CURSO DE PEDAGOGIA: POLÍTICAS EM QUESTÃO

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1 CURSO DE PEDAGOGIA: POLÍTICAS EM QUESTÃO Suzane da Rocha Vieira 1 No inicio de março de 2005, circulou o Projeto de Minuta da Resolução do Conselho Nacional de Educação que instituiria Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Pedagogia. Tal projeto suscitou na comunidade acadêmica intensos debates, provocados principalmente pelo Art 2º - O Curso de Pedagogia destina-se precipuamente à formação de docentes para a educação básica, habilitando para: a- Licenciatura em Pedagogia - Magistério da Educação Infantil; b- Licenciatura em Pedagogia - Magistério dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.(BRASIL, 2005). O fato da proposta de diretriz do Conselho Nacional de Educação reduzir a atuação do Pedagogo à licenciatura gerou diversos documentos e avaliações oriundos de fóruns de debates de natureza variada, entre eles as do Fórum de Diretores de Faculdades de Educação (FORUMDIR, 2005a, 2005b, 2005c; FREITAS, 2005), da Associação Nacional para Formação de Profissionais da Educação (ANFOPE, 1998, 2005a), da Associação Nacional de Administradores Educacionais, das organizações estudantis ligadas ao Curso de Pedagogia, entre outros (ANFOPE et alli, 2005a). Destaca-se que embora apresentando aspectos divergentes todas as manifestações foram unânimes em defender que o Curso de Pedagogia não deveria reduzir-se à docência. Entre os argumentos utilizados, foi possível identificar pelo menos quatro posições que compõem o problema em tela: a) a da ANFOPE; b) a do FORUMDIR; c) a dos 1 Professora do Departamento de Estudos Especializados em Educação do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC e Mestranda em educação no Programa de Pósgraduação da Universidade Federal de Santa Catarina, na Linha de Educação, História e Política.Endereço: Rua João Motta Espezin, 859 Saco dos Limões- Florianópolis- SC. Fone Endereço eletrônico: Suzanne@vetorial.net

2 intelectuais José Carlos Libâneo e Selma Garrido Pimenta e d) a do CNE. As posições da ANFOPE e do FORUMDIR concordam que o Pedagogo deve ser formado após a formação docente, conquanto no mesmo curso (FORUMDIR, 2005a; ANFOPE, 2005b). Essas posições vêm sendo construídas ao longo dos últimos anos. No entanto, a posição defendida por Libâneo e Pimenta apresenta da idéia de que o Curso de Pedagogia deve dedicar-se à formação do estudioso da educação, do especialista, afastando-o, desse modo, da formação docente (LIBÂNEO, 1998, 2002; LIBÂNEO E PIMENTA, 2002; PIMENTA, 2002). Finalmente, o projeto do CNE diverge dos anteriores, transformando o Curso de Pedagogia exclusivamente em um curso de formação de professores, relegando a um nível posterior de formação tanto o especialista em educação quanto o estudioso. Desse modo, observamos um espaço de disputa com relação os projetos para o Curso de Pedagogia. Portanto, o presente estudo pretende investigar as articulações teóricas existentes na proposição da Minuta de Diretrizes do Curso de Pedagogia e o modo pelo qual a correlação de forças políticas permitiu que ela emergisse na área educacional. Para isso, buscará se mapear o contraditório campo da produção educacional no Brasil, para que se possam apreender as determinações que estão na base da redução do curso de Pedagogia à docência. Sendo este trabalho da área de políticas públicas para a educação e da história da educação, o objetivo deste estudo é compreender o modo pelo qual historicamente se procura construir um dado perfil de professor e de intelectual da área e a institucionalização dessa formação. Mais particularmente, entender questões como: Por que o Estado definiu o Curso de Pedagogia como o local mais apropriado para a formação dos professores da Educação Infantil e das séries iniciais do Ensino Fundamental, quando este curso surge em 1939 formando bacharéis, técnicos em educação? Que modelo docente está aí impresso? Por que a formação do estudioso foi excluída e postergada para um outro nível de formação? Assim, analisaremos o conteúdo das políticas públicas relativas à formação de

3 professores para a Educação Infantil e Série Iniciais do Ensino Fundamental como tarefa do Curso de Pedagogia, sucessor e substituto dos recém criados Cursos Normais Superiores. A compreensão adequada dos objetivos desta política - e dos seus resultados institucionais e práticos - pressupõe acesso às fontes primárias como documentos do Ministério da Educação, do Conselho Nacional de Educação, documentos de associações da área, livros e documentos internacionais cuja relação com o tema esteja suficientemente clara, entre outros. Assim, tomaremos com fonte de análise: a Minuta de Resolução do CNE; os documentos do MEC sobre formação docente; a sugestão de resolução da ANFOPE; a sugestão de resolução do FORUMDIR; os documentos da Comissão Especialistas composta pelo MEC (1999 a 2001); as sínteses das reuniões das entidades que discutiram essas diretrizes; entre outros. Sendo este trabalho uma pesquisa em andamento, acreditamos que seus resultados contribuirão para que se esclareçam as determinações que dão sentido à política de formação de professores no Brasil. Nossa história tem sido pródiga em construir modelos docentes que respondem às demandas de interesses sociais e econômicos bastante definidos. Explicar as articulações entre a política de formação docente, de profissionalização do magistério, e a difusão de uma nova estratégia de formação - pedagogo-docente - constitui-se numa contribuição para o campo educacional. De outro lado, uma contribuição também será dada no que tange ao aspecto metodológico, posto que a estratégia de estudo proposta consiste em mapear os diversos documentos - de associações, do Estado, de agências internacionais que nos permita verificar as diversas posições teóricas e políticas em questão. Espera-se que este estudo possa apanhar as tendências da política educacional na virada do milênio e traga elementos para discutirmos a hipótese de que as mudanças sugeridas no Curso de Pedagogia podem estar relacionadas ao apelo à profissionalização docente em nível superior, ao mesmo tempo em que podem estar relacionados à criação de uma hierarquia entre os que serão professores - graduados em Pedagogia - e os que serão os gestores das escolas - os bacharéis ou os pós-graduados. Parte-se da hipótese de que

4 podemos estar em presença de uma das facetas da precarização do trabalho docente, conquanto venha revestida de elevação por estar sendo elevada ao nível superior. A gravidade da temática está dada e estudos que possibilitem apreendê-la e às suas determinações históricas são importantes para a área, particularmente para os que se preocupam com a formação do professor e do pesquisador em educação no Brasil. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ANFOPE (1998) IX Encontro Nacional da ANFOPE. Documento Gerador para debate nos grupos temáticos. Campinas. ANFOPE et alli. Considerações das entidades nacionais de educação - ANPEd, CEDES, ANFOPE E FORUMDIR - sobre a proposta de resolução do CNE que institui diretrizes curriculares nacionais para o Curso de Pedagogia. Brasília, 14 de abril de a Mimeo. ANFOPE et alli. Documento das entidades sobre a resolução do CNE. Abril de Campinas, 2005b. Mimeo. ANFOPE. Proposta da ANFOPE para a minuta de resolução sobre diretrizes da Pedagogia. Campinas, Mimeo. BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. CONSELHO PLENO. Projeto de Resolução. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Pedagogia. Brasília, BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (1996). Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96 de 20 de dezembro de Brasília: MEC. BRZEZINSKI, Iria. Perplexidades na formação de profissionais de Educação frente à LDB 9.394/96: a (re)significação da formação do pedagogo. In: 20ª Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação. Caxambu/MG, 1997.

5 DALE, R. Globalização e educação: demonstrando a existência de uma cultura educacional mundial comum ou localizando uma agenda globalmente estruturada para a educação? Educação, Sociedade & Culturas, nº 16, 2001, p EVANGELISTA, O. e SHIROMA, E. O. As políticas internacionais para a educação e suas repercussões no Brasil. Florianópolis: UFSC/ PPGE, texto para discussão, Mimeo. EVANGELISTA, O., MORAES, M. C. M. e SHIROMA, E. Política educacional. Rio de Janeiro: DP&A, EVANGELISTA, O., MORAES, M. C. M. e SHIROMA, E e TORRIGLIA, P. L. Iluminismo às avessas: produção de conhecimento e políticas de formação docente. Rio de Janeiro: DP&A, EVANGELISTA, Olinda. A profissionalização docente na produção da ANPEd Relatório parcial de pesquisa. Florianópolis: EED/CED/UFSC, FORUMDIR. Considerações do FORUMDIR sobre a proposta do Conselho Nacional de Educação de resolução que institui diretrizes curriculares para o Curso de Pedagogia. 2005a. Mimeo. FORUMDIR. Projeto de Resolução.Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para cursos de graduação em Pedagogia. 2005b. Mimeo. FORUMDIR. Proposta reformulada pelo FORUMDIR, a partir de seu Fórum Nacional realizado em Maceió, sobre a minuta do projeto de resolução do CNE. 2005c. Mimeo. LIBÂNEO, José Carlos e PIMENTA, Selma G. Formação dos profissionais da educação. In: Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas. São Paulo: Cortez LIBÂNEO, José Carlos. Ainda as perguntas: o que é pedagogia, quem é o pedagogo, o que deve ser o curso de Pedagogia. In: Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas. São Paulo: Cortez LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e profissão docente. São Paulo: Cortez, 1998.

6 MORAES, M. C. M. e TORRIGLIA, P. L. Educação light? Que palpite infeliz. Indagações sobre as propostas do MEC para a formação de professores, Teias, Rio de Janeiro: Revista da Faculdade de Educação da UERJ, ano 2, n PIMENTA, Selma Garrido (Org.). Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas. São Paulo: Cortez SCHEIBE, Leda; AGUIAR, Márcia Ângela. Formação de profissionais da educação no Brasil: o curso de pedagogia em questão. Educação & Sociedade. Campinas: Cedes, n o. 68, p. 17, dez, UNESCO. O perfil dos professores brasileiros: o que fazem, o que pensam, o que almejam. Pesquisa Nacional UNESCO. São Paulo: Moderna, 2004.