AULA Conteúdo da aula: Tipos de Governo. Sistemas de Governo. Regime político. Direitos Fundamentais (início).

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1 Turma e Ano: Flex A (2014) Matéria / Aula: Direito Constitucional / Aula 20 Professor: Marcelo Leonardo Tavares Monitora: Mariana Simas de Oliveira AULA 20 1 Conteúdo da aula: Tipos de Governo. Sistemas de Governo. Regime político. Direitos Fundamentais (início). TIPO DE GOVERNO A classificação de tipo de governo se preocupa com o modo como se adquire e se mantém o poder e com a relação entre os Estados e seus cidadãos. Atualmente, a classificação de tipo de governo é a estabelecida por Maquiavel em O Príncipe. O autor abre o livro com a afirmação de que os governos foram, são e serão sempre principados ou repúblicas. Monarquia A monarquia, quanto à aquisição e manutenção de poder, tem como características a hereditariedade e vitaliciedade. Também é marcada pela irresponsabilidade política do Chefe de Estado, ou seja, em regra o monarca não responsabilizado criminalmente nem civilmente. Já existiram monarquias eletivas, mas isso não é comum nesse tipo de governo. Em geral, ela está baseada, como dito, no critério de hereditariedade. No que tange à relação com os indivíduos, a monarquia é baseada no estabelecimento de classes, utilizando o critério de privilégio (títulos de nobreza). Cada tipo de título dá aquele que o recebe determinados privilégios e tem conotação pessoal. No Império do Brasil os títulos de nobreza tinham natureza patrimonial e podiam ser objeto de venda. Em alguns países isso não é possível. 1 Aula ministrada em 16\06\20114.

2 República A República, por sua vez, tem características diversas da monarquia: é baseada na assunção do poder pelo Chefe de Estado por um critério de mérito e não pela hereditariedade. Esse mérito pode ser medido por diversas formas, no entanto o mais comum é através da eleição. O poder, na República, é temporário e o Chefe pode ser responsabilizado, como no caso do Brasil em que o Presidente da República responde criminalmente e por infração política (impeachment). No que se refere à relação do Estado com os indivíduos, a República é avessa à criação de privilégios pessoais; o que ela suporta são as prerrogativas que se diferem dos privilégios porque são fundadas em razões funcionais, se apegando ao cargo e não à pessoa. A prerrogativa criada será adequada se ela tiver um fundamento razoável com as atribuições do cargo. SISTEMA DE GOVERNO A classificação de sistema de governo tem objeto bem mais restrito do que a classificação de tipo de governo. O tipo de governo está baseado na forma como o poder é adquirido, como se mantém, na responsabilidade do Chefe de Estado e na relação entre o Estado e o indivíduo. No sistema de governo, todavia, baseia-se apenas na forma de funcionamento do Poder Executivo. Teoricamente, existem no mundo ocidental quatro sistemas de governo: (i) Presidencialista, criação dos EUA. O sistema presidencialista é adotado pelos EUA e por todos os países da América Latina. Nesse tipo de sistema, há acumulação de chefia de Estado e de Governo; o presidente exerce um mandato com prazo certo e tem o direito de exercê-lo até o fim, a não ser que seja apeado do poder por cometimento de crime comum ou de responsabilidade. Diferentemente do parlamentarismo, para se manter no poder pouco importa a aprovação popular, pois há exercício de um mandato. (Isso não quer dizer que a baixa aprovação popular não seja relevante). Os ministros, no presidencialismo, ocupam cargos comissionados de nomeação livre do Presidente da República.

3 (ii) Parlamentarista, criação inglesa; Caracteriza-se o parlamentarismo pela divisão entre a Chefia de Estado e de Governo. O Chefe de Estado exerce, no Poder Executivo, as atribuições federativas, ou seja, a relação com outros Estados. Em geral é dele a atribuição de decretar a guerra, de fazer a paz, de se relacionar diplomaticamente. O Chefe de Estado pode ser um rei, como na Espanha, ou um presidente, como em Portugal. No caso de um parlamentarismo ligado à monarquia, o Chefe de Estado será vitalício. Já em um parlamentarismo ligado à República, o Chefe de Estado exercerá o poder temporariamente. No parlamentarismo Poder Executivo será formado por parlamentares. Os ministros são parlamentares e a Chefia de Governo também. A legitimidade do Poder Executivo no parlamentarismo é do Poder Legislativo. Presidencialismo Parlamentarismo Congresso Presidente Governo Povo Parlamento Povo Os ministros, no parlamento, são responsáveis por suas pastas, não ocupam cargos comissionados e são escolhidos pelo Parlamento. Como o governo é formado por parlamentaristas, governa-se com a lei, cabendo a quem está no governo apresentar projetos de lei. A oposição não apresenta projeto de lei, apenas o analisa. (iii) Diretorial, que hoje é praticado na Confederação Helvética (apesar do nome confederação, a Suíça é uma federação). O Governo é exercido de forma colegiada, a Chefia de Governo é reservada a Ministros. Em determinado momento o Chefe de Governo pode ser o ministro da Educação, depois o da Saúde, etc.

4 (iv) Semipresidencialista, que é praticado como, por exemplo, na França. O sistema semipresidencialista congrega características do presidencialismo e do parlamentarismo. Há separação entre chefia de Estado e de Governo, sendo este último integrado por parlamentares, mas montado pelo presidente. O Presidente acaba exercendo algumas atribuições de governo. Luís Roberto Barroso tem um trabalho defendendo a adoção do semipresidencialismo do Brasil. REGIME POLÍTICO O regime político, basicamente, pode ser autocrático ou democrático. A autocracia é o exercício do poder em nome de um ou de um grupo, enquanto a democracia é o exercício do poder em nome do povo. Existem três modelos de democracia: (i) (ii) Direta a decisão é adota diretamente pelo povo. Semidireta é representativa, mas que possui alguns mecanismos de participação direta. A democracia brasileira é semidireta. José Afonso da Silva afirma que a democracia brasileira é semidireta de natureza participativa, ou seja, além dos mecanismos normais eleitorais partidários existe também a participação de entidades não partidárias como sindicatos e ONG, que acabam influenciando no jogo político. (iii) Indireta ou representativa a decisão política é adotada pelo representante do povo. Fórmula de Lincoln exercício de poder pelo povo, para o povo, em nome do povo.

5 A democracia é norteada por quatro princípios regentes: (i) Princípio da liberdade. A liberdade necessária para a democracia não é apenas a formal. Fatores sociais agudos influenciam na liberdade de escolha das pessoas (aqueles que vivem em condições muito precárias tentem a ter menos liberdade nas suas escolhas políticas, pois fazem com que o seu voto adira àquele que eventualmente possa oferecer determinada vantagem econômica ou material que supra alguma necessidade imediata, como a comida). Um país de grande desigualdade social, como é o caso do Brasil, tem o aspecto da liberdade prejudicado. (ii) Princípio da igualdade. O voto de uma pessoa na democracia não pode valer mais do que o de outra ( um homem, um voto ). Há um recurso especial no Supremo pendente de julgamento, em que se discute a possibilidade de financiamento privado de campanha por pessoa jurídica. Os votos que já foram apresentados são no sentido de vetar esse financiamento sob o principal fundamento de que a empresa não é cidadã e não tem direito a voto, então qual seria a razão do financiamento político pelas pessoas jurídicas? (iii) Princípio da publicidade Deve existir na democracia liberdade de expressão, de imprensa, que não pode sofrer censura administrativa ou judicial. O CNJ tem uma comissão específica sobre liberdade de imprensa. (iv) Princípio da maioria Prevalece, na democracia, a vontade da maioria. Kelsen tem um livro chamado A democracia, trabalhando com o revés da maioria: a minoria tem direitos na democracia vinculados aos direitos fundamentais, que garantem a sua existência, servindo como cláusula de barreira da maioria.

6 DIREITOS FUNDAMENTAIS Teoria geral Os direitos fundamentais são um conjunto de direitos e liberdades institucionalmente previstos e positivados por um determinado Estado. Eles recebem essa denominação por serem fundamentais para a organização do Estado e para estabelecer o limite de poder do Estado em relação aos indivíduos. Quando tratamos da previsão de direitos protetivos de pessoas em instrumentos internacionais, o termo mais adequado é direitos humanos. O termo direitos fundamentais é o mais técnico quando nos referimos a direitos protetivos de pessoas positivados em cada Estado. O Brasil é signatário de tratados importantes em matéria de Direitos Humanos, cabendo destacar: em âmbito universal, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, da ONU (PIDCP), datado da década de 60, assinado pelo Brasil em 1992, e o Pacto Internacional de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais, também da ONU; em âmbito regional, o Brasil assinou o Pacto de São José da Costa Rica no início da década de 90. Outros tratados e convenções temáticas também são importantes, tanto no âmbito da ONU como da OEA: o Brasil é signatário das duas convenções contra a tortura, tratamento desumano, cruel e degradante. É signatário, ainda, do Tratado contra a Discriminação da Mulher e da Criança. A última convenção importante assinada pelo Brasil foi a da Proteção à Pessoa Deficiente, tendo sido aprovada pelo Congresso no rito do art.5º, 3º, da CF, passando a ter natureza de emenda constitucional. O termo direitos do homem é mais acadêmico, não sendo muito utilizado nos tratados ou no âmbito dos direitos fundamentais. Prosseguindo, segundo José Afonso da Silva, os direitos fundamentais se apresentam sob um aspecto subjetivo e objetivo: (i) no aspecto subjetivo o titular de um direito fundamental pode invocá-lo em face do Estado, gerando para ele uma obrigação, seja de abstenção ou de fazer. O aspecto subjetivo garante ao detentor uma posição de vantagem na relação jurídico-material; (ii) no enfoque objeto, os direitos fundamentais formam um complexo normativo limitador da atuação do Estado, atuando como cláusula de barreira da vontade da maioria.