplicação o enunciado nº 239 da Súmula do Supremo Tribunal Federal, segundo o qual a "Decisão que declara indevida a cobrança do imposto em determinado exercício não faz coisa julgada em relação aos posteriores" (AgRg no AgRg nos EREsp /GO, Rel. Min. HAMILTON CARVALHIDO, Primeira Seção, DJ 24/2/10). 6. Segundo um dos precedentes que deram origem à Súmula 239/STF, em matéria tributária, a parte não pode invocar a existência de coisa julgada no tocante a exercícios posteriores quando, por exemplo, a tutela jurisdicional obtida houver impedido a cobrança de tributo em relação a determinado período, já transcorrido, ou houver anulado débito fiscal. Se for declarada a inconstitucionalidade da lei instituidora do tributo, não há falar na restrição em tela (Embargos no Agravo de Petição , Rel. Min. CASTRO NUNES, Tribunal Pleno, DJ 10/2/45). 7. "As Leis 7.856/89 e 8.034/90, a LC 70/91 e as Leis 8.383/91 e 8.541/92 apenas modificaram a alíquota e a base de cálculo da contribuição instituída pela Lei 7.689/88, ou dispuseram sobre a forma de pagamento, alterações que não criaram nova relação jurídico-tributária. Por isso, está impedido o Fisco de cobrar a exação relativamente aos exercícios de 1991 e 1992 em respeito à coisa julgada material" (REsp /PE, Rel. Min. ELIANA CALMON, Segunda Turma, DJ 30/4/07). 8. Recurso especial conhecido e provido. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do Código de Processo Civil e da Resolução 8/STJ. Ainda, encontramos recente decisão judicial de 1º grau, proferida nos autos do processo nº , da Comarca de Erechim, pelo Dr. Luís Gustavo Zanella Piccinin, que acolhendo exceção de pré-executividade, com a tese da coisa julgada, declarou extinta execução com base em CDA do Município de Erechim, que buscava exigir o tributo do ISSQN, da anterior responsável designada por serviço notarial, que estava sob abrigo de decisão judicial transitada em julgado e inatacável por ação rescisória, a saber: Assim, com razão a parte excipiente, quando alega a ocorrência da coisa julgada. Portanto, deve-se observar no presente caso, o instituto da coisa julgada, de sorte que o litígio havido entre as partes restou devidamente analisado e sentenciado, descabendo debate sobre matéria com decisão já transitada em julgado, na lição de Luiz Guilherme Marinoni: [...] todo material relacionado com o primeiro julgamento fica precluso, inviabilizando sua reapreciação judicial em ação subsequente. Todas as alegações deduzidas, bem como aquelas que seriam dedutíveis, porque mantêm relação direta com o material da primeira demanda (ainda que não tenham sido apresentadas em juízo ou apreciadas pelo magistrado), presumem-se oferecidas e repelidas pelo órgão jurisdicional. A respeito, colaciono entendimento do E.TJ/RS, in verbis: APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO DE COBRANÇA. CONTRATO DE DESCONTO DE TÍTULOS. AÇÃO REVISIONAL ANTERIORMENTE AJUIZADA ABRANGENDO O MESMO CONTRATO. COISA JULGADA. Havendo anterior ação revisional promovida pelos devedores ora demandados, com trânsito em julgado, deve a cobrança ser julgada de acordo com os parâmetros lá estabelecidos, por força da coisa julgada. Conseqüência disto, as questões relativas aos juros remuneratórios e capitalização mensal não podem ser rediscutidas em sede de cobrança. De qualquer forma, nenhum dos encargos impugnados na contestação estão sendo objeto de cobrança, razão pela qual a procedência da demanda é medida que se impõe. PROCESSUAL CIVIL. APLICAÇÃO DO INPC COMO FATOR DE CORREÇÃO. INOVAÇÃO RECURSAL. NÃO CONHECIMENTO. Não se conhece do recurso no

5 ponto relativo à aplicação do INPC como fator de correção monetária, porquanto não foi objeto da contestação ou sequer de análise na sentença guerreada. Inovação recursal incabível. NÃO CONHECERAM DE PARTE DO RECURSO E, NA EXTENSÃO CONHECIDA, NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº , Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Pedro Celso Dal Pra, Julgado em 28/02/2013) Portanto, descabida a insurgência do excepto quanto validade da CDA. Pelo exposto, acolho a exceção de pré-executividade, declarando extinta a presente execução fiscal, face o intituto da coisa julgada. Sem sucumbência, face a natureza do incidente. Desta forma, verifica-se a impossibilidade dos municípios buscarem arrimo em lei municipal declarada inconstitucional, em controle difuso, para fazer incidir o imposto sobre serviços de qualquer natureza sobre a atividade notarial e de registro, em face de decisão judicial irrecorrível e que não mais comporta impugnação por ação autônoma, ainda que antagônica à decisão posterior do Supremo Tribunal Federal STF -, que em sede de controle concentrado analisou a constitucionalidade da Lei Complementar nº 116/2003. Nestes casos, a tributação somente poderá ser levada a efeito se elaborada nova legislação municipal, respeitados os princípios tributários constitucionais, tais como da legalidade, anterioridade, período nonagesimal.