PG ENG. ECONÔMICA - MICROECONOMIA Prof. Flávio Alencar do Rêgo Barros (Uerj, sala 5020E) Módulo 9 Por que os mercados falham?
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- Ana Carolina Fonseca Santana
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1 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.1/24 PG ENG. ECONÔMICA - MICROECONOMIA Prof. Flávio Alencar do Rêgo Barros (Uerj, sala 5020E) Módulo 9 Por que os mercados falham? Notas de aula Estas notas de aula se prestam ao acompanhamento do aluno em sala de aula sem que se faça necessário um esforço intensivo de cópia. Elas contêm os slides usados na aula mais algum texto que complementa tais slides, também aqui e ali se apresentará propostas de exercícios ilustrativos (não necessariamente com a respectiva resposta, em algumas o exercício proposto será resolvido em sala de aula). Desta forma, aconselha-se ao aluno que mantenha sua cópia destas notas de aula em papel durante a aula tomando o cuidado de deixar algum espaço para que escreva os complementos e os exercícios resolvidos em sala de aula. O curso de Microeconomia está organizado em 9 módulos temáticos (em princípio um módulo a cada dia de aula) abordando as questões mais fundamentais da matéria, em uma abordagem orientada à prática. Desta maneira, faremos uso frequente de exemplos ilustrativos explorando conceitos, gráficos ou quantitativos. Aconselha-se adicionalmente o uso da bibliografia indicada na figura ao final deste módulo. Os módulos estão distribuídos assim: 1 Preferências do consumidor 2 Restrições orçamentárias e demanda individual 3 Elasticidades e incertezas 4 A oferta no curto prazo 5 A oferta no longo prazo 6 Equilíbrio em concorrência perfeita 7 Monopólio e monopsônio 8 Competição monopolista e oligopólio 9 Porque os mercados falham Conceitos neste módulo: poder de mercado, informação assimétrica, seleção adversa, padronização, grupamento de riscos, reputação, sinalização de mercado, risco moral, relação agente-principal, gratificação, participação nos lucros, teoria do salário eficiência, modelo dissimulação, problema do carona, comportamento de manada, bolhas econômicas, externalidades, padrão, imposto, permissão transferíveis de emissão, recursos de propriedade comum, bens públicos.
2 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.2/24 Os mercados competitivos falham devido a quatro razões básicas: poder de mercado, informações incompletas (ou assimétricas), externalidades e bens públicos. Até aqui, em diversos módulos, destacamos premissas favoráveis ao funcionamento pleno do mercado, agora vejamos estes motivos de falha. Vimos no módulo 7 que o poder de monopólio se produz porque se fixa um preço acima da receita marginal. O monopolista não coloca qualquer preço, e sim aquele em que com CMg = RMg se atende à curva de demanda. O nível de produção é menor que em mercado competitivo resultando em alocação ineficiente e o preço é maior. No caso do poder de monopsônio o preço é colocado abaixo da despesa marginal de modo que com DMg = VMg se atende à curva de oferta a Figura 7-30 sintetiza estas constatações. Um exemplo específico poderia ser para o exemplo competitivo que desenvolvemos no módulo 6 (para Alimento e
3 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.3/24 Roupa) considerar a oferta de trabalho restrita para produção de Alimento. O resultado é que o salário w A na produção de Alimento aumenta, na produção de Roupa w R diminui, e se r é o R wr A wa R A preço do capital, TMgSTLK, TMgSTLK, então TMgST LK TMgST LK e, de novo, a r r alocação é ineficiente. Resulta do monopsônio um nível de produção menor e preço também menor que no caso competitivo. Esta modalidade de falha de mercado já foi suficientemente explorada nos módulos imediatamente anteriores. Uma segunda razão dos mercados falharem é a falta de informação completa, que cria uma barreira à mobilidade dos recursos, portanto, afeta a alocação de recursos e o sistema de preços. Na economia este problema é conhecido como informações assimétricas, situação na qual nem todos que vão ao mercado para transacionar têm informações iguais sobre o produto. Uma terceira razão é a ocorrência de externalidades, o consumo ou a produção de um bem cria custos ou benefícios que afetam terceiros, modificando suas decisões e criando, mais uma vez, ineficiências. A última razão de falha de mercado é a existência de bens públicos e recursos de propriedade comum. 1 Os mercados tendem a ofertar bens públicos em quantidades insuficientes, de um lado, devido às dificuldades na medição correta do consumo destes bens públicos, de outro, custos de recursos de propriedade comum são subestimados quando em uso privado. 1 Estas quatro formas de falhas de mercado levam, todas elas, a alocação ineficiente de recursos, seja do ponto de vista de Pareto, seja porque afasta do mercado agentes importantes. Qualquer dentre as visões econômicas vigentes concordam no diagnóstico destas falhas, porém nem todos concordam nos remédios a se aplicar!
4 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.4/24 Informações assimétricas são muito comuns. Você sabe mais da sua capacidade produtiva do que aquele que vai lhe contratar, se você colocar para vender seu carro os problemas dele serão mais conhecidos por você que o pretenso comprador, os administradores sabem mais do custo, das questões competitivas e das oportunidades que os proprietários, e assim por diante. São exemplos de informação assimétrica. Vamos usar um problema específico do mercado de carros usados para concluir sobre incertezas e sobre o problema da qualidade duvidosa. Neste mercado a informação incompleta aumenta o risco da aquisição e reduz o valor do carro. Se todos os compradores e todos os vendedores fossem capazes
5 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.5/24 de distinguir automóveis de alta e baixa qualidade, então haveria dois mercados diferentes com baixa dependência entre eles. Não ocorre isto na prática. Por informação assimétrica, as incertezas positivas e negativas se entrelaçam e o comum é que o que ocorre no mercado de baixa qualidade afeta o mercado de alta qualidade. Mercados de produto de qualidade duvidosa levam ao problema de Seleção Adversa, com o nivelamento por baixo, como veremos. No exemplo da Figura 9-7 o vendedor de carros sabe muito mais que o comprador. De início suponhamos que os compradores estimam em 50% a chance de o carro ter alta qualidade. As demandas de alta e baixa qualidade estão como em azul cheio (por hipótese, de início, iguais), similarmente as ofertas de alta e de baixa em preto cheio. Com o processo de mercado a qualidade média percebida faz com que a curva de demanda (DM em azul claro cheio) se desloque por causa do preço, de modo que aumenta a fração de venda de carros de mais baixa qualidade (diminui a fração de venda dos de maior qualidade). Então a percepção dos consumidores é de que a maioria dos carros é de baixa qualidade e curva de demanda abaixa mais ainda em um ajuste contínuo, até que... os carros de alta qualidade são expulsos do mercado! Este exemplo ilustra o problema da seleção adversa mencionado. Esta é a razão de você só conseguir vender seu carro novo, que você SABE estar em perfeitas condições, por valor muito inferior ao que você pagou por ele. Trata-se de um problema derivado das expectativas, ou de informações assimétricas. Na Figura 9-8 mostramos um exemplo quantitativo envolvendo Seleção Adversa. Na figura está a tabela de preços que compradores (que acham que vale...) e
6 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.6/24 vendedores (que sabem que vale...) admitem para carros e baixa e alta qualidade, respectivamente. O valor esperado do preço, supondo 50% a chance de o carro ser do tipo alta qualidade: VE ( compradores ) (0,5)($5.000) (0,5)($10.000) = $ Observe que a este preço os vendedores só vendem carros de baixa qualidade. Isto sintetiza o significado de seleção adversa. São inúmeros outros exemplos de seleção adversa. No mercado de seguros de saúde encontramos outro exemplo clássico de seleção adversa. Se mais pessoas com problemas de saúde procuram o seguro saúde... então o preço aumenta mais ainda... de modo que, no limite, só doentes procuram seguro... no limite deste processo, as seguradoras deixam de oferecer o seguro! No mercado de seguros de automóveis a seguradora pode ser incapaz de distinguir alto de baixo risco, então as pessoas de baixo risco não compram seguro, só as de alto risco. No mercado de crédito é possível que apenas indivíduos com alto risco de inadimplência decidam tomar empréstimos. Ainda neste mercado este comportamento explica o porquê os juros de cartão de crédito são tão altos. Tomadores de alta qualidade buscam empréstimo, tomadores de baixa qualidade buscam crédito 2. Naturalmente os juros de crédito abaixariam se as empresas tivessem acesso ao histórico de crédito, mas existe a questão da invasão da privacidade. Outros remédios contra informação assimétrica são: padronização, grupamento de risco e reputação. Exemplos típicos de grupamento de risco são as ações de governo ou de empresas na área de saúde: SUS no Brasil, Medicare nos 2 A tese é polêmica, mas, na prática tem frequentemente sido verificada.
7 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.7/24 EUA, seguro-empresa. A padronização reduz a incerteza na qualidade. A reputação também reduz esta incerteza. Além da seleção adversa e da qualidade duvidosa outras questões de informações assimétricas se colocam. Outra questão é a da sinalização de mercado. Por exemplo, por que não contratar um trabalhador, verificar a qualidade de sua atuação, e, eventualmente, o demitir? A resposta é simples: sai caro! O melhor é SABER da qualidade antes de contratar via sinalização. Vejamos um modelo simples de sinalização. Considere dois grupos de trabalhadores. Grupo I: baixa produtividade com PM e PMg = 1; Grupo II: alta produtividade com PM e PMg = 2. Se os dois grupos for de mesmo tamanho, podemos esperar que o VE(PM) = (0,5)(1) + (0,5)(2) = 1,5. Vamos considerar que o mercado de produto competitivo tem preço do produto de $ e contrata metade de trabalhadores de cada um dos grupos e o tempo médio de permanência seja de 10 anos. Nestes termos, a receita gerada por cada grupo será: Grupo I : $ x 10 anos = $ Grupo II: $ x 10 anos = $ Se a empresa oferece salário igual à receita marginal e a informação é completa, então: Salário do Grupo I : $10.000/ano. Salário do Grupo II: $20.000/ano. Porém, com informação assimétrica, o salário será a produtividade média para todos: Salário dos Grupos I e II: $15.000/ano.
8 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.8/24 Agora vamos introduzir no modelo a sinalização via educação no mercado de trabalho. Sinais de educação são considerados dos mais fortes sinais de mercado com o objetivo de reduzir as informações assimétricas. Seja y o índice de educação que reflete os anos de educação superior. Seja C o custo de obtenção do nível de educação y. Então podemos modelar a sinalização assim: Grupo I : C I ( y) $ y ; Grupo II: C II ( y) $ y ; Estas equações do modelo refletem um custo mais alto para trabalhadores de baixa qualidade, os motivos são diversos: são menos estudiosos, progridem mais lentamente, etc. Por simplicidade, vamos supor que a educação não afeta a produtividade do trabalhador, seu único valor é sinalizar. Nestes termos, podemos derivar uma regra de decisão da empresa, onde y * (um valor arbitrário que reflete o índice de educação buscada pela empresa) ou superior sinaliza que o trabalhador pertence ao Grupo II e o salário é de $ Por outro lado, abaixo de y * sinaliza que o trabalhador pertence ao Grupo I e o salário é de $ Para tornar concreto o modelo proposto vamos supor os gráficos como na Figura 9-14 onde o valor índice arbitrário é de 4. Se chamarmos B (y) o aumento de salário associado a cada nível de educação, esta curva tem aquele formato discreto em azul na figura e define a regra de decisão sobre salários. As curvas de custo por grupo, como já foram definidas, estão representadas em preto. A questão é achar o equilíbrio neste modelo simples, ou seja, qual o nível de educação que os trabalhadores escolherão? A decisão relativa ao nível de educação baseia-se na comparação de custos e benefícios
9 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.9/24 (aumento na remuneração) em cada grupo. Para ambos os grupos o benefício será de $ No Grupo I o benefício com a educação é de $ e está acima dos custos $ $40.000y, o que nos leva a y * 2, 5, os indivíduos de Grupo I não obterão educação se y * > 2.5, como é! A escolha dos indivíduos deste grupo será y 0, pois qualquer nível de educação inferior a y * resultará no mesmo rendimento básico de $ A respeito do Grupo II a coisa muda: $ $20.000y, ou seja, y * < 5. Os indivíduos do Grupo II concluirão que a educação se justifica e farão o possível para obter y * = 4. Os indivíduos de alta produtividade obterão educação para poder sinalizar sua produtividade e a eles as empresas oferecerão salários de $ Nunca é demais relembrarmos que além das considerações deste modelo simples de sinalização, a educação AUMENTA a produtividade dos indivíduos. Neste caso, no entanto, estamos a usando apenas como sinalização. Naturalmente existem outros mecanismos de sinalização ao mercado, como garantias e certificados. Para você pensar: Quanto é custoso oferecer um produto de baixa qualidade com garantia? Além da qualidade duvidosa, seleção adversa e sinalização de mercado, mais outra questão de informação assimétrica é o risco moral. Risco moral ocorre quando as ações de uma parte não são observadas por outra parte, podendo afetar a probabilidade ou a magnitude do pagamento associado ao evento. A Figura 9-16 contém um exemplo de seguro contra incêndio. Existe um programa contra incêndio no valor de $50 o que reduz o risco de incêndio para 0,005. Se não implementar o programa o
10 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.10/24 risco dobra: 0,01. Se o imóvel vale $ , então o prêmio com o programa será de 0,005 x $ = $500, que é um equilíbrio eficiente, mas após a contratação do seguro, o dono do imóvel não tem incentivo para implementar o programa, então a probabilidade de incêndio sobe. O prêmio de $500 causa prejuízo à seguradora, pois sua perda esperada passa a ser 0,01 x $ = $1.000! Resultado: por causa do Risco Moral, aumenta o prêmio ou deixa de oferecer o produto... Um exemplo clássico de Risco Moral, onde é alterada a capacidade de mercados alocarem eficientemente, é o sistema de prêmio de seguro para aluguel de carros por semana. Na Figura 9-17 se encontra a curva de demanda relacionando custo/km por Km/semana. Observe que a curva de demanda é o benefício marginal e é decrescente porque muitas famílias mudam o tipo de transporte à medida que o custo de utilização do automóvel aumenta. Se a informação fosse completa e as seguradoras, não precisassem considerar risco moral, ou seja, se fossem capazes de medir a quilometragem correta, então a alocação eficiente seria no ponto A na figura. Os motoristas saberiam que usar mais aumenta o prêmio de seguro e desta maneira seu custo total. Com risco moral, as seguradoras não são capazes de medir a quilometragem, o custo marginal percebido é menor e a quilometragem é maior, como no ponto B e o prêmio de seguro não varia com a quilometragem e é rateado entre muitos. Desta forma o ponto B resulta uma alocação ineficiente e sua quantificação é denotada pela área ABC da figura. O consumo predial de água sem hidrômetros individuais vai pelo mesma lógica de risco moral. Um caso importante de risco moral é a relação agente-principal. O agente é a pessoa que atua, por exemplo, trabalhadores, administradores, etc. O principal é a pessoa que é afetada pelas ações do agente, por exemplo, o proprietário, ou o(s) acionista(s). A questão de risco
11 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.11/24 moral é que o principal não tem conhecimento completo das ações do agente. Define-se assim o problema do agente-principal: os empregados podem estar interessados em atingir seus próprios objetivos, o que pode levar a lucros menores para os proprietários. A mesma lógica pode ocorrer dentro de uma empresa nas relações e interesses entre administradores e acionistas. Na Figura 9-19 se ilustra o exemplo da loja de manutenção de relógios. O agente é o técnico relojoeiro e o proprietário é o principal. Vamos fazer o problema se tornar quantitativo. Suponha que o técnico pode se empenhar muito ou pouco, para incentivar o problema do agente principal vamos supor que para o técnico se empenhar exista um custo para ele, enquanto não se empenhar não tenha custo para ele. Também vamos supor que ele pode dar sorte ou dar azar no conserto. Estas variáveis resultam na tabela de receita da produção (para o principal) dada na figura. Observe primeiramente que com o payoff dado o principal não tem como saber se o agente se empenhou ou não se a receita for de $20.000, poderia ser apenas resultado da sorte e o principal deixaria de obter receita de $40.000! Se sorte ou azar são igualmente prováveis, a receita esperada do principal e do agente com pouco empenho será: (0,5)($10.000) + (0,5)($20.000) = $ A receita esperada com muito empenho é diferente para o principal e para o agente: Principal: (0,5)($20.000) + (0,5)($40.000) = $ Agente: (0,5)($10.000) + (0,5)($30.000) = $20.000, nestes termos há um incentivo para o agente não se empenhar! Para dar conta desta disparidade colocada pelo problema, existem esquemas de incentivo: gratificação e participação nos lucros. Com gratificação, por exemplo, se R = $ ou $20.000, então é considerado baixo empenho e o agente fica sem remuneração, w = 0. Se R = $40.000, então é considerado alto empenho e o agente é gratificado, w = $ Então a remuneração esperada é de: (0,5)($0) + (0,5)($24.000) = $ Como o custo para o técnico é de $10.000, então $ $ = $2.000 é o lucro líquido esperado. Para o técnico, ele ganha $ maior que $ que é o custo sem gratificação.
12 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.12/24 Para o principal, que com este esquema ele pressupõe a = 1, a receita esperada é: (0,5)($20.000) + (0,5)($ ) = $ Então o lucro esperado é $ $ = $18.000, também é vantajoso, por ser maior que $15.000, que é a receita esperada sem empenho, a = 0. Conclusão: o esquema de gratificação é vantajoso para ambos. Outro esquema para superar o problema agente-principal é o da participação nos lucros. Se R < $ então w = 0. Se R > $ então w R $18.000, ou seja, o técnico ganha mais quanto maior for a receita que ele gere. vai agir com alto empenho. Para o agente, se agir com baixo empenho, a sua remuneração esperada será: [(0,5)($0) + (0,5)($20.000)] (0,5)($18.000) = $ Como tem o custo do técnico, fica evidente que ele não vai preferir esta opção, ou seja, ela Se ele agir com alto empenho: [(0,5)($20.000) + (0,5)($40.000)] $ = $ Com o custo de $10.000, então o lucro líquido do técnico é de $ Para o principal, o lucro esperado será de $ $ = $18.000, pois mais uma vez ele vai supor que a = 1. Conclusão: ambos os esquemas resultam na mesma vantagem para ambos!
13 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.13/24 Para combater os malefícios da informação assimétrica, além da reputação, agrupamento de riscos, padronização, sinalização e esquemas de remuneração, temos a considerar a Teoria do Salário Eficiência. Mesmo em um mercado de trabalho competitivo existe o desemprego. Alguns explicam o desemprego nestas condições pelo modelo de enrolação ou de dissimulação no trabalho, que é uma forma de informação assimétrica onde o trabalhador finge que trabalha, mas não o faz. Como a remuneração no mercado de trabalho competitivo é igual ao seu produto marginal, com a dissimulação a informação de desempenho é limitada, o que pode provocar ineficiências. Na Figura 9-22 está representado o mecanismo do modelo de dissimulação do trabalho. Sem dissimulação o salário de mercado é de w * e o pleno emprego ocorre em L *. A curva de Restrição de Ausência de Negligência (RAN) aponta um salário mais alto w e em que a dissimulação deixa de existir, porém, implicitamente isto cria nível de desemprego como ilustra a figura. Com o desestímulo dos enroladores, a curva de demanda por trabalho se desloca como em cinza, então aumenta mais o desemprego, as diminui o salário eficiência. Com o desemprego maior, menor a diferença w* we, o que significa estímulo para os negligentes produzirem. Se não o fizerem, eles podem permanecer longo período desempregados reduzindo a demanda por trabalho.
14 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.14/24 Um caso clássico da ação sobre informação assimétrica foi o que aconteceu com a Ford a partir de Até este ano a produção dependia de mão de obra especializada, depois a linha de montagem passou a exigir menos especialização. Em 1913 a rotatividade era de 380%, subiu para 1000% em 1914 e a margem de lucro reduziu. A remuneração média era algo entre $2 e $3, então a Ford aumentou o salário para $5 em busca de mão de obra mais eficiente. Com isto a produtividade cresceu 51%, o absenteísmo caiu à metade e a lucratividade aumentou de $30 milhões em 1914 para $60 milhões em Ou seja, o uso do salário eficiência mitigou o problema de informação assimétrica. Concluímos a análise desta modalidade de falha de mercado destacando que incertezas, seleção adversa e risco moral podem ser mitigados com mais informações. Existe, no entanto, um problema econômico associado à obtenção destas informações. É o efeito Carona : se todas as informações estiverem disponíveis no mercado, quem não investiu em sua obtenção pode beneficiar-se indevidamente dos esforços onerosos aqueles que não investiu na sua obtenção. É o caso de direitos autorais, de patentes, etc. O problema associado é que pode ensejar a ignorância racional. Se os ignorantes puderem seguir os mais bem informados pode gerar outro problema econômico conhecido como comportamento de manada. No sistema financeiro, por exemplo, sob informações assimétricas, a incerteza é difusa e inevitável, as manadas podem inflar preços resultando nas chamadas bolhas. Na história financeira o estouro de bolhas resultou crises severas com imenso custo social.
15 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.15/24 Outra falha de mercado, esta não associada à informação, mas devido a influências negativas ou positivas de outros é conhecida como externalidades. Como elas não se refletem nos preços de mercado, elas podem ser causa de ineficiência econômica. Por exemplo, quanto mais a CSN em Volta Redonda despeja efluentes no rio Paraíba do Sul, menos peixes haverá no rio (externalidade negativa). Outro exemplo, um aeroporto público perto, ou dentro, de uma fazenda, melhor para o dono da fazenda (externalidade positiva).
16 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.16/24 Observe que a eficiência na indústria é diferente da eficiência social. Na Figura 9-26 está ilustrada a situação em que, seja do ponto de vista da empresa, seja do setor, na presença de externalidades negativas, o custo social marginal (CMgS) é maior que o custo marginal. A diferença é o custo marginal externo, CMgE, também ilustrado na figura. Observe que o preço P 1 é baixo, pois reflete apenas o custo marginal privado. A empresa maximizadora de lucro produz em q 1 enquanto o nível eficiente é q *. A produção competitiva da indústria é Q 1, enquanto a produção eficiente é Q *. Na figura, a área em amarelo representa o custo social agregado da externalidade negativa. Perceba que o nível de produção é mais alto que o eficiente, ou seja, externalidades negativas estimulam empresas demais no setor. Em suma, mais uma vez temos distorções no mercado. Para corrigir falhas de mercado existem três caminhos principais: padrão, imposto e permissões transferíveis de emissão. Pensemos em termos de emissão de efluentes, como no exemplo da Figura 9-27, onde estão representadas as curvas de custo marginal externo (CMgE) e custo marginal de Redução de emissão (CMgR), este último decrescente significando que se não se preocupar em conter as emissões o custo da redução se aproxima de zero, o primeiro, CMgE, crescente com as emissões representa o custo marginal social infligido pela empresa. Com um padrão, se adota um limite legal de emissão. Com imposto, se taxa por unidade de emissão. Para efeito de raciocínio, considere que de início o nível de emissão é de E 0, o CMgR é maior que o CMgS (custo muito alto para as empresas, porém excelente para as pessoas). Inversamente, em E 1 o CMgS é maior que o
17 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.17/24 CMgR das emissões (custo melhor para as empresas, porém danoso para as pessoas). Intuitivamente isto nos leva a pensar que o nível ótimo se dá na confluência das duas curvas, E *. Para tentar alcançar tal nível ótimo se pode estabelecer padrão ou imposto, como mostra a Figura 9-28, o padrão impondo nível E * diretamente, o imposto infligindo custo que remete ao nível E * de emissões. Observe que a área cinzenta à esquerda de E * representa o total do imposto pago e em qualquer ponto desta área CMgR > imposto, vale dizer, melhor pagar o imposto. Por outro lado, a área azul à direita de E * representa o custo total de redução de emissões, onde CMgR < CMgE ou ainda CMgR < imposto, ou seja, vale a pena reduzir emissões (melhor não pagar imposto!). Se adotar o padrão, o nível de emissão e seu custo ficam pré-determinados. O melhor dentre eles, imposto ou padrão, vai depender dos formatos de CMgE e CMgR, como veremos a seguir. Imaginemos duas empresas com CMgS idênticos. Na Figura 9-20 estão exemplificados os casos de estabelecimento de padrão e de imposto para cada uma. O efeito de um padrão de redução de 7 unidades para ambas as empresas é ilustrado, mostrando que padrão não é eficiente pois CMgR 1 < CMgR 2. Por outro lado, com um imposto de $3, as emissões da Empresa 1 cairiam de 14 para 8. As emissões da Empresa 2 cairiam de 14 para 6. A solução minimizadora de custos para a Empresa 1 é uma redução de 6 unidades, e a área verde representa o aumento relativo ao imposto da emissão para a Empresa 1. A solução minimizadora para a Empresa 2 é de 8 unidades, e a área roxa representa a diminuição relativa
18 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.18/24 ao imposto para a Empresa 2. Veremos que o imposto é melhor que padrão quando CMgE forma mais plano, CMgR mais inclinado. Exemplo1: Para os dados da Figura 9-29, prove quantitativamente que imposto é melhor do que padrão. Respostas: Possivelmente em sala de aula. A Figura 9-30 ilustra a vantagem de padrões. Na Figura o imposto eficiente seria $8, mas sob informação incompleta, se o imposto fosse $7 com redução de 12,5% - as emissões aumentariam muito, de 8 para 11. A área ABC representa a ineficiência caso haja erro de 12,5% no estabelecimento do imposto, quanto mais inclinado CMgS maior esta ineficiência. Para comparar com a solução por padrão, se sob informação incompleta, o padrão for 9 unidades de nível de emissão (ampliação de 12,5%), então teríamos a ineficiência ADE < ABC, evidenciando que, para este caso, padrão é melhor que imposto. Como já mencionamos pelo reverso: padrão é melhor quando CMgE é muito inclinado e CMgR (ou CMgS) é mais plano. Concluímos a comparação entre imposto/padrão observando que os impostos propiciam maior grau de certeza quanto ao custo e menor grau de certeza quanto às emissões. A preferência entre as duas políticas depende da natureza da incerteza e das inclinações relativas das curvas de custo. A terceira forma de corrigir falhas de mercado são as permissões de emissões transferíveis. Trata-se de uma forma de desenvolver um mercado competitivo para
19 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.19/24 externalidade. O órgão regulador determina o nível de emissões e o número de permissões, estas sendo transacionáveis. As empresas com custo elevado comprará permissões sãs empresas de baixo custo. Retornando ao slide da Figura 9-29 são permitidas emissões até 7 unidades. A Empresa 2 poderia vender sua permissão por preço entre $2,50 a $3,75 para a Empresa 1. Então um nível de emissões seria atingido por um custo mínimo (e estaria criado um mercado de externalidades). Podem surgir externalidade quando se usa recursos sem ter que pagá-los. É o caso de recursos de propriedade comum. É também o caso de bens públicos.
20 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.20/24 Bens de uso público podem ser não rivais, quando o custo marginal de prover o bem para um consumidor adicional é zero para qualquer nível de produção. Podem ser não excludentes, caso em que os indivíduos não podem ser excluídos do consumo do bem. Podem ser rivais ou excludentes, por exemplo: educação, parques, etc. Para este caso, no entanto, o governo pode estabelecer imposto. O problema econômico associado é que os indivíduos não têm incentivos para pagar o valor que atribuem ao bem pelo direito de consumi-lo, surge o problema já mencionado do carona, fica difícil determinar o nível ótimo de uso. Vejamos primeiramente a ineficiência de recursos de propriedade comum. Imaginemos um lago onde a pesca é recurso de propriedade comum, acessível a todos. A Figura 9-34 ilustra a situação onde na ausência de controle, o número de peixes é F C e o custo privado é igual ao benefício marginal. Observe que o preço dos peixes para os pescadores é tido como dado (constante), mas pode esgotar o recurso, ou seja, usar mais que o necessário para manter o recurso disponível. Os custos privados subestimam os verdadeiros custos, o CMgS inclui além dos custos privados o custo social do esgotamento do estoque de peixes. O nível eficiente é F * e CMgS = BMg, ou seja, o recurso de propriedade comum deveria ter um único administrador que imporia P = CMg (do esgotamento do recurso). Porém, nem sempre esta solução é viável.
21 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.21/24 Exemplo2: No lago, se as variáveis de interesse são F, quantidade de peixes, e C, custo privado, são dadas a demanda: C 0,401 0, 0064F, o custo marginal social: C 5,645 0, 6509F, e o custo privado: C 0,357 0, 0573F. a) Quais seriam quantidade e custo eficientes? b) Quais seriam quantidade e custo efetivo? c) Qual seria o excesso de custo social em relação ao custo privado? Respostas: Possivelmente em sala de aula. Para provisão eficiente de bem público, BMg = CMg, como no caso do bem privado. No entanto, para bens privados BMg é o recebido pelo consumidor, enquanto nos bens públicos BMg é a soma de TODOS consumidores. A Figura 9-35 ilustra o caso de 2 consumidores. Quando um bem é não rival, o benefício marginal social do seu consumo (D) é determinado pela soma das curvas de demanda individuais pelo bem. Observe na figura que a produção eficiente ocorre onde CMg = BMg = $1,50 + $4,00 = $5,50. Vejamos por indução intuitiva no gráfico que Q = 2 é realmente eficiente. - Se Q = 1 e CMg = $5,50, então vemos que BMg $7,00 o que nos mostra que BMg > CMg então a quantidade é ineficiente. - Se Q = 3 e CMg = $5,50, então vemos que BMg $4,00 o que nos mostra que BMg < CMg então a quantidade é excessiva.
22 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.22/24
23 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.23/24 Problemas Propostos: 9-1) Descreva em poucas palavras: a) Informação assimétrica b) Exemplos de sinalização de mercado c) Incentivos para redução do problema agente-principal d) Modelo dissimulação no trabalho e) Ineficiência de externalidades f) Comparação padrão versus imposto g) Ineficiência no uso de recursos de propriedade comum h) Comparação de eficiências: privado versus público 9-2) Suponha que estudos científicos mostrem as seguintes informações sobre benefícios e custos das emissões de dióxido de enxofre: Benefícios de reduzir as emissões: Custos de reduzir as emissões: BMg CMg A A onde A é a quantidade de emissões reduzida em milhões de toneladas, e os benefícios e custos são dados em dólares por tonelada. a) Qual é o nível de redução de emissões socialmente eficiente? b) Quais são os benefícios marginais e os custos marginais das emissões no nível socialmente eficiente? c) O que aconteceria com os benefícios sociais líquidos (benefícios menos custos) se você reduzisse 1 milhão de toneladas a mais que o nível de eficiência? E 1 milhão a menos? d) Por que é eficiente em termos sociais igualar os benefícios marginais aos custos marginais em vez de reduzir as emissões até os benefícios totais se igualarem com os custos totais? 9-3) Para os dados da Figura 9-29, prove quantitativamente que imposto é melhor do que padrão. 9-4) No lago, se as variáveis de interesse são F, quantidade de peixes, e C, custo privado, são dadas: a demanda C 0,401 0, 0064F, o custo marginal social C 5,645 0, 6509F, e o custo privado C 0,357 0, 0573F. Responda:
24 Módulo 9 Por que Mercados Falham? PG Eng.Econômica 2015/2016 Pg.24/24 a) Quais seriam quantidade e custo eficientes? b) Quais seriam quantidade e custo efetivo? c) Qual seria o excesso de custo social em relação ao custo privado? 9-5) Um investidor está pensando em comprar um campo de petróleo. A probabilidade de que existam 20 barris de petróleo no campo é igual a 1/3, a probabilidade de que existam 40 é também 1/3. Por fim, novamente com probabilidade igual a 1/3 pode ser que existam 120 barris de petróleo no campo. O dono atual do campo de petróleo poderia obter um lucro de $1 por barril. Ou seja, se o campo tivesse 40 barris o seu lucro seria de $40. O investidor é um produtor mais eficiente e conseguiria obter um lucro de $1,5 por barril caso este comprasse o campo. Ou seja, se o campo tivesse 40 barris ele obteria um lucro de $60. O dono do campo fez uma pesquisa intensa e sabe exatamente quantos barris existem lá, mas o investidor não sabe. O investidor é neutro ao risco, ou seja, sua única preocupação é maximizar o seu lucro esperado. Seja p o preço pelo qual o campo de petróleo está sendo vendido. Além disto, suponha que se o dono do campo de petróleo fosse indiferente entre vender ou não vender o campo pelo preço p, então ele venderia. Qual o máximo valor de p pelo qual um investidor inteiramente racional aceitaria comprar o campo? Detalhe os cálculos ) A receita de curto prazo de uma empresa é dada por R 10e e, onde e é o nível de esforço do trabalhador (supõe-se que todos trabalhadores sejam idênticos). Um trabalhador escolhe seu nível de esforço, ( w e) com o custo por unidade de esforço sendo igual a 1. Determine o nível de esforço e o nível de lucro (receita menos salário pago) para cada uma das condições a seguir. Explique por que estas diferentes relações agente-principal geram resultados distintos. a) w 2 para e 1; caso contrário, w 0 b) w R 2 c) w R 12, 5
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