Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Núcleo de Educação à Distância - Universidade de Pernambuco - Recife

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1 2 a edição Nead - UPE 2010

2 Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Núcleo de Educação à Distância - Universidade de Pernambuco - Recife P436l Pereira, Sônia Virgínia Martins Letras: Lingüística I/Sônia Virgínia Martins Pereira. Recife: UPE/NEAD, p. ISBN Teoria da Linguagem 2. Lingüística 3. Educação à Distância I. Universidade de Pernambuco, Núcleo de Educação à Distância II. Título CDD 410

3 Universidade de Pernambuco - UPE Reitor Prof. Carlos Fernando de Araújo Calado Vice-Reitor Prof. Reginaldo Inojosa Carneiro Campello Pró-Reitor Administrativo Prof. José Thomaz Medeiros Correia Pró-Reitor de Planejamento Prof. Béda Barkokébas Jr. Pró-Reitor de Graduação Prof.ª Izabel Cristina de Avelar Silva Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Prof.ª Viviane Colares S. de Andrade Amorim Pró-Reitor de Extensão e Cultura Prof. Álvaro Antônio Cabral Vieira de Melo NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Coordenador Geral Prof. Renato Medeiros de Moraes Coordenador Adjunto Prof. Walmir Soares da Silva Júnior Assessora da Coordenação Geral Prof.ª Waldete Arantes Coordenação de Curso Prof.ª Silvania Núbia Chagas Coordenação Pedagógica Prof.ª Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima Prof.ª Patrícia Lídia do Couto Soares Lopes Prof.ª Anahy Samara Zamblano de Oliveira Coordenação de Revisão Gramatical Prof.ª Angela Maria Borges Cavalcanti. Prof.ª Eveline Mendes Costa Lopes Administração do Ambiente José Alexandro Viana Fonseca Coordenação de Design e Produção Prof. Marcos Leite Equipe de design Anita Sousa Gabriela Castro Rodrigo Sotero Romeu Santos Coordenação de Suporte Adonis Dutra Afonso Bione Prof. Jáuvaro Carneiro Leão Edição 2010 Impresso no Brasil - Tiragem 150 exemplares Av. Agamenon Magalhães, s/n - Santo Amaro Recife - Pernambuco - CEP: Fone: (81) Fax: (81)

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5 5 Linguística I Prof. a Sônia Virgínia Martins Pereira Carga Horária 60 horas Temática Caminhos iniciais da linguística como a ciência da linguagem Ementa Estudo da ciência da linguagem: suas proposições teóricas, abrangência e alcance de suas possíveis aplicações. Percurso da concepção clássica de língua à teoria do signo. Modalidades oral e escrita da língua. O legado de Ferdinand Saussure e de Chomsky para os estudos e métodos de ensino de língua. Formalismo e Funcionalismo. Introdução aos estudos pragmáticos. Enfoque epistemológico dos conteúdos. Objetivo Geral Refletir sobre as proposições teóricas, abrangência e aplicações da Linguística, analisando o percurso dessa ciência, de seus postulados iniciais às teorias mais recentes. Apresentação Prezado(a) aluno(a) É com bastante satisfação que iniciamos este curso que pretende trilhar os caminhos percorridos pela Linguística até adquirir o estatuto de ciência da linguagem. E, para o percurso nessa trilha, sua companhia será indispensável, uma vez que você, como estudante do Curso de Letras, deverá estudar as disciplinas que embasam o seu curso de graduação, sendo a Linguística, dentre elas, um componente importantíssimo. Então, em nossa caminhada, introduziremos as abordagens teóricas e metodológicas que constituíram a Linguística como ciência autônoma e com um objeto de estudo próprio, no decorrer do século XX. Assim, neste capítulo 1 da disciplina Linguística l, trataremos dos estudos da linguagem e da constituição do campo da Linguística, trabalhando conceitos como língua e linguagem e outros não menos importantes, dado o enfoque da disciplina, a exemplo de questões relacionadas ao sistema, às normas da língua e à fala. Também estudaremos aspectos sobre a linguagem oral e escrita pela importância desses estudos para a composição dos domínios da ciência que nos

6 comprometemos em estudar. Por fim, colocaremos, em evidência, o legado de Saussure para a constituição desse domínio e do objeto de estudo dessa ciência, uma vez que o mestre genebrino é considerado o pai da linguística moderna, por ter proporcionado à linguística a condição de ciência independente. Por essas vias percorridas, esperamos que você se encante com esta disciplina e que isso seja, apenas, o primeiro passo de um agradável encontro com essa ciência. Então, o que você está esperando? Que tal começarmos agora a caminhada? Abraço, Prof. a Sônia Martins

7 Capítulo 1 7 Linguística I Temática 1 Prof. a Sônia Virgínia Martins Pereira Carga Horária 15 horas Os Estudos da Linguagem e a Constituição do Campo da Linguística Subtema: Língua, linguagem, sistema, norma, fala Língua e linguagem Comunicação animal e linguagem humana Sistema, norma e fala Fonte: blig.ig.com.br /aquinoriono.kit.net Língua Caetano Veloso Gosta de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões( ) E deixe os Portugais morrerem à míngua Minha pátria é minha língua Fala Mangueira! Fala! ( ) Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó O que quer O que pode esta língua? A língua é minha pátria E eu não tenho pátria, tenho mátria E quero frátria ( ) E deixa que digam, que pensem, que falem.

8 8 Capítulo 1 O que faz neste contexto a emblemática foto de Einstein junto com trechos da canção de Caetano? Aparentemente, não há nenhuma relação entre uma coisa e outra, ainda mais quando se pretende falar sobre os princípios fundadores da Linguística. Entretanto, quando se tem em mente que esses princípios estão ancorados em conceitos sobre a língua, não apenas como estrutura do aparelho fonador embora isto seja importante para a Fonética e a Fonologia, áreas da Linguística que estudam os sons da fala e também sobre a linguagem, parece-nos importante entender os princípios que regem esses conceitos. Primeiramente, gostaria que você refletisse sobre o que é a língua. Não o órgão mostrado por Einstein na foto, mas como o sistema cantado por Caetano em sua música. E então, já pensou? É, embora o primeiro verso da canção de Caetano traga uma fabulosa ambiguidade que nos deixa pensar sobre a língua de Camões, não só como órgão mas também e, principalmente, como sistema vivo que contribui para a comunicação e interação humana, a língua a que nos reportaremos é aquela com a qual podemos interagir com as pessoas e que nos leva a práticas de linguagem. Então, vamos trabalhar conceitos fundamentais para a Linguística, procurando entendê-los à luz de concepções teóricas específicas. Você já questionou sobre como surgiu a linguagem? Pois saiba que esta indagação faz parte da condição humana, visto que nós, seres humanos, procuramos sempre uma explicação para tudo o que existe. Questões sobre a Origem da Linguagem Humana da Comunicação Animal Para se falar sobre a linguística como a ciência da linguagem, é preciso delimitar, primeiramente, a que tipo de linguagem estaremos nos referindo. Logicamente que, para algumas pessoas, essa delimitação é bem nítida, uma vez que entendem que só se pode falar em linguagem, se tivermos como referência desse fenômeno o ser humano. Alguns teóricos utilizam até uma denominação diferenciada, quando se referem à comunicação animal. Este autor defende que os animais possuem o seu próprio sistema de signos que, em comparação com a linguagem humana, apresenta uma significativa distinção não só quantitativa mas também qualitativa. Então, já estabelecemos a primeira fronteira nesta disciplina, quando nos voltamos para os estudos da Linguística como ciência da linguagem humana. Agora, vamos nos ater a questões importantes que dizem respeito ao surgimento desse fenômeno próprio das relações humanas, na tentativa de ajudar você a entender como surgiu essa linguagem. Mas será que podemos dar apenas uma explicação para a origem da linguagem humana? Diante das mais diferentes teorias que tentam explicar como surgiu esse fenômeno, nosso papel como profissionais, que têm como instrumento de trabalho a linguagem, é o de tentar elucidar como estudos atuais, sob as mais diversas perspectivas, embasadas em estudos antropológicos ou de outras ciências que tentam explicar essa origem. VOCÊ SABIA? Teorias - Dentre as teorias que explicam o desenvolvimento da linguagem humana, há aquelas que não se voltam, apenas, para a gênese desse fenômeno com o foco em nossos ancestrais, mas igualmente, para o conhecimento de como essa linguagem é apropriada pelo ser humano. Um dos teóricos que se voltam para essa última questão apontada está Vygotsky, para quem é a necessidade de comunicação que impulsiona, primeiramente, o desenvolvimento da linguagem humana. Seu livro Pensamento e linguagem trata da origem e do processo de desenvolvimento do pensamento e da linguagem no ser humano, que, segundo o autor, têm origens diferentes e desenvolvem-se segundo trajetórias diferentes e independentes, antes que ocorra a estreita ligação entre esses dois fenômenos. Dentre as tendências atuais que abordam o tema, temos a que interrelaciona o crescimento cultural significativo ocorrido há cerca de 50 mil anos ao desenvolvimento da linguagem verbal, uma vez

9 Capítulo 1 9 que seria impossível esse florescimento sem as formas de linguagem estarem estruturadas. Por meio de estudos que pesquisam os objetos construídos pelos seres humanos ao longo de sua evolução e de registros pictóricos, a exemplo das pinturas rupestres encontradas em vários continentes, os antropólogos têm sustentado hipóteses interessantes sobre os caminhos percorridos pelos seres humanos, na construção de sua cultura material e simbólica, o que fortalece a ideia de que a origem da linguagem humana é bem mais remota do que se imaginava. A visão de Faraco, em seu artigo No rastro da fala, publicado no periódico Discutindo a língua portuguesa que trata da origem da linguagem humana a partir de uma perspectiva antropológica, a questão da linguagem está amplamente ligada à própria origem e evolução da humanidade, uma vez que se entende que o ser humano só pode construir cultura por meio da mediação da linguagem. Atividade Diante disso, pesquise, em outras fontes, o que diferentes perspectivas teóricas apontam como o início desse fenômeno, que é a linguagem humana. Após essa pesquisa individual, procure entender o porquê da linguagem, como realidade material que se apresenta por meio de uma língua, a qual se organiza por meio de sons, palavras, frases, ser autônoma; e como expressão de emoções, ideias, propósitos ser a própria linguagem, orientada pela visão de mundo, pelas condições do contexto social, histórico e cultural dos falantes. E quanto à comunicação animal, o que dizem as teorias a respeito disso? VOCÊ SABIA? Comunicação animal - Outra questão recorrente para a Linguística, além do conhecimento sobre a origem da linguagem humana, é a que trata sobre a comunicação animal. O polêmico texto de Emile Benveniste, Linguagem das abelhas, ajuda a definir o que é ou não linguagem permitindo confrontar o funcionamento do sistema de signos dos animais com as especificidades da linguagem humana. Podemos definir como se dá essa comunicação? Vejamos o que podemos apreender sobre a forma como os animais de comunicam. Comunicação elaborada ajuda animais a aproveitar as melhores flores. Citamos no início deste tópico que, ao diferenciar a linguagem humana da comunicação animal, alguns teóricos chegam a denominar essa comunicação como sistema de signos. Esse sistema seria tão limitado que não permite comparar, sequer em termos quantitativos, o que alcança a linguagem humana com seu poder de decompor e recombinar os signos verbais, o que gera infinitos enunciados bem como o poder de substituir a mediação da experiência pela mediação desses mesmos signos. VOCÊ SABIA? Signos - No terceiro tópico será visto mais amplamente o que é o signo, mas para uma compreensão inicial do conceito, podemos defini-lo como um elemento que representa ou expressa um objeto, um evento, uma situação. O termo computador, por exemplo, é um signo que representa o objeto computador; o símbolo 1 é um signo para a quantidade um; o desenho de um cigarro com um x sobre ele em um determinado ambiente é um signo que indica neste local não se pode fumar. Fonte: (Foto: H.R. Heilmann/Divulgando) g1globo.com/noticias/ciencia Por outro lado, os sistemas dos outros animais estão dominados pela mediação da experiência, quer seja para indicar fontes de alimento ou para a consecução de procedimentos para outras necessidades, tais como a procriação. Outra diferença significativa

10 10 Capítulo 1 entre os dois sistemas é no que se refere à significação, ao aspecto semântico. Enquanto na comunicação animal os signos têm sentido único, ou seja, são determinados semanticamente, na linguagem humana, os signos tornam-se plurissignificativos pelo seu uso na interação humana, que pode impulsionar a linguagem figurada, tornando, assim, a linguagem indeterminada semanticamente. Essas são apenas diferenças gerais que marcam a distinção entre a linguagem humana e a comunicação animal. Outros estudos sobre o tema podem levantar outras diferenças mais específicas a partir da ótica adotada pelos pesquisadores. Acima destacamos a grande diferença que há entre a linguagem humana e a comunicação animal. o sistema, que é o conjunto de possibilidades de uma língua, definindo o que pode e não pode ser linguisticamente realizado; a norma, conjunto de imposições sociais e culturais que favorecem o uso de determinadas possibilidades do sistema em detrimento de outras. Na Linguística, os termos sistema, norma e fala representam realidades distintas, mas que mantêm entre si relações de interdependência. Leia abaixo o quadro que traz uma homenagem ao Rio de Janeiro após esta cidade ter conquistado o direito de sediar as Olimpíadas de 2016: Que diferenças são essas que apontam tanto para uma distância quantitativa quanto qualitativa entre esses dois fenômenos? Pense nisso e aprofunde seus estudos sobre o tema. SAIBA MAIS! O capítulo 5 do livro Problemas de linguística geral, de Benveniste, Comunicação animal e linguagem humana, para aprofundar seus conhecimentos sobre esse tema. A partir do que foi exposto sobre língua e linguagem, vamos agora conhecer algumas definições importantes acerca de sistema, norma e fala, que são aspectos das línguas. Alguns linguistas conceituaram por diferentes perspectivas esses fenômenos, ampliando o que Saussure que estudaremos mais adiante - concebia a respeito disso. Entretanto, o que nos interessa neste momento é dar um panorama geral sobre eles, de forma mais didática. Em decorrência disso, vamos nos ater às concepções do linguista Eugénio Coseriu ( ), que definiu assim os conceitos que estamos estudando: Língua: sistema abstrato. Fala: realização concreta desse sistema. Para Coseriu, a língua pode ser vista a partir de dois níveis de abstração: seja maravilhosa Parabéns, Rio de Janeiro. A cidade-sede dos Jogos Olímpicos de veja Ler é indispensável. Fonte: Revista Veja Editora Abril edição 2133 ano 42 nº 40 7 de outubro de 2009 Esse enunciado mostra que por meio de uma única unidade da língua, nesse caso, um grafema, existe a possibilidade de variados sentidos serem construídos. A homenagem feita pela revista felicita o Rio de Janeiro, trocando, apenas, a palavra veja numa referência ao nome do periódico - por seja, aproveitando também o adjetivo atribuído à cidade, chamada de maravilhosa. VOCÊ SABIA? Entende-se por grafema a unidade formal mínima da escrita, que, uma vez sendo mínima, não é divisível, pois não pode se desmembrar em dois ou mais sinais que podem vir a ser considerados grafemas. É formal por ser abstrato, ou seja, não pode ser visto concretamente, embora vejamos a sua representação. Assim, as diferentes formas e os estilos da letra V vvv são representações, algumas ocorrências possíveis de um grafema.

11 Capítulo 1 11 Isso serve para entendermos os conceitos vistos anteriormente, uma vez que o sistema é o conjunto formado pelas unidades da língua que estão efetivamente em uso e também aquelas que podem vir a ser usadas, segundo regras estabelecidas. Como no exemplo dado, há várias palavras na língua portuguesa em que a troca de um fonema/grafema pode representar aspectos bem distintos, e os usuários podem entendê-las, uma vez que os sentidos desses vocábulos são construídos tacitamente pelos usuários da língua, e não, pelos gramáticos, que, apenas, as descrevem. Embora a língua evolua com a criação de novos termos que representam mais eficazmente a realidade de determinado contexto sócio-histórico, as modificações no sistema linguístico só se concretizam, quando assumidas pela coletividade. Assim, o sistema é a própria língua ou código linguístico e corresponde ao conjunto das possibilidades verbais dessa língua. VOCÊ SABIA? O fonema é a menor unidade sonora da língua. A palavra falada é constituída a partir da combinação dessas unidades mínimas de som, os fonemas. Na visão de Cosèriu, norma consiste nos padrões de uso da língua, na maneira como o sistema ou código linguístico é utilizado pelos usuários. Em decorrência da norma, os falantes utilizam certas possibilidades da língua ou descartam ou ainda nem utilizam outras. Daí, serem perfeitamente aceitáveis manifestações sintático-semânticas como seja maravilhosa ou veja maravilhosa, ou ainda Parabéns, Rio de Janeiro ou Rio de Janeiro, parabéns. E não serem aceitas construções como ler é maravilhosa. A norma determina a aceitabilidade ou não de tais construções. Quanto à fala, esta é considerada a concretização ou realização do sistema. É a particularização, o uso individual da língua pelos falantes. Por meio da fala, a língua exerce o seu papel de instrumento de comunicação, de meio de interação entre os usuários. Por isso, você, ao emitir a sequência [ pa.ta], que se associa ao significado para constituir o lexema ou palavra pata, está produzindo fala. Esse fenômeno é constituído de infinitos atos comunicativos, produzidos pelos falantes de uma língua, a fim de atuarem interacionalmente no mundo. E assim, pegando carona nos conceitos estudados na temática 1, vamos iniciar os estudos sobre a temática 2 deste capítulo, discutindo sobre a natureza das modalidades oral e escrita da língua. Temática 2 Modalidades Oral e Escrita da Língua Subtema: A linguagem oral e a linguagem escrita Subtema: A natureza da modalidade oral Subtema: A natureza da modalidade escrita Marcuschi (2001) ensina que a modalidade oral e a modalidade escrita da língua não devem ser vistas como realidades estanques, numa visão dicotômica que tenta, por vezes, legitimar a superioridade da escrita sobre a fala. Você concorda com essa visão de Marcuschi? Para esse pesquisador, tais modalidades devem ser vistas num contínuo 1, em que as diferenças entre elas se estabelecem pelas condições de produção em que se manifestam. Apesar de concordarmos plenamente com o que diz Marcuschi, entendemos que tanto a fala quanto a escrita apresentam particularidades de outras ordens que as tornam modalidades específicas da língua. Essas particularidades são, realmente, específicas de cada uma delas, a exemplo de elementos extralinguísticos, como a gesticulação, que contribuem para a interação na fala ou a reescrita de um texto em que se pode apagar, literalmente, trechos de texto anterior por meio de recursos do computador ou de liquid paper e borracha, na língua escrita. Em decorrência disso, apresentaremos, a seguir, algumas diferenças entre linguagem oral e linguagem escrita com base nos estudos de Chafe (1987), descritos por José Mário Botelho, o qual também coloca em destaque a natureza dessas duas modalidades da língua. 1 A ideia de contínuo em Marcuschi diz respeito ao que está fundado nos próprios gêneros textuais em que manifesta o uso da língua no dia-adia. O princípio geral subjacente a isso é a visão não dicotômica entre oralidade e escrita.

12 12 Capítulo 1 Entretanto, outros estudos são importantes para essa compreensão sobre as particularidades dessas modalidades, e, por isso, você deve procurar aprofundar esse tema em suas pesquisas particulares. Botelho descreve o contexto, a intenção do falante ou do produtor do texto escrito como sendo os fatores responsáveis pelas diferenças entre oralidade e escrita. Em resumo, apresenta as especificidades dessas diferenças a partir dos estudos de Chafe (1987), que analisou produções discursivas da oralidade conversação e conferência e produções discursivas da escrita carta e artigo acadêmico, buscando focalizar os modos como os produtores dos textos tanto orais quanto escritos fazem suas escolhas lexicais ou sintáticas para exporem suas ideias. A partir dessas observações, temos pontuadas as primeiras diferenças entre as duas modalidades: A escolha dos falantes é mais rápida enquanto a dos produtores de textos escritos é mais lenta, visto que estes podem desfrutar de mais tempo para elaborar suas ideias e revisar suas escolhas. Em decorrência do processo mais longo na escolha dos escritores, o vocabulário destes tende a ser mais variado e adequado à sua conveniência. Tanto a escolha lexical dos falantes quanto a dos escritores resultam na formatação de um estilo próprio e no monitoramento do grau de formalismo e coloquialismo de suas produções discursivas. Quanto a esse monitoramento, a distinção entre fala e escrita não é precisa, visto que as restrições operativas não estão ligadas propriamente à velocidade do processo. Em relação ao grau de formalismo ou de coloquialismo, isso envolve escolas estilísticas e de domínio do léxico que podem transferir-se de um modo de produção para outro sem nenhuma dificuldade. O artigo ressalta que Chafe elege a prosódia como a unidade relevante da fala, a qual chama de unidade de entonação. Na escrita, as unidades de entonação são mais longas do que na fala, sendo esta limitada em extensão pela memória de curto prazo ou capacidade de consciência focal do falante como também supõe o pesquisador, pela consciência que o falante tem das limitações de capacidade do ouvinte. VOCÊ SABIA? Entonação ou entoação é a variação de altura utilizada na fala que recai sobre uma palavra ou oração e não sobre fonemas e sílabas. Entonação e ênfase são elementos da prosódia que é um elemento de estudo da Linguística. (Wikipédia) VOCÊ SABIA? Dentre os tipos de memória existentes, há a memória de curto prazo ou memória de trabalho, que é aquela com capacidade limitada de armazenamento de informações, de alguns segundos ou, no máximo, de poucos minutos. O pesquisador tem por finalidade, através do seu estudo, demonstrar as propriedades da linguagem oral e da linguagem escrita e, para isso, utiliza esses parâmetros que o ajudam a estabelecer as especificidades de cada uma dessas modalidades: variedade de vocabulário, nível de vocabulário, construção de oração, construção de frase, distanciamento e envolvimento. SAIBA MAIS! Esses parâmetros estão descritos no artigo que sintetizamos e você pode estudá-los acessando o link a seguir. Leia o trecho do artigo de José Mário Botelho, disponível, na íntegra, em: O livro de Marcuschi Da fala para a escrita: atividades de retextualização é uma leitura de referência para o aprofundamento sobre a questão do contínuo entre linguagem oral e linguagem escrita. Vamos continuar nossa caminhada de estudos por caminhos diferentes, mas perseguindo a mesma reta de chegada, pois ainda discutiremos fundamentos valiosos para os estudos linguísticos, focalizando, apenas, as concepções de Ferdinand Saussure, o pai da linguística moderna.

13 Capítulo 1 13 Temática 3 Saussure e a Constituição do Domínio e do Objeto da Linguística Subtema: A língua como objeto da Linguística Subtema: O signo linguístico Subtema: O estruturalismo europeu Primeiramente, vamos sintetizar algumas ideias gerais sobre a história da Linguística e os processos vivenciados por essa ciência, para que você comece a construir algumas noções básicas a respeito dela, com base em alguns pesquisadores. Segundo Weedwood (2002), o termo Linguística passou a ser utilizado em meados do século XX, para distanciar a nova abordagem dos estudos da linguagem que se passava a fazer, a partir de então, de uma abordagem centrada na filologia. Atualmente, entretanto, a Linguística abarca todas as perspectivas que examinam os fenômenos da linguagem, inclusive os estudos gramaticais tradicionais e a filologia. Ela afirma que a Linguística tal como é vista hoje passou a demarcar seu território a partir de 1950, sob a influência das ideias estruturalistas de Ferdinand de Saussure. VOCÊ SABIA? Filologia - Joaquim Mattoso Câmara Junior (CÂMARA JÚNIOR, 1986, 117) afirma que filologia é um helenismo, que significa literalmente amor à ciência, usado, a princípio, com o sentido de erudição, especialmente quando interessada na exegese dos textos literários. Hoje designa, estritamente, o estudo da língua na literatura, distinto, portanto, da linguística. Essa afirmação sobre a influência de Saussure para o processo de constituição dos domínios da Linguística é bem aceita pelos pesquisadores, visto que é apenas, no início do século XX, com a divulgação dos trabalhos de Saussure, que a investigação sobre a linguagem passa a ser reconhecida como estudo científico, tornando-se uma ciência independente chamada Linguística. A obra fundadora dessa ciência, o Curso de Linguística Geral, foi publicada em 1916, por dois alunos de Saussure, a partir de anotações de aulas ministradas pelo mestre genebrino. VOCÊ SABIA? O Curso de Linguística Geral é uma obra póstuma organizada por Charles Bally e Albert Sechehaya, alunos de Ferdinand de Saussure. Tal obra inicia a fase estruturalista dos estudos da linguagem e apresenta os fundamentos teóricometodológicos dessa escola, os quais influenciaram outras ciências. Corroborando essas afirmações, Peter (2002) diz que Antes disso, a Linguística não era autônoma, submetia-se à exigência de outros estudos, como a lógica, a filosofia, a retórica, a história ou a crítica literária. O século XX operou uma mudança central e total dessa atitude, que se expressa no caráter científico dos novos estudos linguísticos, que estarão centrados na observação dos fatos de linguagem. Alguns autores dividem o campo da Linguística por meio de três dicotomias, sendo elas, a linguística sincrônica e a diacrônica, a linguística teórica e a aplicada, a microlinguística e a macrolinguística. Como lemos acima, a Linguística passou a ser considerada ciência com a contribuição dos estudos de Saussure, que, apesar de ter publicado poucas obras relevantes, o livro atribuído a ele, o Curso de Linguística Geral, editado a partir de anotações de aula de seus alunos Bally e Sechehaye, construiu as bases da linguística moderna. Em vista disso, Saussure é referência para qualquer teoria linguística atual.

14 14 Capítulo 1 Então vamos conhecer um pouco mais sobre os fundamentos teóricos de Ferdinand de Saussure, a começar da questão da língua como objeto da Linguística. A Língua como Objeto da Linguística Um retorno de novo, a língua, mas agora, sob a visão de Saussure... MINHA PÁTRIA É MINHA LÍNGUA A LÍNGUA É MINHA PÁTRIA Lembra-se dos versos da canção do Caetano? Pois é, reportamo-nos a eles novamente para falar que a língua é, segundo Ferdinand de Saussure, um sistema de signos, ou seja, um conjunto de unidades que estão organizadas formando um todo. Peter (2008) diz com relação à noção de língua definida por Saussure que este considerou a linguagem heteróclita e multifacetada por invadir vários domínios, sendo ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica; individual e social. visto que ela não se deixa classificar em nenhuma categoria de fatos humanos, pois não se sabe como inferir sua unidade (1969:17). Pelo fato de a linguagem envolver uma diversidade de problemas bastante complexos e de diferentes ordens, ela necessita da análise de outras ciências, além da investigação linguística. Em decorrência disso, Saussure a desprezou como objeto dessa ciência, por não se enquadrar naquilo que ele entendia como unidade. Para a configuração de um objeto de estudo, Saussure separa uma parte da linguagem, a língua um objeto, na visão dele, unificado e passível de classificação. Ela é uma parte essencial da linguagem; é um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos (1969:17). Para Saussure, a língua é, também, um sistema de signos um conjunto de unidades que se relacionam organizadamente no interior de um esquema. É a parte social da linguagem e se apresenta exterior ao indivíduo, por isso não pode ser modificada pelo falante, visto que obedece às convenções sociais estabelecidas pelos usuários dos sistemas linguísticos. Outro elemento importante para o binômio linguagem-língua, conforme Saussure, é a fala. A fala é um ato individual que resulta das combinações feitas pelo sujeito falante ao utilizar o código linguístico; expressa-se pelos mecanismos psicofísicos (atos de fonação), necessários à produção dessas combinações. Assim, tem-se a clareza de que a distinção linguagem/língua/fala situa o objeto da linguística para Saussure. Dessa distinção, resulta a divisão do estudo da linguagem em uma parte que investiga a língua e outra que analisa a fala. Essas duas partes, entretanto, são inseparáveis, pois mantêm uma relação de interdependência entre si, visto que a língua é condição para se produzir a fala, embora não haja língua sem o exercício da fala. Por essa perspectiva, há necessidade de duas linguísticas: uma da língua e outra da fala. Ferdinand de Saussure focalizou em seu trabalho a linguística da língua, por ser esta, em sua perspectiva, produto social depositado no cérebro. O Signo Linguístico Para você entender o que Saussure quis dizer sobre o sistema de signos, observe as imagens abaixo: Figura 1 Identificação Fônica Palavra portuguesa borboleta Decodificação [bor]- [bo]- [le]- [ta] [borboleta] Significado Pronúncia portuguesa Significado sonoro O significante gráfico é apenas ligado ao significante sonoro, único a pertencer ao signo. signo linguistico Fonte: cielo.com

15 Capítulo 1 15 diagramas são os signos que representam relações abstratas, a exemplo das fórmulas químicas. semiotica aplicada Santaella Essas imagens, especialmente a figura 1, podem ajudar a esclarecer que signo é a combinação entre o significante (imagem acústica) e o significado (conceito). É fundamental observar que, para Saussure, a imagem acústica não deve ser confundida com o som, visto que ela, da mesma forma que o conceito, é psíquica e não, física. A segunda imagem nos ajuda a esclarecer o que Saussure afirma sobre a questão de que a ligação entre o significante e o significado é arbitrária, pois o sistema, que é a língua, é formado de unidades abstratas e convencionais. Ou seja, não há razão plausível para que cadeira se chame cadeira, por exemplo. Fonte: studiofellixsatto.blogspot.com Numa fórmula química ou de qualquer outro tipo, há uma relação abstrata devido ao fato de tal relação ser apenas uma possibilidade de se concretizar algo. emblemas são as figuras às quais associamos conceitos, como a cruz, que nos remete ao Cristianismo. Ao vermos uma cruz cristã, reportamo-nos a uma série de conceitos referentes ao Cristianismo, seja aos que se ligam à morte e ressurreição de Cristo, seja aos que nos induzem à ideia de expiação de pecados, de perdão e outros que estão relacionados a fatos do Cristianismo. Assim, entendemos que o significado desse emblema como o de todo signo depende da visão de quem o interpreta. desenhos são os ícones e índices introduzidos por Peirce. Mas, uma vez que, na língua portuguesa do Brasil, convencionou-se a identificar assim esse objeto, ele passa a ter um valor na língua, as operações cognitivas o associam em nosso cérebro com a ideia de cadeira, e ninguém chama esse objeto por outro nome, a não ser por aquele convencionalizado. É assim que os signos constituem o sistema da língua. A fim de ampliar suas ideias sobre signo, conheça como diferentes téoricos o conceituam: Umberto Eco é um dos pensadores que tentaram sintetizar os conhecimentos sobre o signo, ampliando o seu conceito a partir de outros já consolidados. São estes os novos conceitos introduzidos por Eco: Ao se valer da metáfora destacada na chamada da notícia, o presidente Lula utilizou um ícone que mantém propriedades diretas com o objeto representado, que no caso, seriam os partidos opositores a seu governo. Os traços comuns das oposições com os jogadores que ficam no banco de reserva é que, assim como os reservas que são beneficiados seja por contusão, expulsão ou outro proble-

16 16 Capítulo 1 ma que ocorra com os jogadores que estão no time principal, o que lhes dá a chance de entrar nesse time é que há o desejo velado ou não de que algo aconteça com o titular (Lula) para que os reservas (oposição) possam assumir a vaga no time principal (governo federal). VOCÊ SABIA? Ícones para Peirce são aqueles signos que, na relação signo-objeto, indicam qualidade ou propriedade desse objeto por possuírem características em comum, no mínimo uma com o objeto representado. São exemplos de ícones metáforas e comparações, figuras lógicas e poéticas, quadros, desenhos, estruturas, modelos etc. Índices, na teoria de Peirce, são os signos em que na relação signo-objeto, há uma relação direta, casual e real com seu objeto. O ponteiro de um relógio é um índice. Charles Sanders Peirce foi o fundador do Pragmatismo e da Ciência dos Signos, a Semiótica. equivalências arbitrárias são os símbolos referidos por Peirce. Esses símbolos adquirem significação pelo que se convencionou atribuir a eles socialmente e não porque mantêm relação direta com o que representam. VOCÊ SABIA? Na perspectiva de Peirce, símbolos são signos em que a relação signo-objeto designa seu objeto independentemente da semelhança que mantenha com ele - como no caso do ícone ou das relações causais com o objeto como no caso do índice. Os símbolos são, portanto, signos arbitrários cuja ligação com seus objetos é estabelecida por leis convencionadas. sinais são as imagens às quais estão associados conjuntos de conceitos, como as placas de trânsito. Nesta imagem, está conjugada uma série de conceitos resultantes de um único, que é o exposto, proibido virar à esquerda. A partir desse conceito geral, outros decorrem e alertam para o Proibido virar à esquerda fato de que, caso você desconsidere a orientação, pode colidir com outro veículo, pode ser multado, pode desviar-se muito do caminho pretendido etc. símbolos kanji Fonte: casadart. com Roman Jakobson nos ajuda a entender os signos linguísticos, porque introduziu o conceito das funções da linguagem: emotiva, injuntiva, referencial, fática, metalinguística e poética. Morris e Greimas sustentam a ideia de que tudo pode ser signo, o que torna demasiadamente abrangente esse conceito. Entretanto, Morris contribui com a seguinte divisão entre os signos: Quando o signo é considerado em sua estrutura, no modo com que se relaciona e suas possíveis combinações, temos um signo sintático.

17 Capítulo 1 17 Quando se analisa a relação entre o signo e seus respectivos significados, estamos diante de um signo semântico. Quando nos voltamos para o estudo do valor, das reações e do modo como o signo é utilizado, temos um signo pragmático. Nosso já conhecido Ferdinand de Saussure é também considerado o pai da Semiologia por ter criado esse conceito e estabelecido o objeto de estudo dessa ciência. Sua concepção de signo se opõe à de Peirce, pois distingue o mundo da representação do mundo real. Para ele, não há signos motivados, aqueles que apresentam uma relação de causa-consequência com exceção da onomatopeia. Saussure classifica os signos em dois grupos: Relativamente motivados a onomatopeia, que para Peirce corresponde ao ícone. Arbitrários, nos quais não existe motivação. VOCÊ SABIA? A Semiologia foi definida no início do século XX por seu criador, Saussure, como a ciência que estuda os signos na vida social. Ele apresenta as relações presentes no signo, sendo elas: Relações sintagmáticas, que se baseiam na linearidade do signo lingüístico, a qual exclui a possibilidade de se pronunciarem dois elementos simultaneamente, visto que a língua é formada por elementos que se sucedem um após o outro, na cadeia da fala. Essa relação é denominada por Saussure de sintagma. Na cadeia sintagmática, um termo tem valor a partir da relação que estabelece com aquele que o precede ou o sucede ou a ambos em virtude do caráter linear. Relações paradigmáticas, que se estabelecem com base na similaridade de sons, como nas rimas, aliterações, assonância. Baseiam-se na similaridade de sentido, na associação entre o termo presente, no enunciado e a simbologia que esse termo aciona em nossa mente, como no caso da metáfora. Em Louis Hjelmslev, temos os conceitos de Saussure vistos de forma mais complexa. Ele substitui os termos saussureanos significante por expressão e o significado por conteúdo. A expressão e o conteúdo possuem dois aspectos: forma e substância, que, em Saussure, são algumas vezes confundidos com significante e significado. Assim, para Hjelmslev, os signos são constituídos de quatro elementos, diferentemente de Saussure, para quem são dois. Numa perspectiva diferenciada do que vimos até aqui sobre o signo, temos em Mikhail Bakhtin a concepção de signo linguístico à luz da obra Marxismo e Filosofia da Linguagem. A relação entre os usos da linguagem e as estruturas sociais fundamenta os trabalhos de Bakhtin, pois coloca a consciência individual e os fenômenos ideológicos produzidos pelo discurso- como sendo influenciados pelas estruturas sociais e econômicas. Em decorrência disso, Bakhtin concebe o signo linguístico não como um sinal imóvel, neutro e univalente e sim, como um signo sócio-ideológico, no qual se destacam alguns princípios: sua natureza dialética como produto de uma realidade material (uma imagem sonora), ele refrata uma outra realidade (representações e avaliações de um campo ideológico); sua natureza dialógica porque traz consigo interações verbais dos indivíduos e dos grupos que o constituem bem como diálogos entre numerosos discursos - e de natureza polifônica - por sustentar diferentes temas, conforme o horizonte social e ideológico originado no ato de enunciação. Atividade Que tal você fazer um mapeamento das semelhanças e divergências entre esses conceitos de signo? O Estruturalismo Europeu O que trataremos neste tópico volta-se para a linguística estrutural que começa em 1916, na Europa, com a publicação do Curso de Linguística Geral, após a morte de Saussure. Weedwood (2002) afirma que o estruturalismo saussuriano pode ser resumido em duas dicotomias:

18 18 Capítulo 1 langue em oposição à parole. Ainda que o termo francês langue possa ser traduzido literalmente por língua, segundo a autora, é melhor traduzi-lo por sistema linguístico, que seria mais técnico. E, como exposto em tópicos anteriores, esse termo diz respeito ao conjunto de regularidades e padrões de formação que estão no seio dos enunciados de uma língua. parole, também termo francês que pode ser traduzido por comportamento linguístico e que nomeia os enunciados reais. Para Saussure, dois enunciados podem ser considerados diferentes um do outro, sob diferentes prismas e, contudo, ser reconhecidos como ilustrações, em certo sentido, do mesmo enunciado. Lembre-se dos versos da música Língua, de Caetano Veloso: MINHA PÁTRIA É MINHA LÍNGUA A LÍNGUA É MINHA PÁTRIA É importante que você tenha a clareza de que este estruturalismo a que nos referimos, no qual se destacam a Escola de Praga, representada por Trubetzkoy ( ) e Roman Jakobson ( ) e a Escola de Copenhague, com foco em Louis Hjelmslev ( ), distingue-se do estruturalismo americano, que tem outros representantes e algumas implicações diferenciadas, a partir do contexto em que ele é empregado. Ainda assim, o estruturalismo americano mantém variadas características do europeu, que, como vimos, se fundamenta no pensamento de Saussure. Atividade Uma reflexão rápida: 1. Que ideias do estruturalismo europeu podem ser ampliadas a partir do pensamento atual, sob diferentes enfoques teóricos a respeito de sistema linguístico e enunciado? 2. O que você entende por enunciado? LEIA MAIS! A obra de Saussure Curso de Linguística Geral pode ser consultada no sítio http// Estas e outras questões são importantes para trabalharmos a temática 4 que trata das dicotomias saussereanas. Vamos a elas! Nesse enunciado, que cita um enunciado anterior uma frase de Fernando Pessoa há diferenças quanto à organização sintática, ao contexto linguístico e discursivo, ao contexto extralinguístico e outras, pois há dois enunciadores nos versos que compõem esse ato de enunciação. Entretanto, esses dois enunciados têm em comum uma identidade de forma, e esta forma, para uns, ou estrutura, ou padrão, para outros, estabelece-se, em princípio, de forma independente da substância, ou matéria bruta, sobre a qual é imposta. Em resumo, a corrente a que denominamos Estruturalismo, no sentido europeu, então é um termo que se refere à concepção de que existe uma estrutura relacional abstrata que é subjacente e deve ser distinguida dos enunciados reais um sistema que subjaz ao comportamento real sendo ela o objeto primordial de estudo da linguística. Temática 4 As Dicotomias Saussereanas Subtema: língua e fala Subtema: significante e significado Subtema: diacronia e sincronia Subtema: relações paradigmáticas e relações sintagmáticas Do que falamos aqui, da origem da linguagem humana ao estruturalismo saussureano, podemos agora fazer uma retomada e conhecer um pouco mais sobre as contribuições de Saussurre para a consolidação da Linguística como ciência independente. Para isso, vamos conhecer, em linhas gerais, o que é exposto no Curso de Linguística Geral sobre alguns princípios a respeito das dicotomias. Os estudos linguísticos do século XIX tinham por base um ponto de vista histórico que não questionavam os atos de linguagem nem seu funcionamento. Ferdinand de Saussure ( ) passa a

19 Capítulo 1 19 alicerçar esses estudos sob um ponto de vista estruturalista e mostra que cabia à Linguística ampliar seu campo além do estudo dos signos. Neste tópico, vamos estudar as dicotomias saussereanas que fundamentam os pressupostos estruturalistas. São elas: Semiologia x Linguística Significado x Significante Arbitrariedade x Linearidade Língua x Fala Sincronia x Diacronia Sintagma x Paradigma Grande parte dessas dicotomias foram vistas ao longo das temáticas anteriores, mas, nesta temática, pretendemos abordar aspectos não vistos sobre os princípios que regem essas dicotomias, ainda que de forma geral. Miró Fonte: torneirasdefreud.blogspot.com Semiologia e Linguística Teoria geral dos signos que se volta para a análise sobre o que eles consistem e as leis que os comandam. Ela difere da Linguística, porque esta é apenas uma parte daquela ciência geral. Enquanto a Linguística restringe-se ao estudo científico da linguagem humana, a Semiologia, além de se voltar para esse tipo de linguagem, preocupase, também, com a dos animais e de todo e qualquer sistema de comunicação, seja natural ou convencional. Dois termos enfocam o mesmo objeto: Semiologia que surge na Europa, com Saussure e Semiótica, nos Estados Unidos, com Peirce. Significado e Significante Já compreendemos que o signo linguístico é para Saussure a união do conceito, que o signo traz consigo, e a imagem acústica. O conceito, que também pode ser chamado de ideia, é a representação mental de um objeto ou da realidade em que o indivíduo está inserido, sendo tal representação condicionada pela formação sócio-cultural que influencia nossa existência desde o nascimento. semiologia da imagem Fonte: dueloaosol.blogspot.com Assim, para Saussure, conceito é igual a significado plano das ideias que se contrapõe ao significante plano da expressão. Mas é preciso ressaltar que a imagem acústica não é o som material, algo puramente físico, mas a impressão psíquica desse som. Ou seja, a imagem acústica é o significante. Como resultado disso, entendemos que o signo linguístico é uma entidade psíquica composta por duas faces: o significante e o significado, que estão imbricados e um necessita do outro. Não pode haver, portanto, significado sem significante. Para exemplificar, tomamos como exemplo uma

20 20 Capítulo 1 atitude corriqueira de alguém pedir água. Quando essa pessoa recebe a impressão psíquica transmitida pela imagem acústica ou significante - / agwa/ a partir da qual se manifesta fonicamente o signo água, essa imagem acústica, de imediato, suscitalhe psiquicamente a ideia de líquido a ser bebido. Arbitrariedade e Linearidade A afirmação de que o signo linguístico é arbitrário evoca a ideia de que o significado não depende da escolha autônoma de quem fala, logo o significante é imotivado, ou seja, é arbitrário em relação ao significado, com o qual não estabelece nenhuma relação natural na realidade. Com isso, entendemos por que Saussure afirma que a ideia conceito ou significado de mar não mantém nenhuma relação necessária e intrínseca com a cadeia de sons ou imagem acústica ou significante /mar/. Melhor dizendo, nada impediria que o significado mar fosse representado por outro significante qualquer. Decorrem disso as diferenças de vocábulos que designam os mesmos significantes entre as línguas, a exemplo da mesma palavra mar, que tem diferentes significantes em francês, inglês, alemão ou em outra língua. Ainda que tenha assegurado que o signo linguístico é arbitrário em sua origem, Saussure reconhece a possibilidade de existência de certos graus de motivação entre o significante e o significado. Em vista disso, ele admite a existência de um arbitrário absoluto, exemplificado na relação pera/pereira, na qual a palavra primitiva pera seria um bom exemplo de arbitrário absoluto signo imotivado. um arbitrário relativo, exemplificado pelo substantivo derivado pereira, tendo por substantivo primitivo pera, seria considerado um arbitrário relativo signo motivado, decorrente da relação sintagmática pera (morfema lexical) aglutinado à eira (morfema sufixal que remete à noção de árvore) e à relação paradigmática, originada a partir da associação de pereira a laranjeira, bananeira etc pelo conhecimento que já se dispõe da significação dos elementos formadores. VOCÊ SABIA? Língua e Fala Esta dicotomia é fundamentada na oposição entre social e individual, uma vez que Saussure afirma ter a linguagem uma dimensão individual e outra social, ressaltando que é impossível uma dispensar a relação com a outra. Em relação à língua, Saussure a considera um produto social da linguagem e um conjunto de convenções necessárias assumidas pelo corpo social, a fim de que seja permitido aos indivíduos o exercício dessa faculdade. A língua é um bem comum e sendo assim carrega consigo a experiência histórica acumulada por cada povo ao longo de sua trajetória. Por isso, cada língua tem as suas especificidades, que, às vezes, dificultam a tradução de determinadas expressões idiomáticas que lhes são próprias. Assim, a língua não está completa em ninguém e é só na coletividade que ela existe de modo completo, assinala Saussure. Dessa forma, o indivíduo sozinho não pode nem criar nem modificar a língua, pois transformações desse tipo ocorrem nela como resultado de uma adesão coletiva, de um contrato estabelecido entre os atores sociais. Isso reforça a concepção saussureana de que a língua é a parte social da linguagem, por isso mesmo exterior ao indivíduo. Por outro lado, para Saussure, a fala constitui-se de atos individuais e, devido a isso, é múltipla, imprevisível e se constitui de atos linguísticos ilimitados, não formando um sistema. Em contrapartida, os fatos linguísticos sociais formam um sistema devido a sua natureza homogênea. Ressalte-se, entretanto, que tanto o funcionamento quanto a exploração da faculdade da linguagem estão intimamente ligados às implicações mútuas existentes entre os elementos da língua, que é abstrata, virtual e os da fala, que é real. Sincronia e Diacronia Denomina-se morfema a unidade mínima significativa ou dotada de significado, que integra a palavra. Mattoso Câmara Jr, em seu dicionário de Linguística e Gramática classifica verbete morfema, do ponto de vista do significante, em aditivos, subtrativos, alternativos, reduplicativos, de posição zero. Sincronia é dito por Saussure como o estudo do funcionamento da língua no qual devem ser analisadas as relações entre os fatos existentes ao mesmo tempo num

21 Capítulo 1 21 determinado momento do sistema linguístico, que pode ser no presente ou no passado. Diacronia é vista por ele como o caminho para se estudar a relação entre um determinado fato e outros anteriores ou posteriores que o precederam ou o sucederam, sendo que tais fatos diacrônicos não estabelecem relação alguma com os sistemas, apesar de os condicionarem. Desse modo, entende-se que o funcionamento sincrônico da língua pode manter ligação com seus condicionantes diacrônicos. A diacronia divide-se em história externa, que é o estudo das relações existentes entre os fatores socioculturais e a evolução linguística; e história interna, que trata da evolução estrutural (fonológica e morfossintática) da língua. Saussure defende como prioritário o estudo sincrônico, visto que para ele o falante não tem consciência de como se sucedem os fatos da língua no decorrer do tempo, pois para ele essa sucessão não existe, ou, talvez, não seja do seu campo de conhecimento saber de sua existência. O estado sincrônico da língua é a única e verdadeira realidade que se apresenta para estudo e, além disso, como entendemos que a relação entre o significante e o significado é arbitrária, o sistema linguístico estará continuamente sendo afetado pelo tempo, advindo disso a necessidade de o estudo da língua ter por primazia a perspectiva sincrônica. Em seu Curso de Linguística Geral, Saussure assegura que a linguagem implica simultaneamente um sistema estabelecido e uma evolução; constantemente, ela é, então, uma instituição com um pé no presente e outro no passado. Sendo assim, língua será sempre sincronia e diacronia em qualquer época. Ao deixar de priorizar o processo por meio do qual as línguas se modificam para tentar compreender os modos como funcionam, Saussure consequentemente dá maior importância ao estudo sincrônico, que se configura como alicerce para a Linguística e para a abordagem estruturalista de análise da língua. Sintagma e Paradigma Uma vez, devendo ser a sincronia considerada como prioritária para os estudos sobre a língua, ela deve ser vista como atrelada a dois eixos o paradigmático e o sintagmático. O que Saussure chama de sintagma é a relação vista na língua em que os elementos se sucedem um após o outro, linearmente, na cadeia da fala. Para exemplificar esse princípio, temos o enunciado hoje fez frio, em que não se pode pronunciar a sílaba je antes da sílaba ho (joho) nem pronunciar ho ao mesmo tempo que je, pois isso seria impossível. É essa cadeia fônica que faz com que se estabeleçam relações sintagmáticas entre os elementos que a compõem. No entanto, se o mesmo enunciado for dito fora de um contexto discursivo, isto é, fora do plano sintagmático, podemos dizer hoje pensando em oposição ao advérbio ontem, por exemplo, ou fez em oposição a faz, e frio a calor. Assim, estabelecemos uma relação paradigmática associativa, porque os termos ontem, faz e calor não estão presentes no discurso. No paradigma, existe a chamada oposição distintiva, que, entre outros aspectos, estabelece a diferença entre signos, como veja e seja ou entre formas verbais, como via e vira, formados, respectivamente, a partir da oposição sonoridade / Nõ sonoridade e pretérito imperfeito/mais-que-perfeito. Em sentido amplo, o sintagma é toda e qualquer combinação de unidades linguísticas na sequência de sons da fala, que se estabelece para atender a cadeia de relações da língua. Atividade Que diferenças podem ser estabelecidas entre Linguística e Semiologia e em que essas ciências contribuem para os estudos das diferentes manifestações de linguagem? O que podemos entender sobre a língua que utilizamos a partir das dicotomias saussureanas? SAIBA MAIS! Continue a ler o livro de Saussure, Curso de Linguística Geral, pois os princípios das temáticas 3 e 4 estão contidos nele.

22 22 Capítulo 1 RESUMO Como reflexão final, gostaria de propor a você uma investigação mais aprofundada sobre as temáticas que estudamos. Tendo em vista que os temas aqui trabalhados foram expostos de maneira introdutória, a partir de agora você deve assumir o seu papel de pesquisador e descobrir muito mais sobre os fundamentos da Linguística apresentados. Outros princípios serão estudados no capítulo 2, sob novas perspectivas teóricas, especialmente com base no gerativismo. Que tal começar agora? Abaixo, deixamos as referências e links que podem ajudá-lo a iniciar essa atividade de aprofundamento e de construção de novos conhecimentos. REFERÊNCIAS BAKHTIN, M. / VOLOCHINOV. Marxismo e filosofia da linguagem. Hucitec. São Paulo: São Paulo, BENVENISTE, Emile. Problemas de linguística geral I. Campinas: São Paulo, Pontes Editores, 5 ed., Problemas de linguística geral II. Campinas: São Paulo, Pontes Editores, BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, Português ou brasileiro? Um convite à pesquisa. São Paulo: Parábola, CÂMARA JR. Joaquim Mattoso. Princípios de linguística geral. Rio, Padrão, CARVALHO, Castelar. Para compreender Saussure. Rio de Janeiro, Ed. Rio, FARACO, Carlos Alberto. Linguística histórica: uma introdução ao estudo da história das línguas. São Paulo: Parábola Editorial, FERREIRA, Carlota; CARDOSO, Suzana. A dialectologia no Brasil. São Paulo: Contexto, (Coleção Repensando a Língua Portuguesa). FIORIN, José Luiz. (org.). Introdução à linguística: objetos teóricos. São Paulo: Contexto, KRISTEVA, Julia. História da linguagem. Trad. Maria Margarida Barahona. Lisboa: Edições 70, MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 4 ed. São Paulo: Cortez, MORI, Angel Carbera. Fonologia. In: MUSSA- LIN, Fernanda e BENTES, Anna Christina (orgs.) Introdução à linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2008, v. 1, p. 11 a 24. MUSSALIM, F & BENTES, A. N. (orgs). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, Vl. 1 e 2. (orgs.).introdução à linguística: fundamentos epistemológicos. v. 3. São Paulo: Cortez, ORLANDI, Eni. O que é linguística. São Paulo: Brasiliense, PRETTI, Dino. Sociolinguística: os níveis de fala. São Paulo: Companhia Editora Nacional, SAUSSURE, Ferdinand. Curso de linguística geral. São Paulo, Cultrix, TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 1996.

23 Capítulo 1 23 WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da linguística. (trad. Marcos Bagno) São Paulo: Parábola Editorial, SITES

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25 Capítulo 2 25 Novos Percursos para A Linguística: As Contribuições do Gerativismo Prof. a Sônia Virgínia Martins Pereira Carga Horária 15 horas Ementa Estudo da ciência da linguagem: suas proposições teóricas, abrangência e alcance de suas possíveis aplicações. Percurso da concepção clássica de língua à teoria do signo. Modalidades oral e escrita da língua. O legado de Ferdinand Saussure e de Chomsky para os estudos e métodos de ensino de língua. Formalismo e Funcionalismo. Introdução aos estudos pragmáticos. Enfoque epistemológico dos conteúdos. Objetivos Estudar as proposições teóricas, abrangência e aplicações da Linguística, analisando o percurso dessa ciência de seus postulados iniciais às teorias mais recentes. Apresentação Prezado aluno, prezada aluna Estamos de volta em mais um capítulo do Curso de Letras a Distância. Neste capítulo, pretendemos conduzir você por outros caminhos que levaram a Linguística a ampliar seu campo de estudos, com objetos teóricos que deram base para outras ciências. Os estudos propostos aqui estarão voltados para os fundamentos mais importantes do Gerativismo, considerado como uma das correntes teóricas da Linguística de maior importância do século XX e que tem como mentor o linguista Noam Chomsky. Nestes estudos, serão trabalhados princípios que se propõem a esclarecer sobre a dimensão biológica da linguagem e questões decorrentes disso que tentam elucidar sobre o que se pode entender na linguagem como criação cultural e como predisposição biológica. Com isso, estaremos lidando com algumas das hipóteses fundamentais de Chomsky a respeito do fenômeno da linguagem.

26 26 Capítulo 2 Então nossa abordagem sobre o objeto de estudo da gramática gerativa considera-o como um fenômeno que ocorre em várias línguas, inclusive a língua portuguesa, daí a importância dada neste capítulo a essa perspectiva teórica que influencia a Linguística até os tempos atuais. Desejo que estes estudos contribuam significativamente para a sua formação e que possam impulsionálo a aprofundá-los no sentido de contribuir para o redimensionamento dos fundamentos teóricos aqui apresentados. Um abraço, Prof. a Sônia Martins Temática 1 O Linguista e Ativista Político Noam Chomsky Estudamos no Capítulo I o Estruturalismo, especialmente o de vertente europeia com sua importante contribuição para a constituição do campo da Linguística. Desde suas primeiras manifestações que deram origem a seus fundamentos, o Estruturalismo tomou lugar de destaque, tendo contribuído com diferentes ciências, além da Linguística. Na ciência da linguagem, essa vertente teórica se solidificou sob diferentes formas, sendo uma destas o Funcionalismo. VOCÊ SABIA? O Funcionalismo será estudado detalhadamente no capítulo III. Em linhas gerais, podemos dizer que o pensamento funcionalista considera as funções desempenhadas pelos elementos linguísticos em seus diferentes aspectos: fônicos, gramaticais e semânticos. O Distribucionalismo, que, segundo Orlandi (2007) também é uma outra forma de estruturalismo, se constitui numa teoria de base estrutural desenvolvida e sistematizada pelos alunos de L. Bloomfield, que sugere, nos Estados Unidos, uma teoria geral da linguagem a qual se assemelha com a perspectiva europeia. Para o distribucionalismo, uma língua deve ser estudada a partir de um conjunto de enunciados efetivamente emitidos pelos falantes em determinado tempo, procurando encontrar sua regularidade, mas sem considerar seus aspectos semânticos. VOCÊ SABIA? Bloomfield - Linguista norte-americano que escreveu a obra intitulada Language, publicada em 1933, que influenciou os estudos linguísticos nos Estados Unidos até recentemente. Assim, o Estruturalismo, em suas diferentes perspectivas, reinou absoluto na Linguístca até os anos Trouxemos, resumidamente, as ideias gerais do Funcionalismo e do Distribucionalismo para introduzir as primeiras noções sobre a teoria elaborada por Noam Chomsky. Então, vamos conhecer um pouco sobre este cientista. Teórico norte americano que revolucionou a linguística ao se apoiar em modelos matemáticos para descrever como se processa a comunicação humana. Ativista político que polemiza sobre questões próprias do seu país, a exemplo de seu posicionamento acerca dos atentados terroristas sofridos pelos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, mas igualmente sobre questões de ordem mundial, como seu apoio ao sionismo, o movimento religioso e político, originado no século 19, que pregava o restabelecimento, na Palestina, de um Estado judaico. Filho de um casal de judeus, Noam Avram Chomsky nasceu em 7 de dezembro de 1928, na Filadélfia Pensilvânia Estados Unidos. Ainda como estudante universitário, Noam Chomsky Fonte: dekku.nofatclips.com

27 Capítulo 2 27 Chomsky dividiu-se entre a filosofia e a linguística. Teve como referência moral, política e científica Zellig Harris, linguista judeu-americano, estruturalista de perspectiva distribucionalista. Chomsky aprendeu muito com ele, embora o tenha superado. É pai da chamada Teoria da Gramática Gerativa, considerado o maior avanço da linguística do século 20. Possui mais de 70 livros publicados e mais de 1000 artigos. Há 19 livros em inglês publicados sobre a importância de seu trabalho e, pelo menos, um contra The Anti-Chomsky Reader. Por ser um ativista político, diz receber todos os dias pelo menos 4 s, acusando-o de pertencer a CIA (Serviço Secreto Americano), Mossad (Serviço Secreto Israelense) ou da organização terrorista Al Qaeda à qual pertence Bin Laden. Descreve-se como socialista libertário e diz ter simpatia pelo movimento anarquista, mas quanto a este último, tem uma visão própria do termo. É considerado um dos pensadores mais importantes da história contemporânea. Encontra-se entre os dez autores mais citados de todas as ciências humanas. Observe a imagem: Fonte: A imagem nos remete ao naturalista inglês Charles Darwin que, ao observar os seres vivos e entre eles perceber nexos e continuidades, combinando as ideias de seleção e de evolução natural, revolucionou o mundo com a apresentação de novos paradigmas que explicavam a origem da vida. Da mesma forma, de Chomsky pode-se dizer o mesmo, no que diz respeito à revolução que causou em sua área científica, a linguística, pois mudou o objeto de estudo dessa ciência. Na ciência da linguagem, poucos teóricos tinham se aventurado a propor alguma teoria unificadora. Chomsky conseguiu fazer isso. No momento em que Chomsky apareceu no cenário científico, a linguística tinha conseguido, apenas, dois avanços significativos. O primeiro foi a criação da tradição clássica baseada no mundo grego e que perdurou até o final do século XIX. O segundo avanço foi o estruturalismo. Na tradição clássica, o corpus de estudo da língua era apenas o texto escrito. O papel do linguista nesse contexto era o de rastrear registros escritos desde as línguas antigas latim, grego, aramaico até alcançar o presente. Para o estudo de uma língua nessa abordagem, era preciso que os estudiosos dominassem várias línguas a fim de que procedessem à descrição de cada caso. Pouco se conseguia de generalização, ou seja, de se transpor o conhecimento acumulado pelo estudo de uma língua para outra. Pode-se considerar esta abordagem como enciclopédica, que considerava os registros escritos de uma língua como seu ponto alto. No começo do século XX, era essa visão normativa que dominava o estudo da língua, na perspectiva de que o que importava não era o conhecimento sobre o funcionamento da linguagem e sim, estabelecer e perpetuar as formas corretas como o sistema da língua se apresentava. A importância dos estudos de Chomsky é vista, principalmente, por sua crítica ao estruturalismo, uma vez que essa corrente concebia a linguagem como algo a ser aprendido por imitação, em que tudo seria aprendido por adestramento, inclusive

28 28 Capítulo 2 a língua(gem). Chomsky posiciona-se radicalmente contra essa ideia, dada sua crença na criatividade humana. Em sua concepção, a linguagem é uma capacidade humana natural este conceito será visto ao longo deste capítulo que já vem inscrita no DNA de todos os indivíduos, indistintamente. Como exemplo da tese defendida por Chomsky, podemos trazer o caso de uma cambojana que teria passado 18 anos na selva. Leia a notícia sobre esse caso: 31 de outubro de 2009 Foto: AFP Camboja: mulher que viveu 18 anos na selva se recusa a comer 31 de outubro de h41 atualizado às 15h37 Comentários Rochom P ngieng, conhecida como Mulher da Selva, que foi encontrada em 2007 após passar 18 anos perdida em uma floresta. Rochom P ngieng, conhecida como Mulher da Selva, que foi encontrada em 2007 após passar 18 anos perdida em uma floresta entre o Vietnã e o Camaboja, foi hospitalizada, porque se recusava a comer, afirmaram o pai dela e um médico nesta sexta-feira no Camboja. Contudo, após Rochom tentar fugir do local, o pai a levou de volta para casa. A mulher desapareceu quando era uma menina em 1989 em Ratanakkiri, província a 600 km da capital Phnom Penh. Ela foi encontrada em 2007 nua e suja, após ser pega tentando roubar comida de uma fazenda. Rochom não dizia palavras inteligíveis e fazia apenas sons desconexos, como os animais. Sal Lou, que diz ser pai da mulher, afirma que Rochom foi internada em um hospital na segunda-feira. Ela se recusou a comer arroz por cerca de um mês. Ela está magra agora. Ainda não consegue falar. Ela age totalmente como um macaco, disse. Ele explicou que levou Rochom de volta para casa porque era difícil impedir que ela fugisse do hospital. Segundo Hing Phan Sokunthea, diretor do hospital de Ratanakkiri, a Mulher da Selva sofre de deficiência mental. Gostaríamos de monitorar mais sua situação, mas não podemos porque o pai a retirou do hospital, disse o médico. Numa tentativa de relacionar a experiência vivenciada pela cambojana, de viver na selva sem contato com falantes de seu idioma, com o que defende Chomsky sobre a capacidade inata de todo ser humano para o aprendizado de uma língua, podemos Fonte: utilizar a ilustração que serviu ao próprio teórico em sua obra Linguística Cartesiana, na qual se apoia em Descartes no que este filósofo expõe sobre a questão, quando advoga que, se uma criança for criada entre lobos, ela não desenvolverá a linguagem, mas, se voltar para a convivência humana, voltará a falar, pois tem predisposição para isso. O contrário acontece com alguns animais, que, mesmo sendo criados com seres humanos, jamais desenvolverão a linguagem, visto que esta não lhes é inata. Nessa linha de pensamento, a cambojana, que ao ser encontrada em 2007, só emitia sons desconexos, como os animais e ainda hoje não consegue falar, segundo o que descreve a notícia, provavelmente conseguirá comunicar-se com as pessoas em seu idioma, mesmo que esse processo seja longo, como a situação parece assinalar. Ressalte-se que, nesse caso, existe a agravante de que a Mulher da Selva sofre de deficiência mental, e isto pode vir a ser um fator determinante no seu processo de desenvolvimento da linguagem. Com sua visão inatista, Chomsky muda radicalmente o foco do objeto de estudo da Linguística, até então pautada no pensamento estruturalista de que a língua seria algo externo ao ser humano. Temática 2 A Influência Biológica na Aquisição da Linguagem: O Inatismo Afinal, qual o segredo da linguagem humana? Que fatores nos possibilitam a fala? Qual a origem de nossa capacidade de comunicação, programação genética ou construção cultural? Assim como a questão sobre a origem da linguagem humana instiga há séculos a ciência, outra questão não menos importante suscita a curiosidade dos seres humanos em geral. Esta última envolve a origem de nossa capacidade de comunicação.

29 Capítulo 2 29 No decorrer da história da humanidade, esse questionamento mobilizou duas principais vertentes teóricas, sendo que, para uma delas, o inatismo, um bebê já nasce com predisposição para adquirir a linguagem. Nessa perspectiva, o cérebro estaria geneticamente preparado para abrigá-la. Essa corrente se apoia na teoria da Gramática Universal, idealizada por Chomsky, segundo a qual todas as línguas comungam de certos princípios que são inatos ao ser humano. A exposição das crianças a essas línguas é que faz com que elas assimilem sua estrutura. É em decorrência disso que podem ser feitos os balbucios de palavras e posteriormente, a partir dos quatro anos, mais ou menos, as crianças podem fazer certas construções lingüísticas, mesmo que seu vocabulário seja limitado. No outro polo, contrário ao pensamento de Chomsky, estão as teorias não inatistas, segundo as quais são os fatores ambientais e a interação das crianças com seus e educadores que propiciam a aquisição da linguagem. Essas teorias enfocam o uso que se faz dos elementos linguísticos, ou seja, no contexto e na forma em que as frases são utilizadas e não unicamente neles, enquanto elementos de um sistema abstrato. Nesse entendimento, é possível afirmar que a habilidade da criança adquirir linguagem não dependeria unicamente da mobilização de um aparato interno inato, mas do processo de inserção no meio social a que ela pertence. Atualmente, grande parte dos linguistas admite que tanto fatores biológicos quanto ambientais contribuem para a aquisição da linguagem. Em entrevista à Revista Superinteressante, edição 240a de junho de 2007, Chomsky diz que Ninguém pode duvidar de que existe um fator genético que determina a aquisição da linguagem pelos humanos enquanto outros organismos, vivendo exatamente no mesmo ambiente, não a adquirem. Eles nem ao menos reconhecem que alguns elementos do ambiente estão ligados à linguagem. E completa seu pensamento afirmando que As crianças adquirem a linguagem de forma quase reflexiva, muito antes de terem familiaridade com muitos aspectos de sua cultura. Por outro lado, tampouco existem dúvidas de que o ambiente influencia esse processo. É graças aos fatores ambientais, por exemplo, que eu falo inglês e não suaíli. VOCÊ SABIA? O dicionário eletrônico Houaiss define assim o verbete suaíli: Língua banta da família nigero-congolesa, falada como primeira língua na costa oriental e em ilhas da África, numa área que se estende da ilha de Lamu (Quênia) até a fronteira meridional da Tanzânia, é usada como língua franca na Tanzânia, Quênia, República Democrática do Congo e Uganda e também no Norte de Moçambique. A teoria de Noam Chomsky traz para a linguística o pressuposto de que o ser humano carrega consigo biologicamente uma matriz inata que fornece uma estrutura na qual a língua se desenvolve. A isso, o linguista norte-americano chama de gramática universal, que se constitui numa tese inatista, que entende ser o indivíduo portador da capacidade de linguagem desde o seu nascimento e por isso tem a condição básica para compreender a sintaxe da língua materna ainda nos primeiros anos de vida. Aos seis anos, tal indivíduo já é um adulto do ponto de vista linguístico. Em decorrência dessas ideias de Chomsky, a concepção racionalista dos estudos da linguagem foi questionada, uma vez que a capacidade humana de falar e entender uma língua passou a ser encarada, a partir de então, como produto de um dispositivo inato, uma capacidade genética, intraorganismo e não totalmente determinada por fatores externos, como defendiam os comportamentalistas. Essa tendência inata que favorece a competência linguística passou a ser conhecida como faculdade da linguagem. Com vistas a construir um modelo teórico capaz de descrever e explicar a natureza e o funcionamento dessa faculdade, Chomsky coloca o chamado gerativismo como vertente central da linguística. Assim, as línguas deixam de ser interpretadas como um comportamento condicionado externamente e passam a ser analisadas como uma faculdade mental natural. Entretanto, defender a existência da faculdade de linguagem como mecanismo inato não garante a inexistência de problema na análise da língua, tendo em vista esse fundamento. É preciso, antes de tudo, descreverem-se as condições necessárias para aprender línguas. É a competência que vai se desenvolvendo com o desempenho do falante.

30 30 Capítulo 2 VOCÊ SABIA? O conceito de competência será definido no próximo tópico. O conceito de desempenho será definido no próximo tópico. Para ilustrar isso, podemos pensar na criança que nasce em uma cultura em que se fala determinado idioma. Mesmo que tal língua para ela seja de certa forma estrangeira, ela interage com essa língua. O processo vivenciado pela criança nesse aprendizado não é apenas o de ouvir e repetir; ela vai aprendendo a estrutura da língua, numa aprendizagem progressiva que estabelece as conexões e relações necessárias para entender o funcionamento da língua que está usando. Exemplo disso é o fato de que uma criança ao dizer eu di perceber que há uma regularidade na estrutura da língua com palavras dessa mesma categoria por dizer eu bebi, eu comi, eu corri etc. Ao longo do processo de aquisição de estruturas mais complexas da língua, ela entenderá que alguns verbos não se enquadram nessa regularidade e, por isso, passará a dizer eu dei e não eu di. Temática 3 A Gramática Gerativo-Transformacional: Contraponto ao Comportamentalismo Enquanto a linguística estava estabelecida sob os pilares do estruturalismo até a década de 50, nessa mesma época Chomsky torna-se mentor de uma mudança que propõe que a reflexão sobre a linguagem volte-se também para a teoria e não esteja tão atrelada aos dados. Nisso critica os distribucionalistas e seu apego às classificações, embora tenha sido discípulo de Harris, conhecido distribucionalista, como visto anteriormente. Com base no racionalismo e na lógica, que sempre acompanhou os estudos sobre a língua, Chomsky apresenta uma teoria que denomina de gramática e focaliza o estudo da gramática na sintaxe, que, conforme seu pensamento, é um nível autônomo e central para a explicação da linguagem. Essa gramática tinha por finalidade mapear todas e somente as frases gramaticais, que para ele, são aquelas do domínio da língua. Ressalte-se que tal gramática não tinha a pretensão de estabelecer normas para o funcionamento de nenhuma língua. A partir desses pressupostos, em 1957, é publicado o livro Syntactic Structures, considerado um marco na linguística do século XX. Nesse livro e em publicações posteriores, são fundados os conceitos da Gramática Gerativa de Noam Chomsky. Mas, por que gerativa? A própria etimologia da palavra pode ajudar na compreensão do conceito. Constam no dicionário eletrônico Houaiss, as seguintes definições: adjetivo 1. que gera; que causa; generativo 2. Rubrica: gramática generativa. m.q. generativo 3. Rubrica: linguística. cujo enunciado refere a formulação da gramática gerativa etimologia: gerado sob a f. rad. gerat- (por generat-, de generátum, supn. do v.lat. generáre gerar ) + -ivo; ver gen- Além do que esclarecem as acepções do dicionário, na teoria chomskyana, a gramática é gerativa, porque permite gerar um número infinito de sequências que são frases, associando-lhes uma descrição, a partir de um número limitado de regras. A teoria gerativa coloca em destaque um procedimento dedutivo, ou seja, a partir de uma abstração, isto é, de um axioma e um sistema de regras, alcança o concreto, que, no caso, seriam as frases existentes na língua. Segundo o próprio Chomsky, através de sua proposta, a Linguística passa a ser explicativa e científica e não, apenas, descritiva, como se via em abordagens anteriores à sua. VOCÊ SABIA? Axioma - Na gramática gerativa, é o símbolo de partida das regras sintagmáticas. Num sistema ou teoria lnguística, fórmula que se presume correta, embora não suscetível de demonstração.

31 Capítulo 2 31 Leia estas frases abaixo pronunciadas em diferentes contextos, para compreender melhor o que acabamos de expor. Espero que todas as candidaturas possam ficar verdes. Senadora Marina da Silva Jornal do Commercio 30/10/09 Democracia é quando eu mando em você; ditadura é quando você manda em mim. Millôr Fernandes Seleções Reader s Digest setembro/2009 Sou magrelo, mas isso não significa que não seja durão. Barack Obama, presidente americano Revista Veja, edição 2137, 04/11/09 Ao se analisar as frases transcritas, percebe-se que elas não podem ser tomadas em sua superfície, sem considerar o significado dos termos que as compõem bem como o do contexto em que foram pronunciadas. Numa análise geral, entende-se que, ao dizer que espera candidaturas verdes, o significado do último termo proferido pela senadora pode remeter a seu partido, o Partido Verde, mas igualmente à questão de que os candidatos à presidência da República abracem a causa do meio ambiente em suas propostas. Já a frase de Millor Fernandes que em sua superfície pode ser perfeitamente aceitável como uma atividade metalingüística que define dois termos distintos, pode ser entendida como uma crítica ou ironia a certos posicionamentos, não só políticos, em que as pessoas caracterizam certas posturas como democráticas ou ditatoriais a partir de sua própria conveniência. Quanto ao que diz Obama, o termo durão é usado em contraposição a magrelo, mas seu sentido vai além de significar o aspecto físico. Ressalta as atitudes que o presidente americano pode tomar, podendo ser bastante severas. O que queremos elucidar com a análise das frases é o que o gerativismo alerta quanto à inadequação da análise sintática das frases, feitas pelas correntes teóricas até então. Chomsky mostrou que a análise das frases não eram adequadas, principalmente porque não diferenciavam o nível de estrutura de superfície e de estrutura profunda. No nível da superfície, muitos enunciados podem ser analisados da mesma maneira. Entretanto, em sua estrutura profunda, do ponto de vista dos significados subjacentes a cada um, as sentenças apresentam divergências. Daí a gramática gerativa ter entre os seus objetivos, o de estabelecer um procedimento de análise da estrutura profunda dos enunciados. No intuito de alcançar esse objetivo, Chomsky lança mão de uma distinção fundamental entre o que ele denominou de competência (competence) e de desempenho (performance). Competência é o conhecimento que o indivíduo tem sobre as regras de uma língua. Desempenho é o uso efetivo dessa língua em situações reais. Para Chomsky, o papel da linguística é o de analisar a competência e não se restringir ao desempenho, como se fazia em estudos linguísticos anteriores em suas amostras de fala, que seriam inadequadas por apresentarem, apenas, uma parte mínima das inúmeras possibilidades de enunciados de uma língua. Nisso, entende-se que os falantes na competência que possuem sobre a língua podem ir muito além do que for estabelecido por qualquer corpus. Essa competência lhes dá a capacidade de criar e identificar enunciados inéditos e de reconhecer erros ou inadequações de desempenho. Por isso, a descrição das regras que comandam essa competência é que deveriam ser passíveis de estudo, conforme prega a teoria gerativa. Assim, a noção de competência discursiva no gerativismo é a tal capacidade que todo falante tem de produzir e compreender todas as frases da língua e também do conhecimento que este tem da estrutura das frases que fazem parte da língua. Por essa linha de entendimento, então, não importa o desempenho linguístico, ou seja, o desempenho de falantes específicos em seus usos concretos, mas a capacidade que todo falante possui.

32 32 Capítulo 2 Nesse contexto, a gramática internalizada adquire papel central, pois compreende a competência linguística do estudante, vindo daí a importância em estudá-la. Diante disso, o léxico também adquire importância vital nessa competência, uma vez que ele se constitui numa espécie de dicionário mental ao qual nos reportamos todas as vezes que precisamos construir sentenças. Nossa competência nos possibilita ter intuições de como saber dividir esse dicionário, categorizando aspectos lexicais a partir de propriedades gramaticais comuns entre eles. Essa intuição linguística nos ajuda também a categorizar itens lexicais em classes de palavras a partir de critérios semânticos, morfológicos e distribucionais. Para esclarecer esses critérios, tomemos como exemplo alguns verbetes do Dicionário Nordestino apresentado a seguir: 24 Novembro 2007 Lista de palavras e expressões nordestinas A ABUFELAR - Agarrar pela gola, agredir. ACUNHAR - Chegar junto. ADULAR - Agradar, bajular. Fazer a vontade de alguém ALTEAR - Aumentar o volume do som. Subir algo. ALUMIAR - Iluminar. Projetar luz sobre algo ou alguém. AMOLEGAR - Apalpar ou apertar um corpo mole ou uma parte dele. APERREAR - Encher o saco. APOQUENTAR - Aborrecer, azucrinar, chatear. ARRIBAR - Ir embora. ARRUDIAR - Dar a volta. ATAIAR - Atalhar. Ir por um caminho mais curto AVALIE - Imagine. AZULAR Dar o fora. Fonte: Acessado em 08/11/09.

33 Capítulo 2 33 Pode-se afirmar que qualquer falante de português do Brasil reconhece que os itens lexicais listados nesse dicionário pertencem à mesma categoria gramatical, porque todos eles possuem a propriedade de assumir formas variadas, dependendo das marcas morfológicas de seus sujeitos, que, em geral, são os elementos que antecedem os verbos. No exemplo dado, deve ficar claro que não estamos analisando o campo do significado, pois esse aspecto mobilizaria outros que dizem respeito ao contexto de produção da palavra altear, por exemplo, ou o fato de o falante ser um nordestino que faz uso desse registro, uma vez que nem todos os nordestinos são usuários desses termos, e outros aspectos que ajudam na compreensão semântica dos termos. Estamos analisando os aspectos morfológicos que independem do fato de que essas palavras estejam no suporte de um dicionário, e, mesmo estando, que não apresentam a definição da classe gramatical a que pertencem, como normalmente os dicionários apresentam. É da competência inata do falante, que consegue identificar marcas morfológicas de uma língua a que estamos nos referindo. Do que temos visto até aqui, podemos entender que a gramática gerativo-transformacional de Chomsky se tornou um divisor de águas na linguística, pelo fato de ter trazido ao campo científico ideias opostas às ideias estruturalistas, que entendiam ser o aprendizado da língua construído por meio da imitação. Em rejeição a esse modelo comportamentalista ou behaviorista, no qual se entende a linguagem humana como um fenômeno externo ao indivíduo, um sistema de hábitos gerados como resposta a estímulos e fixada pela repetição, o gerativismo expõe a concepção de que o falante age criativamente no uso da linguagem, visto que para Chomsky sempre os seres humanos estão construindo frases novas e inéditas, jamais pronunciadas antes pelo próprio falante que a produziu ou por qualquer um outro. É por isso que para ele a criatividade é o elemento caracterizador do comportamento linguístico humano, o que vem a distinguir a linguagem humana dos sistemas de comunicação dos outros animais. A pequena parte mostrada do dicionário nordestino prova essa criatividade dos falantes de uma língua, não somente por se querer inventar termos ou expressões sem sentido, mas, porque existe a necessidade de que os enunciados expressem mais fielmente a realidade. Temática 4 Negação ou Confirmação da Teoria Gerativa? Orlandi (2007) afirma que Chomsky, ao eleger a competência como o elemento a ser analisado nos estudos linguísticos, com sua base de estudo apoiada no que considera o falante ideal, desconsidera o desempenho específico dos falantes no uso concreto da linguagem. Outras críticas também são feitas no que se refere a outras questões desconsideradas pelo gerativismo, dentre elas, os aspetos semânticos e pragmáticos da análise, especialmente vistos nos trabalhos de Halliday, que propõe uma teoria mais sistemática e abrangente da estrutura da língua, denominada de linguística sistêmica. Nessa abordagem, a gramática é entendida como uma rede de sistemas de contrastes interrelacionados e nela se dá especial atenção aos aspectos semânticos e pragmáticos, já citados, e igualmente a fatores que a entonação acrescenta ao campo do significado. Além dessas ideias contrárias, outras surgem a partir de novas descobertas, como a que nos mostra VOCÊ SABIA? Behaviorista - Derivado do termo inglês behaviour ou do americano behavior, que significa conduta, comportamento é um conceito geral que engloba as mais paradoxais teorias sobre o comportamento, dentro da Psicologia, inclusive no que diz respeito ao significado da palavra comportamento. Os ramos principais das teorias que se apoiam nesse conceito são o Behaviorismo Metodológico e o Behaviorismo Radical.

34 34 Capítulo 2 o artigo da Revista Veja, edição 2004, publicado em 2007 que informa sobre o idioma dos pirahãs, povo indígena da região amazônica. Leia o texto: Ciência O Mistério dos Pirahãs Tribo da Amazônia que não conhece os números desafia as teorias sobre a formação dos idiomas A tribo dos pirahãs, formada por cerca de 350 indígenas que vivem às margens do Rio Maici, no Amazonas, tornou-se um desafio para a ciência. Como muitas tribos da região, eles são caçadores e coletores, mas têm características únicas no que diz respeito à comunicação. Seu idioma desafia todas as teorias sobre como a linguagem humana se desenvolveu nas diferentes culturas. Segundo a tese hoje mais aceita sobre o tema, criada por linguistas como o americano Noam Chomsky, a formação dos idiomas se pauta por uma espécie de gramática universal, com regras comuns. O ser humano é dotado de recursos inatos para usar essas regras. Isso permite às crianças perceber os significados das palavras e das frases e aos poucos ampliar seu vocabulário. Essa gramática universal faz com que todos os idiomas tenham frases subordinadas, que estariam na base dos raciocínios complexos: Depois de comer, vou à sua casa. O idioma dos pirahãs é o único até hoje identificado no mundo que não tem frases subordinadas, contrariando o conceito de gramática universal. Os pirahãs não têm palavras para descrever as cores. Não usam tempos verbais que indiquem ações passadas. Não há entre eles a tradição oral de contar histórias. Tudo é dito no presente. A língua escrita não existe. Os pirahãs não desenham e desconhecem qualquer tipo de arte. Eles são a única sociedade no mundo, segundo avaliação de antropólogos, que não cultiva nenhum mito da criação para explicar sua origem. Para completar, os pirahãs não usam números e não sabem contar têm uma única palavra, Hói, que significa um ou pequeno. A ausência da abstração aritmética entre os pirahãs foi estudada recentemente pelo linguista americano Peter Gordon. Ele tentou pacientemente ensinar os indígenas a contar de um a dez, explicando a eles o conceito de números e sua utilidade no dia-a-dia. Não obteve nenhum sucesso. As pesquisas de Gordon confirmaram a teoria do linguista americano Benjamin Whorf de que o idioma condiciona o raciocínio. Whorf, nos anos 30, afirmava que o ser humano só é capaz de formular pensamentos a partir de elementos que possuam correspondência nas palavras. Como os pirahãs não têm palavras que os façam chegar ao conceito de números, é impossível que entendam seu significado. Nas últimas décadas, além de Gordon, meia dúzia de pesquisadores se embrenhou na selva amazônica para estudar a língua e a cultura dos pirahãs. O primeiro deles e o mais assíduo é o etnólogo inglês Daniel Everett, da Universidade de Manchester, que morou com a tribo por sete anos, desde a década de 70. Foram seus estudos que chamaram a atenção do mundo acadêmico para as particularidades da tribo e para os desafios que ela apresenta à ciência. A teoria da gramática universal é inadequada para explicar o idioma pirahã, diz Everett. Sua gramática vem da sua cultura, que é absolutamente única, completa. VEJA Edição de abril de 2007 VOCÊ SABIA? Etnólogo - Especialista em etnologia, sendo esta a ciência que estuda os fatos e documentos levantados pela etnografia no âmbito da antropologia cultural e social, buscando uma apreciação analítica e comparativa das culturas.

35 Capítulo 2 35 Segundo o artigo, o etnólogo inglês, Everett, afirma que a teoria da gramática universal não se aplica ao idioma pirahã, sendo a explicação de Worf de que o idioma condiciona o raciocínio mais adequado à realidade linguística daquela etnia. Barbosa (2008) assegura que qualquer língua desafia as teorias sobre a formação dos idiomas, inclusive a língua inglesa, o idioma mais divulgado no mundo, visto que todas as línguas possuem especificidades axiológicas. O que o articulista destaca sobre a singularidade da cultura pirahã, que é a base de sua gramática, também é comum a outros povos, não apenas indígenas, pois qualquer grupo etnolinguístico tem uma conceitualização bem particular do mundo e uma semiotização específica do universo conceitual. É da natureza dos grupos étnicos sustentar especificidades culturais. Entretanto, ao mesmo tempo em que mantêm essas especificidades, estabelecem com outros grupos humanos relações interculturais e interlinguísticas. Daí se sustentarem em suas características axiológicas, mas sofrerem influências axiológicas de outras culturas. VOCÊ SABIA? Axiológicas - Que constitui ou diz respeito a uma axiologia, sendo esta qualquer uma das teorias formuladas a partir do início do século XX concernentes à questão dos valores. O espanto do autor do artigo quanto ao que ele denomina de mistério dos pirahãs dá-se pelo fato de que o ponto de partida de nossas análises e julgamentos sobre o universo linguístico de outras culturas é sempre o da nossa língua materna. Diante disso, não se pode desconsiderar o princípio dos universais essenciais da linguagem, ou seja, aqueles princípios e estruturas que estão na base organizativa de qualquer língua. Assim, compreendemos que há universais enquanto processos de conceitualizações, mas existem as especificidades cognitivas específicas de cada etnia. O campo de estudos da linguística ganhou novas perspectivas a partir do pensamento de Chomsky. Até os tempos atuais, as questões teóricas mais relevantes no universo da linguística têm sido levadas a efeito a partir de reflexões acerca dos postulados do linguista norte-americano. Com efeito, seus estudos contribuíram significativamente para uma maior compreensão do fenômeno da linguagem humana, a partir de sua gênese. Atividade Algumas Reflexões: Diante do que foi estudado sobre a teoria gerativa, reflita sobre questões como: 1. Que evidências temos de que a faculdade da linguagem depende de herança biológica e de fatores sociais? 2. Que outros teóricos defendem uma ou outra perspectiva? Pesquise alguns deles e amplie seus conhecimentos sobre o tema. 3. Qual o papel do contexto social no desenvolvimento da linguagem? 4. O que você pensa sobre o conceito de gramática universal e de gramáticas particulares? Pense sobre essas questões e amplie seus conhecimentos acerca da temática estudada. Bom estudo! REFERÊNCIAS BENVENISTE, Emile. Problemas de linguística geral I. Campinas: São Paulo, Pontes Editores, 5 ed., Problemas de linguística geral II. Campinas: São Paulo, Pontes Editores, BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, Português ou brasileiro? Um convite à pesquisa. São Paulo: Parábola, CARVALHO, Castelar. Para compreender Saussure. Rio de Janeiro, Ed. Rio, FARACO, Carlos Alberto. Linguística histórica: uma introdução ao estudo da história das línguas. São Paulo: Parábola Editorial, FERREIRA, Carlota; CARDOSO, Suzana. A dialectologia no Brasil. São Paulo: Contexto, (Coleção Repensando a Língua Portuguesa). FIORIN, José Luiz. (org.). Introdução à linguística: objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002.

36 36 Capítulo 2 KRISTEVA, Julia. História da linguagem. Trad. Maria Margarida Barahona. Lisboa: Edições 70, MORI, Angel Carbera. Fonologia. In: MUSSA- LIN, Fernanda e BENTES, Anna Christina (orgs.) Introdução à linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2008, v. 1, p. 11 a 24. MUSSALIM, F & BENTES, A. N. (orgs). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, Vl. 1 e 2. (orgs.).introdução à linguística: fundamentos epistemológicos. v. 3. São Paulo: Cortez, ORLANDI, Eni. O que é linguistica. São Paulo: Brasiliense, PRETTI, Dino. Sociolinguística: os níveis de fala. São Paulo: Companhia Editora Nacional, SAUSSURE, Ferdinand. Curso de linguística geral. São Paulo, Cultrix, TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da linguística. (trad. Marcos Bagno) São Paulo: Parábola Editorial, 2002.

37 Capítulo 3 37 A Língua em Sua Forma, Função e Variação: Questões Sobre Formalismo, Funcionalismo e Variação Linguística Ementa Prof. a Sônia Virgínia Martins Pereira Carga Horária 15 horas Estudo da ciência da linguagem: suas proposições teóricas, abrangência e alcance de suas possíveis aplicações. Percurso da concepção clássica de língua à teoria do signo. Modalidades oral e escrita da língua. O legado de Ferdinand Saussure e de Chomsky para os estudos e métodos de ensino de língua. Formalismo e Funcionalismo. Introdução aos estudos pragmáticos. Enfoque epistemológico dos conteúdos. Objetivos Estudar as proposições teóricas, abrangência e aplicações da Linguística, analisando o percurso dessa ciência de seus postulados iniciais às teorias mais recentes. Apresentação Prezado aluno, prezada aluna Mais uma vez, trazemos para você temáticas importantes que vão contribuir para a ampliação de seus conhecimentos sobre a linguística e, também, para que compreenda como essa ciência se fortaleceu por meio de suas abordagens sobre a língua e a linguagem. Vimos, nos capítulos anteriores, perspectivas teóricas que são, pode-se dizer, verdadeiros divisores de água na constituição do arcabouço teórico da ciência da linguagem e que, em decorrência disso, merecem destaque em qualquer disciplina que se proponha a descrever a história da linguística, como está estabelecida em seu currículo do Curso de Letras a Distância da UPE.

38 38 Capítulo 3 Diante disso, neste capítulo 3, vamos dar continuidade aos estudos iniciados, refletindo sobre mais temas importantes para a evolução da linguística, os quais, de alguma forma, trazem, de volta à cena, outros já trabalhados, visto que, na evolução dessa ciência, raras são as questões respondidas por completo ou totalmente ignoradas. Mesmo que tais questões fiquem por algum tempo estabilizadas, a ponto de não despertarem grande interesse para pesquisa, elas tendem a voltar ao cenário de discussões. Assim, neste material didático, estudaremos aspectos gerais da tendência funcionalista em contraponto com os fundamentos estudados da tendência formalista dos estudos linguísticos. Embora esta última tendência tenha predominado no século XX, há outras que conviveram ou entraram em concorrência com ela, as quais têm contribuído para a ampliação dos conceitos sobre a língua. Dentre essas tendências, além do funcionalismo, refletiremos sobre a variação linguística, tema imprescindível para a compreensão da heterogeneidade e diversidade próprias dos usos concretos da língua. Aproveite bastante! Um abraço Prof. a Sônia Martins Temática 1 Formalismo vs Funcionalismo: Primeiras Noções O aspecto histórico-comparativo, visto no desenvolvimento das pesquisas lingüísticas no século XX, trouxe importante contribuição para a constituição do campo de estudos da ciência da linguagem, especialmente pelos estudos de teóricos neogramáticos como Humboldt. VOCÊ SABIA? Humboldt - Linguista alemão que trouxe contribuições à filosofia da linguagem e influenciou o desenvolvimento da filologia comparativa. Reconhecido como o primeiro linguista europeu a identificar a linguagem humana como um sistema governado por regras., sendo esta ideia uma das bases da teoria da gramática transformacional de Chomsky. Noam Chomsky cita, com frequência, a descrição de Humboldt da linguagem como um sistema que faz infinitos usos de meios finitos, significando que um número infinito de frases pode ser criado, usando um número finito de palavras. Mas como já visto nos capítulos I e II, considerase como o início da linguística moderna somente com a publicação do Curso de Linguística Geral, de Saussure, em Então, a partir disso, o que passa a caracterizar a evolução da linguista no século XX são as noções básicas de sistema-estruturafunção. Desse trio, a primeira noção sistema é estabelecida por Saussure, para quem a língua é um sistema, o que prevê uma prioridade do todo em relação aos elementos que o compõem, segundo afirma Benveniste (1976), embora o termo sistema tenha sido substituído, posteriormente, por estrutura visto que para se considerar a língua como a constituição de um sistema, ou seja, conjunto de elementos que se agrupam organizadamente, seria preciso ampliar a estrutura dessa língua. Esta foi a postura adotada na linguística a partir da publicação do Curso, tendo sua primeira manifestação nos estudos do Círculo Linguístico de Praga, a partir de VOCÊ SABIA? Fundado em outubro de 1926, o Círculo Linguístico de Praga ou Escola de Praga desenvolveu se no final da década de Dentre os fundadores e principais expoentes do movimento, destacam-se: Trubetzkoi, Mathesius, Trnka, Jakobson, Benveniste e Martinet. O Círculo Linguístico de Praga recebeu outras influências além daquelas provenientes do estruturalismo saussureano, que direcionava os estudos linguísticos para a lógica interna do sistema da língua. Tais influências vinham de Husserl, filósofo alemão e, principalmente, da Gestalt, gerada a partir de seu frequente contato com o psicólogo alemão Karl Buhler.

39 Capítulo 3 39 VOCÊ SABIA? Husserl - Filósofo alemão fundador da fenomenologia, um método para a descrição e análise da consciência. Por esse método, a filosofia tenta alcançar uma condição estritamente científica. Gestalt - Ao se disporem a pesquisar a percepção humana, alguns estudiosos alemães deram origem à Psicologia da Gestalt. Sendo gestalt um termo alemão sem tradução, com um sentido próximo de figura, forma, aparência. Tal doutrina defende a concepção de que não se pode conhecer o todo por meio das partes, e sim as partes através do conjunto. Os representantes mais ativos da psicologia da gestalt foram Kurt Koffka, Wolfgang Kohler e Max Verteimer. Karl Buhler - Psicólogo e psiquiatra alemão que estudou os mecanismos do pensamento e da vontade e dedicou-se à psicologia da forma. Nessa relação com Buhler, o perfil da linguística do Círculo de Praga apresentou-se diferente das demais escolas estruturalistas europeias. Buhler foi o mentor filosófico da característica funcionalista do estruturalismo de Praga, pois percebia a função como elemento essencial da linguagem. Saussure deixou de fora dos estudos linguísticos esse aspecto da função, quando propôs a dicotomia entre langue e parole e tornou a primeira objeto de estudo da linguística. Com isso, foi tirado dos estudos linguísticos o interesse sobre a influência que a estrutura gramatical poderia vir a receber de aspectos pragmático-discursivos. Qual o Conceito de Função? Esse conceito recebe diferentes características a partir da perspectiva de análise adotada, por isso não há consenso sobre ele. Entretanto, apesar das diferenças, os sentidos atribuídos ao termo, de alguma maneira, se relacionam quando enfocam: 1. a dependência de um elemento da estrutura a elementos de outra ordem ou domínio (estrutural ou não estrutural); 2. o papel assumido por um elemento estrutural no processo comunicativo, ou seja, a função comunicativa do elemento. Os pesquisadores do Círculo de Praga adotaram a noção de função nos dois sentidos descritos e se focaram no que chamam de função-relação, pois colocaram em destaque a relação do elemento com o sistema linguístico como um todo. Nessa visão de função como relação, existe a relação de determinado elemento estrutural com ou no interior de uma unidade estrutural mais ampla. Assim, distingue-se função-relação de categoria, uma vez que este último termo não se refere a uma ordem maior, mas descreve a entidade como portadora de propriedades. Entretanto, essa não é a característica marcante do funcionalismo praguense, visto que apresentou uma noção teleológica de função em que a língua é vista como um sistema funcional, uma vez que é utilizada para um fim específico. Para Fontaine (1978) apud Kennedy e Martelotta (2003), a definição de função para os linguistas de Praga é o destaque à intenção do interlocutor como a explicação mais natural, em termos de análise linguística, pois a intenção é que fundamenta o discurso. Pelo que estudamos nos capítulos anteriores, entendemos que o estruturalismo manifestou-se sob várias correntes e, a depender delas, com aspectos variados a partir da perspectiva adotada por seus seguidores. Dirven e Fried (1987), citados por Kennedy e Martelotta (2003), defendem que as variadas perspectivas estruturalistas que se apoiam na concepção de linguagem de Saussure apresentavam variação também quanto à ênfase destinada à significância da função em seus quadros teóricos, os quais são divididos em dois eixos: 1. o eixo formalista que destaca a forma linguística, deixando a sua função em segundo plano; 2. o eixo funcionalista que ressalta a função desempenhada pela forma linguística no ato comunicativo. No eixo formalista, tem-se a tendência à análise da língua como objeto independente, em que a estrutura é autônoma em relação ao uso que se faz dela em situações interativas reais. A Escola de Copenhague voltou-se bastante para essa tendência, tendo a Dinamarca grande tradição nos estudos da linguagem, uma vez que vários linguistas dinamar-

40 40 Capítulo 3 queses voltaram-se para a análise formalista, mas foi com Hjelmslev que esta tendência expandiu-se. Nesses linguistas, via-se grande interesse filosófico e, principalmente, lógico nos trabalhos desenvolvidos. Para Hjelmslev (1975), a língua é unidade encerrada em si mesma, como uma estrutura sui generis e, por isso, não deve ser analisada como reflexo de um conjunto de acontecimentos não linguísticos. Considerada nesses termos, portanto, a língua adquire caráter abstrato e estático, por independer do ato de comunicação. O formalismo teve o descritivismo norte-americano como sua mais destacada expressão, tendo sido defendido por teóricos, como Bloomfield e Harris, dentre outros, mas sua aplicação mais radical deuse no gerativismo e em seus sucessivos modelos. Entretanto, mesmo a teoria gerativa tendo dominado os estudos linguísticos, inclusive, com grande tradição até nos tempos atuais, as ideias funcionalistas mantiveram-se com força, uma vez que as tendências gerativas alternativas, como a semântica gerativa ou a gramática dos casos, configuravam-se como um questionamento a determinadas propostas do paradigma formalista, oferecendo aspectos semântico-formalistas em suas abordagens no estudo da língua. No eixo funcionalista, concebe-se a língua como instrumento de comunicação e, por isso, ela não pode ser vista como objeto autônomo e, sim, como sistema maleável subordinada às influências das situações comunicativas que ajudam sua estrutura gramatical. SAIBA MAIS! Pesquise sobre algumas ideias centrais do funcionalismo: A gramática funcional, de Maria Helena de Moura Neves. A visão funcionalista da linguagem no século XX, de Martelotta e Areas. Temática 2 Algumas Escolas Linguísticas de Vertente Funcionalista Algumas escolas linguísticas europeias pós-saussureanas do século XX aderiram às ideias funcionalistas. A Escola de Genebra, representada por Charles Bally, Albert Sechehaye e Henri Frei, sofreu mais fortemente influência de Saussure. Sechehaye reservou-se às ideias de Saussure, mas Bally renovou a estilística ao defini-la como o estudo dos aspectos afetivos da linguagem e dedicou-se a entender os desvios que a fala impõe à língua. Isso porque não existe divisão ou não pode haver entre esses dois aspectos da linguagem, como defendem os funcionalistas. Frei voltou-se para a análise dos desvios da gramática normativa, que não são por acaso, segundo seu pensamento e, sim, advêm da própria necessidade de comunicação, o que deve ser fonte de análise linguística. Frei promoveu a linguística funcional, que conjuga os fatos linguísticos a funções específicas relacionadas a eles. Martinet foi influenciado por esse pensamento, pelo fato de manter contato com os principais linguistas de Praga, principalmente com Trubetzkoy. Martinet e Jakobson são os herdeiros principais da Escola de Praga no que diz respeito ao pensamento linguístico internacional. Também as escolas de Londres receberam influência do funcionalismo, pois com Halliday houve uma tendência a estudar as línguas por um viés funcional. Mathiessen apud Neves (1997) assegura que a gramática funcional de Halliday baseia-se no funcionalismo etnográfico e no contextualismo de Malinowsky, desenvolvido nos anos 1920, além da linguística firthiana da tradição etnográfica de Boaz-Sapir-Whorf e do próprio funcionalismo estabelecido pela Escola de Praga. Também o grupo holandês apresentou-se propenso à análise da língua a partir da ótica funcionalista. Segundo Neves (idem), isso influenciou a gramática de Dik, que trabalha com a ideia de que na linguagem, um fato relaciona-se com a sua causa. Para ele, o funcionalismo interessa-se pelos processos ligados ao êxito dos usuários de uma língua em sua comunicação por meio de expressões linguísticas. Nos Estados Unidos, igualmente apesar de a linguística nesse país ter tido forte tendência formalista liderada por Leonard Bloomfield apre-

41 Capítulo 3 41 senta certa adoção da vertente funcionalista, especialmente com Franz Boaz, que não exerceu influência, apenas, sobre o descritivismo, principal corrente linguística dos Estados Unidos mas também a tradição etnolinguística de Sapir e Whorf, como também os trabalhos de Bolinger, Kuno, Del Himes, Labov e tantos outros do ramo da etnolinguística e da sociolinguística. De alguma forma, a inclinação de alguns gerativistas, como Langacker e Lakoff para a gramática cognitiva, podem ser admitidos como uma tendência funcionalista. Contrária ao formalismo, a linguística cognitiva tem, em seus fundamentos, que a significação não se dá numa mesma relação entre símbolos e dados de uma realidade de vida independente, mas no fato de que as expressões linguísticas alcançam significado no contexto. Isso quer dizer que os contextos originam-se de padrões criados culturalmente. A partir da década de 1970, nos Estados Unidos, foi que o termo funcionalismo passou a descrever uma linguística baseada no uso, cujo foco é analisar a língua a partir de seu contexto linguístico e da situação extralinguística. Sobre essa perspectiva, a sintaxe é uma estrutura em mudança constante, pois decorre do discurso. Assim, ela adquire uma forma em decorrência das estratégias discursivas, utilizadas pelos usuários da língua na interação. A partir disso, para se entender o fenômeno sintático, seria necessário estudar a língua em seus contextos de uso específicos, uma vez que a gramática constitui-se no interior deles. Para se compreender o que a linguística funcionalista norte-americana propunha, uma das formas é observar o que Givón apud Kennedy e Martelotta (2003) refuta em relação ao que considera os três dogmas principais do estruturalismo: a arbitrariedade do signo linguístico; a idealização da distinção entre langue e parole; a rigidez da divisão entre diacronia e sincronia. Quanto ao primeiro, podese dizer que a doutrina da arbitrariedade do signo separa o significante do significado, seu correlato mental, destacando o signo e seu referente, os termos observáveis. Givón atribui essa separação à visão positivista e behaviorista do significado como referência externa. Essa visão deve-se, talvez, ao fato de os estruturalistas, especialmente os norteamericanos, trabalharem com entidades mentais vagas que não dão suporte para uma análise empírica. Nisso, esses estruturalistas chegam a não admitir a existência de pensamento, ou qualquer estrutura mental organizada, preexistente à linguagem, como asseguram Martelotta e Areas (2003). No entanto, alguns pesquisadores questionam o princípio da arbitrariedade do signo, pois compreendem que as línguas são, em parte, arbitrárias e, em parte, icônicas (ou não arbitrárias). Quanto a essa não arbitrariedade, é importante destacar que o próprio Saussure ressaltou que haveria exceções em todas as línguas, em seu princípio da arbitrariedade do signo, mas não se debruçou em seus estudos sobre elas. O problema da arbitrariedade ou não do signo linguístico talvez se revele a partir da visão com que se analisa esse signo. Se se observar a língua fora de seu contexto de uso, como assim o fazem os formalistas, o que se percebe é uma relação arbitrária entre uma estrutura sonora e um significado. Por outro lado, quando se faz a análise voltada ao uso da língua, identifica-se a ocorrência de mecanismos recorrentes que revelam um processo funcional de criar novos rótulos para novos significados ou referentes. Mas esses novos rótulos não são criados arbitrariamente pelos falantes, pois estes utilizam material disponível na língua, ampliando o sentido de palavras. Ullmann (apud Kennedy e Martelotta, 2003) denomina esses processos assim: motivação semântica, que pode ocorrer em expressões, como céu da boca, boca da noite, ou na criação de novos termos pelo mecanismo de derivação fazendeiro, ventilador, consumidor etc. Leia no poema abaixo o uso funcional do termo boca, que mostra a não arbitrariedade entre a estrutura sonora e seu significado. Bocas Há muitas bocas falando ao mesmo tempo, confundem. umas dizem, cantando outras, gritam, alarmando Era a Boca do Mato um local bem arejado, fazia até frio, mas hoje, é do povo favelado.

42 42 Capítulo 3 Boca de Ouro, na música peça também de teatro, fez sucesso, mas ficou para trás, lá no passado. Boca de Leão, bela flor no jardim é uma atração já foi tema de amor e de muita inspiração. Boca do Inferno é um lugar onde se entranha pelo chão, é profundo, é de estranhar, devemos ter muita atenção! Boca Livre, Boca Nova, Boca Linda, Boca de Mel, Boca de Anjo, Boca Mimosa há, também, Boca do Céu! Valenciana/VicMag - acessado em 10/01/10 O que se percebe na leitura do poema é que a utilização da palavra boca em diferentes expressões foi motivada pelo sentido que o termo imprime em sua relação com o que se quer designar. Embora na primeira estrofe, a palavra tome o seu aspecto arbitrário, pois nomeia o órgão do corpo, sem nenhuma relação entre o significante e o significado, da segunda até a quinta estrofe, tem-se um recurso metalinguístico em que se explica que boca do mato é um local, ou que boca de leão é uma flor, na qual se percebe o formato de uma boca, se bem que esta última informação não seja dita no poema; ou ainda que boca do inferno também é um lugar, só que lúgubre, associando-se a ideia de lugar obscuro, fechado, próprio do órgão referido. motivação morfológica, vista no surgimento de palavras pelo processo de composição, tais como pernalta, guarda-chuva. motivação fonética, caracterizada por onomatopeias como toc, toc ; buaaá, em que o elemento designado é imitado pelo som da palavra. A motivação desses três mecanismos vem do fato de a palavra assumir forma própria por motivo determinado. Por isso na expressão céu da boca, a palavra céu relaciona-se semanticamente com o firmamento ou a atmosfera que denominamos como tal, por estar acima do solo que habitamos; por isso, o céu da boca é a parte superior deste órgão. Já a palavra consumidor refere-se a um indivíduo que se utiliza de ou consome um produto. A utilização desses mecanismos é bastante comum entre os falantes, por atender a necessidades comunicativas e cognitivas, uma vez que o uso de termos a partir de decisões arbitrárias empreenderia maior esforço, tanto do falante quanto do ouvinte. Entretanto, há perda dessa motivação quando a mudança do campo semântico desvia a palavra de sua origem etimológica. Veja exemplos de perda a partir da mudança de significado das seguintes palavras: O vocábulo cortesã designava, apenas, a dama da corte, a que assistia na corte. Assumiu, ao longo do tempo, o sentido de prostituta, como no filme de Misoguchi Oharu, a vida de uma cortesã. O termo latino tempestas passou por vários significados sucessivamente: momento do dia, estado atmosférico (tempo bom ou não) para se fixar em tempo borrascoso, tempestade. O sentido primitivo daquele termo ficou mantido na área jurídica nas formas tempestivo (em tempo devido, oportuno, adequado) e intempestivo (em tempo indevido, inoportuno, inadequado). A ideia da não arbitrariedade do signo ganha mais força para os funcionalistas no campo da sintaxe, quando, por exemplo, se analisa a sequência de ações a seguir: acordei cedo, tomei café e fui trabalhar e vê-se que as ações não foram organizadas aleatoriamente, mas que seguem uma certa ordem que ocorre na realidade. Essa e outras tendências que refletem alguma motivação e que ocorrem paralelamente à arbitrariedade são chamadas de iconicidade pelos funcionalistas. O princípio da iconicidade também tenta explicar outros aspectos relacionados à sentença, tais como extensão, ordenação e proximidade dos elementos linguísticos que a compõem, a depender de fatores como complexidade semântica, grau de informatividade dos referentes no contexto e proximidade semântica entre conceitos, como afirmam Martelotta e Areas (2003). VOCÊ SABIA? Iconicidade e gramaticalização são dois dos princípios centrais do funcionalismo. A iconicidade é entendida como a correlação natural e motivada entre forma e função, isto é, entre o código linguístico a expressão e seu significado o conteúdo.

43 Capítulo 3 43 Saussure, ao estabelecer a dicotomia entre langue e parole, estabeleceu, também, diferença entre o essencial e o acidental, o regular e o fortuito, uma vez que para a análise lingüística, apenas os fatos relativos à língua (langue) eram considerados, dando-se pouca atenção à fala individual. Da mesma forma Chomsky, com sua linguística gerativa, que pouco se distancia do estruturalismo saussureano, quando distingue competência de perfomance. Essas duas concepções assemelham-se quando se voltam, apenas, para a língua e anulam a fala, considerando esta somente como manifestação das potencialidades de um sistema que consideram independente. Por outro lado, o funcionalismo dá destaque ao discurso individual entendendo-o como o que dá origem ao sistema linguístico. Sendo este caracterizado como moldável e em transformação constante, não se pode separar a langue da parole. Em vista disso, o acidental ou casual próprio do discurso desconsiderado por Saussure torna-se, na proposta funcionalista, a origem do sistema, a fonte alimentadora do discurso. Outra dicotomia estruturalista revista pelo funcionalismo é a distinção entre sincronia e diacronia, vistas como eixos separados e não-intercambiáveis. No estruturalismo, cada um desses eixos deve limitar-se a seu campo de aplicação e, por isso, eles se tornam incompatíveis. No entanto, pesquisas em gramaticalização demonstram que, simultaneamente a fenômenos mutáveis ao longo do tempo, se revelam aspectos que parecem perdurar no decorrer da evolução das línguas. Ou seja, há uma certa regularidade sobre os elementos linguísticos de alguns processos de mudança, que do ponto de vista histórico ou diacrônico, pode-se entender como uma sequência de transformações ocorridas ao longo do tempo; por outro lado, de uma ótica sincrônica, entende-se como um conjunto de polissemias que coexistem numa língua. O que se percebe como tendência da linguística funcionalista norte-americana é a ênfase nos mecanismos que contribuem para a mudança como oriundos de fatores comunicativos e cognitivos. Isso no que se refere aos trabalhos sobre gramaticalização. Assim, diz-se que esse funcionalismo assume uma concepção pancrônica de mudança (Saussure, 1973), visto que se volta não para as relações sincrônicas entre os elementos de uma língua ou para as transformações ocorridas nesses elementos e nas suas relações no decorrer do tempo e sim para aspectos cognitivos e comunicativos presentes na ação do indivíduo, quando este participa de um ato comunicativo. Esses aspectos apresentam-se de forma universal, uma vez que trazem à tona as potencialidades e limitações da mente humana para reter e transmitir informações. VOCÊ SABIA? pancrônica - Ao se voltar para a diferenciação entre sincronia e diacronia, Saussure questionou se não haveria lugar para um estudo pancrônico da língua, ou seja, estudo que se volte para as leis e regras gerais que sejam constantes na língua Temática 3 Variação Linguística A Realidade das Línguas Esta tira nos apresenta uma dentre as muitas variações linguísticas do português do Brasil. Como fato social, a língua não apenas a portuguesa, mas todas elas está sujeita a transformações que dizem respeito a fatores de ordem temporal, geográfica e sócio-cultural. Esses fatores são classificados por Coseriu (1980) como formas de variação diacrônica, diatópica, diastrática e diafásica. É absolutamente normal haver variação na língua(gem), uma vez que ela é parte constitutiva do ser humano e sendo este mutável, os fenômenos linguísticos, que estão diretamente relacionados a ele, também o são. Isso implica dizer que todas as línguas sofrem mudanças, sendo impossível em uma comunidade de falantes de uma mesma língua que esses usuários falem da mesma forma, mesmo sendo contemporâneos, pois existem variedades linguísticas que caracterizam um mesmo estrato social, a exemplo dos grupos humanos homens, mulheres, idosos, Fonte: revistadeletras.wordpress.com/

44 44 Capítulo 3 jovens, crianças - ou grupos profissionais, como o dos juristas, dos economistas, dos jornalistas e outros. Também, seria, no mínimo, estranho, se falantes deste século XXI falassem da mesma forma que os falantes dessa mesma língua no século XVI. O filme brasileiro Desmundo, de Alain Fresnot, uma produção do ano de 2003, ilustra perfeitamente a questão da variação linguística, visto que o diálogo entre as personagens é feito a partir do português falado no século XVI. Veja o que a matéria publicada pela Revista Superinteressante diz sobre o trabalho realizado, para que se conseguisse reproduzir nesses diálogos o idioma utilizado pelos falantes da língua portuguesa do século em que se iniciou a colonização do Brasil. Como Antigamente O filme de Alain Fresnot, que estréia neste mês nos cinemas, retrata uma história passada nos primeiros anos da colonização no Brasil. O idioma utilizado na produção é baseado no português do séc. 16. Hemos chus drento en no sertão. Sabe em que língua esta frase está escrita? Em português mesmo. Português do século 16. A frase quer dizer vamos mais fundo pro sertão. É nessa língua que é falado o filme Desmundo, de Alain Fresnot, que estreia este mês nos cinemas, uma história passada nos primeiros anos da colonização do Brasil. Fresnot optou por usar a linguagem da época para dar realismo à produção. Opção difícil, essa. Afinal, para tanto, foi necessário adaptar os diálogos para uma língua que não existe mais. O trabalho caiu nas mãos do lingüista Helder Ferreira, da USP. Coube a ele adaptar os diálogos e ensinar os atores a falar como um português de Helder trabalhou duro. Primeiro teve que descobrir como essa gente falava. Tarefa inglória, dado que não havia gravadores na época. O lingüista recorreu a escritos antigos e procurou neles por erros de grafia. Viu, por exemplo, que muitas vezes se escrevia duda, em vez de dúvida, sinal de que as pessoas provavelmente pronunciavam a palavra desse jeito. Em um documento, um sujeito é chamado de fideputa, o que diz muito sobre a forma como os antigos portugueses se xingavam e sobre as sílabas que comiam nas palavras. Helder foi além. Fez pesquisas em lugares como as regiões de Diamantina e de Urucuia, em Minas Gerais. Como esses cantos do Brasil são isolados, eles conservam jeitos de falar arcaicos, herdados dos portugueses. Deu trabalho. Mas foi só o começo. O pesquisador teve ainda que criar um jeito de falar para cada personagem do filme, de acordo com sua idade, sua origem e seu nível social. Um verdadeiro quebra-cabeças. A tarefa seguinte foi ensinar aos atores tudo isso, num grau de profundidade tão grande que permitisse que eles fossem capazes não só de ler os diálogos do roteiro mas também de criar suas próprias frases, para poderem improvisar. Desmundo conta a pouco conhecida história das órfãs portuguesas que foram mandadas ao Brasil a mando da rainha para irem para drento en no sertão na companhia dos broncos desbravadores do país. A coroa de Portugal queria evitar que esses homens casassem com índias, o que degeneraria a raça. Vale, portanto, não só pela curiosidade lingüística mas também pelo conteúdo histórico. FIDEPUTA Alguns exemplos do jeito como se fala no filme Alpidovos Por favor Axopra Me soltar Ancianas Velhas Sêenço Silêncio Samicas talvez Recevudas Recebidas Lengoa Línguas Assuã Couro Fideputa... Superinteressante Edição 188 maio 2003

45 Capítulo 3 45 O conteúdo da matéria apresenta alguns aspectos que apontam para a variação linguística em diferentes níveis. Quando o redator da matéria diz que houve a necessidade de adaptar os diálogos do filme para uma língua que não existe mais, entende-se que essa língua mudou no curso do tempo, a ponto de determinados vocábulos e expressões dela não existirem mais e soarem estranho para nós, falantes do português do século XXI, ainda que essa língua seja o mesmo idioma oriundo do latim, retratado no filme em destaque. Outro aspecto importante é o que coloca em relevo a metodologia utilizada pelo linguista contratado para trabalho de pesquisa sobre o português falado em 1570 a coleta de dados em escritos antigos, datados desse período. Isso mostra a importância da escrita para o registro histórico dos modos como os usuários da língua a usavam naquela época, visto que não se dispunha dos recursos de gravação presentes nos dias de hoje, para se registrarem os falares dos usuários. Nesse caso, a variação linguística pesquisada restringiu-se a de determinados grupos de prestígio. O campo de estudo da linguística ganha em dinamicidade e se amplia, porque as línguas humanas não são estáticas; elas se alteram, sofrem transformações continuamente no tempo, de forma lenta, sem que os falantes percebam o complexo jogo dessa mutação e sem se darem conta de que estão fazendo parte dele. Os usuários de uma língua, em geral, só se apercebem dessas mudanças ao entrarem em contato com textos escritos antigos. FARA- CO (1991) assegura que [...] Isso porque a língua escrita é normalmente mais conservadora que a língua falada, e o contraste entre as duas pode nos levar a perceber fenômenos inovadores em expansão na fala e que não entram na escrita. É importante ressaltar, também, que a linguagem escrita está marcada, na maioria das vezes, por contextos formais, o que dificulta, de algum modo, a aceitação de inovações na língua, diferentemente da língua falada, que é muito mais propícia às transformações por ser caracterizada, mais predominante, por contextos informais. Interessante é o fato de que o trabalho de pesquisa buscou conhecer aspectos variacionais geográficos, especialmente no que se refere à conservação de vocábulos em desuso pela maioria dos falantes do português do Brasil. Assim, houve a necessidade de se ouvirem pessoas de dois municípios de Minas Gerais, por serem locais isolados e, por isso, ainda mantêm características de um falar arcaico. Diante disso, pode-se entender que o aspecto geográfico é um fator de variação linguística, seja pela distância que alguns lugares apresentam de centros urbanos, seja por outras razões conjugadas àquele aspecto. Outro nível de variação linguística delineado na matéria refere-se a aspectos, como faixa etária, origem e nível social das pessoas representadas pelas personagens do filme. São distinções entre os diversos tipos de modalidade expressiva, que dependem das manifestações linguístico-discursivas de falantes condicionados àqueles grupos. Foi ilustrada com a matéria da Superinteressante a questão da variação linguística em alguns aspectos, a partir da língua portuguesa. Mas, como já dito no início desta temática, a variação linguística é um fenômeno de todas as línguas. Sendo assim, a variação linguística é um fenômeno natural e essencial à linguagem humana, pois é recorrente em todas as línguas. A ausência de variação é que deveria ser vista como algo incomum à realidade das línguas. Dessa forma, entendemos que a língua é um sistema em aberto que está em constante elaboração. Daí a forma natural com a qual devemos conviver com as variações em todos os seus níveis, pois elas são próprias desse sistema dinâmico. Existem variações de ordem fonética, sintática, semântica em todas as línguas. Isso ficou bem explicitado ao lermos a matéria sobre o filme, que traz um resgate da língua portuguesa numa perspectiva diacrônica. A língua não pode ser compreendida como um produto ou mero instrumento de comunicação, mas como prática sociointerativa, pois ela é, antes de tudo, uso. Por ser falada por pessoas de faixas etárias, gêneros, regiões, profissões e estratos sociais diferentes bem como situações e épocas diferentes, ela necessariamente deve apresentar o fenômeno da variação linguística a fim de que continue viva. Na próxima temática, vamos estudar cada um dos níveis de estruturação da variação linguística.

46 46 Capítulo 3 SAIBA MAIS! Procure assistir ao filme Desmundo e analise o trabalho do linguista Helder Ferreira em resgatar as formas do português do século XVI. Embora alguns pesquisadores apontem equívocos com relação ao português adotado pelo linguista, acusando-o de adotar um português muito mais arcaico do que a época pedia, o trabalho, embasado numa pesquisa diacrônica, vale pelo resgate histórico sobre a língua portuguesa. Temática 4 A Variação Linguística nos Diversos Níveis de Estruturação: Variantes Diatópicas, Variantes Diastráticas, Variantes Diafásicas e Variantes Diacrônicas O prefixo dia através; através de, ao longo de, durante, por meio de, por, por causa de foi tomado pela linguística estruturalista europeia para designar os diferentes tipos de variação linguística especificados por diferentes vocábulos: diatopia/variações diatópicas em função das diferenças geográficas/regionais diastratia/variações diastráticas em função dos estratos sociais diafasia/variações diafásicas em função da situação em que se encontram os interlocutores diacronia/variações diacrônicas (dia + kronos, «tempo») em função das mudanças ocorridas ao longo do tempo Vamos descrever cada um desses níveis e variação linguística: 1. Variantes Diatópicas As variantes diatópicas caracterizam as diversas normas regionais existentes dentro de um mesmo país e também no interior de um mesmo estado, como o falar goiano, o falar maranhense, o falar pernambucano e, numa subdivisão dos falares existentes neste último estado, temos o falar dos recifenses, o dos falantes do agreste, do sertão e outros. Temos, no Brasil. alguns casos bem evidentes de variações diatópicas e tomamos como exemplos disso: os vários falares caipiras do interior de São Paulo; o falar típico da área urbana da capital de Pernambuco; as diferenças de pronúncia e de vocabulário entre os falares do litoral e do interior do Nordeste; o sotaque tipicamente carioca; os falares típicos do Rio Grande do Sul e, dentre esses, os falares das regiões de fronteira com Uruguai e Argentina e os falares esabelecidos em Santa Catarina incluídos nesses o falar da capital do Estado, Florianópolis ; os falares da região do Pantanal englobando o Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul e os vários falares das diferentes regiões de fronteira internas Roraima, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e internacionais, onde se falam várias línguas indígenas, o guarani do Paraguai e até variantes locais do nhengatu colonial. VOCÊ SABIA? Nhengatu é de origem tupi-guarani e quer dizer língua boa. É falada em partes do Brasil, Colômbia e Venezuela. Os falantes brasileiros dessa língua são cerca de 3 mil e vivem na região do Rio Negro, Vaupés e Içana, no Amazonas. O jornal Aqui PE utilizou esse tipo de variação, própria do modo de falar de alguns grupos sociais pernambucanos para fazer seu anúncio. Foram usados termos e expressões bem regionais, tais como perronha (jogador ruim, perna de pau), mas igualmente outras que caracterizam falares do Brasil inteiro, como baranga, pelada, barraco, rolou aquele cacete, tamo lá. A criação do anúncio publicitário é de Guilherme Souza e James Williams, da Agência Gruponove. Veja como ficou interessante.

47 Capítulo Variantes Diastráticas Esse tipo de variação linguística pode ser percebido em falantes de um mesmo idioma, mas que apresentam peculiaridades no falar que destoam da norma de prestígio de sua língua. Esse distanciamento da chamada norma culta pode revelar a classe social à qual pertencem, o grau de escolaridade que possuem, até mesmo a idade. Um exemplo da variação linguística de faixa etária são as gírias adotadas pelos jovens, que, por meio dessa linguagem especial, distinguem-se dos falantes adultos. É o que se pode perceber das gírias usadas no período da Jovem Guarda, como podemos constatar no quadro abaixo. As Gírias da Época da Jovem Guarda Além da maneira de vestir e do estilo dos cabelos, a maioria imitando os Beatles, o movimento criou novidades no processo de comunicação, através das gírias que foram inseridas no contexto dos jovens, inclusive, algumas permanecendo até hoje. Vejamos: barra limpa, é papo firme, chapa, o quente, carango, é uma brasa mora, crista da onda, brasa viva, abafar, goiabão, o bom, barato, avião, pão, bicão, gatinha, bidu, brucutu, coroa, playboy, flertar, lenheiro, é onda, transviado, acender, coruja, papo furado, lobo mau, mancada vem quente, tremendão e outras. dnstudio.blogspot.com/2007_09_01_archive.html Adaptado. Além de serem consideradas variantes diastráticas, as gírias podem representar outros tipos de variação, especialmente a diacrônica, pois revelam o modo de falar de uma determinada época, como no exemplo das gírias do período da jovem guarda. Atualmente, as gírias utilizadas pelos mais jovens são outras, e estas também cairão em desuso, posteriormente, dando lugar a novas invenções linguísticas que dependerão do contexto sóciohistórico vivido. Foi dito que a variação social ou diastrática também pode revelar o nível de escolaridade ou a condição socioeconômica do usuário da língua. Leia a letra da música de Adoniram Barbosa e analise as variantes que nela se encontram, as quais remetem aos fatos variacionais apontados. As Mariposa (Adoniran Barbosa) As mariposa quando chega o frio Fica dando vorta em vorta da lâmpida pra si isquentá Elas roda, roda, roda, dispois si senta Em cima do prato da lâmpida pra discansá. Eu sou a lâmpida E as muié é as mariposa Que fica dando vorta em vorta de mim Todas as noites, só pra mi beijá. - Boa noite, lâmpida! - Boa noite, mariposa! - Pelmita-me oscular-lhe as alfácias? - Pois não, mas rápido porque daqui a pouco eles mi apaga. Em Demônios da Garoa Trem das Onze, Chancecler, CMG , 1964

48 48 Capítulo 3 Como uma variedade especial da língua, a norma culta urbana corresponde ao modo de falar das camadas sociais mais prestigiadas, daí ser esta modalidade a que está descrita nas gramáticas. O texto As mariposa reproduz a fala popular, caracterizada, nesse contexto, por diferenças de pronúncia, como nos termos lâmpida, dispois, muié, entre outros. Outro traço próprio da fala popular exposto pelo compositor é a questão da concordância inadequada na maioria dos trechos do poema, que não atende ao prescrito na gramática normativa, no que diz respeito às regras gerais da concordância nominal e verbal: As mariposa As muié fica roda senta apaga é fica apaga Entretanto, estudos variacionistas apontam que existe uma lógica linguística subjacente à forma como são realizadas essas expressões alheias à norma gramatical, pois, no caso da concordância as mariposa ou as muié, por exemplo em que, por um princípio de economia linguística, não se precisaria pluralizar os dois elementos da frase, uma vez que pluralizando um, no caso das expressões destacadas, o primeiro elemento, não há necessidade da pluralização do segundo, pois o plural deste já estaria implícito no anterior. No final do texto, ao colocar o verso - Pelmita-me oscular-lhe as alfácias? o autor reproduz, ironicamente, um modo rebuscado de falar. Assim, a letra da música nos proporciona uma pequena amostragem sobre a variação linguística no nível de estruturação diastrática. A variação diafásica refere-se às diversificadas situações discursivas das quais os falantes participam. Os falantes ajustam a sua utilização da língua às exigências determinadas por cada ato discursivo registro formal ou informal; fala cuidada ou corrente, familiar; oral ou escrita. É natural que o próprio indivíduo varie o uso que ele faz da língua. Ele não tem um padrão de bem usar a língua que seja ideal para todas as situações interativas, por isso não consegue usar a língua materna da mesma maneira durante todo o tempo, havendo uma variação de estilos. Tal variação resulta de fatores extralinguísticos, como formalidade, informalidade, contexto social, ambiente, situação, interlocutor, dentre outros. Além desses fatores, a utilização do idioma pelo indivíduo se manifesta de acordo com o domínio que ele tem dessa língua, decorrente de seu grau de escolaridade, de seus conhecimentos enciclopédicos, de seu nível social, de seu campo de atuação profissional etc. VOCÊ SABIA? Conhecimentos enciclopédicos - Também denominados como conhecimentos prévios, referem-se a conhecimentos que o indivíduo já incorporou às suas estruturas cognitivas em suas relações interacionais no mundo social, na família, na escola, na vizinhança, nas atividades de lazer etc. Esses conhecimentos são adquiridos tanto formalmente, por meio das várias situações de aprendizagem, quanto informalmente. Esse grau de variação linguística está relacionado ao que Dell Hymes (1984) denomina de competência comunicativa, sendo esta produto da capacidade que o indivíduo tem de variar seu estilo conforme os fatores que podem alterá-lo: interlocutor, objetivo, contexto social etc. Conjugado a essa variação, está o conhecimento armazenado, o léxico utilizado pelo indivíduo, que é formado pelo vocabulário comum à sua comunidade linguística e seu vocabulário especial, como gírias e jargões de que faz uso em seu cotidiano, a depender do grupo social e profissional a que pertence. 3. Variantes Diafásicas NOSSO CAPITAL DE CONHECIMENTO PERMITE ALAVANCAR UM ECOSSISTEMA DE PARCEIROS PARA AMPLIAR O VALOR AGREGADO NAS AÇÕES ESTRATÉGICAS COM FOCO NO CLIENTE. TRADUÇÃO EM PORTUGUÊS: Nossa experiência será usada em parceria com outras empresas para conquistar mais clientes. Fonte: adminhavida.wordpress.com

49 Capítulo 3 49 Nenhum falante tem um estilo único, por isso a atividade linguística, observada nos vários contextos em que se realiza, varia de um estilo informal a um estilo mais formal, a fim de adaptar-se a tipos específicos de situações. Daí o vocábulo diafásico referir-se às diferenças de estilo verificadas em um mesmo indivíduo, em decorrência dos contextos situacionais com os quais se envolve. Entretanto, tem-se utilizado mais frequentemente o termo registro, numa referência à variedade linguística de acordo com o uso, em vez de estilo, principalmente quando se leva em consideração a perspectiva da Sociolinguística. Os registros são observados, por exemplo, entre a modalidade oral e a modalidade escrita; entre o modo de falar familiar, íntimo, cotidiano e um modo mais formal em situações públicas; entre linguagem corrente corriqueira e linguagem literária etc. Nisso, aplica-se o que Dell Hymes (idem) assegura sobre competência comunicativa, visto que é por meio dessa competência que o usuário da língua revela sua capacidade de escolha do registro a ser utilizado em função do interlocutor, do ambiente ou da situação imediata em que se encontra. Para ser bem sucedido no processo de escolha, o falante tende a aceitar algumas convenções sociais de sua comunidade bem como as restrições gramaticais que embasam as diversas variedades da língua, percebendo e usando enunciados, não apenas como realidades linguísticas mas também como realidades socialmente apropriadas. Talvez resida nisso uma das razões que torna a variação linguística fundamental, pois, como realidade socialmente apropriada a um determinado contexto, a língua não é apenas um sistema abstrato, mas concretiza, assim, a sua dimensão enunciativa. Isso porque fatores, como faixa etária, sexo, grau de instrução, condição socioeconômica, sentimento de solidariedade e empatia entre os interlocutores etc., estão relacionados com os interlocutores de alguma conversa ou evento de fala que ajusta a língua à situação concreta de uso. 4. Variantes Diacrônicas A Linguística Histórica domina o estudo deste tipo de variação, buscando analisar os processos de mudança ocorridos nas línguas, no curso do tempo. Essas mudanças nunca são bruscas, havendo geralmente um período de transição entre um estágio e outro. As mudanças diacrônicas podem ocorrer: a) no som/pronúncia É notório que a pronúncia dos sons de algumas palavras do português brasileiro foi alterada, mesmo que elas ainda sejam grafadas como se nenhuma alteração tivesse ocorrido. Exemplos disso são as palavras com ditongo na sílaba tônica, tais como besouro, queijo, madeira que não são mais pronunciadas com o ditongo pela maioria dos falantes brasileiros. b) na flexão e na derivação Os vocábulos pão, cão, leão, dentre outros, são exemplos desse nível de variação, uma vez que no latim seus radicais terminavam com a consoante nasal (-n-), sendo grafadas como pan, can, leon, seja quando usadas de forma autônoma, seja como base de derivação leon-inus, pan-arium, can-inus. No português, o til passou a marcar a nasalização do ditongo nessas palavras, em sua forma autônoma, mas foi mantida a base de derivação do latim: cão canino; pão panificar; leão leonino. c) nos padrões de estruturação da frase Há, por exemplo, diferenças sintáticas entre a língua portuguesa falada no Brasil e a falada em Portugal. Em nosso país, essas diferenças são perceptíveis na colocação peculiar dos pronomes oblíquos, no uso da preposição em com verbos de movimento chegar na; ir na; emprego do verbo ter em lugar de haver. d) ao nível dos significados Como exemplo deste nível de variação, podemos citar a palavra adubo. No português arcaico, este termo significava tempero. No português brasileiro contemporâneo, escolhemos do dicionário eletrônico Houaiss duas acepções: substantivo masculino 1. Rubrica: agricultura. conjunto de resíduos animais ou vegetais, ou produto mineral ou químico, que se mistura à terra para fertilizá-la ou regenerála 2. condimento us. em iguaria para dar-lhe sabor especial; tempero Embora a segunda acepção remeta ao sentido arcaico do termo, não mais se reconhece no português usado hoje no Brasil o significado de adubo como tempero. Nisso, o significado 2 do Houaiss está praticamente fossilizado, podendo ser consi-

50 50 Capítulo 3 derado um arcaísmo semântico. e) pela introdução de novas palavras (neologismos e estrangeirismos) As palavras do campo da informática ou aquelas incorporadas na língua com o advento da Internet e que, geralmente são termos em língua inglesa, tornaram-se parte do vocabulário de algumas línguas os chamados estrangeirismos e isso, de alguma maneira, resultou em mudanças nelas. Da mesma forma, os novos termos que surgem os neologismos também imprimem variações nas línguas, que, assim, vão se renovando. Os fatores de variação podem ser: a) internos à língua pelo desaparecimento de oposições que não se revelem funcionais; pela prevalência do princípio da economia, que tende a eliminar redundâncias; pela introdução de novos elementos com a função de tornarem a comunicação clara e não ambígua; b) externos à língua relativos a mudanças políticas e sociais, por exemplo, a criação de fronteiras políticas, que é cumulativa à criação de fronteiras linguísticas. A questão do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que prevê a padronização das palavras entre os países lusófonos, exemplifica um dentre os fatores externos à língua que estimulam a variação linguística. Esse Acordo pode descrever uma mudança político-social vivenciada pela língua portuguesa no âmbito dos países que a têm como língua oficial. nidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP): Brasil, Portugal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor- Leste. Todos são antigas colônias de Portugal. Atividade Algumas reflexões finais: Diante das temáticas estudadas, reflita sobre as seguintes questões: 1. Qual a importância do debate sobre formalismo e funcionalismo para os estudos linguísticos na atualidade? 2. Em que sentido, é tomado o conceito de funcionalismo pelos pesquisadores do Círculo Linguístico de Praga? 3. Que proposições são trazidas pelo funcionalismo norte-americano para a ampliação dos estudos desta perspectiva teórica? 4. Pesquise sobre os diferentes tipos de variação linguística que podem ocorrer nas línguas e compreenda a como esse fenômeno contribui para a evolução delas. Fonte: Fonte: APROFUNDE SUAS PESQUISAS E BOM ESTUDO! Essa reforma ortográfica vem sendo discutida desde 1990 por representantes de nações da Comu-

51 Capítulo 3 51 REFERÊNCIAS COSERIU, Eugenio. (1967). Sistema, norma y habla. In: Teoria del lenguaje y lingüística general. Madrid: Gredos, p COSERIU, Eugenio. (1980). Lições de linguística geral. Rio de Janeiro: Presença, 129p. Dell HYMES, H. (1984). Sur la competence de communication. Paris: Gallimard. FARACO, Carlos Alberto. (1991). Linguística histórica. São Paulo. Ática. HJELMSLEV, Louis. (1975). Prolegômenos a uma teoria da linguagem. São Paulo: Perspectiva. HYMES, D. (1971). Competence and performance in linguistic theory Acquisition of languages: Models and methods. Ed. Huxley and E. Ingram. New York: Academic Press KENNEDY, E; MARTELOTTA, M. E. T. (2003). A visão funcionalista da linguagem no século XX. In: Maria Angélica Furtado da Cunha; Mariângela Rios de Oliveira; Mario Eduardo Toscano Martelotta (orgs.) Linguística funcional: teoria e prática. Rio de Janeiro, DP&A/Faperj. V.; p MARTELOTTA, M. E. T; AREAS, E. (2003). A visão funcionalista da linguagem no século XX. In: Cunha et al. Linguística funcional: teoria e prática. Rio de Janeiro: DP&A. NEVES, M. H. M. (1977). A gramática funcional. São Paulo: Martins fontes. SAUSSURE, F. (1973). Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix.

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53 Capítulo 4 53 A Perspectiva Pragmática: A Linguagem Como Ação Prof. a Sônia Virgínia Martins Pereira Carga Horária 15 horas Ementa Estudo da ciência da linguagem: suas proposições teóricas, abrangência e alcance de suas possíveis aplicações. Percurso da concepção clássica de língua à teoria do signo. Modalidades oral e escrita da língua. O legado de Ferdinand Saussure e de Chomsky para os estudos e métodos de ensino de língua. Formalismo e Funcionalismo. Introdução aos estudos pragmáticos. Enfoque epistemológico dos conteúdos. Objetivos Estudar as proposições teóricas, abrangência e aplicações da Linguística, analisando o percurso dessa ciência de seus postulados iniciais às teorias mais recentes. Apresentação Finalizamos nossa série de estudos nesta disciplina com o capítulo 4 apresentando para você alguns dos fundamentos da pragmática e sua instigante preocupação de analisar os fenômenos observados na língua em uso. A pragmática ainda é uma ciência jovem, com ampla fronteira abarcada por seus objetos e métodos e com muitos estudos e possíveis reformulações de conceitos passíveis de reformulações. Daí sua importância como ciência que se mostra ainda em fase de consolidação e também de aceitação inquestionável no meio científico. Como suporte para os estudos realizados neste capítulo, trazemos as principais correntes teóricas e autores que têm sido referência para os estudos pragmáticos desde os seus primórdios, mesmo que na atualidade alguns desses autores estejam sendo colocados em abordagens autônomas, independentes da pragmática.

54 54 Capítulo 4 Dessa forma, pretendemos lhe oferecer uma iniciação aos estudos da pragmática e uma pequena, mas eficaz referência para que compreenda os conceitos implicados nela, os quais são imprescindíveis para sua formação acadêmica, pois, apesar de ser uma ciência pouco explorada no universo acadêmico, a pragmática está em evolução e prova que pode funcionar como ferramenta imprescindível para diversas áreas de estudo das teorias linguísticas. Aproveite! Bons estudos! Um abraço, Prof. a Sônia Martins Temática 1 Pragmática: Do Que se Trata? Independentemente dos contextos em que se aplica o termo pragmática, em geral, na linguagem corriqueira, é comum se relacionar o vocábulo a um de seus sentidos restritos voltado, especialmente, para o significado de objetividade. O Dicionário Eletrônico Houaiss apresenta sete acepções para a palavra, de campos semânticos diversificados, mas o que mais interessa para os estudos propostos neste capítulo é o sexto significado por estar voltado para a área da linguística. Esse termo origina-se do grego pragma e designa coisa, objeto assinalando algo feito produzido. Leia os verbetes do dicionário expostos a seguir. Pragmática Substantivo Feminino 1. Diacronismo: antigo. toda e qualquer lei diferente do direito ou ordenança real 2. conjunto de normas ou determinações que devem ser seguidas nas cerimônias palacianas ou religiosas 3. (1899) protocolo diplomático ou social; etiqueta 4. conjunto de considerações práticas (sobre algo) Ex.: a p. de como passar no vestibular 5. Rubrica: termo jurídico. regra ou conjunto de regras relacionadas com a prática social e jurídica, em oposição a palavras e fórmulas; praxe 6. Rubrica: linguística. A parte da teoria do uso linguístico que estuda os princípios de cooperação que atuam no relacionamento lingüístico entre o falante e o ouvinte, permitindo que o ouvinte interprete o enunciado do seu interlocutor, levando em conta, além do significado literal, elementos da situação e a intenção que o locutor teve ao proferi-lo (p.ex.: o enunciado você sabe que horas são? pode ser interpretado como um pedido de informação, como um convite a que alguém se retire etc.) 7. Rubrica: semiologia. parte da semiótica que estuda as relações causais (entre outras) entre as palavras, expressões ou símbolos e seus usuários Além do termo pragmática, outros derivados dele formam um amplo campo de significações que dão ideia do que se propõe a estudar a Pragmática como área autônoma. O primeiro desses termos é pragmaticismo que remete à doutrina filosófica do norte-americano Charles Sanders Peirce. Com sua doutrina Peirce influenciou outros filósofos a partir de suas ideias sobre a tríade pragmática, a saber a relação signo-objeto-interpretante, uma teorização sobre a linguagem numa proposta de considerar, além do signo, a que ele remete e, especialmente a quem significa. É perceptível pelo diagrama abaixo, essa chamada relação triádica de Peirce:

55 Capítulo 4 55 PRODUTOR DE SIGNOS OBJETO A SER DENOTADO SIGNO INTÉRPRETE INTERPRETANTE SIGNO OBJETO Segundo Ogden & Richards (relação triádica de signo): Interpretante: é um segundo signo, equivalente a si mesmo ou, eventualmente, um signo mais desenvolvido, criado na mente do receptor. Signo: é o que representa algo a alguém sob algum aspecto; Objeto: é a coisa representada Em seu pragmaticismo, Peirce advoga que os fenômenos experimentais são os únicos capazes de afetar a conduta humana, pois a soma desses fenômenos implicados numa proposição constitui o alcance da conduta humana. Pragmaticismo Substantivo Masculino 1. m.q. pragmatismo 2. Rubrica: filosofia. doutrina filosófica de Charles Sanders Peirce ( , filósofo, matemático e físico estadunidense), que adotou essa denominação (em 1905) para distinguir sua filosofia prática do pragmatismo de William James ( , psicólogo e filósofo estadunidense) Também o vocábulo pragmaticista refere-se à filosofia de Peirce caracterizando o que é relativo a essa filosofia ou quem a segue. pragmaticista Adjetivo e Substantivo de Dois Gêneros Rubrica: filosofia. 1. m.q. pragmatista 2. relativo ao pragmaticismo de Charles Sanders Peirce ( , filósofo, matemático e físico estadunidense) ou adepto deste. Pragmático Adjetivo 1. Rubrica: termo jurídico.

56 56 Capítulo 4 que interpreta as leis nacionais (diz-se de jurista) 2. que contém considerações de ordem prática (diz-se de ponto de vista, resolução, modo de pensar etc.); prático, realista, objetivo 3. relativo, pertencente ou pertinente à pragmática 4. voltado para objetivos práticos; realista, objetivo 5. que sacrifica princípios ideológicos para a consecução de objetivos a curto prazo (diz-se de indivíduo, partido político, política etc.) 6. concernente à ação e ao bom êxito de algum empreendimento 7. que aborda os fenômenos históricos com uma especial referência a suas causas, antecedentes, condições e conseqüências 8. relativo ou pertencente a negócios comunitários ou de Estado 9. Rubrica: filosofia. relativo ou pertencente ao pragmatismo Leia a seguir um trecho do artigo do físico Marcelo Gleiser em que ele se apropria de alguns dos verbetes expostos. Entre a Razão e o Pragmatismo Marcelo Gleiser (...) Ao propor aos seus pupilos que estudassem os céus, Platão lançou um desafio: que todos os movimentos dos astros celestes, criados pelo Demiurgo- a inteligência criadora do cosmo -, fossem explicados em termos de círculos e suas inter-relações. Esse desafio inspirou a astronomia por dois milênios. A filosofia de Platão reverenciava a geometria e a razão acima da percepção sensorial das coisas. (...) Considerado por muitos o filósofo mais influente da história, ele era um pragmático, que acreditava no poder da lógica e do bom senso para construir uma explicação da realidade conforme captada pelos sentidos. (...) A explicação de Aristóteles para a gravidade ilustra bem sua filosofia pragmática: as coisas caem, pois querem voltar ao seu lugar de origem. Uma pedra, se largada de uma certa altura, cai verticalmente. Já o fogo sobe, pois quer ocupar as partes superiores da atmosfera. Para Aristóteles, os movimentos dos corpos celestes eram impostos no cosmo de fora para dentro: a esfera mais externa era a morada da sua versão de Demiurgo, o Que Move Sem Ser Movido, responsável pelo movimento inicial que se propagava através do cosmo como as engrenagens de um relógio. Com isso, Aristóteles oferecia uma solução pragmática para o problema da Primeira Causa: como surgiu o mundo e seus movimentos.(...) Adaptado. - acessado em 22/01/2010. VOCÊ SABIA? Marcelo Gleiser é brasileiro, professor de física teórica no Dartmouth College, em Hannover (EUA) e autor do livro A harmonia do mundo. Pragmatismo Substantivo Masculino 1. Rubrica: filosofia. ênfase do pensamento filosófico na aplicação das ideias e nas consequências práticas de conceitos e conhecimentos; filosofia utilitária 2. Rubrica: filosofia. corrente de ideias, que prega que a validade de uma doutrina é determinada pelo seu bom êxito prático [É esp. aplicado ao movimento filosófico norte-americano baseado em ideias de Charles Sanders Peirce ( ) e William James ( ).] Obs.: cf. ativismo, humanismo e naturalismo 3. Rubrica: filosofia, linguística. dentro do pensamento de Charles S. Peirce, afirmação de que o conceito que temos de um objeto é a soma dos conceitos de todos os efeitos decorrentes das implicações práticas que podemos conceber para o referido objeto; pragmaticismo 4. consideração das coisas de um ponto de vista prático; tratamento prático, não dogmático ou sumário das coisas 5. tratamento dos fenômenos históricos com referência especial às suas causas, condições, antecedentes e resultados

57 Capítulo 4 57 O verbete pragmatismo empregado abaixo adere ao sentido de algo voltado para a prática: Gabeira na sabatina da Folha FOLHA DE SÃO PAULO - 19/09/2005 O deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) afirmou hoje, durante sabatina da Folha, que as próximas eleições serão muito mais realistas, sem a presença de grandes líderes. A tendência, agora, é de pragmatismo, disse ele. Não há mais salvadores. Há processos de recuperação, mas sem características messiânicas, afirma. gabeira-na-sabatina-da-folha acessado em 24/01/2010 De forma geral, pode-se definir, do seguinte modo, as relações que cada uma dessas dimensões dos estudos da língua abrange: Sintaxe: relações entre signo Semântica: relações entre signo e seus objetos Pragmática: relações entre signo, seus objetos e seu interpretante I Especialmente quanto aos termos pragmatismo e pragmaticismo, ao que parece, há uma remissão do uso para pragmatismo. De um modo geral, entende-se que o pragmaticismo é a redenominação do pragmatismo de Peirce, uma vez que pragmatismo foi utilizado no final do século XIX pelo filósofo William James numa conferência atribuindo sua autoria a Peirce. Entretanto, já no início do século do XX, o termo foi rejeitado por Peirce, que, a partir de então, passou a usar o vocábulo pragmaticismo para estabelecer diferenças entre sua filosofia e a de William James. Em ensaio próprio, datado do ano de 1905 What pragmatism is em que toma o vocábulo pragmaticismo como o mais adequado para a sua teoria, Charles Peirce expõe sobre a ética da terminologia, discorrendo sobre a importância de uma terminologia mais precisa. S SINTAXE I S SEMÂNTICA I O O Foi Charles Morris quem dividiu os estudos linguísticos em sintaxe o estudo da gramática, da ordenação de palavras que constituem as frases de uma língua; semântica estudo do significado, embora esse conceito se mostre ainda bastante controverso; e em contraposição às duas concepções anteriores, a pragmática o estudo dos usos dos enunciados linguísticos em práticas sociais diversificadas. VOCÊ SABIA? Charles Morris - Filósofo norte-americano que conjugou suas ideias às dos representantes do empirismo lógico e dos pensadores ligados ao pragmatismo. Seus estudos são da área da semiótica e distinguiram três domínios da análise da linguagem: o sintático, o semântico e o pragmático. S PRAGMÁTICA O diagrama acima expõe o que prevalece em cada domínio de estudo. Assim, entendemos que pela via da sintaxe, há o predomínio do signo sobre o interpretante e sobre o objeto. Na semântica, já se passa a focalizar a relação entre signo e objeto sem prevalência de um sobre o outro e, na pragmática, incluem-se os três aspectos como importantes para a análise dos usos linguísticos. O

58 58 Capítulo 4 É importante destacar a confusão didática que tem sido gerada em relação aos conteúdos abarcados pela semântica e pela pragmática. Isso decorre do uso bastante comum do termo pragmática que, em geral, utiliza-se como adjetivo e toma-se como sinônimo de prática e de seus derivados, como constatamos anteriormente aqui neste trabalho. Nisso se tende a confundir o estabelecimento de valores semânticos com inferências de valor pragmático. Para se estabelecer a fronteira entre a semântica e a pragmática, usa-se a noção de contexto, entendendo-se, porém, que as significações linguísticas, a priori, independem do contexto, mas as significações pragmáticas emergem deste. O vocábulo pragmática foi proposto por Morris para designar uma das três dimensões do signo, numa perspectiva behaviorista. Assim, numa perspectiva do domínio da linguística, a pragmática é o estudo da linguagem em uso e, por isso mesmo, um campo privilegiado dos estudos sobre a linguagem humana. Temática 2 Natureza e Objeto da Pragmática e a Teoria dos Atos de Fala Entendermos que a pragmática estuda o uso concreto da linguagem com o foco no que os usuários fazem em suas práticas linguísticas e, em decorrência disso, analisa os elementos condicionantes dessas práticas. Pinto (2009) assegura que aqueles que se voltam para os estudos pragmáticos intentam explicar antes a linguagem do que a língua. Esse posicionamento coloca-se contrário à clássica dicotomia saussureana língua X fala, em que a fala é subtraída da linguagem para a constituição da língua como objeto de estudo da linguística. A pragmática absorve também a fala nos estudos da linguagem para que a análise da língua seja feita a partir de sua produção social e nunca isolada desta. Dessa forma, são imprescindíveis os conceitos de sociedade e de comunicação e neles se inclui o falante da língua, desprezado pelo estruturalismo para se entender a natureza e o objeto daquela abordagem teórica. Um aspecto importante a se destacar quanto à definição do objeto de estudo da pragmática é a questão de que são tão numerosos e diversificados os fenômenos decorrentes da linguagem em uso, que a seleção desses fenômenos depende da perspectiva teórica adotada pelos pesquisadores, daí a grande influência da filosofia e de determinados grupos filosóficos como critério para a escolha de objetos e métodos, o que dá origem a diferentes abordagens nos estudos pragmáticos. São estas as três correntes principais da pragmática: o pragmatismo americano, que tem como base os trabalhos de William James e sua perspectiva semiológica. a teoria de atos de fala, produzida por John Austin, a partir de doze conferências proferidas por ele na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, em 1955 e publicadas depois de sua morte, em os estudos da comunicação que se voltam para as relações sociais e a influência exercida por estas na prática linguística. Quanto aos teóricos que são referência para os estudos pragmáticos, além dos já citados nas três grandes correntes teóricas, temos Ducrot, Benveniste e Grice, ainda que atualmente sejam colocados em campos de estudos e métodos independentes da Pragmática. Por apresentar elementos importantes para o estudo proposto neste capítulo, será dado destaque, a seguir, à teoria dos atos de fala em seus aspectos gerais. A teoria dos atos de fala nasceu no interior da filosofia da linguagem, no início da década de 1960, a partir de estudos de filósofos da Escola Analítica de Oxford, dentre eles, John Langshaw Austin ( ), Jonh Roger Searle (1932-) e outros, que concebiam a linguagem como uma forma de ação. Para esses filósofos, todo dizer é um fazer e, a partir desse pressuposto, passaram, então, a estudar os diversos tipos de ação humana que se realizam por meio da linguagem, os quais denominaram de atos de fala. Austin (apud SILVA, 2005) estabelece critérios

59 Capítulo 4 59 para definir o caráter performativo da linguagem; em outras palavras, o poder que a linguagem tem, através dos atos de fala, de praticar ações. Ele estabelece, inicialmente, dois tipos de atos de fala: os enunciados performativo e constativo. VOCÊ SABIA? Escola Analítica de Oxford - O que caracteriza os filósofos dessa Escola é a análise minuciosa da linguagem sob uma interpretação literal. Segundo o pesquisador, são constativos os enunciados que descrevem ou relatam um estado de coisas. Para tanto, esses enunciados devem ser submetidos a critérios de verificabilidade, visto que podem ser verdadeiros ou falsos. Tais enunciados são denominados popularmente como afirmações, descrições ou relatos como nos exemplos abaixo: Ele é uma grande promessa do tênis brasileiro. O pião gira em torno de seu próprio eixo. Caem todas as folhas da árvore no outono. Quanto aos enunciados performativos o foco de interesse nos estudos de Austin, este os coloca como opostos aos constativos visto que eles não afirmam, descrevem ou relatam nada e por isso não passam pelo critério de verificabilidade, uma vez que não são falsos nem verdadeiros. São enunciados que concretizam uma ação, se estiverem configurados dentro dos seguintes princípios: ditos na primeira pessoa do singular, no presente do indicativo, na forma afirmativa, na voz ativa. Podem ser exemplificados nesses enunciados: Condeno o réu à prisão perpétua. Eu vos declaro marido e mulher. Declaro aberta a sessão ordinária da Câmara. VOCÊ SABIA? Performativos - Este termo vem do verbo inglês to perform que quer dizer realizar. Esses enunciados ao serem proferidos executam a ação denotada pelo verbo, realizam atos de condenar, de casar, de abrir uma sessão. É nesse sentido que todo dizer é um fazer, pois um padre, por exemplo, dizer eu vos declaro marido e mulher não é informar aos noivos sobre o casamento deles, mas casá-los, torná-los oficialmente marido e mulher, pelo menos perante as leis religiosas. Ressalte-se, entretanto, que só o fato de se proferir um enunciado performativo não se estabelece como garantia de que ele seja realizado, pois é preciso que as circunstâncias em que esse enunciado é proferido sejam adequadas para que ele seja bem sucedido; ou seja, a ação designada seja, de fato, realizada. Em outras palavras, uma situação inadequada, poderia ser exemplificada por meio de um cenário em que ao invés de um juiz proferir uma sentença de prisão perpétua a um réu, alguém sem o poder ou a autoridade para tal ato dizer eu condeno o réu à prisão perpétua. Nessa inadequação, o ato performativo não se realiza; embora o enunciado não seja falso, ele é nulo, torna-se sem efeito. Para que um enunciado seja bem sucedido, alguns critérios devem ser obedecidos, segundo Austin. São estas as principais condições de felicidade que ele estabelece para isso: a autoridade do falante para executar o ato; as circunstâncias em que o ato é proferido devem ser apropriadas. Em estudos posteriores, ao constatar que nem todo enunciado performativo possui verbo na primeira pessoa do singular, no presente do indicativo, na forma afirmativa e na voz passiva, e que também nem todo enunciado dentro desse parâmetro gramatical é performativo, Austin constata que um enunciado performativo pode existir sem nenhuma palavra dele estar relacionada ao ato que executa. É o que pode exemplificar a placa abaixo, que equivale a dizer ao motorista advirto que a curva é perigosa. Fonte: flickr.com/photos/hitoriki/

60 60 Capítulo 4 Assim o teórico distingue performativo explícito, que designa o enunciado com performatividade explícita, colocado como contrário ao performativo implícito ou primário para enunciado que não apresenta performatividade explícita, sendo o performativo primário uma forma reduzida de do performativo explícito. Segundo Silva (2005), em decorrência dessa distinção, Austin constata que a denominação performativo primário também nomeia os enunciados constativos e assim desconsidera a distinção constativo-performativo visto que admite ser possível transformar qualquer enunciado constativo em performativo, bastando antecedê-lo de verbos como declarar, afirmar, dizer e outros. Nisso, reconhece que todos os enunciados são performativos por realizarem alguma ação no momento em que são enunciados e reconhece três atos simultâneos que se realizam em cada enunciado: o locucionário, o ilocucionário e o perlocucionário. O ato locucionário é materializado quando se enuncia algo, constitui-se na emissão de um conjunto organizado de sons. O ato ilocucionário tem como base uma determinada força relacionada a um significado. Nisso, o enunciado pode ter a força de uma promessa, de um julgamento, de uma declaração, de uma pergunta etc. O ato perlocucionário consiste no efeito do enunciado sobre o interlocutor. Diante disso, são prováveis enunciados em que o falante pronuncie eu argumento, ou eu esclareço..., mas é improvável que ele diga eu convenço você, ou eu assusto você.... Isso decorre do fato de a argumentação e o esclarecimento serem forças ilocucionárias próprias de quem fala, enquanto que a efetivação de um convencimento ou de um susto é o efeito de uma força sobre o interlocutor e, por isso mesmo, um ato perlocucionário. Para Austin, todo ato de fala é simultaneamente locucionário, ilocucionário e perlocucionário, pois, ao se proferir uma frase, há o ato locucionário de se enunciar cada elemento linguístico componente da frase, mas há igualmente um ato que se realiza na linguagem, o ilocucionário, e há, também, um ato que se realiza na linguagem, mas por ela, o perlocucionário. Como exemplo, tem-se o enunciado Prometo que isso não vai ficar assim em que se pronuncia cada elemento da frase, realizando-se o ato de promessa e o que se pretende fazer. Os trabalhos de Austin foram posteriormente retomados por John R. Searle que aprofundou os estudos sobre a teoria dos atos de fala focalizando a discussão sobre as consequências que a emissão de determinados tipos de enunciados estabelece. Nos desdobramentos dos estudos sobre os atos de fala proposto por Searle, existe a ideia de que não basta considerar unicamente a intenção que o falante tem de realizar certas ações pela linguagem. Para ele é preciso fazer uma distinção entre a produção do enunciado, a intenção com que o enunciador produz a sentença e as consequências que a produção desse enunciado acarreta. Esses três aspectos referem-se, respectivamente, aos atos locucionário, ilocucionário e perlocucionário. A teoria dos atos de fala, que sintetizamos em seus fundamentos gerais, tem com um de seus pressupostos, a ideia de que os falantes de uma língua são sujeitos cooperativos. Isto é produto de uma visão idealista da sociedade dos filósofos britânicos na década de sessenta. Tal idealização está igualmente presente na proposta das máximas conversacionais elaborada por Grice, que foi contemporâneo de Austin e Searle. Estudos posteriores que se debruçam sobre outros fenômenos relacionados às atividades linguísticas, se apoiam nos fundamentos elaborados por esses filósofos, mas agregam outros conceitos, a exemplo do conceito de ideologia, que estabelecem uma visão menos idealizada dos falantes e dos usos que estes fazem da língua. As máximas conversacionais de Grice serão trabalhadas na próxima temática. Temática 3 As Máximas Conversacionais de Grice A teoria das regras conversacionais de Grice inclui o sujeito na enunciação. Com isso, o filósofo busca analisar o sentido a partir da relação entre o que é dito no enunciado e um estado de coisas no mundo, visto que não basta se buscar o significado/sentido na proposição apenas; pois é preciso encontrá-lo pela intenção. As máximas propostas por Grice têm como base a ideia de que os interlocutores cooperam mutuamente entre si em suas relações. É o princípio cooperativo entre falante e ouvinte, possível de reger

61 Capítulo 4 61 a comunicação. De acordo com o princípio cooperativo, as informações trocadas entre os interlocutores fazem parte de conhecimentos compartilhados, que dependem do contexto conversacional. Vejamos o princípio da cooperação analisando a charge abaixo: Fonte: Diário de Pernambuco Recife, 28 de janeiro de Conforme Grice (1982), toda conversação é regida por um esforço cooperativo dos interlocutores: de um lado, o falante em se fazer entender e, do outro, o ouvinte, em compreender seu interlocutor. Esse acordo tácito é denominado de Princípio da Cooperação. O gênero textual charge impressa é um importante elemento para a aplicação e análise dos postulados de Grice, uma vez que serve aos propósitos da interação verbal, na medida em que o chargista faz uso de fatos cotidianos por meio de elementos enunciativos, por ser esse gênero dependente do contexto para a sua compreensão. Como toda charge impressa, a que apresentamos acima tem como características a economia da linguagem verbal tem-se apenas a frase Embaixada do Brasil em Honduras, associada à linguagem nãoverbal; que é a predominante. Nesta, os elementos não-verbais, o mapa do Brasil, a bandeira, as cadeiras, o travesseiro, mas, principalmente a marca de Zelaya delineada na parede, compõem o cenário que emitem as informações essenciais para a compreensão do texto e da crítica implícita nele. Essa charge traz como tema um fato político amplamente divulgado na mídia, a reclusão do expresidente de Honduras, Manuel Zelaya, na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, Honduras, com uma ponta de humor e ironia. Assim, o chargista Jarbas emite sua opinião sobre o fato, o que torna seu texto interpretativo; ele tem a intenção de que o leitor identifique a informação como um ato comunicativo. Com isso, percebemos que a leitura da charge é agilizada pela economia de palavras e pelas imagens, o que a torna atraente a um público heterogêneo. Este público, por sua vez, deverá fazer interpretações diversas sobre suas vivências e conhecimento de mundo, especialmente com relação ao fato abordado. Por isso, o leitor de charges é sempre cooperativo, visto que ele está habituado a procurar um sentido, a buscar o não-dito que não aparece nos elementos não-verbais, nem nos enunciados reduzidos, isoladamente. Nesse gênero textual as imagens passam a exercer funções próprias das palavras, num processo de caracterização, ao ilustrarem personagens dentro de um cenário que permite o reconhecimento de um episódio e os fatores que contribuíram para sua consecução. Nisso, acontecimentos os mais diversificados possíveis são ridicularizados, ironizados, recharchados nas caricaturas, ocorrendo a desqualificação das figuras públicas que os produziram. A partir do princípio da cooperação, na comunicação, a linguagem face a face obedeceria, segundo Grice, às seguintes máximas conversacionais: Modo ou Maneira esta máxima é definida pelas seguintes atitudes de cooperação: Seja claro: evite obscuridade de expressão, evite ambiguidades, seja breve, seja metódico. A máxima de modo ou maneira diz respeito a como a proposição é enunciada por meio de termos objetivos, com sentido preciso e sentenças bem estruturadas. Estão organizadas as seguintes submáximas: evite que sua expressão seja obscura, uma vez que isso é produto do uso de termos que não explicitam o sentido da mensagem para o seu interlocutor; evite ambiguidade; use palavras e expressões com sentido definido, preciso e bem delimitado para que assim garanta uma única interpretação de sua mensagem; evite prolixidade desnecessária ao produzir

62 62 Capítulo 4 uma mensagem com o máximo de informação e o mínimo de palavras; em outros termos, é preciso adotar o princípio da economia linguística; evite desorganização das informações primando por um encadeamento lógico, temporal e espacial na mensagem. Quantidade o que se espera como cooperação dos interlocutores, a partir dessa máxima, é que cada interlocutor Faça com que sua contribuição seja tão informativa quanto necessário. A máxima de quantidade corresponde às informações explicitamente expostas no texto, para que se consiga uma contribuição informativa e necessária que garanta a unidade de sentido dele. Qualidade são resumidos dessa maneira os princípios que regem a máxima da qualidade: Não afirme o que você acredita ser falso; não afirme senão aquilo para o que você possa fornecer provas. Na máxima de qualidade, tem-se por objetivo que a afirmação proferida seja, comprovadamente, verdadeira. Relevância ou Relação o único princípio que rege essa máxima é Seja relevante. Na máxima de relevância ou de relação, o que se requer é a relevância da contribuição dos interlocutores para o entendimento dos objetivos da interação estabelecida. Para tanto, faz-se necessária a exclusão de vocábulos ou sentenças não pertinentes aos propósitos da mensagem. A partir das máximas conversacionais estabelecidas por Grice, entendemos que toda conversação obedece a uma lógica própria, e o não cumprimento de uma das máximas pelos interactantes gera efeitos distintos ou contrários aos que se teria como propósito. Ocorre que, na linguagem, por vezes, tais máximas são infringidas propositalmente, para gerar ambiguidade ou ironia, segundo esclarece Grice. A seguir, são apresentadas as máximas conversacionais de Grice de forma ilustrada, mas que se apresentam como um contraponto, de forma bem humorada, ao estabelecido pelo filósofo: Fonte: specgram.com/clv.2/05.phlogiston.cartoon.14.html A primeira máxima ilustrada por um sinal de interrogação é a do modo ou maneira, em que se vê destacada a palavra-chave claridade ou clareza. Nela, ao lermos a frase ofuscações evitadas elucidações expostas a relacionamos ao fundamento nuclear dessa máxima, que é o da clareza, para se evitar obscuridade e ambiguidade na conversação, embora a interrogação não deixe nada às claras na mensagem. A segunda, ilustrada pelo símbolo da Nike é a máxima de quantidade, tendo em destaque a palavrachave informação e uma frase que diz o mínimo possível: só faça, o que contraria a própria máxima que preza pelo maior número de informações que se puder fornecer e que estas sejam expostas de forma explícita no texto. Em seguida, temos a terceira máxima, a máxima de

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