O Teorema de Nichols-Zöeller
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- Thiago Amaral
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1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Matemática Programa de Pós-Graduação em Matemática O Teorema de Nichols-Zöeller Dissertação de Mestrado LEONARDO DUARTE SILVA Porto Alegre, 31 de Março de 2016
2 Dissertação submetida por Leonardo Duarte Silva 1, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Ciência Matemática, pelo Programa de Pós-Graduação em Matemática, do Instituto de Matemática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora Orientadora: Prof a. Dra. Bárbara Seelig Pogorelsky Banca examinadora: Prof. Dr. Antonio Paques (IM - UFRGS) Prof. Dr. Wagner de Oliveira Cortes (IM - UFRGS) Prof a. Dra. Carolina Noele Renz (UNISINOS) Prof a. Dra. Bárbara Seelig Pogorelsky (IM - UFRGS, ORIENTADORA) 1 Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
3 Agradecimentos Agradeço aos meus pais Miguelina e Geraldo, ao meu irmão Lucas, à minha namorada Juliana e também à sua família, por todo incentivo e carinho que sempre recebi, bem como compreensão e paciência em alguns momentos. O apoio de vocês é essencial para mim. Ao meu amigo Everton, o irmão que adotei. Aos meus amigos e colegas da pós-graduação, pelos momentos dentro e fora da universidade. Em especial à Grasi e à Dani, que contribuíram muito na construção desta dissertação. À minha orientadora Bárbara, por ter me aceitado como orientando, dado liberdade em meus estudos e acreditado em minha capacidade. Espero ter retribuído sua confiança e que este trabalho lhe tenha sido tão satisfatório quanto foi a mim. Aos amigos e professores da UFPel, que sempre acreditaram em mim, deram todo suporte e oportunidade para iniciar esta etapa. Em especial aos professores: Alexandre Athayde, Alexandre Molter, Cícero, Janice, Lisandra e meu orientador Giovanni. Ao professor Paques pela sugestão desta dissertação e também por aceitar me orientar no doutorado. Aos professores e funcionários do Programa de Pós-Graduação em Matemática da UFRGS, pela oportunidade. E à CAPES pelo apoio financeiro. Agradeço também aos professores que aceitaram participar da banca.
4 Resumo Este trabalho tem por objetivo estudar todos os pré-requisitos e demonstrar o Teorema de Nichols- Zöeller. Para isso é realizado um estudo preliminar em tópicos selecionados da Teoria de Anéis e Módulos, visando o Teorema de Krull-Schmidt, e também da Teoria de Álgebras de Hopf, principalmente os resultados para dimensão finita. Abstract The purpose of this work is to study all prerequisites and to prove the Nichols-Zöeller Theorem. For this we conducted a preliminary study on selected topics of Module and Ring Theory, aiming at the Krull-Schmidt Theorem, and also Hopf Algebras Theory, specially results for finite-dimensional case.
5 Índice Introdução 1 1 Álgebras e Módulos de Hopf Álgebras de Hopf Módulos de Hopf O Teorema de Larson-Sweedler Injetividade O Teorema de Nichols-Zöeller Preliminares O Teorema de Nichols-Zöeller A Apêndice: Teoria de Anéis e Módulos e o Teorema de Krull-Schmidt 70 A.1 Definições e Resultados Iniciais A.2 O Teorema de Krull-Schmidt Referências Bibliográficas 101 i
6 Introdução Em 1975, Irving Kaplansky [5] listou 10 conjecturas em álgebras de Hopf. Desde então, a busca de respostas para estas conjecturas foi um grande foco de pesquisa na área. A primeira destas conjecturas trata da relação de uma álgebra de Hopf e suas subálgebras de Hopf. Já era sabido que toda álgebra de Hopf é um módulo sobre qualquer uma de suas subálgebras de Hopf. Contudo, não se sabia quando uma álgebra de Hopf era livre sobre suas subálgebras de Hopf. Assim, a primeira conjectura de Kaplansky foi que toda álgebra de Hopf H é livre como um B-módulo, para qualquer subálgebra de Hopf B de H. Rapidamente Oberst e Schneider em [14] mostraram um contra-exemplo e a conjectura se mostrou falsa, ao menos no caso de uma álgebra de Hopf de dimensão infinita. O caso finito, entretanto, permaneceu aberto por 14 anos. Em 1985, Martha Bettina Zöeller, sob orientação de Warren Nichols, mostrou em sua tese de doutorado que o resultado era verdadeiro quando B é uma álgebra de grupo semissimples. Resultado este publicado posteriormente em [20]. No artigo subsequente de Nichols e Zöeller [13] foi mostrado, utilizando métodos mais técnicos, que o resultado era válido quando B era uma álgebra de grupo qualquer. Finalmente, em 1989 no artigo [12], Nichols e Zöeller mostraram, utilizando técnicas ainda mais sofisticadas, o resultado mais geral, o caso em que H é uma álgebra de Hopf de dimensão finita qualquer, assegurando então que a conjectura de Kaplansky é verdadeira no caso em que a álgebra de Hopf H tem dimensão finita. O principal teorema do artigo [12] é hoje em dia conhecido como Teorema de Nichols-Zöeller, e afirma então que toda álgebra de Hopf H de dimensão finita é livre como B-módulo para qualquer subálgebra de Hopf B de H. Este teorema foi muito importante para o desenvolvimento da pesquisa em álgebras de Hopf, sendo por exemplo, um resultado fundamental para o estudo de classificação de álgebras de Hopf. Uma consequência imediata interessantíssima do referido teorema é que ele generaliza para o caso de álgebras de Hopf o famoso Teorema de Lagrange para grupos finitos. Sabemos que os grupos se generalizam naturalmente para álgebras de Hopf, já que para um grupo G, a álgebra de grupo kg é uma álgebra de Hopf, e para cada H subgrupo de G, kh é subálgebra de Hopf de kg. Dado um grupo finito G e H um subgrupo de G, o Teorema de Nichols-Zöeller afirma então que kg é livre como 1
7 kh-módulo, e disto segue que dim k (kh) dim k (kg), e já que dim k (kh) = H e dim k (kg) = G, segue que H G. Neste trabalho iremos provar o Teorema de Nichols-Zöeller, tendo como principal referência o artigo [12]. Nesta demonstração, o Teorema de Krull-Schmidt, que é um teorema clássico da Teoria de Anéis e Módulos, tem uma importância fundamental. Por conta disso, colocamos como apêndice um estudo completo deste teorema, com todos seus detalhes, seguindo principalmente a referência [6]. Devido a este resultado ser um clássico, outras referências fazem a construção do mesmo, seguindo outros caminhos. Por conta disso, em alguns momentos foi interessante fazer a abordagem de resultados preliminares conforme outras referências, tais como [10], [4] e [2]. O primeiro capítulo desta dissertação é dedicado às álgebras de Hopf, e se estende quase que linearmente até chegarmos ao fato que toda álgebra de Hopf de dimensão finita H é injetiva como um H-módulo. O motivo de nos estendermos até este resultado é que ele, juntamente com o Teorema de Krull-Schmidt, são fundamentais para o entendimento dos resultados desenvolvidos por Nichols e Zöeller em [12]. Na primeira seção deste capítulo, apresentamos a definição e resultados básicos sobre a estrutura de álgebras de Hopf, e apresentamos brevemente a dualidade entre álgebras e coálgebras. Na segunda seção, construímos os módulos de Hopf e nos estendemos até o Teorema Fundamental dos Módulos de Hopf que será importante na seção seguinte. Na terceira seção, fazemos um breve estudo sobre as integrais de uma álgebra de Hopf, culminando no Teorema de Larson-Sweedler. Este importante teorema afirma que a antípoda de uma álgebra de Hopf de dimensão finita é bijetora, e além disso o espaço das integrais tem dimensão 1 sobre k. Como consequência dele, provamos que quando H é uma álgebra de Hopf de dimensão finita, então H e H são isomorfos como H-módulos. Na quarta e última seção do capítulo 1, resgatamos um pouco a teoria clássica de módulos, visando principalmente resultados sobre módulos injetivos. Boas referências para a Teoria de Álgebras de Hopf são [3], [18], [1] e [11]. O segundo e principal capítulo desta dissertação trata dos resultados desenvolvidos por Nichols e Zöeller no artigo [12]. Optamos por dividí-lo em duas seções, apresentando na primeira seção alguns resultados preliminares e na seção seguinte culminando no Teorema de Nichols-Zöeller. Por fim, é importante salientar que esta dissertação tem o intuito de ser auto-suficiente, na medida em que tentamos adotar um caminho linear para a prova do Teorema de Nichols-Zöeller, onde todos resultados preliminares são devidamente provados. Porém, devido ao conteúdo desenvolvido, exigimos do leitor um conhecimento básico sobre a Teoria de Anéis e Módulos. Por conta disso, nos permitimos definir aplicações cujo domínio é um produto tensorial, simplesmente indicando a lei da função em seus geradores, e admitimos sua boa definição, desde que a verificação disto é um simples cálculo, onde se faz uso da Propriedade Universal que caracteriza os produtos tensoriais. 2
8 Capítulo 1 Álgebras e Módulos de Hopf Neste capítulo damos as definições básicas sobre álgebras de Hopf, bem como algumas propriedades importantes. Além disso, desenvolvemos a teoria até chegarmos a um resultado importante sobre álgebras de Hopf de dimensão finita, a saber, que toda álgebra de Hopf de dimensão finita H é injetiva como um H-módulo. 1.1 Álgebras de Hopf Notação Ao longo de todo este trabalho, k denotará um corpo qualquer, fixado. Se V, W são dois k-espaços vetoriais, denotamos o produto tensorial de V e W sobre k, V k W, simplesmente por V W. Além disso, chamamos de twist a seguinte aplicação τ : V W W V dada por τ(a b) = b a, que é um isomorfismo. Definição Uma álgebra sobre um corpo k, ou simplesmente uma k-álgebra, é um k-espaço vetorial A munido de duas aplicações k-lineares, multiplicação m : A A A e unidade u : k A, tais que os seguintes diagramas são comutativos: A A A m Id A A A u Id A A A Id A u Id A m m k A m A k A A m A A Em outras palavras, o primeiro diagrama nos dá a relação m (m Id A ) = m (Id A m) e o segundo diagrama [m (u Id A )](1 k a) = a = [m (Id A u)](a 1 k ), a A. 3
9 Notação Denotemos a imagem de um elemento a b A A pela aplicação m simplesmente por m(a b) := ab. A imagem de 1 k via a aplicação u será denotada por u(1 k ) = 1 A. Em alguns contextos, esta definição de álgebra é também chamada de álgebra associativa e unitária, visto que essas são as duas propriedades que são garantidas pelos diagramas da definição. Notemos primeiro que, pelo segundo diagrama, 1 A é realmente a unidade em A, isto é, 1 A satisfaz 1 A a = a = a1 A, para todo a A. De fato, o lado esquerdo do segundo diagrama garante que [m (u Id A )](1 k a) = a, mas [m (u Id A )](1 k a) = m(u(1 k ) a) = m(1 A a) = 1 A a. Assim, a = 1 A a. Analogamente, o lado direito nos garante que a = a1 A. Além disso, vejamos que o primeiro diagrama se traduz como a associatividade do produto. Visto que m (m Id A ) = m (Id A m), então para qualquer a b c A A A, temos que valem as seguintes igualdades: [m (m Id A )](a b c) = [m (Id A m)](a b c) m([m Id A ](a b c)) = m([id A m](a b c)) m(m(a b) Id A (c)) = m(id A (a) m(b c)) m(ab c) = m(a bc) (ab)c = a(bc) Vejamos agora que se A {0}, então a aplicação u é injetora. De fato, sejam α, β k tais que u(α) = u(β). Do fato que u é k-linear, temos α u(1 k ) = β u(1 k ), ou seja, α 1 A = β 1 A, e portanto (α β) 1 A = 0 A. Note que (α β) k e 1 A = u(1 k ) A. Como A é um k-espaço vetorial, α β = 0 k ou u(1 k ) = 1 A = 0 A. Vimos na observação anterior que a = 1 A a, a A, assim, se 1 A = 0 A, temos que a = 1 A a = 0 A a = 0 A, para todo a A, ou seja, A = {0}, o que é um absurdo. Logo α β = 0 k e portanto α = β, donde segue que u é injetora. Assim, temos que a aplicação u nos permite ver k dentro de A, isto é, para α k, podemos escrever α A, via a aplicação injetora u. Quando α k e escrevermos α A, entendemos que estamos considerando α := u(α) = α u(1 k ) = α 1 A A. Além disso, do segundo diagrama temos a compatibilidade entre a ação de k em A e o produto dos elementos de u(k) com um elemento qualquer de A. Em outras palavras, para α k e a A, temos que α a = (α 1 A )a = a(α 1 A ), onde denotamos a ação do escalar α k em um elemento a do k-espaço vetorial A por α a. De fato, pelo primeiro lado do segundo diagrama, temos que para quaisquer α k e a A, temos que [m (u Id A )](α a) = α a, já que α a = 1 k α a. Mas note que [m (u Id A )](α a) = m(u(α) a) = m((α u(1 k )) a) = m((α 1 A ) a) = (α 1 A )a. Ou seja, α a = (α 1 A )a. Utilizando o outro lado do diagrama, concluímos que α a = a(α 1 A ). Com isso, escreveremos indistintamente αa para significar tanto α a quanto a(α 1 A ) ou (α 1 A )a. 4
10 A seguir, vamos começar a construção de um importante exemplo ao longo de toda dissertação, a saber, a álgebra de grupo. Exemplo Seja G um grupo com elemento neutro e, e considere as somas formais { n } kg = α i g i α i k, g i G, n = 1, 2,.... Para um elemento g G, escrevemos também g kg para significar 1 k g. Assim, definimos m : kg kg kg por m(g h) = gh e u : k kg por u(1 k ) = e e estendidas linearmenente. Em outras palavras, kg é o k-espaço vetorial com base indexada por elementos de um grupo G, com a multiplicação dada pela operação do grupo e a unidade é o próprio neutro do grupo. Além disso, é claro que dim k (kg) = G. É de fácil constatação que as aplicações m e u acima definidas satisfazem os diagramas, tornando kg uma k-álgebra. É uma simples verificação que se (A, m A, u A ) e (B, m B, u B ) são duas k-álgebras, então A B também é uma k-álgebra com multiplicação dada por m A B = (m A m B ) (Id A τ Id B ) e unidade dada por u A B = (u A u B ) ϕ, onde τ : B A A B é o isomorfismo twist dado por τ(a b) = b a e ϕ : k k k é o isomorfismo canônico dado por ϕ(1 k ) = 1 k 1 k. Em termos de elementos, para quaisquer a b, a b A B, temos que u A B (1 k ) = 1 A 1 B e m A B ((a b) (a b )) = aa bb. Definição Sejam A e B duas álgebras com multiplicações m A e m B e unidades u A e u B, respectivamente. Uma aplicação f : A B é um homomorfismo de álgebras se os seguintes diagramas são comutativos: A A f f B B k u A A m A m B u B f A f B B Assim, f : A B é um homomorfismo de álgebras se valem m B (f f) = f m A e f u A = u B. Em termos de elementos, temos que para quaisquer a, b A, valem f(ab) = f(a)f(b) e f(1 A ) = 1 B. A definição de álgebra por diagramas como dada anteriormente, nos permite definir coálgebra de uma maneira intuitiva, sendo um k-espaço vetorial com duas aplicações k-lineares que satisfazem aos mesmos diagramas de uma álgebra, mas com as setas invertidas. Precisamente, temos: 5
11 Definição Uma coálgebra sobre um corpo k, ou simplesmente uma coálgebra, é um k-espaço vetorial C munido de duas aplicações k-lineares, comultiplicação : C C C e counidade ε : C k, tais que os seguintes diagramas são comutativos: C C C id C k C C C k C C Id C C C C ε Id C C C Id C ε Em outras palavras, temos as relações: ( Id C ) = (Id C ), (ε Id C )( (c)) = 1 k c e (Id C ε)( (c)) = c 1 k, c C. Observação Observamos que a imagem de um elemento c C pela aplicação é da forma (c) = n c i1 c i2, onde c i1, c i2 C, i = 1,..., n. Notação (Notação de Sweedler) Para denotar a imagem de um elemento c C pela aplicação, usaremos a seguinte e já bem conhecida notação, chamada de notação de Sweedler ou notação sigma: n (c) = c i1 c i2 := c 1 c 2 Algumas vezes, também manteremos o símbolo de somatório, isto é, denotaremos (c) = n c i1 c i2 := c 1 c 2 Traduzindo os diagramas em termos de elementos, e utilizando a notação de Sweedler, temos que para todo elemento c em uma coálgebra C, vale pelo primeiro diagrama que [( Id C ) ] (c) = [(Id C ) ](c) [ Id C ] ( (c)) = [Id C ]( (c)) [ Id C ] (c 1 c 2 ) = [Id C ](c 1 c 2 ) (c 1 ) Id C (c 2 ) = Id C (c 1 ) (c 2 ) (c 1 ) 1 (c 1 ) 2 c 2 = c 1 (c 2 ) 1 (c 2 ) 2 Neste caso, estendemos nossa notação e denotamos por c 1 c 2 c 3 para significar tanto (c 1 ) 1 (c 1 ) 2 c 2 quanto c 1 (c 2 ) 1 (c 2 ) 2, já que são iguais. 6
12 Além disso, da segunda parte do segundo diagrama, temos que para um elemento qualquer c C, vale que [(Id C ε) ] (c) = c 1 k. Como temos [(Id C ε) ] (c) = [Id C ε] ( (c)) = [Id C ε] (c 1 c 2 ) = Id C (c 1 ) ε(c 2 ) = c 1 ε(c 2 ) concluímos então que c 1 ε(c 2 ) = c 1 k. Desde que ε(c 2 ) k, e o produto tensorial está sobre k, da última igualdade, obtemos que c 1 ε(c 2 ) 1 k = c 1 k, ou seja (c 1 ε(c 2 ) 1 k ) (c 1 k ) = 0, e portanto (c 1 ε(c 2 ) c) 1 k = 0. Agora, como 1 k 0, obtemos que c 1 ε(c 2 ) c = 0, ou seja, c 1 ε(c 2 ) = c. Analogamente, a primeira parte do segundo diagrama nos dá que ε(c 1 )c 2 = c. Lembremos apenas que ε(c) k para qualquer c C, e portanto pelo que vimos é indiferente escrever c 1 ε(c 2 ) ou ε(c 2 )c 1 = c. Vimos no Exemplo que quando G é um grupo, kg é uma álgebra. Vamos dar agora a kg uma estrutura de coálgebra. Exemplo Definimos em kg as aplicações k-lineares comultiplicação : kg kg kg dada por (g) = g g e counidade ε : kg k dada por ε(g) = 1 k, e estendidas linearmente. Também é de fácil verificação que com estas aplicações kg é uma coálgebra. Também conseguimos a partir de duas coálgebras uma nova coálgebra. Sejam (C, C, ε C ) e (D, D, ε D ) duas k-coálgebras, então C D também é uma k-coálgebra com comultiplicação C D = (Id C τ Id D ) ( C D ) e com counidade ε C D = ϕ (ε C ε D ), onde τ : C D D C é o isomorfismo twist dado por τ (c d) = d c e ϕ : k k k é o isomorfismo canônico dado por ϕ (1 k 1 k ) = 1 k. Em termos de elementos, e utilizando a notação de Sweedler, para qualquer c C, d D, temos que C D (c d) = c 1 d 1 c 2 d 2 e ε C D (c d) = ε C (c)ε D (d), onde C (c) = c 1 c 2 e D (d) = d 1 d 2. Antes de prosseguir, é interessante observar que assim como em uma álgebra, onde a associatividade se generaliza para uma quantidade finita de elementos, isto é, dada uma lista finita de multiplicações, podemos associar os elementos como quisermos, também em uma coálgebra existe essa noção, ao qual é chamada de coassociativadade generalizada. Em nosso estudo, precisaremos apenas de um caso particular desta propriedade mais geral, o qual enunciaremos como lema a seguir. Para o caso geral, o leitor interessado pode consultar qualquer referência indicada. Lema Seja (C,, ε) uma coálgebra. Então temos que (Id C Id C ) (Id C ) = ( Id C Id C ) (Id C ). Demonstração. Sejam (C,, ε) uma coálgebra e x C um elemento qualquer. Notemos inicialmente que (Id C Id C ) (Id C ) = (Id C [( Id C ) ]) (1.1) 7
13 De fato, temos que [(Id C Id C ) (Id C ) ] (x) = [Id C Id C ](x 1 (x 2 ) 1 (x 2 ) 2 ) = = x 1 ((x 2 ) 1 ) 1 ((x 2 ) 1 ) 2 (x 2 ) 2 Por outro lado, temos [(Id C [( Id C ) ]) ] (x) = [Id C ([ Id C ] )](x 1 x 2 ) = = x 1 ([ Id C ]((x 2 ) 1 (x 2 ) 2 ) = = x 1 ((x 2 ) 1 ) 1 ((x 2 ) 1 ) 2 (x 2 ) 2 Logo, vale a igualdade(1.1). Pela definição de coálgebra, temos que ( Id C ) = (Id C ), e com isso temos que (Id C [( Id C ) ]) = (Id C [(Id C ) ]), donde concluímos que vale a igualdade (Id C [( Id C ) ]) = (Id C [(Id C ) ]) (1.2) Notemos agora que (Id C [(Id C ) ]) = (Id C Id C ) ( Id C ) (1.3) De fato, temos que [(Id C [(Id C ) ]) ] (x) = [Id C [(Id C ) ]](x 1 x 2 ) = = x 1 ([Id C ]((x 2 ) 1 (x 2 ) 2 )) = = x 1 (x 2 ) 1 ((x 2 ) 2 ) 1 ((x 2 ) 2 ) 2 Por outro lado, utilizando a coassociativade, isto é (x 1 ) 1 (x 1 ) 2 x 2 = x 1 (x 2 ) 1 (x 2 ) 2, temos que [(Id C Id C ) ( Id C ) ] (x) = [Id C Id C ]((x 1 ) 1 (x 1 ) 2 x 2 ) = = [Id C Id C ](x 1 (x 2 ) 1 (x 2 ) 2 ) = = x 1 (x 2 ) 1 ((x 2 ) 2 ) 1 ((x 2 ) 2 ) 2 Portanto, temos que vale a igualdade dada em (1.3). Observe agora que vale também (Id C Id C ) ( Id C ) = ( ) (1.4) De fato, temos que [( ) ] (x) = [ ](x 1 x 2 ) = (x 1 ) (x 2 ) = (x 1 ) 1 (x 1 ) 2 (x 2 ) 1 (x 2 ) 2 8
14 Por outro lado, [(Id C Id C ) ( Id C ) ] (x) = [Id C Id C ]((x 1 ) 1 (x 1 ) 2 x 2 ) = = (x 1 ) 1 (x 1 ) 2 (x 2 ) 1 (x 2 ) 2 Portanto, temos que vale a igualdade dada em (1.4). Por fim, temos também a igualdade ( ) = ( Id C Id C ) (Id C ) (1.5) De fato, já sabemos que [( ) ] (x) = (x 1 ) 1 (x 1 ) 2 (x 2 ) 1 (x 2 ) 2. Por outro lado, temos que [( Id C Id C ) (Id C ) ] (x) = [ Id C Id C ](x 1 (x 2 ) 1 (x 2 ) 2 ) = = (x 1 ) 1 (x 1 ) 2 (x 2 ) 1 (x 2 ) 2 Portanto, temos que vale a igualdade dada em (1.5). Logo, pelas igualdades dadas em (1.1),(1.2),(1.3),(1.4) e (1.5), obtemos o desejado, isto é, vale a igualdade (Id C Id C ) (Id C ) = ( Id C Id C ) (Id C ). Pelo que vimos durante a demonstração, em termos de elementos, o Lema significa que para qualquer x C, vale a igualdade (x 1 ) 1 (x 1 ) 2 (x 2 ) 1 (x 2 ) 2 = x 1 ((x 2 ) 1 ) 1 ((x 2 ) 1 ) 2 (x 2 ) 2. Neste caso, generalizamos nossa notação e denotamos x 1 x 2 x 3 x 4 para significar tanto o elemento (x 1 ) 1 (x 1 ) 2 (x 2 ) 1 (x 2 ) 2 quanto o elemento x 1 ((x 2 ) 1 ) 1 ((x 2 ) 1 ) 2 (x 2 ) 2, já que são iguais. Como apresentamos homomorfismo de álgebras através de diagramas, agora é natural pensarmos em homomorfismo entre coálgebras. Precisamente, temos: Definição Sejam C e D duas coálgebras com comultiplicações C e D e counidades ε C e ε D, respectivamente. Uma aplicação f : C D é um homomorfismo de coálgebras se os seguintes diagramas são comutativos: C f D C f D C D ε C ε D C C f f D D k Ou seja, f : C D é um homomorfismo de coálgebras se valem D f = (f f) C e ε D f = ε C. Em termos de elementos, e utilizando a notação de Sweedler, temos que para qualquer c C, valem f(c 1 ) f(c 2 ) = (f(c)) 1 (f(c)) 2 e ε D (f(c)) = ε C (c). 9
15 Quando acontece de um k-espaço vetorial ter tanto a estrutura de álgebra quanto a estrutura de coálgebra, podemos nos perguntar se estas estruturas são compatíveis. No caso positivo, obtemos as biálgebras. Precisamente, temos: Definição Um k-espaço vetorial B é dito uma biálgebra se existem aplicações k-lineares m : B B B, u : k B, : B B B e ε : B k tais que as três condições abaixo são satisfeitas: (i) (B, m, u) é uma álgebra; (ii) (B,, ε) é uma coálgebra; (iii) e ε são homomorfismos de álgebras. Observamos que quando (B, m, u) é uma álgebra e (B,, ε) é uma coálgebra, então e ε serem homomorfismos de álgebras é equivalente a m e u serem homomorfismos de coálgebras. Ou seja, quando B é uma biálgebra, temos que B tem estrutura de álgebra, estrutura de coálgebra, e essas duas estruturas são compatíveis, no sentido que e ε são homomorfismos de álgebras e m e u são homomorfismo de coálgebras. Esta compatibilidade é expressa pelas seguintes igualdades: (ab) = (a) (b) e (1 B ) = 1 B 1 B ε(ab) = ε(a)ε(b) e ε(1 B ) = 1 k para todo a, b B. Exemplo Já temos pelo Exemplo que (kg, m, u) é uma álgebra e pelo Exemplo que (kg,, ε) é uma coálgebra. Para verificar que kg é uma biálgebra, resta apenas verificarmos que e ε são homomorfismos de álgebras. Mas de fato, para quaisquer g, h kg, temos que vale (gh) = gh gh = (g g)(h h) = (g) (h) e (e) = e e, e portanto é um homomorfismo de álgebras. Além disso, ε(gh) = 1 k = 1 k 1 k = ε(g)ε(h) e ε(e) = 1 k, e portanto ε é também um homomorfismo de álgebras. Sejam (C,, ε) uma coálgebra e (A, m, u) uma álgebra. Obviamente temos que Hom k (C, A) é um k-espaço vetorial, já que tanto C quanto A são k-espaços vetoriais. Notemos que em Hom k (C, A) a soma é pontual, isto é [f + g](x) = f(x) + g(x), e de forma natural a multiplicação por escalares é dada por [αf](x) = αf(x) = f(αx), para quaisquer que sejam f, g Hom k (C, A), α k e x C. Em Hom k (C, A) definimos duas aplicações k-lineares, o produto convolução, que será denotado por, dado por f g = m (f g), para f, g Hom k (C, A), e a aplicação unidade, dada por u Homk (C,A) : k Hom k (C, A), onde definimos u Homk (C,A)(1 k ) = u ε, e estendemos linearmente. 10
16 Em termos de elementos, para quaisquer f, g Hom k (C, A) e c C, o produto convolução se traduz como [f g](c) = [[m (f g)] ](c) = [m (f g)]( (c)) = [m (f g)](c 1 c 2 ) = = m([f g](c 1 c 2 )) = m(f(c 1 ) g(c 2 )) = f(c 1 )g(c 2 ) Afirmamos que com estas duas aplicações Hom k (C, A) se torna uma álgebra. Para isso, precisamos verificar que valem as igualdades f (g h) = (f g) h e 1 Homk (C,A) f = f 1 Homk (C,A) = f, para quaisquer f, g e h Hom k (C, A). De fato, para qualquer c C, temos: [f (g h)](c) = f(c 1 )[(g h)(c 2 )] = f(c 1 )[g((c 2 ) 1 )h((c 2 ) 2 )] Por outro lado, [(f g) h](c) = [(f g)(c 1 )]h(c 2 ) = [f((c 1 ) 1 )g((c 1 ) 2 )]h(c 2 ) Desde que c 1 (c 2 ) 1 (c 2 ) 2 = (c 1 ) 1 (c 1 ) 2 c 2, para qualquer c C, temos que [f (g h)](c) = [(f g) h](c). Logo vale que f (g h) = (f g) h. Por fim, lembre que usualmente denotamos u Homk (C,A)(1 k ) := 1 Homk (C,A). Desde que definimos u Homk (C,A)(1 k ) = u ε, precisamos verificar que f (u ε) = f = (u ε) f De fato, para qualquer c C, temos que [f (u ε)](c) = f(c 1 )[(u ε)](c 2 ) = f(c 1 )[u(ε(c 2 )) = f(c 1 )[ε(c 2 )u(1 k )] = = f(c 1 ε(c 2 ))1 A = f(c) Logo, f (u ε) = f. De forma análoga, obtemos que (u ε) f = f. Com isso, concluímos que Hom k (C, A) é de fato uma álgebra. Lembremos agora que se B é uma biálgebra, então B tem tanto estrutura de álgebra quanto de coálgebra, portanto, pelo que vimos, Hom k (B, B) é uma álgebra. Estamos agora aptos a definir o principal objeto de nosso estudo, as álgebras de Hopf. Definição Seja (H, m, u,, ε) uma biálgebra. Dizemos que H é uma álgebra de Hopf se existe um elemento S Hom k (H, H) que é o inverso de Id H com relação ao produto convolução, isto é S Id H = 1 Homk (C,A) = u ε e também Id H S = u ε. A aplicação S é chamada antípoda de H. Em termos de elementos, para qualquer h H, temos [S Id H ](h) = [m (S Id H ) ](h) = S(h 1 )h 2 11
17 e analogamente [Id H S](h) = h 1 S(h 2 ). Desde que [u ε](h) = ε(h)1 H, temos que numa álgebra de Hopf valem as igualdades S(h1 )h 2 = h 1 S(h 2 ) = ε(h)1 H Notemos que em uma álgebra de Hopf H, temos que a antípoda S é única, visto que é o elemento inverso de Id H no produto convolução de Hom k (H, H). Exemplo Já tínhamos pelo Exemplo que kg era uma biálgebra. Para que kg seja uma álgebra de Hopf, resta apenas definir a antípoda. Seja S : kg kg dada por S(g) = g 1, onde g 1 denota o elemento inverso de g com relação a operação do grupo. Vamos verificar que S é de fato a antípoda de kg. Notemos primeiramente que: [u kg ε kg ](g) = u kg (ε kg (g)) = u kg (1 k ) = e Por outro lado, [S Id kg ](g) = S(g)Id kg (g) = S(g)g = g 1 g = e Logo, S Id kg = u kg ε kg. Da mesma forma obtemos que Id kg S = u kg ε kg. Portanto S é de fato a antípoda de kg. Definição Seja H uma álgebra de Hopf. Um k subespaço vetorial B de H é dito uma subálgebra de Hopf de H se B é uma subálgebra de H, uma subcoálgebra de H e S(B) B. Notemos que B ser uma subálgebra de H significa que m(b B) B e 1 H B, e B ser uma subcoálgebra de H significa que (B) B B. Assim, uma subálgebra de Hopf B de H tem a mesma unidade de H, e B é uma álgebra de Hopf com as estruturas induzidas de H. Exemplo kg. É fácil verificar que se T é um subgrupo de G, então kt é subálgebra de Hopf de Definição Sejam H e B duas álgebras de Hopf. Dizemos que f : H B é um homomorfismo de álgebras de Hopf se f é um homomorfismo de álgebras e também é um homomorfismo de coálgebras. Seria natural exigir que, além de homomorfismo de álgebras e de coálgebras, um homomorfismo de álgebras de Hopf f : H B também exigisse que S B f = f S H. Veremos na proposição a seguir que não é necessário fazer esta exigência, uma vez que sempre teremos esta igualdade para uma tal f que seja homomorfismo de álgebras e de coálgebras. Proposição Sejam H e B duas álgebras de Hopf e f : H B um homomorfismo de álgebras de Hopf. Então S B f = f S H. Em termos de diagrama, significa dizer que o diagrama 12
18 abaixo é comutativo: H f B S H S B H f B Demonstração. Considere a álgebra Hom k (H, B), e lembre que a multiplicação é dada pelo produto convolução e a unidade é dada por 1 Homk (H,B) = u B ε H. Temos que S B f e f S H são elementos de Hom k (H, B). Vamos mostrar que f é um elemento inversível em Hom k (H, B) com relação ao produto convolução. De fato, para qualquer h H, temos que [(S B f) f](h) = [S B f](h 1 )f(h 2 ) = S B (f(h 1 ))f(h 2 ) = S B ((f(h)) 1 )f(h) 2 = = ε B (f(h))1 B = [ε B f](h)1 B = ε H (h)1 B = ε H (h)u B (1 k ) = = u B (ε H (h)1 k ) = u B (ε H (h)) = [u B ε H ](h) = 1 Homk (H,B)(h) Logo, S B f é um inverso à esquerda para f, no produto convolução. Analogamente, temos [f (f S H )](h) = f(h 1 )[f S H ](h 2 ) = f(h 1 )f(s H (h 2 )) = f(h 1 S H (h 2 )) = = f(ε H (h)1 H ) = ε H (h)f(1 H ) = ε H (h)1 B = ε H (h)u B (1 k ) = = u B (ε H (h)1 k ) = u B (ε H (h)) = [u B ε H ](h) = 1 Homk (H,B)(h) Logo, f S H é um inverso à direita para f, no produto convolução. Com isso, temos que f é inversível, e portanto os inversos à esquerda e à direita coincidem, isto é f 1 = S B f = f S H, como queríamos. Veremos a seguir algumas propriedades úteis e interessantes sobre a antípoda S de uma álgebra de Hopf H. Proposição Seja (H, m, u,, ε, S) uma álgebra de Hopf. Então, para quaisquer g, h H, temos: (i) S(hg) = S(g)S(h); (ii) S(1 H ) = 1 H ; (iii) (S(h)) = S(h 2 ) S(h 1 ); (iv) ε(s(h)) = ε(h). Os itens (i) e (ii) da proposição acima fazem com que digamos que S é um anti-homomorfismo de álgebras, e os itens (iii) e (iv) fazem com que digamos que S é também um anti-homomorfismo de coálgebras. 13
19 Demonstração. (i) Consideremos na álgebra Hom k (H H, H), onde a multiplicação é dada pelo produto convolução e a unidade é dada por u Homk (H H,H)(1 k ) = 1 Homk (H H,H) = u H ε H H, as aplicações F, G : H H H dadas por F (h g) = S(g)S(h) e G(h g) = S(hg), para quaisquer g, h H. Vamos provar que F é um inverso à direita para m e G é um inverso à esquerda para m, donde segue que m é inversível e seu inverso é único, isto é m 1 = F = G, e com isso concluímos que S(g)S(h) = S(hg), g, h H. Seja h g H H. Temos que [m F ](h g) = m((h g) 1 )F ((h g) 2 ) = m(h 1 g 1 )F (h 2 g 2 ) = = h 1 g 1 S(g 2 )S(h 2 ) = h 1 (g 1 S(g 2 ))S(h 2 ) = h 1 ε H (g)1 H S(h 2 ) = = ε H (g)(h 1 S(h 2 )) = ε H (g)ε H (h)1 H = ε H (h)ε H (g)1 H = = ε H H (h g)1 H = [u H ε H H ](h g) = 1 Homk (H H,H)(h g) Logo, F é um inverso à direita para m, no produto convolução. Analogamente, temos [G m](h g) = G((h g) 1 )m((h g) 2 ) = G(h 1 g 1 )m(h 2 g 2 ) = S(h 1 g 1 )h 2 g 2 = = S((hg) 1 )(hg) 2 = ε H (hg)1 H = ε H (h)ε H (g)1 H = ε H H (h g)1 H = = ε H H (h g)u H (1 k ) = [u H ε H H ](h g) = 1 Homk (H H,H)(h g) Logo, G é um inverso à esquerda para m, no produto convolução. Portanto segue que F = G, e com isso S(g)S(h) = S(hg), g, h H, como queríamos. (ii) Sabemos que S(h 1 )h 2 = ε(h)1 H, para qualquer h H e também que (1 H ) = 1 H 1 H e ε(1 H ) = 1 k. Assim, em particular para h = 1 H, temos que S(1 H )1 H = ε(1 H )1 H, ou seja, S(1 H ) = 1 H. (iii) Consideremos na álgebra Hom k (H, H H), onde a multiplicação é dada pelo produto convolução e a unidade é dada por u Homk (H,H H)(1 k ) = 1 Homk (H,H H) = u H H ε H, as aplicações F, G : H H H dadas por F (h) = (S(h)) e G(h) = S(h 2 ) S(h 1 ), para qualquer h H. Vamos provar que F é um inverso à direita para e G é um inverso à esquerda para, donde segue que é inversível e seu inverso é único, isto é 1 = F = G, e com isso (S(h)) = S(h 2 ) S(h 1 ), h H. Seja h H. Temos que [ F ](h) = (h 1 )F (h 2 ) = (h 1 ) (S(h 2 )) = (h 1 S(h 2 )) = (ε(h)1 H ) = ε(h) (1 H ) = = ε(h)(1 H 1 H ) = ε(h)u H H (1 k ) = u H H (ε(h)1 k ) = u H H (ε(h)) = [u H H ε](h) Logo, F é um inverso à direita para, no produto convolução. Utilizando a notação da coassociativadade generalizada e o Lema , obtemos analogamente que [G ](h) = G(h 1 ) (h 2 ) = (S((h 1 ) 2 ) S((h 1 ) 1 ))((h 2 ) 1 (h 2 ) 2 ) = (S(h 2 ) S(h 1 ))(h 3 h 4 ) = = S(h 2 )h 3 S(h 1 )h 4 = S(((h 2 ) 1 ) 1 )((h 2 ) 1 ) 2 S(h 1 )(h 2 ) 2 = ε((h 2 ) 1 )1 H S(h 1 )(h 2 ) 2 = = 1 H S(ε((h 2 ) 1 )h 1 )(h 2 ) 2 = 1 H S(ε((h 1 ) 2 )(h 1 ) 1 )h 2 = = 1 H S(h 1 )h 2 = 1 H ε(h)1 H = [u H H ε](h) 14
20 Logo, G é um inverso à esquerda para, no produto convolução. Portanto segue que F = G, e com isso (S(h)) = S(h 2 ) S(h 1 ), h H, como queríamos. (iv) Sabemos que h 1 S(h 2 ) = ε(h)1 H e também que ε(hg) = ε(h)ε(g) e ε(1 H ) = 1 k, para quaisquer g, h H. Aplicando ε na igualdade h 1 S(h 2 ) = ε(h)1 H, obtemos que ε(h 1 S(h 2 )) = ε(ε(h)1 H ), e com isso ε(h 1 )ε(s(h 2 )) = ε(h)ε(1 H ) = ε(h). Desde que ε(h) k, h H, e tanto ε quanto S são k-lineares, temos que ε(h 1 )ε(s(h 2 )) = ε(s(ε(h 1 )h 2 )) = ε(s(h)). Ou seja, ε(s(h)) = ε(h), como queríamos. Quando a antípoda S da álgebra de Hopf H é bijetora, isto é, existe S 1 tal que S S 1 = Id H e também Id H = S 1 S, temos também que S 1 é um anti-homomorfismo de álgebras e de coálgebras. Ou seja, temos a seguinte proposição: Proposição Seja (H, m, u,, ε, S) uma álgebra de Hopf com antípoda S bijetora. Então, para quaisquer g, h H, temos: (i) S 1 (hg) = S 1 (g)s 1 (h); (ii) S 1 (1 H ) = 1 H ; (iii) (S 1 (h)) = S 1 (h 2 ) S 1 (h 1 ); (iv) ε(s 1 (h)) = ε(h). Além disso, de S Id H = u ε = Id H S, temos que vale também (v) S 1 (h 2 )h 1 = h 2 S 1 (h 1 ) = ε(h)1 H. Demonstração. Considerando as propriedades demonstradas na Proposição e que a antípoda S é bijetora, temos para quaisquer h, g H: (i) Note que hg = S(S 1 (h))s(s 1 (g)) = S(S 1 (g)s 1 (h)). Assim, aplicando S 1 em ambos os lados, obtemos que S 1 (hg) = S 1 (g)s 1 (h). (ii) Como S(1 H ) = 1 H, aplicando S 1 em ambos lados obtemos S 1 (1 H ) = 1 H. (iii) Lembre que denotamos (h) = h 1 h 2, h H. Mas, por outro lado, (h) = (S(S 1 (h))) = S((S 1 (h)) 2 ) S((S 1 (h)) 1 ). Disto, concluímos que h 1 h 2 = S((S 1 (h)) 2 ) S((S 1 (h)) 1 ). Assim, aplicando S 1 S 1 nesta igualdade, obtemos que S 1 (h 1 ) S 1 (h 2 ) = (S 1 (h)) 2 (S 1 (h)) 1, e por fim, aplicando o twist, obtemos que S 1 (h 2 ) S 1 (h 1 ) = (S 1 (h)) 1 (S 1 (h)) 2 = (S 1 (h)). Logo, (S 1 (h)) = S 1 (h 2 ) S 1 (h 1 ). (iv) Como h = S(S 1 (h)), temos que ε(h) = ε(s(s 1 (h))) = ε(s 1 (h)), onde a última igualdade vem do item (iv) da Proposição
21 (v) Temos S 1 (h 2 )h 1 = S 1 (h 2 )S 1 (S(h 1 )) = S 1 (S(h 1 )h 2 ), onde a última igualdade vem do item (i). Como S(h 1 )h 2 = ε(h)1 H, obtemos que S 1 (h 2 )h 1 = S 1 (S(h 1 )h 2 ) = S 1 (ε(h)1 H ) = ε(h)s 1 (1 H ) = ε(h)1 H. Analogamente obtemos que h 2 S 1 (h 1 ) = ε(h)1 H. Utilizaremos estas propriedades para obter um exemplo importante em nosso estudo. Exemplo Seja (H, m, u,, ε, S) uma álgebra de Hopf com antípoda S bijetora. Então temos que H cop := (H, m, u, cop, ε, S 1 ) é uma álgebra de Hopf com antípoda S 1, onde cop = τ, onde τ é o twist. No que segue, vamos considerar o dual linear Hom k (V, k) de um k-espaço vetorial V, que denotaremos por V. Para concluir esta seção, vejamos dois importantes resultados sobre álgebras e coálgebras. Estes resultados nos dão a dualidade entre estes conceitos, já que é a construção da estrutura de coálgebra em A a partir de uma álgebra A, quando esta tem dimensão finita, e também a construção da estrutura de álgebra em C a partir de uma coálgebra qualquer C. Sabemos da álgebra linear que quando V e W são dois k-espaços vetoriais, temos que aplicação Θ : V W (V W ) é injetiva, onde Θ(f g) é o funcional linear Θ(f g) : V W k dado por [Θ(f g)](v w) = f(v)g(w), para quaisquer f V, g W, v V e w W. Assim se os espaços V e W têm dimensão finita, então Θ é um isomorfismo. Dada uma aplicação φ : V W, denotamos por φ a aplicação φ : W V dada por φ (f) = f φ. Proposição Seja (C,, ε) uma coálgebra. Então C é uma álgebra. Demonstração. Definimos m C = Θ e u C = ε ψ, onde ψ : k k é o isomorfismo dado por [ψ(α)](x) = αx, para α, x k. Vamos provar então que (C, m C, u C ) é uma álgebra. Para isso, precisamos verificar que m C (m C Id C ) = m C (Id C m C ) e que para qualquer f C, vale que [m C (u C Id C )](1 f) = f = [m C (Id C u C )](f 1). Primeiro vejamos que para quaisquer f, g C e x C, temos que [m C (f g)](x) = f(x 1 )g(x 2 ). De fato, temos [m C (f g)](x) = [[ Θ](f g)](x) = [ (Θ(f g))](x) = [Θ(f g) ](x) = = [Θ(f g)]( (x)) = [Θ(f g)](x 1 x 2 ) = f(x 1 )g(x 2 ) 16
22 Vejamos também que para qualquer x C, temos [u C (1 k )](x) = ε(x), ou seja, u C (1 k ) = 1 C = ε. De fato, temos [u C (1 k )](x) = [[ε ψ](1 k )](x) = [ε (ψ(1 k )](x) = [ψ(1 k ) ε](x) = [ψ(1 k )](ε(x)) = 1 k ε(x) = ε(x) Agora, sejam f, g, h C e x C. Temos que [[m C (m C Id C )](f g h)] (x) = [m C (m C (f g) Id C (h))](x) = = [m C (m C (f g) h)](x) = [m C (f g)](x 1 )h(x 2 ) = f((x 1 ) 1 )g((x 1 ) 2 )h(x 2 ) Por outro lado, obtemos analogamente que [[m C (Id C m C )](f g h)] (x) = f(x 1 )g((x 2 ) 1 )h((x 2 ) 2 ) Como x 1 (x 2 ) 1 (x 2 ) 2 = (x 1 ) 1 (x 1 ) 2 x 2, aplicando f g h e utilizando o isomorfismo canônico de k k k em k, temos que f((x 1 ) 1 )g((x 1 ) 2 )h(x 2 ) = f(x 1 )g((x 2 ) 1 )h((x 2 ) 2 ) e portanto vale que m C (m C Id C ) = m C (Id C m C ). Além disso, também temos que [[m C (u C Id C )](1 f)] (x) = [m C ([u C Id C ](1 f))] (x) = = [m C (u C (1) Id C (f))] (x) = [m C (ε f)] (x) = ε(x 1 )f(x 2 ) = f(ε(x 1 )x 2 ) = f(x) Logo, [m C (u C Id C )](1 f) = f. Analogamente, obtemos também que [m C (Id C u C )](f 1) = f. Portanto (C, m C, u C ) é de fato uma álgebra. Notemos que, pelo que foi realizado, a multiplicação em C é o produto convolução e a unidade 1 C é a aplicação ε. Agora, vejamos a construção de uma coálgebra a partir de uma álgebra de dimensão finita. Suponha que (A, m, u) é uma álgebra de dimensão finita. Desde que A tem dimensão finita, temos que Θ : A A (A A) dada anteriormente é um isomorfismo, ou seja, podemos considerar Θ 1 : (A A) A A. Definimos então A = Θ 1 m e ε A = ϕ u, onde ϕ : k k é dada por ϕ(f) = f(1 k ), para qualquer f k. Veremos logo a seguir que (A, A, ε A ) é uma coálgebra. Antes, contudo, vejamos uma importante caracterização desta comultiplicação A. Notemos que A (f) = [Θ 1 m ](f) = Θ 1 (m (f)) = Θ 1 (f m) A A. Assim, se A (f) = n g i h i, onde g i, h i A para cada i = 1,..., n, obtemos então que Θ 1 (f m) = n g i h i. Portanto, aplicando Θ em ambos lados dessa última igualdade, concluímos que Θ(Θ 1 (f m)) = Θ( n g i h i ), ou seja, f m = Θ( n g i h i ). 17
23 Com isso, o que obtemos então foi que para qualquer a b A A, temos que vale a igualdade [f m](a b) = [Θ( n g i h i )](a b), e isto quer dizer que f(ab) = n g i(a)h i (b). Lembre que pela notação de Sweedler denotamos A (f) := f 1 f 2, portanto a construção acima garante que se A (f) = f 1 f 2, então f(ab) = f 1 (a)f 2 (b). Por outro lado, se existe uma família de pares de elementos {(g j, h j ) j J} A A tais que satisfazem finita g j (a)h j (b) = f(ab), para quaisquer a, b A, então temos que vale a igualdade [Θ( n g i h i )](a b) = [Θ( finita g j h j )](a b), e portanto Θ( n g i h i ) = Θ( finita g j h j ). Segue então da injetividade de Θ que finita g j h j = n g i h i = A (f). Utilizando a notação de Sweedler, o que obtemos foi que se f 1 (a)f 2 (b) = f(ab), para quaisquer a, b A, então A (f) = f 1 f 2. Desta forma, provamos o seguinte resultado: Proposição Seja A uma álgebra de dimensão finita e f A. Então A (f) = f 1 f 2 se e somente se f(ab) = f 1 (a)f 2 (b), a, b A. Estamos agora aptos a provar que A, com as aplicações A e ε A como dadas acima, é uma coálgebra. Proposição Seja (A, m, u) uma álgebra de dimensão finita. coálgebra. Então (A, A, ε A ) é uma Demonstração. Desde que A tem dimensão finita, temos que Θ dada anteriormente é um isomorfismo. Consideremos então A = Θ 1 m e ε A = ϕ u, onde ϕ : k k é dada por ϕ(f) = f(1 k ), para qualquer f k. Para provar que (A, A, ε A ) é uma coálgebra, precisamos então verificar que vale a igualdade ( A Id A ) A = (Id A A ) A e que para qualquer f A, vale [ε A Id A ]( A (f)) = 1 k f e também [Id A ε A ]( A (f)) = f 1 k. Seja f A. Temos que [( A Id A ) A ](f) = [ A Id A ]( A (f)) = [ A Id A ](f 1 f 2 ) = = A (f 1 ) Id A (f 2 ) = (f 1 ) 1 (f 1 ) 2 f 2 Por outro lado, de forma análoga, temos que [(Id A A ) A ](f) = f 1 (f 2 ) 1 (f 2 ) 2 Agora, notemos que para qualquer a b c A A A, temos que [(f 1 ) 1 (f 1 ) 2 f 2 ](a b c) = (f 1 ) 1 (a) (f 1 ) 2 (b) f 2 (c) = = f 1 (ab)f 2 (c) 1 k 1 k = f((ab)c) 1 k 1 k, 18
24 onde usamos a proposição anterior para garantir que (f 1 ) 1 (a)(f 1 ) 2 (b) = f 1 (ab) e também que vale f 1 (ab)f 2 (c) = f((ab)c). Por outro lado, de forma análoga, obtemos que [f 1 (f 2 ) 1 (f 2 ) 2 ](a b c) = f(a(bc)) 1 k 1 k. Desde que (ab)c = a(bc), concluímos que (f 1 ) 1 (f 1 ) 2 f 2 = f 1 (f 2 ) 1 (f 2 ) 2, ou seja, temos a igualdade ( A Id A ) A = (Id A A ) A, como queríamos. Para verificar que [ε A Id A ]( A (f)) = 1 k f, vejamos inicialmente que para qualquer f A, temos que ε A (f) = [ϕ u ](f) = ϕ(u (f)) = ϕ(f u) = [f u](1 k ) = f(u(1 k )) = f(1 A ), ou seja, ε A (f) = f(1 A ). Desde que f(1 A ) k, obtemos disto e da Proposição que para qualquer a A, vale que f(a) = f(1 A a) = f 1 (1 A )f 2 (a), ou seja, f 1 (1 A )f 2 = f. Da mesma forma, obtemos que f 2 (1 A )f 1 = f. Assim, [ε A Id A ]( A (f)) = [ε A Id A ](f 1 f 2 ) = ε A (f 1 ) Id A (f 2 ) = = f 1 (1 A ) f 2 = 1 k f 1 (1 A )f 2 = 1 k f, ou seja, [ε A Id A ]( A (f)) = 1 k f como queríamos. De forma análoga, obtemos que [Id A ε A ]( A (f)) = f 1 k. Logo, concluímos que (A, A, ε A ) é uma coálgebra. Podemos destacar destes últimos resultados que, quando (H, m, u,, ε, S) é uma álgebra de Hopf de dimensão finita, então (H, m H, u H, H, ε H, S ) é uma álgebra de Hopf. 1.2 Módulos de Hopf Nosso objetivo nesta seção será provar o Teorema Fundamental dos Módulos de Hopf. Para esse objetivo, introduziremos o conceito de comódulo, e assim como uma coálgebra tem o mesmo diagrama de definição que uma álgebra mas com as flechas invertidas, o comódulo se comporta da mesma forma mas com relação a definição de módulo. Portanto, começaremos essa seção dando uma definição de A-módulo à esquerda, utilizando diagramas e produtos tensoriais, mas ressaltamos que esta definição é equivalente a definição axiomática usualmente conhecida em textos clássicos. Observamos também que uma definição análoga pode ser feita para A-módulo à direita. Definição Sejam V um k-espaço vetorial e A uma álgebra sobre k. Dizemos que V é um A-módulo à esquerda se existe uma aplicação k-linear µ : A V V tal que os diagramas abaixo 19
25 comutam: A A V Id A µ A V k V u A Id V A V m A Id V µ = µ A V µ V V Notação Denotamos a imagem de um elemento a v pela aplicação µ por µ(a v) := a v e dizemos que µ é uma ação e que A age em V. Com a notação fixada acima, temos que o primeiro diagrama diz que µ (m A Id V ) = µ (Id A µ), onde m A é a multiplicação da álgebra A. Ou seja, para qualquer a b v A A V, temos [µ (m A Id V )](a b v) = [µ (Id A µ)](a b v) µ(m A (a b) Id V (v)) = µ(id A (a) µ(b v) µ(ab v) = µ(a (b v)) (ab) v = a (b v) e o segundo diagrama diz que para qualquer v V, temos que [µ (u A Id V )](1 k v) = v, onde u A é a aplicação unidade da álgebra A. Desde que [µ (u A Id V )](1 k v) = µ(1 A v) = 1 A v, temos a igualdade 1 A v = v. Como a aplicação µ é k-linear, temos que esta definição é naturalmente equivalente a definição axiomática tradicionalmente utilizada para definir um A-módulo. Exemplo Toda álgebra A é um A-módulo à esquerda via multiplicação m A de A. Definição Sejam A uma k-álgebra, M e N dois A-módulos à esquerda. Uma aplicação f : M N é um homomorfismo de A-módulos à esquerda se o seguinte diagrama é comutativo: A M Id A f A N µ M µ N M f N onde µ M : A M M é a ação de A em M e µ N : A N N é a ação de A em N. Ou seja, f : M N é um homomorfismo de A-módulos à esquerda se vale µ N (Id A f) = f µ M. Em termos de elementos, temos que para quaisquer a A e m M, vale f(a M m) = a N f(m). Definição Sejam V um espaço vetorial sobre k e C uma coálgebra sobre k. Dizemos que V é um C-comódulo à esquerda se existe uma aplicação k-linear ρ : V C V tal que os seguintes 20
26 diagramas comutam: V ρ C V V ρ C V ρ Id C ρ = ε Id V C V Id V C C V k V Assim, do primeiro diagrama temos a relação (Id C ρ) ρ = ( Id V ) ρ e do segundo diagrama temos que [(ε Id V ) ρ](v) = 1 k v, para todo v V. A seguir estabeleceremos uma notação semelhante e inspirada na notação de Sweedler para denotar a imagem de um elemento v V pela aplicação ρ. Notação Denotamos a imagem de um elemento v pela aplicação ρ por ρ(v) := v 1 v 0 e dizemos que ρ é uma coação. Notemos que v 1 C enquanto que v 0 V. Traduzindo os diagramas em termos de elementos, e utilizando a notação fixada acima, temos que para todo elemento v em um C-comódulo à esquerda V, vale pelo primeiro diagrama que [(Id C ρ) ρ] (v) = [( Id V ) ρ](v) [Id C ρ] (ρ(v)) = [ Id V ](ρ(v)) [Id C ρ] (v 1 v 0 ) = [ Id V ](v 1 v 0 ) Id C (v 1 ) ρ(v 0 ) = (v 1 ) Id V (v 0 ) v 1 (v 0 ) 1 (v 0 ) 0 = (v 1 ) 1 (v 1 ) 2 v 0 Ou seja, vale a igualdade v 1 (v 0 ) 1 (v 0 ) 0 = (v 1 ) 1 (v 1 ) 2 v 0. Neste caso, generalizamos nossa notação e escrevemos v 2 v 1 v 0 para significar tanto v 1 (v 0 ) 1 (v 0 ) 0 quanto (v 1 ) 1 (v 1 ) 2 v 0. Além disso, do segundo diagrama temos que para um elemento qualquer v V, vale que [(ε Id V ) ρ] (v) = 1 k v. Mas [(ε Id V ) ρ] (v) = [ε Id V ](ρ(v)) = [ε Id V ](v 1 v 0 ) = ε(v 1 ) v 0 = 1 k ε(v 1 )v 0. Assim, concluímos que para qualquer v V, vale que v = ε(v 1 )v 0. Exemplo Toda coálgebra C é um C-comódulo à esquerda via. 21
27 Definição Seja V um C-comódulo à esquerda via ρ : V C V. Um k-subespaço vetorial W de V é dito um C-subcomódulo à esquerda ou simplesmente subcomódulo se ρ(w ) C W. Observação Note que se W é um C-subcomódulo à esquerda de V, onde V é C-comódulo à esquerda via ρ : V C V, então W é ele próprio um C-comódulo à esquerda via ρ W : W C W dada por ρ W (w) = ρ(w) para todo w W. Nosso próximo teorema é conhecido como Teorema Fundamental dos Comódulos, e ele mostra que todo elemento não-nulo de um comódulo pertence a um subcomódulo de dimensão finita. Precisamente, temos: Teorema (Teorema Fundamental dos Comódulos) Seja V um C-comódulo à esquerda. Qualquer elemento v V pertence a um subcomódulo de dimensão finita. Demonstração. Seja V um C-comódulo à esquerda via ρ : V C V e considere {c i } i I uma base de C. Fixando v V, podemos escrever ρ(v) = i c i v i, onde apenas uma quantidade finita dos v i s é não-nulo. Considere agora W o k-subespaço vetorial de V gerado por esses v i s não-nulos. Note que W tem então dimensão finita. Como {c i } i I é uma base de C, temos que {c j c k } j,k I é uma base para C C. Portanto, para cada i tal que v i é não-nulo, temos que (c i ) = j,k c j α i j,k c k, onde apenas uma quantidade finita dos αj,k i s são não-nulos. Como V é um C-comódulo à esquerda via ρ, temos que (Id C ρ) ρ = ( Id V ) ρ Assim, [(Id C ρ) ρ] (v) = [( Id V ) ρ](v) [Id C ρ] (ρ(v)) = [ Id V ](ρ(v)) ( ) ( ) [(Id C ρ)] c i v i = [ Id V ] c i v i i i Id C (c i ) ρ(v i ) = (c i ) Id V (v i ) i i c i ρ(v i ) = j αj,k i,j,k(c i c k) v i i Portanto, aplicando c i Id C Id V na igualdade acima, para cada i tal que v i é não-nulo, obtemos que 1 k ρ(v i ) = 1 k α j i,k c k v j = 1 k α j i,k c k v j j,k j,k Logo, ρ(v i ) = α j i,k c k v j, e com isso ρ(v i ) C W. Portanto concluímos que W é um subcomódulo de V, onde W tem dimensão finita. 22
28 Agora, só nos resta verificar que v é combinação linear destes v i s, porque com isso teremos que v W, concluindo o desejado. De fato, temos que [(ε Id V ) ρ](v) = 1 k v. Mas temos que [(ε Id V ) ρ](v) = [ε Id V ](ρ(v)) = [ε Id V ]( i c i v i ) = = i ε(c i ) Id V (v i ) = i 1 k ε(c i )v i = 1 k i ε(c i )v i Assim v = i ε(c i)v i e portanto v W, como queríamos. Definição Sejam C uma k-coálgebra, M e N dois C-comódulos à esquerda. Uma aplicação f : M N é um homomorfismo de C-comódulos à esquerda se o seguinte diagrama é comutativo: M f N ρ M ρ N C M IdC f C N onde ρ M : M C M é a coação de C em M e ρ N : N C N é a coação de C em N. Ou seja, f : M N é um homomorfismo de C-comódulos à esquerda se vale ρ N f = (Id C f) ρ M. Em termos de elementos, e utilizando a notação estabelecida, temos que para qualquer m M, vale (f(m)) 1 (f(m)) 0 = m 1 f(m 0 ). Definição Sejam V um k-espaço vetorial e H uma álgebra de Hopf. Dizemos que V é um H-módulo de Hopf à esquerda se: (i) V é um H-módulo à esquerda; (ii) V é um H-comódulo à esquerda; (iii) ρ(h v) = h 1 v 1 h 2 v 0. Aqui estamos denotando naturalmente a ação de um elemento h H em v V por h v e a coação por ρ : V H V, onde denotamos ρ(v) := v 1 v 0. A condição (iii) acima é dita compatibilidade entre as estruturas de H-módulo e H-comódulo de V. Exemplo Seja H uma álgebra de Hopf. Então H é um H-módulo de Hopf à esquerda via ação dada pela multiplicação m e coação dada pela comultiplicação. O exemplo a seguir será importante para nosso estudo posterior, ele nos dá um exemplo simples de H-módulo de Hopf à esquerda. 23
29 Exemplo Sejam V um k-espaço vetorial e H uma álgebra de Hopf. Definimos em H V uma estrutura de H-módulo à esquerda fazendo h b v = hb v, para quaisquer h, b H, v V. Esta ação muitas vezes é dita trivial, pois os elementos de H agem somente na primeira posição tensorial de H V, via a multiplicação do próprio H. Também em H V definimos uma estrutura de H-comódulo à esquerda via ρ = Id V, isto é, ρ = Id V : H V H H V. Notemos que neste caso ficamos com ρ(h v) = h 1 h 2 v, para quaisquer v V, h H. Lembre que em nossa notação, ficamos com ρ(h v) := (h v) 1 (h v) 0. Assim, neste caso, temos (h v) 1 = h 1 e (h v) 0 = h 2 v. Afirmamos agora que H V com estas estruturas de H-módulo à esquerda e H-comódulo à esquerda é um H-módulo de Hopf à esquerda. Para tal, resta verificarmos apenas a compatibilidade dada pelo item (iii) da Definição De fato, sejam h, b H e v V. Então, ρ(b (h v)) = ρ(bh v) = (bh) 1 (bh) 2 v = b 1 h 1 b 2 h 2 v = = b 1 h 1 (b 2 (h 2 v)) := b 1 (h v) 1 b 2 (h v) 0. Veremos logo a frente que este exemplo caracteriza todos os módulos de Hopf, a menos de isomorfismo, isto é, todo H-módulo de Hopf à esquerda é isomorfo como módulo de Hopf a H V, onde H V é módulo de Hopf como descrito no Exemplo acima. Além disso, o k-espaço vetorial V é um espaço vetorial específico do H-módulo de Hopf, a saber o subespaço dos coinvariantes. Este resultado é conhecido como Teorema Fundamental dos Módulos de Hopf. Antes de chegarmos a esse resultado, vejamos duas definições: Definição Sejam V e W dois H-módulos de Hopf à esquerda. Dizemos que f : V W é um homomorfismo de H-módulos de Hopf se: (i) f é um homomorfismo de H-módulos à esquerda; (ii) f é um homomorfismo de H-comódulos à esquerda. Definição Sejam H uma álgebra de Hopf e M um H-comódulo à esquerda via a aplicação ρ : M H M. O conjunto M coh = {m M ρ(m) = 1 H m} é um k-subespaço vetorial de M que é chamado de subespaço dos coinvariantes de M. Teorema (Teorema Fundamental dos Módulos de Hopf) Sejam H uma álgebra de Hopf e M um H-módulo de Hopf à esquerda. Então a aplicação ϕ : H M coh M dada por ϕ(h m) = h m para quaisquer h H, m M coh é um isomorfismo de H-módulos de Hopf à esquerda. 24
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