ANALISANDO A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL PELO VIÉS PSICANALÍTICO: POSSÍVEIS CONTRUIBUIÇÕES PARA OS CUIDADORES E PSICÓLOGOS. MARCOS DUARTE KELLER 1

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1 ANALISANDO A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL PELO VIÉS PSICANALÍTICO: POSSÍVEIS CONTRUIBUIÇÕES PARA OS CUIDADORES E PSICÓLOGOS. MARCOS DUARTE KELLER 1 RESUMO FABIO DE OLIVEIRA 2 PROF. DR. DIEGO ANTONELLO 3 Este trabalho busca abordar os principais aspectos referente a deficiência intelectual. Ao longo do artigo apresentaremos as definições sobre o que é deficiência intelectual, mencionando como os pais de deficientes intelectuais reagem diante do diagnóstico, e as próprias consequências deste diagnóstico, evidenciando como estes pais realizam o cuidado do filho(a). O artigo também elucida as considerações sobre o manejo clínico por parte do psicólogo, que utiliza como abordagem teórica a psicanálise, tendo como objetivo orientar pais e profissionais da saúde mental, sobre as possíveis formas de refletir e manejar, diante dos aspectos da deficiência intelectual. INTRODUÇÃO De acordo com o Decreto nº de 2 de dezembro de 2004, a deficiência intelectual se define como: funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas. Tais áreas de habilidades adaptativas incluem a comunicação, o cuidado pessoal, as habilidades sociais, OMS (2012). A OMS (Organização Mundial da Saúde) define a deficiência intelectual como: Um estado de desenvolvimento mental interrompido ou incompleto, o que significa que a pessoa pode ter dificuldades em entender, aprender, e recordar coisas novas, e em aplicar essa aprendizagem a novas situações. Também conhecida como deficiência intelectual, deficiência de aprendizagem, dificuldades de aprendizagem, e anteriormente como retardo mental ou limitação mental (OMS, 2012, p.337). 1 Acadêmico do Curso de Psicologia da FISMA. marcosdk98@gmail.com 2 Acadêmico do Curso de Psicologia da FISMA. fabiobaresark@gmail.com 3 Dr. Diego Antonello, Professor do curso de Psicologia da FISMA. diego.antonello@fisma.com.br

2 Segundo Falconi e Silva (2002), as causas deficiência intelectual são diversas, tais como: síndromes genéticas, prematuridade, lesão cerebral traumática, entre outros. Fatores sociais também se apresentam, a violência doméstica, pobreza, falta de estimulação adequada. O autor segue afirmando que, estabelecer a origem ou causa da Deficiência Intelectual têm sido um grande desafio dos profissionais. Aproximadamente 40% dos casos, não tem a causa determinada com exatidão e precisão. Porém, há fatores de risco que podem levar à Deficiência, compostos de quatro grandes categorias: biomédicos, sociais, comportamentais e educacionais. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa exploratória bibliográfica, a classificação deste trabalho com base em seu delineamento faz-se necessária, segundo Gil (2002), para estabelecer seu marco teórico e permitir uma avaliação conceitual e o elemento fundamental para este delineamento é o procedimento a ser adotado na coleta de dados. Assim, o estudo em questão constitui-se de uma pesquisa de delineamento bibliográfico, desenvolvido a partir de materiais já publicados sobre deficiência intelectual e os conceitos da psicanalise. A coleta de dados foi realizada através da consulta a artigos científicos selecionados dentro do período de 2007 a 2018 no banco de dados do Scielo, Google Acadêmico com busca pelas palavras-chave Deficiência intelectual, Psicologia, psicanálise. Ainda serão consultados livros com assuntos pertinentes ao tema abordado. RESULTADOS E DISCUSSÃO Segundo Garcia-Roza (2000), o termo de narcisismo foi mencionado primeiramente, na reunião da Sociedade Psicanalítica ocorrida em Viena, no ano de Ainda, no mesmo ano, na obra Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (Freud, 1905/1996), em sua segunda edição é citado novamente o termo narcisismo. No narcisismo o eu, se apresenta postulado como uma instância deslibidinizada, passando a ser um objeto de desejo e investimento libidinal. Freud afirma que o narcisismo primário dos cuidadores, renasce nos filhos: O narcisismo primário é uma herança do ideal narcísico dos pais. A criança viria ocupar o lugar daquilo que ficou perdido na vida dos pais.

3 Cabe a ela recuperar para eles todos os privilégios que estes foram obrigados a renunciar, e a realizar os sonhos e projetos nos quais eles fracassaram. Este lugar, no qual os pais costumam colocar o filho, Freud chamou de Sua Majestade, o Bebê (Freud,1914/2006, p.87). Hezorg e Pacheco, (2014) mencionam que na infância, a criança é bajulada pelos cuidadores, ocupando o papel de eu ideal, o que estabelece o estado narcísico de onipotência na infância, aquele ser desejado toma posse de todo o investimento que os cuidadores investiram nele. Antes do nascimento e agora na infância, os pais por sua vez, se dedicam na expectativa do filho suprir todas as expectativas depositadas, de ambos cuidadores. Fica evidente que tal investimento libidinal é prazeroso para os pais, sendo que futuramente este objeto de investimento vai trazer satisfações. Porém quando o filho tão desejado pode acabar frustrando os pais, que investiram muita energia psíquica, acaba por sua vez invertendo os sentimentos, onde reinava o amor, passa a reinar o ódio, assim afirma Freud (1915/2006): Sentimos a repulsa pelo objeto, e o odiamos; este ódio pode, depois, intensificar-se ao ponto de converter-se numa inclinação a agredir o objeto, com o propósito de destruí-lo (Freud, [1915] 2006: 131). Diante desta afirmação, o sentimento de ódio, se relaciona com os objetos, por sua vez anterior ao amor, todo este processo é vinculado ao eu narcisista. Porém o ódio não provem de aspectos sexuais, mas do constante conflito do eu contra estímulos ocasionados pelo mundo externo, não é proveniente da vida sexual e sim da constante luta do eu para preservar-se da invasão dos estímulos oriundos do mundo externo. Passando a ser um processo primitivo de auto-conservação, se o objeto satisfaz ele é amado, se frustra ele acaba sendo odiado, ocorrendo a frustração dos cuidadores perante o filho, que por algum motivo não supriu suas expectativas, gerando a quebra narcísica dos pais. Fulgencio, (2004), afirma que: Freud estabeleceu o conceito de trauma a partir de sua experiência com pacientes histéricos, diante disso percebeu uma causa comum, nessas pessoas um acontecimento no decorrer da vida, que supostamente venha ocasionar sintomas físicos. Porém, é descartada a probabilidade de patologias médicas, o que instigou Freud à questionar uma causa não orgânica. Em tese a psicanálise estabelece o trauma no aspecto psíquico, se referindo como uma consequência de um fato emocional violento, ao ponto de causar

4 manifestações danosos no aparelho psíquico, esta teoria do trauma, é a primeira teoria apresentada por Freud (1892/3 até 1897), ligada diretamente a etiologia da histeria. Na segunda teoria do trauma apresentada por Freud (1920/1996) em Além do princípio do prazer, o autor afirma que o mesmo é fruto de um acontecimento externo muito violento que causa um grande impacto ao aparelho psíquico. O sujeito não consegue filtrar esta situação, nem mesmo internalizar tal acontecimento que causou grande sofrimento. Na perspectiva dos cuidadores, perante um bebê ou uma criança que rompe essa idealização dos pais, por alguma debilidade, como a deficiência intelectual, ocorre a quebra do ideal narcísico de perfeição, gerando o trauma. E consequentemente os cuidadores passam a enxergar o filho(a) como diferente das demais crianças, sendo tratado de uma forma acarinhada, justificando o receio dos cuidadores, desse filho ser julgado como diferente se ferir ao interagir com o mundo externo, ocasionando a perda da autonomia deste sujeito desde a infância. CONCLUSÕES Abranches (2010) parte do conceito de constituição subjetiva para definir a posição subjetiva débil citando como ela pode afetar na autonomia do sujeito. Como mencionado no contexto, a psicanálise não possui uma teoria específica sobre a deficiência intelectual, o que a teoria apresentada permite é fazer uma analogia com os conceitos de Freud e Lacan e associar com o conceito de deficiência intelectual, o tal conceito tem como diagnóstico tais indivíduos tendem a ter uma limitação nos processos de aprendizagem, ou seja indivíduos rotulados abaixo da média, sendo que a psicanálise trabalha a partir do inconsciente se apresentando como um método primordial na abordagem terapêutica. Ao mencionar o conceito de debilidade, fica evidente que o mesmo se define como uma posição subjetiva, que se caracteriza pela manutenção de saber ao outro, neste caso o sujeito com deficiência intelectual, é definido como um sujeito passivo, sem autonomia, permitindo ao outro ser detentor do saber, como se o outro estivesse exercendo o papel de cuidador, já na vida adulta tal papel pode ser relacionado aos cuidados estabelecidos sobre o bebê, nesta faixa etária o bebê dispõe de atenção frequente para suas necessidades básicas, por não possuir nenhum tipo de autonomia, Hernandez (2007). A inibição aparece na debilidade como uma expressão de uma limitação funcional do eu, via de regra essa limitação pode ocorrer por múltiplos fatores, porém associado, ao contexto de debilidade, fica evidente que o fator predominante neste caso, para a inibição propriamente

5 dita, é o excesso de cuidado, consequentemente resultando na falta de autonomia, surgindo após o diagnóstico de deficiência intelectual. Sendo uma situação traumática para os cuidadores, que tal diagnóstico representa uma quebra na ilusão narcísica acerca do filho. A intervenção do terapeuta psicanalítico ocorre em prol da sua autonomia, do seu próprio pensamento crítico, se alienar do outro e focar no seu próprio desejo, trabalhar essa questão com a família é de suma importância, a fim de que estes não ocupem o papel de detentor do saber, mas permitam que o indivíduo diagnosticado com deficiência intelectual consiga progressivamente desempenhar sua independência e autonomia. REFERÊNCIAS ABRANCHES, C. M., CATÃO, I. H. O olhar da psicanálise sobre a deficiência intelectual: de copista a autor de sua própria história. Disponível em: < Acesso em: 13 de março de 2018 APA. American Psychiatric Associstion. Manual diagnostico e estatístico de transtornos mentais DSM-5. 5º Ed FREUD, S. Edição Standard Brasileira Das Obras Psicológicas Completas De Sigmund Freud. v. 24, Rio De Janeiro: Imago, (1900) A Interpretação de Sonhos.. (1905) Três ensaios sobre a sexualidade. (1914) Introdução ao narcisismo. FULGENCIO, L. A noção de trauma em Freud e Winnicott, v.6 n.2, dez, GARCIA-ROZA, L. A Freud e o inconsciente. 24.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. v.4. São Paulo: Atlas, HERZOG. R, PACHECO.F. De édipo a narciso a clínica e seus dispositivos, Cia de Freud: UFRJ; CAPES PRODOC, Rio de Janeiro, HERNANDEZ, R. Contribuições à deficiência mental a partir da psicanálise: El Molinet - uma experiência institucional, Estilos clin. v. 12, n.23, dez, OMS. Organização Mundial da Saúde (2012). Relatório mundial sobre a deficiência. Retirado de < Acesso em: 13 de março de 2018.