TEMPO LIVRE: CONCEPÇÕES TEÓRICAS

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1 TEMPO LIVRE: CONCEPÇÕES TEÓRICAS E IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS A PARTIR DA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL Marcelo Campos Pereira Suely Amaral Mello Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Campus de Marília marcelocampo0@gmail.com suepedro@terra.com.br Eixo temático: Teoria Histórico- Cultural e Educação FREE TIME: CONCEPTS THEORY AND IMPLICATIONS EDUCATIONAL FROM THE HISTORICAL AND CULTURAL THEORY Resumo Este projeto aborda questões relativas à gestão do tempo livre pelas crianças na Educação Infantil sob a ótica da Teoria Histórico-Cultural e sua importância para a autorregulação da conduta. A hipótese norteadora da pesquisa é a de que a adoção de um tempo gerido pelas crianças na escola possibilita o exercício e as vivências necessárias para a formação do autocontrole da conduta como função psíquica superior. Nesse contexto, será necessária uma nova compreensão do que seja o tempo livre ou a gestão do tempo pelas crianças. A contribuição deste trabalho está em impactar os profissionais que atuam na Educação Infantil para a realização de uma reflexão crítica em torno do tema que os levem a repensar sua prática educativa com vistas a planejá-la, intencionalmente, garantindo às crianças o direito de viverem o tempo livre na instituição educativa. Na busca pela compreensão do tema, será realizada uma pesquisa de abordagem qualitativa de tipo exploratória, cuja intenção central será a familiarização com um assunto ainda pouco conhecido, pouco explorado, a fim de torná-lo mais explícito ou a abrir novas possibilidades de pesquisa. A pesquisa contemplará estudo bibliográfico, entrevistas semiestruturadas com professoras e crianças de 4 e 5 anos de uma escola municipal de Educação Infantil que vivenciaram práticas em relação ao problema pesquisado; e observação da rotina de uma turma aprofundando o olhar sobre as possibilidades de gestão do tempo livre pelas crianças. Palavras-chave: Educação Infantil; Tempo livre; Autorregulação da conduta. Abstract This project addresses issues concerning the management of free time for children in early childhood education from the perspective of Theory Historical-Cultural and its importance for the self-regulation of behavior. The guiding hypothesis of the research is that the adoption of a time managed by the children at school enables exercise and experiences necessary for the formation of self-control of behavior and higher mental function. In this context, a new understanding of what free time or time management by children will be required. The contribution of this work is to impact professionals who work in early childhood education to the achievement of a critical reflection on the theme that lead them to rethink their educational practice in order to plan it intentionally, guaranteeing children the right to live the free time in the educational 1

2 institution. In the search for understanding of the theme, a qualitative study of exploratory will be held, whose main intention is to become familiar with a subject still little known, little explored, in order to make it more explicit or open up new possibilities for research. The research will include bibliographical study, semistructured interviews with teachers and children 4 and 5 years of a municipal school of Early Childhood Education who experienced practices in relation to the researched problem; and observing the routine of class deepening look at the free time management opportunities among children. Keywords: Early Childhood Education; Free time; Self-regulation of conduct Introdução O interesse pelo tema surgiu em minha formação inicial e continuada como Professor de Educação Infantil quando conheci a Teoria Histórico-Cultural que me provocou a indagar até que ponto o processo de ensino e aprendizagem, foco de meu trabalho pedagógico, era exclusivamente por mim conduzido ou vivenciado de forma ativa pelas crianças. Essa provocação me fez refletir sobre as concepções de criança e infância que orientavam minha prática pedagógica. Compreendendo a criança numa visão adultocêntrica como um ser carente de proteção e dependente do adulto, eu não valorizava as potencialidades infantis. Diante da consciência da importância do meu papel como professor mediador dos processos de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, passei a questionar-me sobre a contribuição que eu oferecia para a plenitude desses processos, especialmente no tocante ao tempo livre para a organização de propostas de trabalho geridas pelas crianças. Nesse processo, surgiram os seguintes questionamentos: O que é o tempo livre na concepção da Teoria Histórico-Cultural?, Qual é a relação do tempo livre com a Educação Infantil e com o desenvolvimento das crianças de até 5 anos de idade? Na busca por respostas, senti a necessidade de, primeiramente, revisitar minhas concepções de criança e de infância e de educação porque, no meu entender, a valorização do tempo livre se fundamenta nesses conceitos, o que implicaria na mudança da prática pedagógica. Pensar os conceitos de criança, infância e educação como elementos fundamentais que orientam a prática educativa voltada para o pleno desenvolvimento infantil, implica na defesa de que, ele só pode ser promovido por meio de um ensino 2

3 deliberado, intencional e direto. Em outras palavras, se faz necessário proporcionar às crianças condições objetivas e concretas nas quais exerçam o papel de sujeitos ativos de sua aprendizagem. Leontiev (1988) corrobora conosco ao afirmar que a mudança do lugar ocupado pela criança no sistema das relações sociais é a primeira coisa que precisa ser notada quando se tenta encontrar uma resposta ao problema das forças condutoras do desenvolvimento de sua psique Mello (2007) analisa o desenvolvimento psíquico sob a perspectiva dialética e anuncia os elementos desse processo: a formação da inteligência e da personalidade por etapas, cujo processo inicia-se na infância e exigem as condições correspondentes de educação e ensino para sua formação, por isso, o professor deve organizar intencionalmente sua prática a fim de que a criança se aproprie da cultura fonte das qualidades humanas. A necessidade de pensar o conceito de aprendizagem na Educação Infantil conduz à ideia de que esse processo só é possível a partir de uma reflexão sobre o que é o desenvolvimento humano, tendo em mente que ela acontece em um processo contínuo e começa muito antes da aprendizagem escolar (VIGOTSKII, 1994, p. 109). A relação entre aprendizado e desenvolvimento constitui-se num movimento dialético e histórico, pois (...) a aprendizagem não é em si mesma, desenvolvimento, mas uma correta organização da aprendizagem da criança, conduz ao desenvolvimento mental, ativa todo um grupo de processos de desenvolvimento e esta ativação não poderia se produzir sem aprendizagem. (VIGOTSKII,1994. p. 109). Isso mostra a importância da prática pedagógica voltada para a apropriação de conhecimentos culturais visando às máximas possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento infantil. Nesse sentido, a Teoria da Atividade de Leontiev anuncia que, para haver aprendizagem e, portanto, desenvolvimento humano, é necessário que os fazeres pedagógicos sejam representativos para os sujeitos nela envolvidos e se configurem como atividade e não como simples exercício ou tarefa. Sobre o que é atividade, Mello (2003, p. 4) esclarece que, um fazer se configura quando o sujeito nela se envolve por completo. Quanto mais a atividade se relaciona a seus anseios e necessidades, mais a criança exterioriza alegria quando nela envolvida. Essa emoção é condição para a aprendizagem. 3

4 Já Marx (1989) apontava que a atividade prática consiste na base do desenvolvimento histórico-social dos homens e, também, do desenvolvimento individual. No decorrer da história, os homens foram construindo objetos para satisfazer suas necessidades sempre renovadas. Nesse processo, as necessidades biológicas, próprias do reino animal, foram sendo substituídas por outras mais complexas, a partir dessa complexificação, o homem foi construindo sua própria história, a história da humanidade. Portanto, a atividade, na concepção aqui defendida, é condição para que o homem se aproprie das qualidades humanas acumuladas nos objetos materiais e imateriais da cultura humana, para fazer delas os órgãos da sua individualidade. Leontiev (1978, p. 272) confirma essa ideia quando acentua que: As aquisições do desenvolvimento histórico das aptidões humanas não são dadas aos homens nos fenômenos objetivos da cultura material e espiritual que os encarnam, mas estão aí apenas postas. Para se apropriar destes resultados, para fazer deles suas aptidões, os órgãos de sua individualidade, a criança, o ser humano, deve entrar em relação com os fenômenos do mundo circundantes através dos outros homens, num processo de comunicação com eles. Assim, a criança aprende a atividade adequada e pela sua função este processo é, portanto um processo de educação. Leontiev (1988, p. 68) ajuda a entender essa proposição quando afirma que outro traço psicológico importante da atividade é que um tipo especial de experiências psíquicas emoções e sentimentos está especialmente ligado a ela. Portanto, não é qualquer prática que proporciona esse envolvimento das crianças no fazer pedagógico mas a atividade, que se constitui em processos psicologicamente caracterizados por aquilo que o processo, como um todo se dirige (seu objeto), coincidindo sempre com o objetivo que estimula o sujeito a executar esta atividade, isto é o motivo (LEONTIEV, 1988, p. 68). Pensar a aprendizagem e o desenvolvimento máximo das crianças pequenas, com foco no tempo livre, sinaliza para a valorização das atividades promotoras de desenvolvimento infantil que devem prioritariamente acontecer na escola. Tal preocupação se deve ao fato de que à medida que as crianças vão desenvolvendo a identidade, elas gostam de criar seus cantinhos. Também, para que esta atividade aconteça, é fundamental um tempo livre para que as crianças possam estabelecer relações de intimidade com os espaços, é importante ter um canto delas na sala. O espaço pode ser um 4

5 grande estímulo para seu autocontrole da conduta. (MELLO, 2011, p. 12). O Professor como mediador poderá, então, conscientizar-se da importância de garantir esse tempo às crianças na infância, mas, para isso, precisa conhecer a real e efetiva necessidade do tempo livre nas escolas da infância. Nesse contexto, as crianças são provocadas à apropriação dos instrumentos materiais e imateriais da cultura e o tempo livre é fundamental para o Professor observar e interagir em busca da plenitude do desenvolvimento da criança. Tendo em vista a importância da atividade para a complexificação do pensamento infantil e para a estruturação da personalidade da criança e tendo esclarecido os conceitos de criança, infância e educação para a Teoria Histórico- Cultural, voltamos ao problema central desta pesquisa que consiste na compreensão do que é o tempo livre, sua importância para o desenvolvimento infantil e as implicações pedagógicas dele decorrentes. Implicações pedagógicas entendidas aqui como as consequências da escolha de determinada teoria, ou a tomada de dada postura, para o ato pedagógico, para a ação docente, para o ensino e aprendizagem, ou seja, os resultados ou ações práticas a partir da teoria. Como já foi dito anteriormente a pesquisa será pautada nos estudos da Teoria Histórico-Cultural, que tem entre seus pesquisadores o soviético Lev Semenovitch Vigotski ( ), por compreender que essa teoria trata de forma aprofundada de elementos essenciais para a compreensão do desenvolvimento infantil. Acredito que, por meio da reconceituação do que seja o tempo livre, para os professores, podemos ampliar as discussões em torno das implicações pedagógicas dele decorrentes e promover uma reflexão crítica em torno do tema que leve outros professores a repensar sua prática educativa, com vistas a planejá-la intencionalmente. desta pesquisa. A partir das reflexões tecidas até o momento, apresento abaixo o objetivo geral 5

6 Objetivo geral: Compreender a importância do tempo livre para a formação da autorregulação da conduta na Educação Infantil. Uma vez delimitados o objeto de estudo desta pesquisa, sua justificativa, relevância e hipótese bem como seu objetivo, na sequência, apresento a metodologia da pesquisa, os sujeitos nela envolvidos bem como quando e onde ela será realizada. Metodologia Na busca pela compreensão do tema, será realizada uma pesquisa de abordagem qualitativa que contemplará as seguintes fases: - levantamento bibliográfico para o aprofundamento dos conhecimentos acerca do assunto. Servirão de base para realizar a revisão de literatura sobre o tema por meio de consulta a artigos, livros, trabalhos monográficos, dentre outros, possibilitando um amplo alcance do que existe, ou seja, sobre o que foi produzido a respeito do tema em questão. - entrevistas semi- estruturadas, cujos sujeitos da pesquisa serão duas professoras de turmas de Infantil I (4 anos) e Infantil II (5 anos) de uma escola municipal de Educação Infantil no município de Marília que vivenciaram práticas em relação ao problema pesquisado. - observação participante de práticas referentes ao tema em questão que, conforme Minayo (2000, p.135) será um processo pelo qual mantém- se a presença do observador numa situação social, com a finalidade de realizar uma investigação científica, que ao participar da vida dos sujeitos observados, no seu cenário cultural colherá dados. Também serão utilizados instrumentos como o registro em um diário de bordo, a gravação em áudio e a fotografia. 6

7 REFERÊNCIAS BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, DAVIDOV, V.V. La enseñanza y el desarrolo psíquico. Tradução de Marta Shuare. Moscou: Editorial Progresso,1988. DEMO, P. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez, ELKONIN, D. B. Psicologia do jogo. São Paulo: Martins Fontes, A periodização do desenvolvimento psicológico individual na perspectiva de Leontiev, Elkonin e Vigotski. Caderno Cedes, Campinas, v. 24, n. 62, p , abr Disponível em < Acesso em: 16 fev FRIEDMANN, A. O papel do brincar na cultura contemporânea. Revista Pátio, n. 32, p jul./set GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, LEONTIEV, A. N. O desenvolvimento do psiquismo. Tradução de Manuel Dias Duarte. Lisboa: Livros Horizonte, A. N. Uma contribuição para a Teoria do Desenvolvimento da Psique Infantil. In: VIGOTSKII, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. SP: Ícone/EDUSP, p MARX, K. Manuscritos econômicos-filosóficos. In: FERNANDES, F. (Org.). Marx e Engels: história. São Paulo: Ática, p (Coleção Grandes Cientistas Sociais),1989 MELLO.S.A. Direito à infância e práticas de Educação Infantil. São Carlos, Mimeo. S. A. Infância e humanização: algumas considerações na perspectiva históricocultural. Revista Perspectiva, Florianópolis, v.25, n.1, p , jan./jul Uma teoria para orientar o pensar e o agir docentes: o enfoque histórico- cultural na prática de educação infantil. Pompeia, Mimeo. MINAYO. M.C.S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 7. ed. São Paulo: Hucitec MUKHINA, V. Psicologia da Idade Pré-escolar. Tradução Claudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, p REPKIN V. V. Journal of Russian and East European Psychology, v. 41, n. 4, July\August 2003, p

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